Lampião chamadoentrar blazer‘ladrão e assassino’: por que filhaentrar blazercangaceiro está processando autor? :entrar blazer

Da esquerda para a direita: Vila Nova, não identificado, Luís Pedro, Benjamin Abrahão (à frente), Amoroso, Lampião, Cacheado (ao fundo), Maria Bonita, não identificado

Crédito, Domínio público

Legenda da foto, O fotógrafo Benjamin Abrahão Botto se encontrou com o bandoentrar blazerVirgulino e a foto foi tirada pelo cangaceiro Juriti

A filha do casal mais famoso do cangaço pede uma indenizaçãoentrar blazerR$ 245 mil e que as próximas edições do livro tenham um texto informativo “para que os leitores tenham conhecimentoentrar blazerque a versão articulada pelo autor e vendida como realidade não encontra amparo nas pesquisas históricas até hoje realizadas”, explica o advogado Alex Daniel, do escritório Cândido Dortas,entrar blazerAracaju (SE), que representa Expedita.

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Fim do Matérias recomendadas

Pavinatto aproveitou a exposição do caso e a proximidade da Black Friday para oferecer cuponsentrar blazerdesconto a seus seguidores (só no Instagram são 1,5 milhão).

“Era só o que me faltava, a filhaentrar blazerLampião quer tirar meu livroentrar blazercirculação”, ele postou ementrar blazerconta no X (ex-Twitter).

“Não há qualquer pedidoentrar blazercensura”, rebate o advogado Daniel. “Não há sequer previsão para julgamento do processo.”

O escritório aguarda para os primeiros meses deste ano o agendamentoentrar blazeruma audiênciaentrar blazerconciliação.

“Depois, haverá apresentação da defesaentrar blazerPavinatto e da Editora Almedina, produçãoentrar blazerprovas, audiências, exames periciais, etc”, diz o advogado.

A editora Almedina e Pavinatto, que já disse na internet que não vai se retratar, não responderam aos pedidosentrar blazerentrevista da BBC News Brasil.

Fotografia preto e branco do bandoentrar blazercangaceiros

Crédito, Domínio público

Legenda da foto, Há muitas pesquisas sobre a história do cangaceiro

Ataques

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Novo podcast investigativo: A Raposa

Uma toneladaentrar blazercocaína, três brasileiros inocentes e a busca por um suspeito inglês

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Fim do Novo podcast investigativo: A Raposa

Há muitas décadas, historiadores debatem os crimes, o contexto social e as motivações dos cangaceiros.

O livroentrar blazerPavinatto não oferece uma nova visão sobre Lampião.

O que é diferente no livro do apresentador, alémentrar blazerum tom mais belicoso, é a escolha editorialentrar blazerassociar Lampião ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao Partido dos Trabalhadores (PT).

O livro se chama "Da Silva" e a capa tem uma mão fazendo o "L", o símbolo da campanha vitoriosaentrar blazerLula para a Presidênciaentrar blazer2022 e que, hoje, é muito usado por bolsonaristas para criticar o governo.

No processo contra Pavinatto, o advogado Alex Daniel eentrar blazercliente pedem que sejam suprimidas do livro as "adjetivações excessivas, a exemplo de: ‘notório estuprador da história’, ‘psicopata’, ‘terrorista mercenário’, ‘um dos maiores traficantesentrar blazerarmas pesadas da história do Brasil’, ‘torturador’, ‘ladrão’, ‘assassino’, ‘golpista’, ‘sequestrador’, ‘extorsionário’ etc.”

Na opinião do historiador e pesquisador do tema Vagner Ramos, mestre pela Universidade Federal do Ceará (UFC) e doutorando na Unicamp, a capa e o título do livro são demonstraçõesentrar blazerque o autor e a editora queriam mais mobilizar paixõesentrar blazertornoentrar blazerLampião do que analisar fatos.

Ele opina que as "adjetivações excessivas" podem fazer sentido do pontoentrar blazervista editorial, quando o intuito for “menos para a construçãoentrar blazeruma ‘verdade’ plausível e mais para a formaçãoentrar blazeruma ‘pós-verdade’ a ser consumida por um público-alvo".

"A diferença ocorre quando a análise sobre o ‘fato’ importa menos do que as emoções que se busca acionar no público", diz.

Alex Daniel diz que não queria que o caso ganhasse muita repercussão, porque, segundo ele, os vários vídeos e postagensentrar blazerPavinatto na internet muitas vezes ofendementrar blazercliente.

"Depois do livro do Pavinatto, passou a existir uma associação dos gruposentrar blazerextrema-direita, que atacam indistintamente a família, fazem ameaças e disseminam ódio", diz ele.

Tal reação não ocorreu, por exemplo, com outro processo movido por Expedida.

É uma ação contra a Netflix, que lançouentrar blazer2022 uma série satírica, chamada O Cangaceiro do Futuro, sobre um homem parecido com o rei do cangaço que viaja no tempo e se encontra com o próprio Lampião.

