Como Bukele virou 'fantasma'robert flink pokerencontrorobert flink pokerLula e Petro:robert flink poker

 Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante reunião com o Presidente da República da Colômbia, Gustavo Petro,robert flink pokermaiorobert flink poker2023

Crédito, Ricardo Stuckert/Presidência da República

Legenda da foto, Presidentesrobert flink pokerBrasil e Colômbia se encontram nesta quarta-feira (17/4)robert flink pokermeio a avanço da direita radical no continente e preocupação com eleições na Venezuela

Oficialmente, os dois presidentes vão conversar sobre possíveis acordos na área comercial, cultural erobert flink pokersegurança. A situação política na Venezuela também deverá ser discutida por ambos.

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Mas o encontro entre Lula e Petro acontece num momentorobert flink pokerque a região assiste ao avançorobert flink pokerum fenômeno que vem sendo chamadorobert flink poker"bukelização" da política regional, tema que estará "no radar" das conversas entre os dois presidentes, segundo uma fonte diplomática brasileira que acompanhará o encontro.

O termo é uma referência ao presidenterobert flink pokerEl Salvador, Nayeb Bukele, um políticorobert flink pokerdireita eleito pela primeira vezrobert flink poker2019 e reeleitorobert flink poker2024 com um discursorobert flink pokercombate à violência.

A redução drástica (e controversa) nos índicesrobert flink pokerhomicídios no país transformou Bukelerobert flink pokerum político popularrobert flink pokerdiversos países da América Latina, entre eles a Colômbia, Equador e Argentina. Os dois últimos governados por presidentesrobert flink pokerdireita.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil apontaram que o avanço da "bukelização" na América Latina é uma preocupação da esquerda na região, na medidarobert flink pokerque ela parece oferecer uma solução "rápida" para uma das maiores preocupações para as populações dos países da região: a insegurança.

Segundo eles, o encontro entre Lula e Petro pode ser visto como uma tentativa desses líderesrobert flink pokermostrar que há algum tiporobert flink pokerunião das esquerdas como uma contrapartida ao crescimento da direita e da direita radical na região.

'Bukelização'robert flink pokercurso

A "bukelização" da América Latina é como vem sendo chamado por analistas e cientistas políticos o processorobert flink pokeraumento da popularidade do presidente salvadorenho erobert flink pokerfiguras que ecoam os seu discursorobert flink pokerpaíses da região.

Na Colômbia, por exemplo, um levantamento feito pela empresarobert flink pokerpesquisas Datexcorobert flink pokermaiorobert flink poker2023 apontou que 55% dos entrevistados diziam querer um presidente como Bukele.

O presidenterobert flink pokerEl Salvador, Nayib Bukele

Crédito, EPA-EFE/REX/Shutterstock

Legenda da foto, Na Colômbia, 55% afirmam querer um presidente como Bukele, segundo pesquisa
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"A bukelização não acontece apenas na Colômbia", diz Yulieth Martinez, doutorandarobert flink pokerCiência Política pela Universidade Federalrobert flink pokerMinas Gerais (UFMG) e pesquisadora visitante na Escolarobert flink pokerPós-Graduaçãorobert flink pokerCiências Sociais e Comportamentais (GSBS) da Universidaderobert flink pokerKonstanz, na Alemanha.

"Isso é um fenômeno que está acontecendorobert flink pokeroutros países da América Latina por conta das condiçõesrobert flink pokersegurança pública nesses países que são muito parecidas."

Bukele tem 42 anosrobert flink pokeridade erobert flink pokereleição surpreendeu a classe política do país. Ele fez do combate à violência arobert flink pokerprincipal bandeira política.

O mote deu resultado no país que,robert flink pokermeados dos anos 2000, ostentava algumas das taxasrobert flink pokerhomicídios mais altas do mundo.

No poder, Bukele implementou uma sérierobert flink pokermedidas que fizeram as taxasrobert flink pokerhomicídio caírem drasticamente.

Ele iniciou operaçõesrobert flink pokercombate às chamadas pandillas (termorobert flink pokerespanhol para quadrilhas) que controlavam diversas partes do território das grandes cidades do país.

