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O abandonobet364massa das salasbet364aulas por professores na Venezuela:bet364
"Tenho que fazer outras coisas durante o dia para complementar minha renda", conta à BBC News Mundo, serviçobet364notíciasbet364espanhol da BBC.
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Jlia Silva Eduardo Costa /
Fim do Matérias recomendadas
Como também é professorabet364línguas, dá aulas particularesbet364francês para ganhar um dinheiro extra. Mas também vende almoços, cachorros-quentes e pães recheados com presunto durante o Natal, alémbet364chicha, uma bebida típica da América Latina feita a partir da fermentaçãobet364grãos ou frutas.
"Aceito qualquer encomenda, qualquer coisa, sempre estou buscando algo diferente para fazer."
Seu caso não é único. O baixo salário e as péssimas condiçõesbet364trabalho estão fazendo com que cada vez mais professores na Venezuela abandonem a profissão.
Cercabet364200 mil professores venezuelanos deixaram as salasbet364aula nos últimos anos, segundo estimativasbet364associações sindicais. Alguns se juntaram aos que emigraram do país, outros mudarambet364profissão.
Sem incentivos, isso está causando um esvaziamento das escolas. E, no lado mais vulnerável, estão os alunos, que viram suas horasbet364aula reduzidas, às vezes ministradas por pessoas que nem sequer estão qualificadas para isso.
Sem aumento salarial
Belkis começou a procurar outras formasbet364ganhar dinheiro fora da docênciabet3642019, quando deixoubet364ver "a manteiga no pão".
"Eu não vou mais lá [para a escola]. Dando aulas particulares me saio melhor. Só indo todos os diasbet364ônibus até lá,bet364uma semana gasto o salário quinzenal", diz.
Já lhe propuseram dar aulas no ensino médio, mas o panorama é o mesmo que no ensino fundamental. O salário médiobet364um professor na Venezuela ébet364US$ 21,57 por mês (cercabet364R$ 107), segundo o relatório do Centrobet364Documentação e Análise Social da Federação Venezuelanabet364Professores (Cendas-FVM).
Em janeiro, a cesta básica familiar estavabet364US$ 535,63 (aproximadamente R$ 2.678),bet364acordo com a mesma instituição. Um professor precisabet364quase 25 salários por mês para cobri-la.
O último ajuste salarial do governobet364Nicolás Maduro foibet364marçobet3642022 e o salário base dos funcionários públicos é desde entãobet364130 bolívares por mês, o que equivale a cercabet364US$ 3,6 (R$ 18).
Em janeiro passado, Maduro anunciou o aumento do chamado "bônusbet364guerra econômica" e do ticketbet364alimentação para o equivalente a US$ 100 por mês (R$ 500).
No entanto, nem todos recebem esse bônus. Para isso, é necessário ter o "carnê da pátria", que é obtido ao se registrar no "Sistema Pátria", uma entidade que, segundo setores críticos ao chavismo, é um mecanismobet364controle da população.
De professora a mototaxista
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Às vezes, Belkis considera deixar o ensino, mas ela diz que continua por vocação, "para não perder o contato com as crianças".
Ao seu redor, muitos professores abandonaram as salasbet364aula.
"Conheço professores que são mototaxistas, que fizeram cursosbet364gerenciamentobet364redes sociais, professoras que trabalham fazendo sobrancelhas, colocando cílios... Outros que fizeram um cursobet364massagem redutora e terapêutica, professoresbet364ginástica que foram para academias. Eles estãobet364atividades mais lucrativas do que dar aulasbet364uma escola", explica.
Yasser Lenin Sierra é um dos que ingressaram no sistema públicobet364educação e agora trabalham, entre outras coisas, como mototaxistas.
"A moeda não vale nada e a necessidade obriga. Com um horáriobet364trabalhobet36440 horas por semana e 12 turmas para dar aulas, eu ganhava cercabet364US$ 5 por quinzena, e com o cestaticket [um vale alimentação] entre US$ 20 e US$ 25", conta Sierra à BBC Mundo.
Este professorbet364educação física diz quebet364uma corrida longabet364moto,bet364San Josébet364Cotiza, no oestebet364Caracas, até Petare, no leste, pode ganhar entre US$ 8 e US$ 10.
