O desconhecido fascíniobest 888 apostaFreud pela América Latina :best 888 aposta

Mural sobre Freud na Cidade do México

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Embora Sigmund Freud nunca tenha colocado os pés na América Latina, ele manteve relações estreitas com médicos e intelectuais da região. Na foto, um mural sobre Freud na Cidade do México

Uma nova exposição na Museu Freud, localizado no nordestebest 888 apostaLondres, onde o pai da psicanálise morreubest 888 apostasetembrobest 888 aposta1939, fala sobre essa conexão.

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Por meiobest 888 apostacartas privadas, fotografias, esculturas e livros, a exposição explora o tremendo impactobest 888 apostaFreud na América Latina, a tal ponto que hoje a região é reconhecida como um importante centrobest 888 apostapsicanálise.

Além disso, a mostra revela o fascínio do médico e pesquisador austríaco pelo continente, estabelecendo relações estreitas com cientistas brasileiros, peruanos e chilenos, entre outros.

Sigmund Freud

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Legenda da foto, Sigmund Freud é conhecido como o 'pai da psicanálise'

'Sobre a coca'

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Mas como começou a ligaçãobest 888 apostaFreud com a América Latina?

Segundo os pesquisadores, a resposta tem a ver com o uso da coca.

Como se sabe, na décadabest 888 aposta1880, o investigador interessou-se por esta droga — que na altura não era ilegal — e descobriu que a digestão e o humor melhoravam após beber água misturada com cocaína dissolvida.

As descobertasbest 888 apostaFreud a esse respeito foram registradasbest 888 apostaum artigobest 888 aposta1884 chamado Über Coca ("Sobre a Coca",best 888 apostatradução livre), onde pela primeira vez a América Latina é mencionadabest 888 apostaumbest 888 apostaseus escritos, ao explorar o uso tradicional da folha da planta coca no Peru e na Bolívia.

"A relaçãobest 888 apostaFreud com a América Latina começa com as pesquisas sobre o uso da coca como medicamento ritual no continente. Foi seu primeiro contato intelectual [com a região]", explica Mariano Ben Plotkin, especialistabest 888 apostahistória da psicanálise e autor do livro Estimado doctor Freud: una historia cultural del psicoanálisis en América Latina (“Querido Doutor Freud: uma história cultural da psicanálise na América Latina”,best 888 apostatradução livre).

O historiador acrescenta que para isso foi útil o domínio do espanhol, língua que ele aprendeu ainda criança, como autodidata, para poder ler Dom Quixote,best 888 apostaMiguelbest 888 apostaCervantes, no original.

"Freud fez um trabalho único sobre o uso anestésico da coca, que hoje é muito controverso", acrescenta Plotkin.

Anos depois desses estudos, o médico deixoubest 888 apostadefender os benefícios estimulantes e analgésicos da coca, enquanto surgiam notícias sobre o nívelbest 888 apostadependência e mortes por overdose.

Exposição sobre Freud

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A exposição 'Freud e a América Latina' foi montada na última casa onde Freud morou,best 888 apostaLondres

'Amigos' latinoamericanos

Mesmo ao abandonar a coca, ele não se esqueceu da América Latina.

A partirbest 888 apostaViena, Freud continuou a estreitar laços com importantes médicos, psiquiatras e intelectuais do continente.

Talvez o mais relevante deles tenha sido Honorio Delgado, um psiquiatra peruano com quem estabeleceu uma estreita relação na décadabest 888 aposta1920 (e a quem Freud descreveu como o "primeiro amigo estrangeiro").

"Delgado veiobest 888 apostaArequipa, da classe alta peruana. Ele liderou descobertas e ensaios muito relevantes para a época, tornando-se um dos psiquiatras mais importantes do continente", explica Mariano Ruperthuz, psicanalista e acadêmico da Universidade Andrés Bello do Chile, à BBC News Mundo, o serviço da BBCbest 888 apostaespanhol para a América Latina.

Freud e Delgado trocaram cartas, artigosbest 888 apostajornais e presentes durante anos. O psiquiatra peruano, junto com a esposa alemã, chegou a visitar Freud várias vezesbest 888 apostaViena.

