Os adolescentes que desafiaram Stalin e sobreviveram para contar a história:roleta da
Ele ocorreuroleta daChelyabinsk, uma cidade industrial nos Urais, uma região montanhosa que separa as partes europeia e asiática da Rússia. A cidade abrigava uma fábricaroleta datratores.
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onabet nao da bonusFim do Matérias recomendadas
Um dia, na primaveraroleta da1946, três adolescentes começaram a espalhar panfletos no centro da cidade, observados por moradores locais na fila para comprar comida.
Os meninos não tinham cola, então usaram pão embebidoroleta daágua para colar folhasroleta dapapel, arrancadasroleta daseus cadernos escolares,roleta daparedes e postes.
"Pessoas famintas, insurjam-se e lutem!", dizia um dos panfletos rabiscado a mão por um aluno.
Uma mulher na fila leu o panfleto. "Uma pessoa inteligente escreveu isso", comentou ela.
Os jovens eram Alexander (conhecido como Shura) Polyakov, Mikhail (Misha) Ulman e Yevgeny (Genya) Gershovich. Eles tinham 13 anos na época. Shura Polyakov era o líder do grupo.
Sua família era origináriaroleta daKharkiv, na Ucrânia, e ele foi levado para os Urais comroleta damãe, avó, irmã e tia. Sua famíliaroleta dacinco pessoas dividia um quarto. A cidade tinha dificuldades para acomodar refugiadosroleta daguerra.
O pairoleta daShura havia sido morto na Segunda Guerra Mundial. Sua mãe agora sustentava a família, trabalhando como advogada.
Genya Gershovich também estava crescendo sem a presença do pai, mas por um motivo diferente. Ele nasceuroleta daLeningrado e,roleta da1934, seu pai foi preso, falsamente acusadoroleta dapertencer a uma rede clandestina que planejava derrubar o governo.
Ele morreu sem deixar vestígios.
Para manter seus dois filhos seguros, a mãeroleta daGenya se mudou para Chelyabinsk. Apesarroleta daseu marido ter sido considerado "um inimigo do povo", ela conseguiu um emprego como professora do ensino médio.
O pairoleta daGenya havia sido executado antes da guerra, mas a família ficou sabendoroleta dasua morte muito depois.
Mikhail (ou Misha) Ulman — assim como Genya — também eraroleta daLeningrado. Masroleta dafamília permanecia unida. Seus pais se mudaram para Chelyabinsk no início da guerra para trabalhar na fábricaroleta datratores, que na época fabricava tanquesroleta daguerraroleta davezroleta daequipamentos agrícolas.
Em Chelyabinsk, a famíliaroleta daMisha viviaroleta daum pequeno quarto e era obrigada a dividir o espaço com um estranho. A sala era dividida por um lençol penduradoroleta daum varal.
Os três meninos frequentaram a mesma escola. Ulman e Gershovich chegaram a ser colegasroleta damesa na salaroleta daaula.
Mesmo com apenas 13 anos, os meninos já liam as obrasroleta daMarx, Lenin e Stalin como parte do currículo escolar. Eles aprenderam com esses livros que injustiças deveriam ser contestadas.
Eles também estudaram cuidadosamente a letra da Internacional, um hino do movimento operário escrito na décadaroleta da1870 por um revolucionário francês, que era entoadoroleta damovimentos por justiça social.
A música serviu como o hino nacional soviético entre 1922 e 1944. Os meninos não podiam acreditar que a letra — que convocava as massas a se levantarem contra a desigualdade social — não fosse proibida na União Soviética.
Os meninos e suas famílias enfrentaram graves dificuldades econômicas, vivendo à beira da fome com as rações alimentares do pós-guerra.
Havia uma piada popular na União Soviética sobre a épocaroleta daque os líderes dos EUA, Reino Unido e União Soviética — reunidos na Conferênciaroleta daYaltaroleta dafevereiroroleta da1945 perto do fim da guerra — discutiam qual método deveria ser usado para executar Hitler.
Segundo a piada, Winston Churchill sugere o enforcamento. Franklin Roosevelt sugere a cadeira elétrica. E Stalin diz que a maneira mais eficaz seria alimentar Hitler com raçõesroleta dacomida soviética. Os outros dois concordam que esse seria o castigo mais cruel.
Mas nem todos na União Soviética eram obrigados a sobreviver com as escassas rações. Os três meninos tinham um colegaroleta daclasse cujo pai era diretor da fábrica local.
O estiloroleta davida do colega era completamente diferente do deles: ele era levado para a escola por um motorista, tinha, na lancheira, uma comida muito melhor, e, emroleta dafestaroleta daaniversário, os meninos puderam provar água com gás e assistir a filmesroleta daCharlie Chaplin, projetadosroleta dauma parede.
Desnecessário dizer que a família do diretor não moravaroleta daum quarto compartilhado com um estranho, mas desfrutavaroleta daacomodações espaçosas e confortáveis. Tudo isso parecia algo saídoroleta daum contoroleta dafadas.