"O dobro do que ganhava dando aulabet364apenas uma corrida. Quando vou ao banco e saco dinheiro para comprar comida, dói. E eu tenho que comer, tenho que ter energia para dar aula, devo vestir roupas adequadas para trabalhar confortavelmente e sem me lesionar", afirma.
Além da moto, ele dá 4 horasbet364aulabet364uma escola particular, que pagabet364dólares, e faz "o que aparecer".
"Em um bom mês, no total, consigo fazer cercabet364US$ 200 a US$ 330. Entre quatro adultos, conseguimos cobrir os gastos da família", explica.
Outros, como Belkis e Yasser contam, decidiram não apenas sair das salasbet364aula, mas deixar a Venezuelabet364buscabet364um futuro melhor.
Eles se juntam à lista dos 7,7 milhõesbet364pessoas que saírambet364um país que continuabet364uma profunda crise econômica e política.
Para conhecer o pontobet364vista das autoridades sobre a grave crise do setor educacional na Venezuela, a BBC News Mundo entroubet364contato com o Ministério da Educação do país para entrevistar algumbet364seus representantes, mas o pedido não foi atendido.
A opção privada
Em 2017, Tulio Ramírez era um dos que estava fazendo as malas para sair do país.
Seu currículo era extenso: sociólogo, advogado com mestradobet364Formaçãobet364Recursos Humanos, doutorbet364Educação, pós-doutoradobet364Filosofia e Ciências da Educação, com 38 anosbet364experiência como professor universitário.
Ele lecionavabet364duas universidades públicas, mas seu salário não ultrapassava US$ 30 por mês. "Eu nem conseguia ir trabalhar porque não tinha como abastecer o carro com gasolina", relata.
Ele nos conta issobet364Caracas porque, no último momento, recebeu um convite da Universidade Católica Andrés Bello (Ucab), uma instituição privada que lhe ofereceu um saláriobet364dólares.
"Quando ouvi o valor, comecei a desfazer minhas malas."
A oferta naquele momento era muito boa. Sete anos depois, com a inflação e o aumento do custobet364vida na Venezuela, o valorbet364US$ 1.100 é "bastante decente", mas menor se comparado com outros colegas na América Latina.
"Com minha experiência, títulos e classificação, os professores universitários na região ganhambet364tornobet364US$ 4.000 a US$ 5.000", diz.
No Chile, o saláriobet364um professor pode variar entre US$ 3.000 e US$ 4.500. Na Colômbia, estábet364tornobet364US$ 2.300 e no Equador, cercabet364US$ 2.000, dependendo do cargo e da antiguidade.
Ainda assim, Tulio sabe que é privilegiado. Ele está entre a minoriabet364educadores que ainda se dedica ao ensino na rede privada,bet364forma exclusiva e com um pouco maisbet364dinheiro no bolso.
Na Venezuela,bet364cada dez instituiçõesbet364ensino, 8 são públicas.
A educação com "os 5 menos"
Ramírez também é presidente da ONG Assembleiabet364Educação e vê com preocupação a situação atual.
"Temos a educação dos 5 menos: menos professores, menos estudantes, menos investimento na educação pública, menos geraçãobet364reposição e menos qualidade na educação. Ela está se deteriorando e não há manutenção", explica.
Ele relata que a Universidade Pedagógica Experimental Libertador (Upel), a principal instituição dedicada à formaçãobet364professores, tinha 106 mil estudantesbet3642010. Em 2022, eram apenas 43 mil.
"A educação não é atrativa para nenhum estudante do ensino médio. Para preencher as vagas, levaríamos cercabet36425 anos, e dependemos desses graduados. A situação é extremamente grave", destaca.
A Ucab realizou um estudo sobre o estado da educação no país e Carlos Calatrava, diretor da Escolabet364Educação deste centro, nos diz que o mínimo necessário agora são cercabet364256 mil professores.
"Você se perguntará quem cobre isso, quem está nas salasbet364aula", questiona Ramírez por videochamada.
"Os jovens que trabalhavam no programa 'Emprego Juvenil', por exemplo. Ou pais e mães voluntários que sabem algo sobre uma determinada matéria que possam dominar. É assim que estamos indo", responde.
Em outubrobet3642021, o Ministério da Educação anunciou a incorporaçãobet364pelo menos 1.700 jovens do ensino médio do Programa Emprego Juvenil, que oferece empregosbet364posiçõesbet364professores.
