Os venezuelanos refugiados há 9 meses365 new betembaixada sob custódia do Brasil: 'Maduro sabe que somos civis desarmados e indefesos':365 new bet

A embaixada da Argentina está sob a custódia do Brasil desde agosto, depois que o governo do presidente venezuelano Nicolás Maduro revogou a autorização concedida aos diplomatas argentinos para que permanecessem no país. As autoridades defendem que, na sede diplomática, os refugiados planejaram supostos atos terroristas.

Nestes nove meses365 new betasilo, a oposição venezuelana e os próprios refugiados na embaixada denunciaram a prática365 new betassédio à sede diplomática365 new betdiversas formas. Há algumas semanas, eles denunciam, por exemplo, que estão sem abastecimento365 new betenergia elétrica e sem água.

Centenas365 new betpessoas já foram detidas, antes e depois das eleições365 new betjulho.

O Conselho Nacional Eleitoral (CNE) da Venezuela anunciou Maduro como vencedor, sem publicar as atas detalhadas com os resultados do pleito. Os membros do CNE, em365 new betmaioria, foram nomeados pelo governo.

A oposição denunciou a ocorrência365 new betfraude, publicando mais365 new bet80% das atas, que evidenciavam o triunfo365 new betGonzález.

O candidato teve que sair do país e agora está na Espanha. E a líder da oposição Maria Corina Machado, que foi impedida365 new betconcorrer, vive na clandestinidade.

Como muitos outros mais, os dois são acusados365 new bet"traição à pátria", entre outros delitos. E seis opositores ficaram refugiados na embaixada argentina, sem saberem por quanto tempo ainda conseguirão resistir.

Na noite365 new betsábado (21/12), a Iniciatica Democrática da Espanha e das Américas (Idea), grupo que reúne ex-chefes365 new betEstado, publicou uma nota365 new betque expressa "preocupação e escândalo" diante da saída365 new betum dos asilados na embaixada argentina365 new betCaracas.

O grupo diz que houve uma "aberta violação da Convenção365 new betViena sobre relações diplomáticas".

A Idea denuncia que um dos seis asilados, Fernando Martínez Mottola, foi entregue "nas mãos dos repressores" para "implicar seus companheiros365 new betatividades golpistas" e pede "uma ação da Organização dos Estados Americanos e da União Europeia" sobre o caso.

Já o Ministério Público venezuelano afirmou que Mottola, que foi ministro dos Transportes e Comunicações durante a presidência365 new betCarlos Andrés Pérez, na década365 new bet1990, saiu da embaixada e se apresentou voluntariamente às autoridades no dia 19365 new betdezembro.

Segundo a nota do órgão, ele "decidiu colaborar ativamente com a justiça venezuelana".

'Desestabilizar o governo'

Com Pedro Urruchurtu, estão refugiados Magalli Meda, diretora365 new betcampanha da líder da oposição, Maria Corina Machado; Omar González, Claudia Macero e Humberto Villalobos, colaboradores do partido Vente Venezuela, liderado por Machado.

Fernando Martínez Mottola, ex-ministro e assessor da Plataforma Unitária Democrática (PUD), estava com o grupo até recentemente, mas não se encontra mais na embaixada — a oposição fala que ele foi detido; o governo diz que ele se entregou voluntariamente.

"É uma situação estressante, sufocante", disse Urruchurtu à imprensa.

"É claro que, depois365 new betnove meses e, particularmente, destas três semanas [sem luz], existe um desgaste emocional. É natural, com a distância da família, na época do ano365 new betque estamos, com as pressões existentes e as ameaças."

A filha365 new betMagalli Meda, Eugenia Olavarría Meda, mora na Espanha. Ela tomou conhecimento da situação por uma amiga, quando365 new betmãe já estava refugiada.

"Havia rumores sobre as ameaças há tempos, desde dezembro365 new bet2023", ela conta, da Espanha, para a BBC News Mundo (o serviço365 new betespanhol da BBC). "Até que elas se materializaram, se tornaram realidade."