As condiçõesroleta davida dos trabalhadores da fábricaroleta daChelyabinsk eram difíceis mesmo antes da guerra — muitos viviamroleta daporões e abrigos. Com o início da guerra, Chelyabinsk enfrentou uma invasãoroleta darefugiados das regiões ocidentais da Rússia, o que piorou as condiçõesroleta davidaroleta datodos.
Em dezembroroleta da1943, a direção da fábrica descobriu que até 300 trabalhadores dormiam no chãoroleta dafábrica, pois não tinham para onde ir. Alguns disseram que não tinham roupasroleta dainverno; outros, nenhum calçado. Eles não tinham como deixar a fábrica.
Embora as pessoas estivessem preparadas para aguentar as adversidades da guerra, assim que o conflito terminou, a paciênciaroleta damuitos se esgotou. Embora felizes com a derrota da Alemanha nazista, muitosroleta daChelyabinsk estavam cansados da constante humilhaçãoroleta daviver na miséria.
Os três meninos ouviam os adultos reclamaremroleta daacomodações úmidas no porão, vazamentos nos telhados, sopa feitaroleta daurtigas, faltaroleta dasabão por quatro anos e muitos outros problemas. Eles viviamroleta dapobreza extrema e sentiam que tinham muito pouco a perder.
Eles estavam cada vez mais revoltados com a injustiça que observavam diariamenteroleta dacontraste com a propaganda soviética.
Um dia,roleta daabrilroleta da1946, os meninos arrancaram uma páginaroleta daum caderno escolar e escreveram: "Camaradas, trabalhadores, olhem ao seu redor! O governo vinha atribuindo seus problemas à guerra. Mas a guerra acabou. Suas condições melhoraram? Não! O que o governo deu a vocês? Nada! Seus filhos estão com fome, mas vocês estão tendo que ouvir histórias sobre uma infância feliz. Camaradas, olhem ao redor e percebam o que realmente está acontecendo!"
No começo, os meninos distribuíam e colavam seus panfletos apenas à noite, mas,roleta dapoucos dias, eles se tornaram mais ousados e pararamroleta dase preocupar com as consequências. Eles até conseguiram ajudaroleta daalgunsroleta daseus colegasroleta daclasse.
Os temidos agentes da NKVD — a polícia secreta que posteriormente se tornaria a KGB e hoje se chama FSB — rapidamente souberam da situação e descobriram que os panfletos que criticavam o governo eram feitos por criançasroleta daidade escolar.
As escolas fizeram checagens na caligrafiaroleta dacada aluno para identificar os culpados. As criançasroleta daChelyabinsk foram obrigadas a escrever palavras como "camarada" e "infância feliz".
Yevgeny Gershovich foi o primeiro a ser preso. Depois foi Alexander Polyakov, e, no finalroleta damaioroleta da1946, Mikhail Ulman. Suas famílias ficaram apavoradas.
Os meninos enfrentaram questionamentos implacáveis por parte dos serviçosroleta dasegurança, que os acusaramroleta daserem simpatizantes do nazismo. Os adolescentes, marxistas devotos, ficaram indignados.
Gershovich e Polyakov foram julgadosroleta daagostoroleta da1946 e considerados culpadosroleta daespalhar propaganda antissoviética. Eles foram condenados a três anosroleta daprisão juvenil.
Mais tarde, já adultos, relataram que foi uma época horrenda, que eram constantemente perseguidos e espancados por outros jovens internos.
Ulman teve sorte — como não tinha completado 14 anos na época da prisão, escapou da punição. Sua família voltou rapidamente para Leningrado, para ficar longe dos Serviçosroleta daSegurançaroleta daChelyabinsk.
De certa forma, Gershovich e Polyakov também tiveram sorte, pois foram soltos ainda no finalroleta da1946, com suspensãoroleta dasuas penas.
Talvez a pouca idade dos meninos os tenha ajudado a escaparroleta daconsequências muito mais duras.
Mas também é possível que os serviçosroleta dasegurança e os juízes tenham ficado surpresos com a convicção dos jovens rebeldes que, apesarroleta daviveremroleta daum dos regimes mais totalitários da história, acreditaram que poderiam protestar contra a injustiça social e obrigar o governo a melhorar a vida dos trabalhadores.
Já adultos, tanto Ulman quanto Polyakov emigraram para Israel, onde este ainda mora comroleta daesposa. Foi onde a BBC conseguiu falar com ele.
Depoisroleta daadulto, Ulman se mudou para a Austrália, onde morreuroleta da2021.
Yevgeny Gershovich foi preso novamente no final dos anos 1940, logo depoisroleta daser expulso da universidade, acusadoroleta dater tendências antissoviéticas.
Ele foi condenado a dez anosroleta daprisão, mas foi libertado logo após a morteroleta daStalin, junto com milhõesroleta daoutras vítimas da repressão. Ele morreu na décadaroleta da2010.
- Texto originalmente publicadoroleta dahttp://vesser.net/articles/cz7rk5136j4o