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'Reforma tributária pode ser Plano Realbetano bonus amigoLula', diz economista Samuel Pessôa :betano bonus amigo
Numa demonstração da diversidade do apoio à mudança, o documento reuniu nomes como Laura Carvalho, que assessorou Guilherme Boulos embetano bonus amigocampanha à presidência pelo PSOLbetano bonus amigo2018; Guido Mantega, ex-ministro da Fazendabetano bonus amigoLula e Dilma entre 2006 e 2015; Armínio Fraga, ex-presidente do Banco Central e considerado um dos “pais” do Plano Real; além do próprio Pessôa, um liberalbetano bonus amigolonga data, mais associado à agenda econômica do campo político da direita.
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Em entrevista à BBC News Brasil às vésperas da votaçãobetano bonus amigoreforma no Congresso, Pessôa falou sobre a longuíssima janelabetano bonus amigotransição da reforma tributária,betano bonus amigo50 anos; sobre a polêmica com governadores e prefeitos nos últimos dias; e sobre a cartabetano bonus amigoum outro grupobetano bonus amigoeconomistas, que classificou a propostabetano bonus amigoreforma atual como uma “das piores da história”.
Também admitiu ser um dos economistas que subestimaram o crescimento do país neste ano e teceu elogios ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad — que foi seu colegabetano bonus amigoescola e mestrado na USP —, apesarbetano bonus amigoprever que Lula entregará o paísbetano bonus amigo2026 com dívida maior do que encontrou.
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A reforma tributária atualmentebetano bonus amigodiscussão na Câmara tem como objetivo simplificar a cobrançabetano bonus amigoimpostos no país, unificando cinco tributos que incidem sobre o consumo – PIS, Cofins, IPI (federais), ICMS (estadual) e ISS (municipal) –betano bonus amigoum IVA (Imposto sobre Valor Agregado).
O plano do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), é votar a reforma no plenáriobetano bonus amigoprimeiro turno ainda nesta quinta-feira (6/7). A proposta precisabetano bonus amigoao menos 308 votos para passar.
Como se tratabetano bonus amigouma PEC (Propostabetano bonus amigoEmenda a Constituição), o texto tem que passar por uma segunda votação na Câmara antesbetano bonus amigoseguir ao Senado.
Apesarbetano bonus amigoseu entusiasmo com essa primeira fase da reforma, Pessôa se diz descrente quanto à segunda etapa prometida pelo governo petista. Nela, seriam feitas mudanças na tributação sobre renda e dividendos, com o objetivobetano bonus amigoreduzir a desigualdade no país.
“O problema é o seguinte: a gente ainda não está pronto para essa conversa”, diz Pessôa.
“É impossível mexer na desigualdade da tributaçãobetano bonus amigorenda se a gente não pegar aquelas pessoas que são ricas, mas se consideram ‘de classe média’. Que, na verdade, somos todos nós. É difícil você se olhar no espelho e saber que você é o rico, você é quem paga pouco imposto.”
Confira abaixo os principais trechos da entrevista.
betano bonus amigo BBC News Brasil - No início deste ano, o senhor escreveu que a reforma tributária pode ser o Plano Real do governo Lula 3. O que o senhor quis dizer com isso?
betano bonus amigo Samuel Pessôa - A premissa é que a estruturabetano bonus amigoimpostos indiretos do Brasil – porbetano bonus amigoelevada complexidade, enorme custobetano bonus amigoconformidade, enorme nívelbetano bonus amigolitigiosidade – gera impactos sobre a eficiência econômica e um mal funcionamento da economia.
São efeitos parecidos com os impactos ruins produzidos pela hiperinflação.
Lá atrás, as empresas tinham que ter escritórios financeiros enormes. Ebetano bonus amigocada esquina, tinha uma agência bancária que não fazia nada, só ajudava as pessoas a conviver com a inflação. Então tinha um montebetano bonus amigorecursos da economia que não produziam nada.
Hoje, temos uma complexidade tributária gigantesca – e aqui eu estou falando só dos impostos indiretos: ISS, ICMS, Pis, Cofins, IPI, que são uma zona. Então as empresas têm que ter departamentosbetano bonus amigocontabilidade gigantescos e gera muito litígio, porque tem muita zona cinzenta.
Tudo isso faz com que o Brasil tenha um passivo tributário que é [equivalente a] quase 60% do PIB. Qualquer país normal tem 1%, 2% no máximo, então 60% do PIBbetano bonus amigopassivo tributário é insano.