As medidas passaram a surtir efeito. Em 2019, o país registrou 38,2 homicídios a cada 100 mil habitantes.

Em 2022, esse número caiu para 7,8 a cada 100 mil habitantes, segundo dados do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crimes (UNODC).

Em 2023, segundo a Polícia Nacional do país, o país reduziu ainda mais essa taxa, chegando a 2,4 homicídios por 100 mil habitantes. Na comparação com 2019, a redução foirobert flink poker93,7%.

No Brasil, a taxa érobert flink poker19,4 homicídios por 100 mil habitantes, segundo dados do Fórum Brasileirorobert flink pokerSegurança Pública (FBSP).

Entidades que atuam na defesa dos direitos humanos, no entanto, acusam o governo salvadorenhorobert flink pokerusar métodos autoritários para combater o crime, como a suspensãorobert flink pokerdireitos constitucionais, detenções arbitrárias e desrespeito ao devido processo legal.

"Não pode ser um sucesso reduzir a violência das gangues substituindo-a pela violência estatal", disserobert flink pokermarço deste ano a diretora para Américas da organização não-governamental Anistia Internacional, Ana Piquer.

O governorobert flink pokerBukele, porrobert flink pokervez, se defende afirmando que as medidas visam apenas combater o poderrobert flink pokerquadrilhas criminosas.

Membrosrobert flink pokerganguesrobert flink pokermegaprisãorobert flink pokerEl Salvador

Crédito, Reuters

Legenda da foto, 'Não pode ser um sucesso reduzir a violência das gangues substituindo-a pela violência estatal', diz diretora para Américas da Anistia Internacional

Apesar disso, com a insegurança entre as principais preocupaçõesrobert flink pokermoradores das grandes cidades da América Latina, os resultadosrobert flink pokerBukele nesta área alavancaramrobert flink pokerpopularidaderobert flink pokerpaíses vizinhos.

No Equador, por exemplo, o presidenterobert flink pokerdireita Daniel Noboa anunciou que o país construiria "megaprisões" inspiradas no Centrorobert flink pokerConfinamento do Terrorismo (Cecot), um complexo prisionalrobert flink pokergrandes proporções construído pelo governo Bukele, com uma capacidade estimada para abrigar até 40 mil presos.

No Brasil, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) já visitou o Cecot e fez elogios públicos a Bukele.

Em seu perfil no X (antigo Twitter), o parlamentar defendeu o Estadorobert flink pokerexceção implementado por Bukele. "Fazendo o que tem que ser feito", disse.

Preocupação no Brasil e na Colômbia

O diplomata brasileiro com quem a BBC News Brasil conversou aponta que a preocupação dos dois presidentes érobert flink pokerque o discurso classificado por ele como "populista" ganhe tração na região e "normalize" a ideiarobert flink pokerque os fins justificariam os meios no combate à violência.

O temor érobert flink pokerque isso possa turbinar a popularidaderobert flink pokerpolíticosrobert flink pokerdireita que adotam discursos parecidosrobert flink pokerdiversos países da região.

O entendimento no governo brasileiro érobert flink pokerque a "bukelização" não seria um processo inevitável, uma vez que Lula venceu Bolsonarorobert flink poker2022, político a quem Bukele é comparado. Mesmo assim, a preocupação érobert flink pokerque adversários políticos "surfem" na onda da popularidaderobert flink pokerBukele nas próximas eleições da região.

O professorrobert flink pokerRelações Internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Oliver Stuenkel avalia que o encontrorobert flink pokerLula e Petro tem uma função estratégica neste contexto.

"É uma tentativarobert flink pokermostrar união diante da visibilidade e do destaque regional do Bukele, uma vez que ele inspira outros líderes da direita", diz Stuenkel.

"No Equador, temos o [Daniel] Noboa. No Chile, há outros líderes que também se inspiram nele. E na Argentina, temos o [presidente Javier] Milei."