Em março, a Procuradoria-Geral da Venezuela emitiu uma ordem365 new betprisão contra todo o grupo. O órgão os acusava365 new betestarem vinculados a supostos atos365 new betviolência para desestabilizar o governo.

O procurador-geral, Tarek William Saab, declarou que eles se envolveram365 new betuma trama conspiratória, que incluía ataques a quartéis militares e manifestações, entre outras ações violentas.

Ao longo365 new bet2024, especialmente depois das eleições365 new bet28365 new betjulho, o governo venezuelano deteve centenas365 new betpessoas.

No início365 new betagosto, Maduro afirmou que havia "2.229 terroristas capturados". O último relatório da ONG Foro Penal informou que 1.903 pessoas estavam "presas por motivos políticos".

Eugenia Olavarría declarou que estava mentalmente preparada para o caso365 new betque365 new betmãe precisasse buscar refúgio, mas não para "o primeiro assédio,365 new bet29365 new betjulho, quando a embaixada foi cercada".

O ato ocorreu logo depois das eleições. A oposição e parte da comunidade internacional consideram o anúncio365 new betMaduro como vencedor sem a apresentação das atas do pleito como um ato fraudulento.

A embaixada ficou sem água, sem eletricidade, e foi cercada pela Polícia Nacional Bolivariana. E houve uma tentativa365 new betentrar no imóvel naquela noite, sem sucesso.

"Estamos sem eletricidade desde 23365 new betnovembro, vimos que houve uma mobilização para isso e não recebemos nenhum aviso", diz Urruchurtu.

"Veio um veículo da Corpoelec, a empresa do Estado responsável pela eletricidade, e simplesmente levou os fusíveis. Uma empresa estatal se prestou a assediar e cortar os serviços para uma embaixada. Acredito que esta seja a maior prova365 new betviolação da Convenção365 new betViena."

O Ministério365 new betRelações Exteriores da Argentina denunciou a "perseguição" à365 new betsede diplomática. Já a chancelaria venezuelana declarou ter reagido às "ações365 new betingerência" do governo do presidente argentino, Javier Milei, ao "desconhecer os resultados eleitorais".

A Venezuela exigiu que o governo argentino retirasse seu pessoal diplomático do território venezuelano e,365 new betagosto, o Brasil assumiu a representação diplomática do país vizinho.

Desde então, a oposição e os refugiados denunciam perseguição contínua ao edifício.

O ministro365 new betRelações Interiores, Justiça e Paz da Venezuela, Diosdado Cabello, declarou: "Não sei por que ele [Milei] diz que estão assediando365 new betembaixada. [...] A Embaixada da Argentina está aí. Eles verão. Que paguem a luz, então. Que paguem os serviços. Também não iremos dar nada365 new betpresente para eles."

Sem água, nem luz – só comida

A falta365 new beteletricidade não é o único problema enfrentado pela embaixada, conforme denunciado. A oposição declarou que também foi cortado o abastecimento365 new betágua potável.

Devido à escassez365 new betágua na Venezuela, muitos lugares instalaram tanques365 new betarmazenamento. Mas eles funcionam com motores elétricos.

"Como não há eletricidade, a água não chega", explica Olavarría Meda.

O fluxo365 new betágua costuma chegar à embaixada às terças ou quartas-feiras, mas365 new betpouca quantidade. Por isso, eram normalmente usados tanques adicionais, o que não foi possível nas últimas três semanas.

"A pouca água potável que entrou veio literalmente por autorização das forças365 new betsegurança, que decidem quando, quanta água e como ela entra, o que é imensamente grave", diz Urruchurtu.

Não há sinais365 new betmelhora da situação, segundo os relatos.

"Hoje consegui falar com ela [minha mãe] às quatro da manhã, horário dela, quando é ligado o aparelho [gerador elétrico]... para ver se ela conseguiria lavar o rosto", conta Eugenia Olavarría. "Quando o aparelho acaba, ela não pode falar. Os dados [do celular] são complicados."