Se a nossa estrutura tributária fosse normal, um montebetano bonus amigorecursos das empresas e da sociedade que está sendo gasto só processando pagamentobetano bonus amigolitígios iria fazer coisas mais úteis – progresso tecnológico, inovação, reduçãobetano bonus amigocustos etc.
betano bonus amigo BBC News Brasil - A ideia então é que a aprovação da reforma pode ter um efeito parecido com o do Plano Real? Quer dizer, podemos ver a economia ficando mais organizada, ter mais crescimento? Qual é o efeito prático?
betano bonus amigo Pessôa - É exatamente isso que você falou, rigorosamente isso. Acredito que não vai ter um impacto imediato tão grande quanto o Plano Real teve na pobreza. Porque,betano bonus amigofato, a inflação é o “pior imposto” que tem. Porque ela é muito regressiva e afeta muito os mais pobres.
Então acho que aquele impacto imediato que houve [do Plano Real] na pobreza não deve haver.
Mas se considerarmos uma janela um pouco mais longa no tempo –betano bonus amigo10, 15 anos –, o impacto sobre a produtividade e sobre a organização da economia é equivalente.
betano bonus amigo BBC News Brasil - Entrando nessa questão temporal, a reforma prevê uma fasebetano bonus amigotransição longa, com a extinção dos impostos atuais e uma migração para um IVA dual entre 2026 e 2032 e a transição da cobrançabetano bonus amigoimpostos da origem para o destinobetano bonus amigo50 anos,betano bonus amigo2029 até 2078. Mesmo com esse horizonte longo, haverá benefícios já no governo atual?
betano bonus amigo Pessôa - Eu acho que essa questão das duas transições é o “Ovobetano bonus amigoColombo” dessa reforma [expressão usada para uma solução aparentemente complexa e difícil, mas que se revela simples e fácil]. É uma ideia genial.
Queremos uma reforma que torne a vida das empresas mais fácil, que torne mais fácil fazer negócio no país. Agora, imposto tem duas pontas: uma do contribuinte, que paga, e outra do ente da federação, que vai receber o imposto. Essas duas pontas não precisam andar juntas o tempo todo.
Esta reforma vai mudar muito, para muito melhor, a estrutura tributária. Mas ela mexe na estrutura federativa,betano bonus amigoquem recebe e quem deixabetano bonus amigoreceber. Ela não é neutra do pontobetano bonus amigovista dos Estados.
Então a ideia, ao separar as duas transições, é dar tempo – muito tempo – para os Estados se adaptarem às novas estruturasbetano bonus amigorecebimento e também dar tempo para os efeitos benéficos da reforma virarem crescimento econômico. E crescimento é um jogobetano bonus amigoganha-ganha.
A reforma que importa do pontobetano bonus amigovistabetano bonus amigoeficiência econômica é a ponta do contribuinte. O objetivo é simplificar aí. Como a gente resolve o problema federativo é outra questão.
Se eu tratar essas duas questões como uma só, no mesmo horizonte temporal, eu aumento muito as restrições políticas à aceitação da reforma. Então, ao separar essas duas pontas e eu ter dois horizontesbetano bonus amigotempos diferentes, porque são duas transições, eu facilito muito o processobetano bonus amigotramitação dessa reforma do Congresso Nacional.
betano bonus amigo BBC News Brasil - Mas o atual governo vai coletar algum impacto?
betano bonus amigo Pessôa - Essas reformas demoram um tempo para maturar, não vai maturar no horizontebetano bonus amigotrês anos. Em sete anos, já começa,betano bonus amigotrês anos não.
Mas a aprovação dessa reforma vai fazer com que o mundo olhe para a gente com olhos muito melhores, porque vai sinalizar várias coisas.
Primeiro, ela sinalizará uma saúde da nossa democracia. Que, com toda nossa complexidade federativa e tributária, nosso Congresso funcionou e ele conseguiu tomar uma decisão que tem perdas no curto prazo – mesmo que pequenas, têm – e conseguiu aprovar uma grande reforma que interessa ao coletivo. Esse é um sinal ótimo.
E sinaliza que, daqui a cinco, seis anos, fazer negócio no Brasil vai ficar muito melhor. As empresas já vão se antecipar e isso deve gerar um impacto sobre risco-Brasil [indicador que mede o graubetano bonus amigoconfiança dos investidores no país].
