A história do Interdom, internato soviético que acolheu filhos1xbet gamesrevolucionários do mundo todo:1xbet games

Fundada1xbet games1933, esta instituição1xbet gamesensino recebeu durante décadas filhos1xbet gamesrevolucionários do mundo todo que precisavam1xbet gamesproteção. Entre seus alunos, estavam os filhos do chinês Mao Tsé Tung (ou Zedong), do militar iugoslavo comunista "Tito" (Josip Broz) e da espanhola Dolores Ibárruri, conhecida como La Pasionaria.

E também Viola.

"Cheguei muito frágil. Eu havia perdido meu pai, e sabia que ele havia sido executado. Chorava à noite porque sentia falta da minha mãe, não conseguia dormir", diz ela sobre os primeiros dias no internato, que acabou sendo1xbet gamescasa pelos dez anos seguintes.

“Mas rapidamente fui me integrando", acrescenta ela à BBC News Mundo, serviço1xbet gamesnotícias1xbet gamesespanhol da BBC.

"Em parte, graças à fraternidade que recebi dos meus colegas latino-americanos, com quem compartilhava uma história1xbet gamescomum."

Quando e por que o internato foi criado?

A ideia1xbet gamesum internato para filhos1xbet gamesrevolucionários veio1xbet gamesuma militante comunista suíça, Mentona Moser, cuja família abastada fundou a empresa1xbet gamesrelógios Moser,1xbet gamesSão Petersburgo.

Quando viajou para a Rússia1xbet games1926, Moser ficou tão inspirada pelo Estado comunista que decidiu doar parte1xbet gamessua herança para a criação da escola.

Ela contou com a ajuda1xbet gamesFritz Platten, um dos fundadores da Internacional Comunista, também conhecido por organizar o retorno1xbet gamesVladimir Lênin da Suíça para a Rússia1xbet games1917.

Eles escolheram a cidade1xbet gamesIvanovo — chamada tradicionalmente1xbet games"capital têxtil" da Rússia — para construir o estabelecimento, que desde o início contou com uma infraestrutura notável para a época.

Os primeiros a chegar ao internato foram os filhos1xbet gamesantifascistas da Bulgária e da Alemanha, mas com o tempo vários ativistas políticos do mundo todo, incluindo países como Grécia, Áustria, Itália, Espanha, Irã, Angola, Etiópia e Somália, enviaram seus filhos para Ivanovo.

O local também foi um refúgio para crianças durante o cerco a Leningrado na Segunda Guerra Mundial e após o acidente nuclear1xbet gamesChernobyl1xbet games1986.

No total, cinco mil crianças1xbet games85 países passaram pelo Interdom.

A presença latino-americana

E a América Latina não foi exceção.

"Desde a década1xbet games1930, muitas crianças latino-americanas começaram a chegar devido às diferentes ditaduras que assolaram a região", explica Cristián Pérez, autor do livro Los Niños del Interdom, que é acadêmico da Universidade1xbet gamesPlaya Ancha, no Chile.

Pérez afirma que a primeira onda veio1xbet gamesCuba na década1xbet games1930, depois que a ilha ficou sob o domínio1xbet gamesGerardo Machado. Depois vieram os guatemaltecos, filhos1xbet gamesfamílias ligadas ao Partido Trabalhista da Guatemala que se exilaram a partir1xbet games1954.

No fim da década1xbet games1960, chegaram jovens do Paraguai e do Equador, e mais tarde da Colômbia, após a tomada do poder pelos militares, liderados por Gustavo Rojas Pinilla.

A partir da década1xbet games1970, se somaram os filhos1xbet gamesrevolucionários do Chile e1xbet gamesoutros países da região que enfrentavam cenários complexos.

"A maioria destas crianças havia sofrido perseguição ou perda1xbet gamesfamiliares, muitos deles desaparecidos ou fuzilados. São sobreviventes1xbet gamesuma tragédia e, portanto, carregam nas costas as dores, o trauma e a angústia dessa sobrevivência", explica Cristián Pérez.

Segundo ele, esta história comum fez com que os latino-americanos se aproximassem e se apoiassem.

"Entre colombianos, equatorianos, chilenos, paraguaios, etc., eles eram realmente irmãos", acrescenta Pérez.

A chilena Viola Carrillo concorda.

"Havia um calor humano entre nós, uma fraternidade muito especial. Até hoje mantemos contato", afirma.

No fim da década1xbet games1970, os latino-americanos ocuparam um lugar especial no Interdom, tornando-se o grupo maior e mais bem organizado, explica Pérez.