Mas seu testemunho indica que as penúrias não acabam por aqui.

"Havia motociclistas das empresas privadas que faziam delivery [entrega a domicílio], mas que, agora, não querem atender aos pedidos365 new betalimentos,365 new betremédios", explica ela.

Ela conta um episódio específico. Há alguns dias, depois do corte da luz, um dos refugiados, Humberto Villalobos, teve um acidente. "Ele quebrou o joelho, recebeu pontos. Precisa365 new betartigos365 new betfarmácia."

"Quando deixam entrar os entregadores, eles fazem perguntas incômodas", conta Urruchurtu. "Eles os acusam365 new betcolaborar com terroristas, por exemplo. Isso aumenta o clima365 new betterror generalizado, que faz com que eles tenham medo365 new betvir até aqui."

"Estamos racionando tudo. A pouca eletricidade que temos, a pouca água que entra, a questão dos alimentos e primeiros socorros, medicamentos etc. É complicado com o assédio."

Além disso, tudo o que entra ou sai da residência é controlado.

"O regime tira fotografias365 new bettudo. Sabe tudo o que existe. Sabe que somos seis civis desarmados e indefesos."

"Eles ficam cada vez mais isolados", diz Eugenia Olavarría Meda. "São ameaçados365 new bettodos os lados. Estão apenas sobrevivendo. Tenho vergonha até365 new betperguntar como eles limpam os pratos."

No seu programa semanal Con el Mazo Dando ("Batendo com o martelo" – expressão que,365 new betespanhol, significa "trabalho duro"), transmitido pela TV estatal venezuelana VTV, o ministro Cabello comentou sobre "a farsa dos asilados na embaixada argentina".

Ele reproduziu um vídeo mostrando supostas fotos365 new betgarrafões365 new betágua, com a legenda "entrega365 new betágua potável na Embaixada da Argentina".

Cabello também exibiu outras fotos365 new betuma piscina, supostamente na sede diplomática, cheia365 new betágua e imagens dos refugiados. Segundo a legenda na tela, eles estavam "comendo churrasco".

'Terror psicológico'

Eugenia Olavarría denuncia que, agora, os opositores refugiados "se sentem mais espionados e vigiados do que nunca, pois colocaram vigilância nas casas365 new betvolta [da Embaixada]. Sobretudo na que fica ao lado. Eles expulsaram os vizinhos."

Há uma semana, surgiu a informação sobre uma suposta busca365 new betcasas próximas à sede da Embaixada da Argentina365 new betCaracas.

"O procedimento, segundo a denúncia nas redes sociais, teria sido realizado por funcionários da Direção Geral365 new betContrainteligência Militar (DGCIM)", segundo informou a imprensa local.

A informação não foi confirmada por autoridades do Estado venezuelano, nem pelos dirigentes da oposição.

"Vimos homens armados, particularmente na casa que fica ao lado", contou Urruchurtu. "Há pouco tempo, saíram algumas fotos deles, com armas longas,365 new betassalto. É muito angustiante."

"Soma-se a isso a presença365 new betpatrulhas no lado externo,365 new betforma permanente. Ou seja, é um assédio permanente e, além da questão da falta365 new betserviços, existe a presença das forças365 new betsegurança."

"O governo venezuelano não só negou os salvo-condutos, mas também adotou ações365 new betperseguição inaceitáveis: corte365 new betluz, água, impedimento365 new betentrada365 new betalimentos, presença365 new betfuncionários do regime nas proximidades", destacou o ministro das Relações Exteriores da Argentina, Gerardo Werthein,365 new betuma sessão especial da Organização dos Estados Americanos (OEA), convocada especialmente para discutir a situação dos asilados na Embaixada.

"Isso viola a Convenção365 new betViena e a convenção sobre asilo diplomático", prossegue o ministro. "Não podemos permitir que a inviolabilidade das missões diplomáticas seja debilitada. É terror psicológico."