Esse é o efeito mais imediato: uma melhorabetano bonus amigopercepção,betano bonus amigoexpectativas. No âmbito econômico, a gente vai ter uma melhora imensa no horizontebetano bonus amigosete anos. E a gente vai colher, num horizontebetano bonus amigo15 anos, uma taxabetano bonus amigocrescimento da produtividade do trabalho maior.
betano bonus amigo BBC News Brasil - O Brasil discute essa reforma desde a décadabetano bonus amigo1990, com várias tentativas fracassadas. O que mudou desde então e por que parece agora haver um sentimentobetano bonus amigoque “agora vai”, com economistas tão diversos como Laura Carvalho, Guido Mantega, o senhor e o Armínio Fraga assinando um manifesto juntos a favor da reforma?
betano bonus amigo Pessôa - Primeiro, acho que, neste tema, nós nunca discordamos. Porque é uma questãobetano bonus amigomicroeconomia. A gente discorda maisbetano bonus amigogeralbetano bonus amigomacro.
[A microeconomia trata do âmbito das empresas, famílias e indivíduos, enquanto a macroeconomia trata da economia nacional, regional ou global.]
A gente discorda na capacidade da política fiscal gerar crescimento; se maior ou menor mobilidadebetano bonus amigocapital é bom ou ruim; se intervenção no câmbio é bom ou ruim. Mas, com relação à eficiência da estrutura dos impostos indiretos, todo mundo pensa igual.
Então acho que o que mudou não foi entre os economistas, foi na política.
Primeiro, desde que o Brasil entrou naquela enorme crise [de 2014], estamos fazendo reformas, desde o primeiro ano do segundo mandato da presidente Dilma,betano bonus amigo2015.
E essa reforma tem um processo, ela já andou. Em 2019, ela foi aprovada na Comissãobetano bonus amigoConstituição e Justiça da Câmara e depois parou. Então tem um processobetano bonus amigoacúmulo.
Além disso, tem um outro fato: São Paulo, no governo [João] Doria, resolveu entrar na guerra fiscal, dando benefícios para as empresas se instalarem aqui. E quando São Paulo entra na guerra fiscal, ela meio que perde sentido, e aí os governadores começam a olhar com bons olhos a reforma tributária.
Então acho que tem um amadurecimento do sistema político, o fatobetano bonus amigoSão Paulo entrar na guerra fiscal, e a própria agendabetano bonus amigoreformas andando.
Além disso, parece haver um grande comprometimento do presidente da Câmara, Arthur Lira [PP-AL], que quer deixar esta reforma como um legado.
betano bonus amigo BBC News Brasil – O senhor entrou na questão dos governadores. Queria saber como o senhor avalia o impasse com governadores e prefeitos, que temem perder autonomia e recursos com essa reforma? O senhor acredita que a ideia da criação do Conselho Federativo [órgão que ficaria responsável pelo recolhimento e distribuição do IBS, imposto que substituirá o ICMS estadual e o ISS municipal] pode acabar sendo abandonada?
betano bonus amigo Pessôa - Eu acredito que o melhor é essa redistribuição dos recursos ser feita da forma mais automática possível. Com nota fiscal eletrônica é tudo apurado eletronicamente, os créditos, os débitos, o que é devido àquele Estado, àquele município. Então acredito que esse novo imposto deveria ser [redistribuído]betano bonus amigoforma centralizada e da forma mais automática possível.
De fato, tem uma perdabetano bonus amigoautonomia dos entes da federação, mas estamos numa federação disfuncional. A federação existe para servir aos cidadãos e não os cidadãos para servir à federação. Se a federação está gerando subdesenvolvimento, baixo crescimento, a federação tem que se adaptar.
Do pontobetano bonus amigovista econômico, o graubetano bonus amigoautonomia é correto: cada ente da federação vai estabelecerbetano bonus amigoalíquota. Essa autonomia está preservada.
Agora autonomia para fazer favor com chapéu alheio, gerar um sistema disfuncional que impede o crescimento da produtividade, essa não interessa a ninguém.
betano bonus amigo BBC News Brasil - Mas parece que os governadores não estão satisfeitos.
betano bonus amigo Pessôa - Aí é uma questão das pessoas que estão tocando a reforma mostrar o texto da reforma, mostrar que essa transição longuíssimabetano bonus amigo50 anos tem lá um seguro para os Estados que podem perder mais. Tem que fazer o convencimento e a disputa política.