Os estudantes destes países levaram1xbet gamescultura para a instituição, formando inclusive um emblemático grupo musical, chamado Los Ponchos Rojos, que chegou a ganhar popularidade além das fronteiras do internato.

A banda — que participou1xbet gamesfestivais1xbet gamesdiversas cidades da União Soviética — tocava ao ritmo do folclore do altiplano, com instrumentos locais como charango, zampoñas e bumbo, repertórios1xbet gamesVíctor Jara e Violeta Parra e outras referências sul-americanas. Eles também tocavam canções1xbet gamesprotesto.

"Como latinos, nunca deixamos1xbet gamescantar nossas músicas. Também fazíamos peças1xbet gamesteatro, líamos poesia", lembra Viola Carrillo.

Adaptação

Embora esta irmandade os tenha ajudado a tornar a adaptação não tão difícil no início, as circunstâncias eram adversas. A começar porque se falava 90% do tempo apenas1xbet gamesrusso, língua que a grande maioria das crianças não falava ao chegar.

Estas são as lembranças1xbet gamesÓscar Villagra, que precisou fugir do Paraguai1xbet gamesmeio ao governo militar1xbet gamesAlfredo Stroessner (que comandou o país entre 1954 e 1989) — e, aos 15 anos, entrou para o internato.

"Quando cheguei, senti um choque muito forte porque não tinha ideia1xbet gamesque precisava aprender outro idioma, e russo não é fácil", diz ele à BBC News Mundo.

"Mas tive que aprender rápido por necessidade, também tive que me acostumar com uma nova cultura, uma nova comida e um novo círculo", acrescenta.

Além1xbet gamesensinar russo, a escola garantia que as crianças aprendessem1xbet gamesprópria língua materna, história e cultura nativas. Por isso, se esforçava para encontrar professores até mesmo para os idiomas menos falados.

Isso fazia parte do seu currículo acadêmico que, segundo Pérez, era1xbet games"alto nível'.

"É preciso entender que este era um internato1xbet gameselite. Eles tinham todos os avanços técnicos, bibliotecas impressionantes, salas1xbet gamesmapas, instalações esportivas1xbet gamesalto nível e uma alimentação que provavelmente não havia1xbet gamesnenhum outro lugar da Rússia naquela época", diz ele.

Os alunos tinham que usar uniforme. Um para a parte da manhã, e outro para a tarde. Calças azuis para os homens, saias plissadas e sapatos1xbet gamesverniz para as mulheres. Sábado era o único dia1xbet gamesque podiam se vestir como quisessem (ocasião ideal para a troca1xbet gamesroupas entre os alunos).

A jornada começava cedo: todos acordavam às 6h da manhã.

Na sequência, a rotina consistia1xbet gamesfazer exercícios e, mais tarde, tomar café da manhã: ovos, pão com manteiga e iogurte.

Em seu livro, Pérez afirma que o resto do dia era dividido mais ou menos assim: aulas pela manhã, almoço — que poderia incluir a famosa sopa russa1xbet gamesbeterraba (borsch) —, soneca, fazer dever1xbet gamescasa e algumas horas livres para brincar.

Antes1xbet gamesdormir, havia algum espaço para convívio social até o apagar das luzes, às 20h.

Pioneiros

Mas sempre havia momentos1xbet gamesque os alunos sentiam falta dos pais.

Com a voz embargada, Viola Carrillo lembra que dos dez anos1xbet gamesque ficou na escola, visitou a mãe apenas1xbet gamesalgumas ocasiões.

"Hoje, aos 50 anos, posso dizer: Senti falta da minha família, da minha mãe… porque embora o Interdom tenha me dado tudo, nunca deixou1xbet gamesser um internato", afirma.

De alguma forma, essa tristeza era contrabalançada pelo orgulho que sentiam pelo que seus pais haviam feito ou continuavam fazendo1xbet gamesseus países1xbet gamesorigem.

Eles também eram motivados pela esperança1xbet gamesretornar.

"Conversávamos o tempo todo sobre o que estava acontecendo1xbet gamesnossos países, víamos televisão na esperança1xbet gamesque as coisas mudassem... fantasiávamos que voltaríamos e que estariam nos esperando com bandeiras", conta à BBC News Mundo Patricia Salgado, uma chilena que teve que deixar o país1xbet games1974 após o golpe1xbet gamesPinochet. Seu pai, Jorge Salgado, trabalhava no Ministério da Educação1xbet gamesSalvador Allende.

"Quando houve um atentado contra Pinochet no Chile, pensamos: Vamos embora!!"

"Sem esse estímulo, sem esse sonho, não teríamos conseguido sobreviver. Era o que nos mobilizava", acrescenta.