Na Colômbia, a tensão entre Bukele e Gustavo Petro já se mostrou evidenterobert flink pokerdebates públicos mantidos pelos dois através das redes sociais.

Em marçorobert flink poker2023, Petro comparou as prisões salvadorenhas a "camposrobert flink pokerconcentração" e criticou aqueles que as veem como um sinônimorobert flink pokersegurança.

"Creio que há gente que goste disso (...)robert flink pokerver a juventude nas prisões e acreditam que isto é segurança e faz crescer a popularidade", disse Petro.

Gustavo Petro durante discurso,robert flink pokermarçorobert flink pokerde 2023,robert flink pokerque comparou as prisões salvadorenhas a 'camposrobert flink pokerconcentração'

Crédito, Reprodução

Legenda da foto, Gustavo Petro durante discurso,robert flink pokermarçorobert flink pokerde 2023,robert flink pokerque comparou as prisões salvadorenhas a 'camposrobert flink pokerconcentração'

Bukele respondeurobert flink pokeruma postagem no X (antigo Twitter).

“Os resultados pesam mais que a retórica. Desejo que a Colômbiarobert flink pokerfato consiga baixar os índicesrobert flink pokerhomicídios como os salvadorenhos têm conseguido”, disse Bukele.

Foi então a vezrobert flink pokerPetro rebater.

"Passamosrobert flink poker90 homicídios para cada 100 mil habitantesrobert flink poker1993robert flink pokerBogotá para 13 homicídios para cada 100 mil habitantesrobert flink poker2022", disse o presidente Colombiano.

"Não fizemos prisões, mas universidades. É bom comparar as experiências. Te proponho um foro internacional", acrescentou.

Lula e Bukele não travaram embates públicos até o momento. Nos bastidores, o governo do salvadorenho é visto com desconfiança pela gestão petista, especialmente porrobert flink pokerproximidade retórica com o bolsonarismo.

Bukele, porrobert flink pokervez, adotou um tom mais moderadorobert flink pokerrelação a Lula do que o usado com Petro.

Em discursorobert flink pokerfevereiro, Bukele disse que nunca havia conversado sobre segurança com Lula.

"Falei algumas vezes com o presidente Lula. Mas ele nunca mencionou a questão da segurança pública para mim. Imagino que tenharobert flink pokerprópria maneirarobert flink pokerabordar erobert flink pokerlidar com a situação", disse o salvadorenho.

A pesquisadora Yulieth Martinez afirma que o crescimento da "bukelização" na Colômbia chama atenção pelo histórico do país no combate ao crime.

Ela diz que há proximidade ideológica entre Bukele e o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, que governou o país entre 2002 e 2010.

Mesmo fora do poder, Uribe continua sendo uma das figuras políticas da direita colombiana mais importantes do país.

O ex-presidente da Colômbia Álvaro Uribe

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Mesmo fora do poder, o ex-presidente colombiano Álvaro Uribe continua sendo uma das figuras políticas da direita mais importantes do país

Na gestãorobert flink pokerUribe, a Colômbia, apoiada pelos Estados Unidos, intensificou o combate às guerrilhas das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc),robert flink pokerações que levaram à morterobert flink pokermilharesrobert flink pokerpessoas e a questionamentos sobre os métodos usados pelas forças estatais na época.

Relatóriosrobert flink pokerentidadesrobert flink pokerdefesa dos direitos humanos apontam mortes ilegais executadas por militares e colaboração do Estado com paramilitares.

No país, diversos políticos alinhados a Uribe também passaram a defender slogans e bandeirasrobert flink pokerBukele.

Entre eles está a senadora Maria Fernanda Cabal, próxima ao ex-presidente colombiano. Em suas redes sociais, ela faz elogios ao presidente salvadorenho.

No finalrobert flink poker2023, o pastor evangélico Jaime Béltran foi eleito prefeito da cidade Bucaramanga, capital do departamentorobert flink pokerSantander, após ficar conhecido como "Bukele da Colômbia". Entre suas principais plataformas estava o combate à violência.

Nas redes sociais, Béltran descreveu Bukele como um "líder que entendeu que a segurança do seu povo é prioridade".