"Tentamos ficar bem", destacou Urruchurtu. "Tentamos manter a rotina, fazer exercícios. Mas é claro que há dias [difíceis]. Naturalmente, existem altos e baixos."

À falta365 new betserviços e à vigilância, somam-se as "constantes ameaças nas redes sociais, pronunciamentos, ameaças contra nós. Somos permanentemente acusados sem provas365 new betnada. É difícil manter o ânimo nesta situação365 new betdesgaste."

Esta não é a primeira vez365 new betque um político365 new betoposição requer asilo365 new betuma embaixada na Venezuela. Ocorreu o mesmo com o ex-deputado Freddy Guevara, na Embaixada do Chile, e o político365 new betoposição Leopoldo López, na da Espanha. Mas este caso parece diferente.

"É a primeira vez365 new betque ocorre um assédio desta magnitude e, ainda por cima, contínuo. É perigosíssimo e marca um precedente gravíssimo", diz Urruchurtu.

A oposição venezuelana e o governo da Argentina pediram ao governo365 new betNicolás Maduro o fornecimento365 new betsalvo-condutos para que eles possam sair do país sem que sejam detidos.

"Isso passa por uma negociação e é preciso que haja coordenação entre as partes para que seja possível", destacou Urruchurtu. "Pedimos esforços maiores e mais urgentes entre a Argentina e o Brasil, bem como a outros aliados da região e fora dela."

Até 13 países, incluindo o Chile, República Dominicana, El Salvador e Estados Unidos, apresentaram à OEA uma declaração conjunta, exigindo a "concessão imediata" destes documentos.

Em maio, quando os refugiados completaram cerca365 new betdois meses na Embaixada, Cabello (que ainda não era ministro, na época) declarou:

"Não irão nos pressionar. Hoje, acredito que saiu a resposta do governo na Venezuela: negado. Não há salvo-condutos para aqueles que não amam esta pátria."

'Não é delito'

Eugenia Olavarría conta que faz poucas perguntas à365 new betmãe sobre como ela está, como se sente, e que a mãe também, muitas vezes, a protege, se informar o que acontece.

Mas ela garante que, pelo caráter e modo365 new betser muito ativo365 new betsua mãe, ela "está365 new betuma realidade muito diferente365 new betser livre".

"Minha mãe vive365 new betuma ligação após a outra. Agora, cada vez menos, porque precisa economizar bateria", diz.

"Ela está365 new betcontato constante com voluntários, com ativistas... Ela passa o tempo365 new betuma tela e, na365 new betvida cotidiana, minha mãe estava sempre na rua, sempre365 new betmovimento."

Olavarría também conta que365 new betmãe se sente culpada pela situação da família. "Minha avó está no exílio; meu pai, escondido. Esta é uma grande ruptura familiar."

Como fez Pedro Urruchurtu, Magalli Meda também fixou uma mensagem no seu perfil no X: "Ganhar uma eleição não é delito."

"É o que ela me diz todo o tempo, que ganhar eleições não é crime, que o que acontece com eles é um ato365 new betguerra."

Imaginar soluções para esta situação não é fácil. "Tudo é possível por parte do regime", afirma Urruchurtu.

"Fizemos um apelo à comunidade internacional para chegar a uma saída dentro do Direito Internacional. É nosso direito, pela Convenção365 new betViena,365 new betcaso365 new betasilo."

"Certamente somos asilados, obviamente, porque recebemos asilo da Argentina, mas também somos reféns. Receamos pela nossa vida."

"É preciso se preparar para todos os cenários. Se a situação continuar desta forma [sem luz e água], não iremos aguentar este mês", afirma Olavarría. "Se devolverem a luz, é possível que os mantenham assim até 10365 new betjaneiro, para ver o que acontece."

O dia 10365 new betjaneiro é a data365 new betque Nicolás Maduro tomará posse como presidente do país. Na Espanha, Edmundo González qualifica o resultado oficial365 new betfraude. Ele reivindica365 new betvitória e afirma que irá assumir o cargo.