Mas parece que alguns governadores que estavam com comportamento muito agressivo contra a reforma já mudaram um pouco o tom nos últimos dias. Acho que eles já estão se entendendo lá.
[O governadorbetano bonus amigoSão Paulo, Tarcísiobetano bonus amigoFreitas (Republicanos), parte do grupobetano bonus amigogovernadores mais resistente à reforma, na quarta-feira (5/7) já admitia a possibilidadebetano bonus amigoapoiar a cobrança centralizadabetano bonus amigoimposto na reforma tributária, indicando abrir mãobetano bonus amigosua propostabetano bonus amigouma Câmarabetano bonus amigoCompensação para eventuais perdas arrecadatórias para os Estados.]
betano bonus amigo BBC News Brasil – E quanto às críticas do grupobetano bonus amigoeconomistas formado por Everardo Maciel, Felipe Salto, Marcos Cintra, Jorge Rachid e outros, que afirmam que a atual propostabetano bonus amigoreforma é “das piores da história” e apontam problemas como a excessiva complexidade do novo sistema e a indefinição das alíquotas? Como o senhor viu as críticas desse grupo?
betano bonus amigo Pessôa - Vamos lá. Primeira crítica: complexidade. Quando eles falambetano bonus amigocomplexidade, parece que eles estão dizendo que a reforma é complexa. Mas, quando você lê o que eles escrevem, o que eles estão dizendo é que a transição é complexa. Eles acham isso.
Mas como eu disse a você, eu discordo. Eu penso, na verdade, que abrirbetano bonus amigoduas transições é o “Ovobetano bonus amigoColombo”. É das melhores coisas dessa reforma, porque separa a questão federativa da questãobetano bonus amigopagamentobetano bonus amigoimpostos. O que importa para a complexidade é a primeira transição, não a segunda, e a primeira vai ser relativamente rápida. Então eu discordo deles.
A questão da alíquota, aí é uma loucura. Estamos discutindo uma propostabetano bonus amigoemenda constitucional. Alíquota, depois a gente vai ter outros lugares [para discutir].
Aí eles dizem que a carga tributária vai subir. Carga tributária não é temabetano bonus amigoeconomista tributarista. Carga tributária é tema do Congresso Nacional. A carga tributária será o que o Congresso Nacional quiser que ela seja, independente da estruturabetano bonus amigoimpostos. A gente não está discutindo carga tributária aqui, estamos discutindo eficiência arrecadatória.
A carga que nós teremos vamos definir pela alíquota, e quem vai definir a alíquota é o Congresso Nacional, as assembleias estaduais e as Câmarabetano bonus amigoVereadores, junto com seus executivos. A decisão da carga tributária é uma decisão política e não é isso que a reforma discute, a reforma discute a estrutura dos impostos. Então achei esse argumento completamente descabido.
Na verdade, eu vi o texto e pensei: “Poxa, a reforma é muito boa”. Porque, se as pessoas que mais discordam da reforma só são capazesbetano bonus amigolevantar aqueles argumentos, eu estou convencidobetano bonus amigoque a reforma é ótima. Fiquei mais favorável à reforma do que eu era antesbetano bonus amigoler o texto deles.
betano bonus amigo BBC News Brasil - O senhor já faloubetano bonus amigoentrevistas no passado que governosbetano bonus amigoesquerda têm a tendência a querer fazer o ajuste fiscal atravésbetano bonus amigoaumentobetano bonus amigoarrecadação. Então queria saber se aprovar uma reforma tributária sem alíquotas definidas, junto com um arcabouço fiscal que tem um buracobetano bonus amigoR$ 100 bilhões para ser viável, representa um risco. Quer dizer, a carga tributária pode acabar ficando maior por essa combinaçãobetano bonus amigofatores?
betano bonus amigo Pessôa - Eu sempre achei que haveria um aumentobetano bonus amigocarga tributária. E eu sempre disse que aumentobetano bonus amigocarga tributária é absolutamente legítimo. Vamos lembrar que, no governo FHC, houve um aumento da carga tributáriabetano bonus amigo5 pontos percentuais do PIB e eu nunca critiquei o governo FHC por isso. Muito pelo contrário, eu vejo enormes méritos nos oito anos do governo FHC.
Mas acredito que o aumento da carga tributária vai virbetano bonus amigooutras bases. Vai vir da tributaçãobetano bonus amigorenda, da distribuiçãobetano bonus amigodividendos, dos regimes tributários especiais, “pejotinha”, Simples, que são uma outra agenda. E acredito que essa agenda não está madura na atual legislatura.