E, embora Delgado tenha posteriormente rejeitado a psicanálise, entre 1920 e 1930 ele foi muito ativo na expansão e na propagação das ideiasbest 888 apostaFreud por toda a América Latina.

Tanto que ele escreveu a primeira biografiabest 888 apostaespanhol do médico austríaco no Peru.

Honorio Delgado

Crédito, Freud Museum

Legenda da foto, Freud descreveu Honório Delgado (foto) como seu 'primeiro amigo estrangeiro'

Freud também estabeleceu relações com ilustres médicos brasileiros, como Durval Marcondes, que falava alemão e traduziu algumas das pesquisas do psicanalista para o português.

Marcondes foi um dos membros fundadores da Sociedade Brasileirabest 888 apostaPsicanálise.

O cientista Gastão Pereira da Silva também se correspondeu com Freud e ajudou a difundir a psicanálise no Brasil. Ele chegou a dirigir um programabest 888 apostarádio no Riobest 888 apostaJaneiro sobre a análisebest 888 apostasonhos.

Outros nomes — como os argentinos Jorge Thenon e Gregorio Bermann e o chileno Fernandobest 888 apostaAllende Navarro — também aparecem na lista dos que mantiveram algum tipobest 888 apostarelacionamento com o pai da psicanálise. Bermann foi visitá-lobest 888 apostaViena, assim como Honório Delgado.

Além disso, na exposiçãobest 888 apostaLondres há uma cartabest 888 apostaFreud dirigida a Juan Marín, poeta, romancista e diplomata chileno, e ao ganhador do Prêmio Nobelbest 888 apostaLiteratura, Pablo Neruda, após o psicanalista ter recido uma ofertabest 888 apostaasilobest 888 apostaSantiago, na esteira da perseguição nazista.

Embora Freud nunca tenha aceitado tal convite, para os pesquisadores esta trocabest 888 apostacartas reflete, mais uma vez, a estreita ligaçãobest 888 apostaFreud com o continente.

Relação 'assimétrica'

Mesmo assim, Mariano Ben Plotkin explica que esses laços entre Freud e os intelectuais latino-americanos era "bastante assimétrico" e "desigual".

"Freud pouco se importava com o que diziam sobre a psicanálise. Isso pode ser percebido nas correspondências, onde não há discussões teóricas, mas, sim, gratidão e um interesse legítimo por aquele mundo", ressalta.

"Freud aceitou desvios da psicanálise na América Latina que seriam completamente inaceitáveis ​​na Europa. Porque para Freud essa região era uma terrabest 888 apostamissão, uma provabest 888 apostaque a psicanálise havia chegado a lugares distantes e exóticos", acrescenta o historiador.

Freud lendo uma carta

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Freud trocou cartas e presentes com vários médicos, psiquiatras e intelectuais da América Latina

Essa ampliaçãobest 888 apostasuas teorias pela América Latina foi tremendamente importante para o médico austríaco, dizem os pesquisadores.

Prova disso foi seu estranho interessebest 888 apostalevar consigo 34best 888 apostaseus 62 livros latino-americanos — muitos dos quais com dedicatórias — quando teve que fugirbest 888 apostaViena para Londres.

Como judeu não praticante e fundador da escola psicanalítica na Áustria, Freud era considerado inimigo pela Alemanha nazista. Os estudos dele foram queimados publicamente. A família toda do médico foi vítimabest 888 apostaintensa perseguição.

Segundo Mariano Ben Plotkin, dos 34 livros latino-americanos que chegaram a Londres, "Freud não leu nenhum".

"Metade deles está escritobest 888 apostaportuguês, e ele não lia português. Então alguém se pergunta: por que ele se deu ao trabalhobest 888 apostacarregar consigo livros que nunca leu e nunca leria na vida? Eles deveriam mostrar à posteridade que a psicanálise havia chegado a países exóticos", afirma o especialista.

Antiguidadesbest 888 apostaMéxico e Peru

Mas o acervobest 888 apostaFreud não conta apenas com livros que vieram da América Latina.

