4 fatores que explicam a nova desaceleração econômica na Venezuela:bet+ apostas

Nicolás Maduro

Crédito, Reuters

Legenda da foto, A economia da Venezuela sob o governobet+ apostasNicolás Maduro voltou a desacelerar

E alguns venezuelanos começaram a ver uma luz no fim do túnel.

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"Em dezembro passado, vimos cenas que não víamos há muito tempo", disse Alexa Gómez, advogada que morabet+ apostasCaracas, à BBC News Mundo (serviçobet+ apostasespanhol da BBC). "Muita gente na rua. Mas, sobretudo, muita gente comprando. Havia uma certa calmaria, uma falsa crençabet+ apostasmelhora."

Essa miragem foi alimentada pela aberturabet+ apostasgrandes lojasbet+ apostasroupas importadas ebet+ apostascarrosbet+ apostasluxo, pela retomadabet+ apostaseventos culturais, pelo retornobet+ apostasshowsbet+ apostasartistas internacionais e pela abertura desenfreadabet+ apostasrestaurantesbet+ apostasalto padrão.

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Mas, a partir deste ano, esse sentimentobet+ apostasprosperidade desapareceu.

“Agora, você vê pouco fluxobet+ apostasLas Mercedes”, diz Gómez, que se refere a uma área no lestebet+ apostasCaracas caracterizada pela presençabet+ apostasbares, restaurantes e casas noturnas.

"Bares e restaurantes vazios, lojas fazendo promoções. Muitas pessoas angustiadas e comerciantes desesperados", observa.

Os números confirmam esse cenário. Em fevereiro, o FMI (Fundo Monetário Internacional) anunciou que o crescimento real do PIB da Venezuelabet+ apostas2023 seriabet+ apostas6,5%, projeção posteriormente corrigida para 5,0%.

Dados do Observatóriobet+ apostasFinanças da Venezuela (OVF) revelaram agora que, durante o primeiro trimestrebet+ apostas2023, a atividade econômica registrou uma quedabet+ apostas8,3%bet+ apostasrelação ao período anterior.

Segundo o FMI, a inflação deve fecharbet+ apostas400%.

O governo continua culpando as sanções dos EUA pelos problemas econômicos, mas o que está por trás dessa desaceleração econômica? Aqui explicamos quatro fatores que explicam esse cenário.

Lojabet+ apostascarrosbet+ apostasluxo na Venezuela

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Uma leve recuperação impulsionou o consumo e gerou falsas expectativas nos venezuelanos

1. Os limites da dolarização desordenada

As transações na Venezuela sempre foram feitasbet+ apostasbolívar, a moeda local. Mas a hiperinflação iniciadabet+ apostas2017, e que durou quatro anos, diluiu tanto o valor do bolívar que as cédulas acabaram servindo mais para decoração do que para comprar.

Em reação a isso, os venezuelanos começaram a usar o dólar para fazer pagamentos.

Essas transações eram feitasbet+ apostasmaneira informal, quase clandestina, devido à criminalização do usobet+ apostasmoeda estrangeira imposta pelo governobet+ apostasHugo Chávez.

Até que o governobet+ apostasNicolás Maduro,bet+ apostas2018, permitiu que as empresas anunciassem abertamente seus preçosbet+ apostasdólares, o que abriu caminho para a dolarizaçãobet+ apostasfato.

O usobet+ apostasuma moeda mais estável injetou um poucobet+ apostassegurança no mercado, impulsionou a atividade do setor privado e deu fôlego até às classes mais baixas. No entanto, a ausênciabet+ apostasregulamentação impediu que a dolarização fosse efetiva.

“A dolarização na Venezuela foi um processo espontâneo. Não foi uma política econômicabet+ apostasEstado”, explica o economista Giordio Cunto. "Foi feitabet+ apostasforma desordenada e fora das instituições financeiras. Isso complicou ainda mais o sistemabet+ apostaspagamentos no país."

Os clientes pagam com dólaresbet+ apostasdinheiro, mas os comerciantes não têm notasbet+ apostasbaixo valor para dar o troco. E as transações são feitas por meiobet+ apostasamigos ou parentes nos Estados Unidos, dada a impossibilidade dos venezuelanosbet+ apostasmovimentar dólares entre contasbet+ apostasbancos locais.