Uma lembrança semelhante é compartilhada com a BBC News Mundo pela equatoriana Aida León, filha1xbet gamesum ativista do partido comunista do Equador, que chegou ao internato1xbet games1973, aos 14 anos.

"Celebramos tanto a queda1xbet games(Anastasio) Somoza (que exerceu poder ditatorial na Nicarágua1xbet games1937 a 1979) quanto a libertação1xbet gamesGuiné-Bissau (em setembro1xbet games1974). Todos nós ficamos felizes", recorda.

É que respirava-se política1xbet gamestodos os cantos do internato.

"O Interdom não era um lugar para os filhos da burguesia, mas para os dos revolucionários. Então, desde a1xbet gamesfundação, tinha uma forte presença política e ideológica. Eles preparavam as crianças que mais tarde voltariam ao campo1xbet gamesbatalha", explica Pérez.

"Toda educação tinha o sentido libertador do marxismo daquela época. De formar pessoas comprometidas com os processos1xbet gamesmudança, com as lutas sociais", completa.

Alguns alunos lembram, inclusive, que brincavam1xbet games"guerrilha" no bosque adjacente à instituição1xbet gamesensino.

"Sempre que podíamos, fugíamos para a floresta, construíamos fortes e brincávamos1xbet gamesguerra", lembra Viola Carrillo.

Para quem tinha um interesse particular pela política, havia a opção1xbet gamesaderir à organização Pioneiros, uma estrutura criada1xbet games1922 para envolver crianças1xbet games10 a 14 anos1xbet gamesatividades partidárias e formá-las com os valores comunistas.

Aqueles que faziam parte deste grupo eram facilmente reconhecidos porque tinham que usar um lenço vermelho.

Uma vez por ano, eles participavam1xbet gamesacampamentos1xbet gamescolônia1xbet gamesférias, onde conheciam milhares1xbet gamesoutras crianças da União Soviética que faziam parte da organização.

O retorno

Mas as crianças que faziam parte do Interdom sabiam que1xbet gamespassagem pelo local tinha prazo1xbet gamesvalidade.

Quando concluíam o ensino médio, elas tinham que sair e enfrentar a vida real. Muitas vezes, voltar aos seus países não era uma opção.

"Era difícil, principalmente por uma questão econômica. Os rublos não valiam nada1xbet gamesnenhum lugar", explica Pérez.

"Isso fez com que muitos jovens permanecessem na União Soviética ou1xbet gamesoutros lugares da Europa como a Suécia", acrescenta.

Mas alguns latino-americanos conseguiram voltar.

É o caso1xbet gamesViola Carrillo e Patricia Salgado, que após seguirem carreira profissional na Rússia, voltaram ao Chile na primeira metade da década1xbet games1990, após o fim do regime1xbet gamesPinochet.

Óscar Villagra e Aida León também retornaram ao Paraguai e ao Equador, respectivamente, nos anos 1980.

Apesar da alegria que significava voltar para casa depois1xbet gamestantos anos, para alguns o processo não foi fácil.

"Fui a única da minha família que voltou, e fiquei muito sozinha. Diria até que o segundo exílio foi pior que o primeiro porque cheguei a uma idiossincrasia totalmente diferente, muito individualista", lembra Salgado.

Atualmente, o Interdom — que tem o nome1xbet gamesElena Stasova, uma líder do Partido Comunista da União Soviética — continua existindo, embora1xbet gamesuma forma muito diferente.

Embora tenha sobrevivido à dissolução da União Soviética1xbet games1991, a presença1xbet gamescrianças estrangeiras do mundo mundo — e especialmente da América Latina — na instituição diminuiu.

No início dos anos 2000, ganhou força a ideia1xbet gamestransformar o local1xbet gamesacademia militar. O plano foi suspenso depois que os estudantes escreveram para o presidente russo, Vladimir Putin, e fizeram greve1xbet gamesfome.

Nos anos seguintes, o Interdom se dedicou principalmente a receber jovens da Rússia e das ex-repúblicas soviéticas.

Hoje, o internato — que conta com 10 prédios e capacidade para mais1xbet games500 alunos — realiza apenas programas educacionais1xbet gamescurta duração (90 dias no máximo) para crianças estrangeiras.

Mas a memória nostálgica1xbet gamesmuitos dos que estudaram lá permanece intacta.

Os latino-americanos que deram seu depoimento à BBC News Mundo afirmaram que ainda possuem objetos1xbet gamesdecoração russa1xbet gamessuas casas. Também continuam preparando pratos típicos da época soviética, enquanto suas músicas e séries preferidas são1xbet gamesrusso.

"É uma cultura tão forte que é impossível deixar para trás", diz Viola Carrillo.