Como uma coleçãoesporte pixbetarte falsa multimilionária enganou o mundo:esporte pixbet

Rudolf e Leonor Blum

Crédito, Beatrice Gimpel McNally

Legenda da foto, Rudolf e Leonor Blum passaram anos construindo uma coleçãoesporte pixbetarte que achavam que valia milhões

Entre muitas das obras-primas da coleção da família, havia um El Lissitzky premiado – um quadroesporte pixbetum artista abstrato (1890-1941) considerado um dos mais importantes da história da Rússia.

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Em 2005, o paiesporte pixbetMcNally perdeu a visão eesporte pixbetmãe, Leonor, deu continuidade à coleção da família, mesmo depoisesporte pixbetdesenvolver demência.

"Ela tinha muito orgulho daesporte pixbetcapacidadeesporte pixbetidentificar o que era bom", conta Beatrice McNally.

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Fim do Que História!

Rudolf Blum morreuesporte pixbet2009 e foram então chamados especialistas para avaliar a herança. Foi ali que tudo desabou.

"Um dos especialistas disse que toda uma sérieesporte pixbetpinturas era duvidosa", relembra McNally. "Ficamos totalmente perplexas."

A família havia comprado grande parte daesporte pixbetcoleção da Galeria Orlandoesporte pixbetZurique, na Suíça, administrada por Susanne Orlando. Era uma empresaesporte pixbetconfiança dos Blum e que segueesporte pixbetoperação até hoje.

Os registros da família mostram que eles costumavam pagar maisesporte pixbet400 mil francos suíços (cercaesporte pixbetUS$ 456 mil, ou R$ 2,26 milhões) por quadro.

McNally conta queesporte pixbetmãe acreditava que "Susanne Orlando fosseesporte pixbetamiga e só venderia a ela arte genuína, autêntica".

Mas os advogados indicaram que aquelas compras não tinham valor. A galeria não respondeu ao pedidoesporte pixbetcomentários enviado pela BBC.

Leonor Blum ficou devastada com a ideiaesporte pixbetter sido enganada. Somente depois daesporte pixbetmorte, Beatrice McNally conseguiu investigar mais a fundo para saber se a coleção dos seus pais era ou não autêntica.

Erik Grimpel with the faked Lissitzky
Legenda da foto, Erik Gimpel, filhoesporte pixbetBeatrice, segurando o quadro comprado supostamente como um Lissitzky

Ela descobriu que alguns dos quadros que seus pais haviam comprado da Galeria Orlando vieram da coleçãoesporte pixbetum comerciante israelense, nascido na União Soviética, chamado Leonid Zaks.

Fascinados há muito tempo pela coleção Zaks, três estudiosos decidiram investigar juntosesporte pixbetproveniência. Eles são o especialistaesporte pixbetestudosesporte pixbetproveniência Konstantin Akinsha, o comercianteesporte pixbetarte James Butterwick e o detetiveesporte pixbetarte amador Andrei Vassiliev, que já havia exposto fraudes no passado.

Segundo Zaks, o fundador da coleção foi seu avô, o sapateiro Zalman Zaks, da cidadeesporte pixbetEkaterinoslav (atualmente, Dnipro), na Ucrânia.

Zalman Zaks se interessou por arteesporte pixbetvanguarda quando visitou um banco belga naesporte pixbetcidade e começou a comprar quadros, mas os registros mostram que esse banco não existia.

Sua filha, Anna, deu continuidade ao empreendimento. Ela supostamente trabalhava como médica no interioresporte pixbetBelarus nos anos 1940, quando recebeu casualmente obrasesporte pixbetartistas como Lissitzky e Alexandra Exter (1882-1949).

As obras eram presentesesporte pixbetcamponeses agradecidos pelo seu tratamento. Mas, novamente, nenhum registro confirma nenhuma parte desta história.

A coleção acabou sendo levada para fora do país e permaneceu escondida por maisesporte pixbet50 anos, até surgir novamente nos anos 2000.

"Nós examinamos toda a proveniência da coleção Zaks e todos os seus elementos são infundados – na verdade, nós podemos refutá-los", afirma Akinsha.

Ele e seus colegas vasculharam os arquivosesporte pixbetbuscaesporte pixbetmençõesesporte pixbeteventos e pessoas relacionadas à extraordinária história secular da coleção da família Zaks. Mas não encontraram nada.

"Temos aqui um mito clássicoesporte pixbetproveniência", acrescentou Akinsha.

Depois que a proveniência foi refutada, Beatrice McNally pediu aos detetivesesporte pixbetarte que autenticassem a obraesporte pixbetarteesporte pixbetLissitzky da coleção Blum, origináriaesporte pixbetZaks.

O artista russo ficou conhecido pelas suas pinturas abstratas e por desenvolver o movimento suprematista no início do século 20, ao lado do seu professor, Kazimir Malevich (1879-1935). O movimento abandonou as formas naturais e passou a adotar formatos geométricos.