Quando olho as contas públicas, eu vejo a dívida pública aumentando. Acredito que o Lula vai entregar lábetano bonus amigo2026 uma dívida pública 12 pontos percentuais do PIB maior do que a que ele recebeu do Bolsonaro. Essa foi a opção que o Lula fez, e o sucessor dele vai ter que se haver com uma dívida maior.
Eu acho que a reforma, essa dos impostos indiretos, ela vai ser neutra. Que não vai haver aumentobetano bonus amigocarga tributária.
Agora, como eu disse, se o Congresso Nacional, as assembleias legislativas estaduais e as câmarasbetano bonus amigovereadores, junto com seus Executivos, tomarem decisões que aumentem a carga tributáriabetano bonus amigoimpostos indiretos, isso é absolutamente legítimo.
betano bonus amigo BBC News Brasil – O senhor acredita que, sebetano bonus amigofato a primeira fase da reforma for aprovada, seja agora oubetano bonus amigoagosto, vai haver fôlego político para a segunda fase, que seria essa reformulação dos impostos sobre renda, dividendos, etc?
betano bonus amigo Pessôa - Eu acredito que não. Acredito que essa fase não está madura, que não discutimos isso o suficiente. Acho que a reforma dos impostos indiretos avançou exatamente porque distributivamente ela é neutra, porque a carga não vai aumentar. Por isso ela está andando.
betano bonus amigo BBC News Brasil - Em termos das mudanças que afetariam a questão da desigualdade, essa pauta que se tornou tão premente na pandemia. O senhor pensa que, mesmo com esse ambiente criado pela pandemia,betano bonus amigoo Brasil discutir mais suas desigualdades, discutir mais a pobreza, ainda assim, não seria o momento então ainda para conseguir aprovar essas mudanças?
betano bonus amigo Pessôa - Eu concordo perfeitamente com você, acho que estamos mais atentos ao problema da desigualdade. A pandemia chamou a atençãobetano bonus amigotodo mundo, tanto é que quase quadruplicamos o programa Bolsa Família. Até 2010, ele era [equivalente a] 0,45% do PIB, ele hoje é um 1,72%.
Tanto é que a menor desigualdade da história do Brasil – da história que a gente tem dados – foi 2022. Quando o presidente erabetano bonus amigoextrema direita, liberal etc. Então isso mostra que a sociedade se preocupou e o Congresso teve um papel importante nisso.
betano bonus amigo BBC News Brasil - Mas então o senhor não acha que esse mesmo caldobetano bonus amigocultura também poderia tornar esse Congresso mais propenso a discutir a questão da desigualdade nos tributos?
betano bonus amigo Pessôa - Eu acho que sim, mas o problema é o seguinte: é que a gente ainda não está pronto para essa conversa.
Vou te dar um exemplo. É assim: quando a gente fala no geral, todo mundo concorda. Quando vai no caso específico, aí o calobetano bonus amigotodo mundo dói. Porque quem está lá no Congresso, não é pobre, todo mundo lá tem abetano bonus amigo“pejotinha”, tem o seu Simples.
A gente sabe que um dos regimes tributários mais responsáveis por reduzir o graubetano bonus amigoprogressividade da estruturabetano bonus amigoimpostos no Brasil é o Simples. Mas olha quando o Congresso vai votar elevação do nívelbetano bonus amigofaturamento requerido para que uma empresa pode se enquadrar no Simples. Quando tem votação disso na Câmara, do PSOL ao PL, todo mundo aprova.
Eu sou visto como um cara meiobetano bonus amigodireita, liberal, já escrevi um montebetano bonus amigocoluna contra o Simples, e não acontece nada. O Congresso Nacional inteiro apoia o Simples.
Pega os profissionais que têm as suas “pejotinhas”. Vão aumentar o imposto nas “pejotinha”? Consultor, economista, engenheiro, médico, advogado...
O problema dessa discussão é que todo mundo acha que essa desigualdade dos impostos é porque tem um montebetano bonus amigoJorge Paulo Lemann ou Beto Sicupira [dois dos homens mais ricos do país, acionistasbetano bonus amigoempresas como Ambev, Americanas, Kraft Heinz e Burger King], um montebetano bonus amigobilionário que não paga nenhum imposto.
E o bilionário é sempre alguém mais rico do que eu, independentemente da renda que eu tenho. Ninguém se acha rico no Brasil. Rico é sempre alguém mais rico do que ele, e é essa pessoa que não está pagando imposto.