Em marçobet+ apostas2022, o governo aprovou uma reforma na Leibet+ apostasGrandes Operações Financeiras (IGTF), que implantou um impostobet+ apostas3% sobre as operaçõesbet+ apostasmoeda estrangeira realizadas por pessoas físicas e jurídicas - uma medida que desestimulava o uso do dólar.

“Depoisbet+ apostassete anosbet+ apostasrecessão, a economia do país não estava preparada nem forte o suficiente para essa carga tributária”, diz o economista José Manuel Puentes. “Foi uma decisão econômica equivocada, que teve o impactobet+ apostasesfriar a economia."

Embet+ apostasopinião, o governo Maduro implementou a dolarização incorretamente e depois quis impor novamente o uso do bolívar.

“Ele aplicou uma técnicabet+ apostasvai e vem,bet+ apostasvai e pára, que impactou as transações. No final, a faltabet+ apostasmedidasbet+ apostasestabilização econômica do governo tornou a dolarização menos eficaz”.

feirantes anunciando preçosbet+ apostasfrutasbet+ apostasdolares

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A revogação da leibet+ apostas2018 permitiu que as empresas anunciassem abertamente seus preçosbet+ apostasdólares

2. Dependência do setor comercial

A recuperação da economia venezuelana foi limitada, pois foi alavancadabet+ apostasapenas um setor produtivo: comércio e serviços.

Segundo dados publicados pela Bloomberg, 200 restaurantes foram inauguradosbet+ apostasCaracas no ano passado, o maior númerobet+ apostaspelo menos uma década. Quase metade foi destinada a um públicobet+ apostasalto poder aquisitivo, aquele com capacidadebet+ apostaspagar maisbet+ apostasUS$ 50 por refeição.

Mas o aumento da inflação, aliado à abrupta desvalorizaçãobet+ apostas25% ocorridabet+ apostasagostobet+ apostas2022, desanimou o consumo. Os negócios começaram a esvaziar.

“A revitalização da economiabet+ apostasque se baseou esta recuperação foi muito desequilibrada”, explica Cunto.

“Não envolvia outros setores mais produtivos ebet+ apostasmaior valor agregado como construção, mineração, manufatura, que ficavam para trás. Isso não era sustentável, porque era puxado pelo consumo. Como o consumo caiu, a recuperação ficou sem combustível”.

O número revelado por Iván Puerta, presidente da Associaçãobet+ apostasRestaurantes,bet+ apostasentrevista publicada pela Bloomberg, dá a dimensão do desastre: cercabet+ apostas60% dos novos estabelecimentos alimentares da Venezuela fecharam após um excesso inicialbet+ apostasentusiasmo.

Com isso, a contração das vendas comerciaisbet+ apostasrelação a janeiro do ano passado foibet+ apostas17%, segundo o economista Asdrúbal Oliveros.

"Em termos econômicos é a pior contração dos últimos três anos", diz.

Consequentemente, há outro fator que também afeta negativamente o consumo: a quedabet+ apostas15% nas remessasbet+ apostasvalores, fruto da crise pós-pandemia, o que significa que trêsbet+ apostascada dez domicílios na Venezuela dependem do dinheiro enviado por familiares que vivem no exterior.

shoppingbet+ apostasCaracas

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A recuperação econômica foi alavancada pelo setorbet+ apostascomércio. Isso tornou o crescimento limitado e insustentável

3. A dificuldadebet+ apostasvender petróleo

Durante o primeiro semestrebet+ apostas2022, a produçãobet+ apostaspetróleo da Venezuela registrou uma retomada, devido à recuperação da atividade dabet+ apostasprincipal empresa estatal, a PDVSA.

Depoisbet+ apostasestar nos níveis mais baixosbet+ apostassua história, a petrolífera estatal chegou a 735 mil barris por diabet+ apostasmaio daquele ano, segundo dados da Opep (Organização dos Países Exportadoresbet+ apostasPetróleo).