O 'fantasma' venezuelano

Um dos principais temas das conversas entre Lula e Petro durante o encontro será a situação política na Venezuela.

Os dois mandatários são politicamente próximos ao presidente venezuelano Nicolás Maduro, mas manifestaram, nas últimas semanas, preocupação com o processo político no país que tem eleições presidenciais previstas para julho deste ano.

Diante dos relatosrobert flink pokerque candidatosrobert flink pokeroposição estariam sendo impedidosrobert flink pokerse registrarem para o pleito, o presidente Lula classificou como "grave" o impedimentorobert flink pokerCorina Yorisrobert flink pokerregistrarrobert flink pokercandidatura.

Maria Corina Machado e Corina Yoris, opositorasrobert flink pokerMaduro na Venezuela

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Maria Corina Machado e Corina Yoris, opositorasrobert flink pokerMaduro na Venezuela

"O dado concreto é que não tem explicação. Não tem explicação jurídica, política, você proibir um adversáriorobert flink pokerser candidato", disse Lularobert flink pokermarço.

O governo colombiano também demonstrourobert flink pokerpreocupação com o episódio. Na semana passada, Petro foi à Venezuela e se encontrou com Maduro e líderes da oposição ao regime venezuelano.

Para Yulieth Martinez, a crise política na Venezuela é uma espécierobert flink poker"fantasma" para Lula, Petro e para a esquerda sul-americana.

"A Venezuela é um fantasma para Lula e para Petro por conta da incapacidaderobert flink pokerse resolver essa questão", diz a pesquisadora.

"É um fantasma para o Brasil, a Colômbia e para toda a América do Sul."

Segundo ela, a crise no país vizinho que já levou 7,7 milhõesrobert flink pokerpessoas a deixarem o país (segundo dados da Organização das Nações Unidas) é explorada pela direita sul-americana para fustigar líderesrobert flink pokeresquerda.

"A direita nesses países estárobert flink pokerolhorobert flink pokercomo mandatários como Lula e Petro vão se posicionarrobert flink pokerrelação às eleições da Venezuela", diz a pesquisadora.

Impasse na região

Para Stuenkel, o encontrorobert flink pokerLula e Petro também acontecerobert flink pokerum momentorobert flink pokerindefinição sobre a liderança regional na América do Sul.

Segundo ele, havia uma expectativarobert flink pokerque Lula pudesse retomar o protagonismorobert flink pokerlíder regional que ele teria exercidorobert flink pokerseus dois primeiros mandatos, mas esse cenário não se repetiu.

"O potencial que alguns viam quando Lula fez a viagem a Buenos Aires [para a reuniãorobert flink pokercúpula da Comunidaderobert flink pokerEstados Latino-Americanos e Caribenhos,robert flink pokerjaneirorobert flink poker2023] não se concretizou. Alcançou-se muito pouco no nível regional."

O grande encontrorobert flink pokerpresidentes sul-americanos [ocorridorobert flink pokermaiorobert flink poker2023,robert flink pokerBrasília] também não gerou muitos resultados concretos e acabou sendo dominado por divergênciasrobert flink pokerrelação à Venezuela, observa Stuenkel.

Presidentes sul-americanos reunidosrobert flink pokerBrasíliarobert flink pokermaiorobert flink poker2023

Crédito, Rafa Neddermeyer/Agência Brasil

Legenda da foto, Presidentes sul-americanos reunidosrobert flink pokerBrasíliarobert flink pokermaiorobert flink poker2023

Para o professor, o encontrorobert flink pokerLula e Petro pode representar uma tentativarobert flink pokerapresentar um fato novo no cenário geopolítico regional.

"Penso que pode haver uma tentativarobert flink pokerdesenvolver alguma narrativa nova porque,robert flink pokerfato,robert flink pokerfunçãorobert flink pokermúltiplos desafios como a crise migratória, a situação na Venezuela, e o cenário geopolítico global complicado, um debate sobre o futuro da América do Sul e seus principais projetosrobert flink pokercooperação saiu do radar", avalia.