Jilleen Nadolny analisando a pintura falsaesporte pixbetLissitzky sob um microscópiocope
Legenda da foto, Jilleen Nadolny analisou a pintura falsaesporte pixbetLissitzky sob um microscópio

Mas, nos anos 1930, o ditador soviético Joseph Stalin (1878-1953) considerou esse estilo incompreensível e ordenou que as obras fossem retiradas das paredes e armazenadas. Acredita-se que até 80 pinturasesporte pixbetLissitzky tenham desaparecido naquela época.

Nos anos 1950, o Ocidente redescobriu o movimento e surgiu um novo mercadoesporte pixbetarte. A demanda pelas obras era alta, mas a oferta era baixa, o que gerou um nicho importante para os falsificadores.

Em buscaesporte pixbetrespostas, consultei a diretora do laboratório Art Discoveryesporte pixbetLondres, Jilleen Nadolny, a principal cientista especializada na investigaçãoesporte pixbetfalsificações da vanguarda russa. Ela usava a tecnologia para descobrir se uma obraesporte pixbetarte é autêntica.

Usando luz ultravioleta, Nadolny conseguia identificar os materiais específicos empregadosesporte pixbetuma obraesporte pixbetarte específica e verificar se eles eram disponíveis na épocaesporte pixbetque a obra supostamente foi criada.

Movendo cuidadosamente o Lissitzky sob a luz ultravioleta, Nadolny afirmou ter observado "imediatamente" a verdade.

Ela identificou "fragmentosesporte pixbetfibrasesporte pixbetalta luminescência na superfície", datadas da segunda metade do século 20. Essas fibras só poderiam ter sido feitas depois da morteesporte pixbetLissitzky.

"É como olhar para algo que deveria ser do século 18 e encontrar uma TVesporte pixbettela plana ao fundo", afirma ela. "Não é possível. Não pode ser. Não se encaixa."

Para ela, os resultados foram tão claros que "apareceriam onde precisássemos para levar a questão à justiça". E,esporte pixbetseu relatório enviado à BBC, Nadolny forneceu seu veredicto: "a pinturaesporte pixbetLissitzky é uma falsificação elaborada recentemente".

A descoberta foi um golpe para McNally. Ela ficou chocada e furiosa por seus pais "terem sido enganados".

Mas o impacto vai muito além da coleçãoesporte pixbetuma família. Para Nadolny, "existem muitos prejuízos" quando o assunto é a falsificaçãoesporte pixbetarte.

"Dinheiro público é gasto para adquirir objetos para museus", explicou ela. "Estudantes vão à escola para aprender sobre objetos que são guardados como autênticos e representam o registro históricoesporte pixbetuma cultura específica."

"É o nosso registro histórico. E, se permitirmos que isso aconteça, estamos destruindo o nosso próprio passado."

Beatrice Gimpel  McNally
Legenda da foto, Beatrice Gimpel McNally teve que aceitar o fatoesporte pixbetque seus pais foram 'enganados' para investiresporte pixbetobrasesporte pixbetarte falsas

Pelo menos três obrasesporte pixbetarte originárias da coleção Zaks estavamesporte pixbetexibiçãoesporte pixbetmuseus públicos até recentemente.

As pessoas com olhar mais atento podem ter identificado um quadro chamado O Relojoeiro no filme Oppenheimer, vencedor do Oscaresporte pixbet2024. Este quadro era considerado como sendo do pintor russo Ivan Kliun (1873-1943) e pertence à coleção do Institutoesporte pixbetArteesporte pixbetMinneapolis, nos Estados Unidos.

Depois que a BBC informou suas conclusões, o museu retirou a pintura daesporte pixbetexposição. O website da organização agora relaciona o quadro como "atribuído a Ivan Kliun" e não mais simplesmente com o nome do artista como seu autor.

O Museuesporte pixbetArteesporte pixbetCleveland, nos Estados Unidos, e o Museu Albertinaesporte pixbetViena, na Áustria, possuem quadrosesporte pixbetoutro artista, provenientes da coleção Zaks. Nenhum deles estáesporte pixbetexposição.

Depoisesporte pixbetmeses tentando encontrar o atual responsável pela coleção Zaks, Leonid Zaks, ele finalmente entrouesporte pixbetcontato e conseguimos conversar por telefone.

Ele conta que não tem registrosesporte pixbetpapel que confirmem a proveniência daesporte pixbetcoleção, mas que não tinha motivos para questionar a história da família, que aesporte pixbetmãe havia deixado para ele por escrito.

"Em quem devo confiar, na minha mãe ouesporte pixbetum bandoesporte pixbetestrangeiros?", perguntou ele. "O que está escrito não é mais uma lenda, é um fato. Um fato incorreto, talvez, mas não apenas uma lenda ou uma história."

Ele disse que sente por Beatrice McNally e pelaesporte pixbetsituação difícil. Mas ressaltou: "eu mesmo não vendi nada para ela".

Enquanto McNally procura aceitar a ideiaesporte pixbetque seus pais foram vítimas da falsificaçãoesporte pixbetobrasesporte pixbetarte, seu filho, Erik, decidiu manter o falso Lissitzky.

O quadro é um lembrete daesporte pixbetprópria história familiar e da importância da proveniência.

A Dra. Jilleen Nadolny faleceu no finalesporte pixbet2023.