Então é impossível mexer na desigualdade com tributaçãobetano bonus amigorenda se a gente não pegar aquelas pessoas que são ricas, mas se consideram, “de classe média”. Que, na verdade, somos todos nós.
Então, o que estou dizendo é que, quando o debate chega nessa discussão mais difícil, ele não anda.
Porque é difícil você se olhar no espelho e saber que você é o rico, você é quem paga pouco imposto. É por isso que a gente acha normal pagar mensalidade escolar, usar hospital caro e deduzir do nosso Impostobetano bonus amigoRenda.
Sem mexer nessas coisas, não vai mexer na desigualdade pelo lado do tributo.
betano bonus amigo BBC News Brasil - O senhor foi colega do ministro Fernando Haddad,betano bonus amigoColégio Bandeirantes e depoisbetano bonus amigoFEA-USP [Faculdadebetano bonus amigoEconomia, Administração, Contabilidade e Atuária da Universidadebetano bonus amigoSão Paulo]. Como avalia a atuação do ministro à frente da Fazenda até aqui?
betano bonus amigo Pessôa - O ministro está indo bem. Ele recebeu uma situação muito difícil, porque o presidente Lula resolveu inverter a ordem normal do ciclo político. No ciclo político, normalmente, você começa o governo com pé no freio do gasto, arruma a casa macroeconômica, e termina o governo gastando mais. Ele [Lula] inverteu, então o ministro teve uma situação difícil.
Mas eu acho que ele administrou bem. Ele fez uma coisa importante: estabeleceu uma agenda.
Marco fiscal, reforma tributária, medidas tópicasbetano bonus amigocombate a planejamento tributário [estratégia usada por empresas para pagar menos impostos dentro da lei] e a reforma dos impostosbetano bonus amigorenda.
Ele colocou a agenda e o Congresso está tocando. Um governo que tem uma agenda, principalmente quando a agenda é correta, ele tem um rumo e vai bem. Vai conseguir entregar tudo? Não vai. Mas se ele entregar 40%, está ótimo.
betano bonus amigo BBC News Brasil - Por fim, estamos vendo revisões enormes das estimativasbetano bonus amigocrescimento [do PIBbetano bonus amigo2023]. Tem economistas fazendo ajustes que vãobetano bonus amigoestimativas abaixobetano bonus amigo1% para 2,5% ou até 3%. O senhor está entre os economistas que foram surpreendidos pelo crescimento esse ano?
betano bonus amigo Pessôa - Eu fui surpreendido. Meu número [para o crescimento do PIBbetano bonus amigo2023] era 1% e hoje é 2%
Metade dessa surpresa foi uma agropecuária ainda melhor do que eu imaginava. A outra metade é uma resiliência do consumobetano bonus amigoserviços maior do que eu esperava.
Mas acho que vai ser 2%, não vai ser 2,5%, não vai ser 3%, talvez nem 2%. Talvez seja alguma coisa mais próximabetano bonus amigo1,8%.
betano bonus amigo BBC News Brasil - Por quê?
betano bonus amigo Pessôa - Porque os juros estão batendo, a economia está acelerando e o mundo não está uma maravilha. Tem inflação alta e tem que trazer a inflação para baixo. A inflação caiu bem, mas a inflaçãobetano bonus amigoserviços ainda não caiu e a taxabetano bonus amigodesemprego está muito baixa. Então há pressões inflacionárias, e é por isso que os juros estão onde estão.
Não é porque o [presidente do Banco Central] Roberto Campos Neto foi tesoureiro do Santander, como os economistasbetano bonus amigoesquerda dizem. Os juros estão onde estão porque a demanda no Brasil é forte, a inflação é forte e a taxabetano bonus amigoemprego está baixa, nas mínimas históricas, chegandobetano bonus amigo8%.
betano bonus amigo BBC News Brasil - Mas o senhor acredita que já se criou o ambiente para a taxa básicabetano bonus amigojuros começar a cair a partirbetano bonus amigoagosto, como a maioria do mercado parece acreditar?
betano bonus amigo Pessôa - Acredito que sim, mas que vai ser uma queda bem lenta.
E aí quando o Roberto Campos vir que a desinflação veio, talvez ele acelere o passo lá para meados do ano que vem. Eu enxergo Selic a 10%, 9,5%betano bonus amigodezembro do ano que vem.
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