Esse impulso foi um incentivo para o setor estratégico da economia venezuelana que havia sido afetado pelas sanções impostas pelo governobet+ apostasDonald Trump, ex-presidente dos Estados Unidos, e pela perda do controlebet+ apostasativos petrolíferos dos americanos.

Em meio a esse cenário, a invasão da Ucrânia pela Rússia abriu a oportunidade para a Venezuela vender mais petróleo.

No entanto, o país não conseguiu aproveitá-la ao máximo.

"Este conflito teve um ‘efeito positivo’ na Venezuela porque é um país petrolífero, mas não conseguiu tirar mais proveito devido àbet+ apostasatual incapacidadebet+ apostasaumentarbet+ apostasprodução", diz José Manuel Puentes, que lembra que a PDVSA no passado chegou a produzir três milhõesbet+ apostasbarrisbet+ apostaspetróleo por dia.

Aliás, as sanções à Rússia interromperam a capacidade reduzida da Venezuelabet+ apostascomercializar seu petróleo. Uma circunstância que, aos olhos do governo, resultoubet+ apostasdificuldades na obtençãobet+ apostasmais divisas.

Paralelamente, outro fator trabalhava contra eles: problemasbet+ apostasarrecadação.

"A Venezuela vende seu petróleobet+ apostascondições muito opacas", diz Cunto. "Nem todo o valor acaba chegando ao país, o que dificulta o acesso aos recursos com os quais o governo pode contar."

Essa faltabet+ apostasliquidez, no final, impediu o governo Madurobet+ apostasmanter o mercadobet+ apostascâmbio sob controle, além das baixas reservas internacionais.

E diante da queda da renda, incentivar o uso do bolívar acabou sendo a saída.

homem segurando notasbet+ apostasdólares

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Legenda da foto, O descontentamento dos venezuelanos com os baixos salários e o alto custo dos alimentos não cessa

4. A persistênciabet+ apostasproblemas estruturais

A curta duração da recuperação econômica vivida pela Venezuela resulta, na opiniãobet+ apostasespecialistas, à persistência dos problemas estruturais do país.

“Em uma economia com uma profunda crise estrutural como a da Venezuela, toda melhora tem um teto”, diz o economista Asdrúbal Oliveros.

"Temos um Estado falido que não consegue gerar renda. Uma economia sancionada que mantém o país isolado. Sem possibilidadebet+ apostascrédito. Com problemas no serviço público... Nesse cenário, qualquer sinalbet+ apostasmelhora se dilui", acrescenta.

Muitos concordambet+ apostasafirmar que a força da recuperação econômica foi muito tênue, pois não tinha uma base sólida. Oliveras acredita que o erro foi superestimar a recuperação, com base nas expectativas que ela gerava na população.

“Temos uma economia muito improdutiva e pouco competitiva. Isso limita seu crescimento e diversificação."

Um futuro não tão sombrio

Mas o que esperar da economia da Venezuela nos próximos meses?

O economista José Manuel Puentes não está muito otimista.

"Se voltarmos a registrar números negativos no trimestrebet+ apostasabril, maio e junho, entraremos tecnicamentebet+ apostasrecessão, pelos números extraoficiais. Isso é muito preocupante", diz.

Já Oliveros acredita que, embora estejabet+ apostasum cenáriobet+ apostasdesaceleração, o país não voltará à crise econômica vividabet+ apostas2017.

"Agora temos uma economia dolarizada. Um setor privado que conquistou a independência e um governo mais pragmático. Teremos um segundo semestre menos ruim e poderemos fechar o ano com 5%bet+ apostascrescimento. Mas vai depender se começarmos a ver sinaisbet+ apostasestabilização".

Essa visão é partilhada por Cunto, que garante que o esfriamento da economia vai continuar a ser sentida, mas sem beirar um quadro crítico.

"Ainda há muita vulnerabilidade na política monetária, já que ela não se movimenta sozinha, mas está atrelada ao Executivo. Assim, não vamos crescer mais do que 5% neste finalbet+ apostasano."

Com essa perspectiva, ele sugere que o país seja mais conservador na magnitude da recuperação e explore atividadesbet+ apostasmaior produtividade.

"É preciso ser mais ágil para se adaptar às condições desse ambiente altamente volátil. A verdade é que não podemos contar com um salto quântico."