O psicanalista também guardou antiguidades da América Central e do Sul.

Embora não se saiba quando ou como adquiriu estes objetos, acredita-se que esses objetos possam ser presentes, ou foram compradosbest 888 apostaantiquários europeus.

Antiguidades da América Latina

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Parte da coleçãobest 888 apostaantiguidadesbest 888 apostaFreud (que ainda está guardada na casabest 888 apostaLondres) vembest 888 apostapaíses latino-americanos

Em exposição embest 888 apostacasabest 888 apostaLondres, há uma pequena estátuabest 888 apostaterracotabest 888 apostaum homem ajoelhado que vembest 888 apostaNayarit, no oeste do México.

Além disso, existe uma embarcação Moche com um colar do Peru que os pesquisadores acreditam ter sido presenteado por Honório Delgado.

Para Jamie Ruers, curador da exposição Freud e a América Latina, essa foi mais uma das coisas que fascinaram o médico sobre o continente.

"Se olharmos para as antiguidadesbest 888 apostaFreud, ele sempre foi fascinado pelas civilizações do passado. A maioria dos objetosbest 888 apostasua coleção são da Grécia Antiga, Roma, Egito… Acho que a ideiabest 888 apostaaprender sobre culturas e civilizações antigas incríveis sempre o fascinou", disse ele.

"E Freud via a América Latina como um lugar exótico, sem dúvida", acrescenta.

A influênciabest 888 apostaFreud na região

Tudo o que foi dito acima talvez explique por que as ideiasbest 888 apostaFreud foram tão bem recebidas na América Latina, a tal ponto que hoje cidades como Buenos Aires abrigam o maior númerobest 888 apostapsicanalistas do mundo.

"Quando você pensabest 888 apostapsicanálise, lugares como Viena, Paris, Londres ou Nova York vêm à mente. Mas uma nova pesquisa (divulgada com a exposiçãobest 888 apostaLondres) desafia isso, porque há outro lugar no mundo onde ela foi realmente adotada: a América Latina”, diz Jamie Ruers.

Isto se reflete não apenas no grande númerobest 888 apostamédicos do continente que seguiram os passosbest 888 apostaFreud — e divulgaram seus estudos — mas também na forma como essas ideias permearam a cultura popular latino-americana.

Coleçãobest 888 apostaAlberto Hidalgo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A coleção do poeta e escritor peruano Alberto Hidalgo, por meio da qual ele divulgou a obrabest 888 apostaFreud, teve enorme popularidade na região

Por exemplo, na Buenos Airesbest 888 aposta1930, foi criada uma seção especial na revista feminina Idilio chamada "A psicanálise vai te ajudar", que analisava e ilustrava os sonhosbest 888 apostaleitores.

O psicólogo italiano Gino Germani esteve por trás do projeto. Antes da morte do especialista, Mariano Ben Plotkin conversou com ele.

"Perguntei por que ele pensavabest 888 apostafazer aquela seção sobre psicanálise. E ele me respondeu: 'Porque ele estava vendendo.' Nada mais que isso", diz Plotkin.

O mesmo aconteceu com uma coleção do poeta e escritor peruano Alberto Hidalgo, por meio da qual ele divulgou a obrabest 888 apostaFreud.

"A coleção foi extremamente popular, abordando temas como a histeria feminina ou a origem do sexo. Foi publicado primeiro na Argentina e depoisbest 888 apostaoutros países da América Latina, e chegou a ser traduzido para o português", diz Plotkin.

Para o historiador, a psicanálise atraiu tanto os latino-americanos porque lhes permitiu ver "que havia a possibilidadebest 888 apostacompreender o mundobest 888 apostaoutro pontobest 888 apostavista".

Esse "outro pontobest 888 apostavista" continua, sem dúvida, a impactar muitos latino-americanos até hoje.

E, 84 anos apósbest 888 apostamorte, Freud está presentebest 888 apostauma região que nunca visitou pessoalmente, mas que é atormentada por traumas e sonhos como aquele método que o psicanalista criou — para ouvir os primeiros e interpretar os segundos.