Carlos Calatrava enfatiza o mesmo: "São pessoas sem formaçãobet364educação. Alguns o fazem como parte do trabalho social que deve ser feito no ensino médio e ensinam crianças do ensino fundamental. Não estou dizendo que isso seja errado, mas pelo menos deveria haver um professor adulto para orientar".
Deixado para trás na listabet364espera
A outra face dessa situação são as carências enfrentadas pelas crianças, desde o ensino fundamental até o ensino médio e até mesmo nas universidades.
Com a faltabet364professores nas instituições educacionais, há anos foi adotada a medidabet364os alunos irem para a escola um dia e meio ou dois dias por semana para condensar todas as aulas e disciplinas da semana.
Isso é conhecido como "horário mosaico" e ocorrebet364todos os níveis educacionais, inclusive com o pessoalbet364manutenção e administrativo.
"Nessas condições, como você constrói conhecimento? Como você mantém uma universidade com certa vida acadêmica se não há funcionários, trabalhadores? E você não pode obrigá-los a ir porque não há como, porque os saláriosbet364todo o pessoal não são suficientes", reclama Tulio Ramírez.
A Venezuela não faz partebet364programasbet364avaliação internacional como o relatório Pisa (Programa Internacionalbet364Avaliaçãobet364Estudantes). Mas também não realiza medições internas oficiais para avaliar o nível educacional ebet364evolução.
"Me deparo com alunosbet364Comunicação que não sabem escrever ou médicos que nunca viram um cadáver e, ainda assim, são médicos. Isso é perigoso", afirma Ramírez.
A Ucab conduziu vários estudos para avaliar as habilidades acadêmicas dos alunos e, segundo Carlos Calatrava, "a cada ano elas estão diminuindo".
"Pode parecer feio dizer isso, mas na Venezuela temos uma qualidadebet364educação baixa, nula ou regular. Nem sequer alcançamos o mínimo, dez pontosbet36420".
Eles também observaram uma tendência. Antes existia uma diferença entre a educação pública e privada, sendo esta últimabet364um nível mais elevado. "Essa diferença não existe mais, há uma igualdade na queda", destaca Calatrava.
Sem motivação e sem merenda
O outro problema dos que realmente frequentam as aulas não se resume apenas à faltabet364conhecimentos acadêmicos, reconhece Calatrava.
"Há uma geração que não entende completamente, que não sabe como lidar emocionalmente com situações como quando um colega, sem querer, os empurra. Há um forte componente socioemocional,bet364socialização, que está se perdendo com o horário fragmentado."
Calatrava observa ainda que há crianças excluídas do sistema "seja pela severidade da crise que estamos enfrentando, ou porque, devido à crise, essas crianças e adolescentes precisam ser incorporados ao trabalho o mais rápido possível".
Em 2022, estimava-se que havia 1,5 milhãobet364crianças fora da escola,bet364acordo com a Pesquisa Nacional sobre Condiçõesbet364Vida 2022 (Encovi) da Ucab.
Hoje, esse número pode chegar a cercabet3643 milhões, estima Calatrava.
"Essas crianças estão presas no ciclo vicioso da pobreza, não conseguem ter acesso à educação, se tornam pais cedo e esse ciclo se repete", observa.
"Estamos jogando com o futuro do país", afirma.
Dentre essas crianças que estão fora da escola, algumas entraram no sistema, mas acabaram desistindo.
"O fatobet364você ir para a aula e não encontrar seu professor, aquele que você conhecia, porque ele renunciou ou saiu do país, e ninguém te atender... Isso desmotiva. Há muita evasão escolar", relata Belkis Bolívar.
Além da faltabet364motivação, ela destaca as dificuldades econômicas enfrentadas por cada família. Belkis lembrabet364quando trabalhavabet364uma escolabet364uma área muito pobrebet364Antímano, a oestebet364Caracas.
Ela diz que poucas crianças não conseguiam trazer lanche, "mas sempre levava quatro arepas [bolinhos achatado feitobet364farinhabet364miho] prontas e dava para quem não trouxe".
"Agora as crianças estão dormindo na salabet364aula e não é por preguiça, é por fome. Elas desmaiam, estão desnutridas... E o salário do professor já não é suficiente para fornecer lanches para eles".
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