Por não ter sido consultada e alegando que a Netflix conseguiu maisentrar blazer10 milhõesentrar blazervisualizações com a série graças ao uso dos nomesentrar blazerLampião e Maria Bonita, a família decidiu processar a gigante do streaming.

A Netflix disse à BBC News Brasil que não comenta o assunto. O caso estáentrar blazertramitação no Tribunalentrar blazerJustiçaentrar blazerSão Paulo.

Também não houve manifestações do tipo que Daniel relata agora com outra ação movida pela família no ano passado, dessa vez contra um motel, que espalhou outdoors no interiorentrar blazerPernambuco explorando a imagem do casal.

“Maria Bonita, acenda o Lampião”, dizia a propaganda.

Pablo Stolze Gagliano e Rodrigo Moraes, professoresentrar blazerDireito da Universidade Federal da Bahia (UFBA),entrar blazerum artigo no site Migalhas, explicam que herdeiros têm direito a proteger a imagementrar blazerpessoas mortas.

“Existem decisões judiciais sobre utilizaçãoentrar blazerimagementrar blazerpessoa falecida por empresa jornalísticaentrar blazernítido caráter sensacionalista, com abuso do direitoentrar blazerinformação”, escreveram.

Quando se trataentrar blazerpersonalidades históricas,entrar blazerinteresse público, é possível conciliar direitos fundamentais, comoentrar blazerimagem eentrar blazerliberdadeentrar blazerexpressão?

Gagliano e Moraes citam o Enunciado 279 do Conselho da Justiça Federal, que diz que "a proteção à imagem deve ser ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmenteentrar blazerface do direitoentrar blazeramplo acesso à informação e da liberdadeentrar blazerimprensa".

Nos casosentrar blazerque os dois direitos colidem, diz o texto, é preciso levarentrar blazerconta "a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade destes e, ainda, as característicasentrar blazersua utilização (comercial, informativa, biográfica), privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgaçãoentrar blazerinformações.”

O advogado Alex Daniel diz que Expedita não quer tornar a imagem dos seus pais "intocável".

"Afinal, Lampião e Maria Bonita são parte da história do povo simples do Nordeste”, diz Daniel.

“Mas ela quer que seja obedecida a mesma disposição legal que funciona para qualquer outro personagem histórico. Há um acervo literário e documental imenso, com interpretações diversas e plurais.”

O advogado afirma que o livroentrar blazerPavinatto, que já vendeu, segundo a editora, 60 mil exemplares, pertence a outra esfera,entrar blazerobras “desrespeitosas, ofensivas, que buscam levar a imagementrar blazerpersonagens históricos ao desprezo público com fins comerciais”.

Para Daniel, não se trataentrar blazeruma questãoentrar blazercensura ou não.

“A discussão aqui deriva para um tema que foi muito abordado no Brasil nos últimos anos: liberdadeentrar blazerexpressão se confunde com liberdadeentrar blazeragressão?”

Maria Bonita

Crédito, domínio público

Legenda da foto, Maria Gomesentrar blazerOliveira, a Maria Bonita, era uma donaentrar blazercasa casada quando começou a namorar Lampião,entrar blazer1929

Bibliografiaentrar blazerLampião

Lampião é um personagem histórico que motiva discussões acaloradas.

É cercadoentrar blazermitos e lendas – muitas que teriam sido alimentadas por ele próprio, no auge da fama, segundo historiadores – e tem lacunas significativas ementrar blazerbiografia.

Portanto, é natural que, há muito tempo, ele inspire teses e livros com teorias e vieses bem diferentes entre si.

Em 1996, por exemplo, o fotógrafo mineiro José Geraldo Aguiar causou estardalhaço ao afirmar que um homem chamado Antônio Maria da Conceição, que morrera três anos antes, era Lampião.

O fotógrafo defendia que o rei do cangaço não teria morrido lutando contra a políciaentrar blazer1938, e sim que viveu ainda muitas décadas no anonimato,entrar blazerMinas Gerais.

Sua teoria virou o livro Lampião, o Invencível - Duas vidas, duas mortes, o outro lado da moeda (Trampolim).

“Pela forma como esses livros controversos costumam ser construídos, eles estão mais para obras com apenas algumas visõesentrar blazerpassado do que para obrasentrar blazerhistória”, afirma Ramos.

"Suas escritas ensinam mais sobre a autoriaentrar blazerquem as fabricou do que a respeito do próprio fenômeno eentrar blazerhistoriografiaentrar blazertodaentrar blazercomplexidade."

As diferentes versõesentrar blazerLampião

O cangaço foi um fenômeno social típico da Caatinga que surgiu no século 19.

Marcado por gruposentrar blazernômades armados que percorriam os sertões, espalhando medo e admiração, não tinha um líderentrar blazerdestaque desde 1914, quando Antônio Silvino, o “Rifleentrar blazerOuro”, foi preso.

Em 1922, Virgulino Ferreira da Silva assumiu a liderança do bandoentrar blazerSinhô Pereira, que se retirou da vida no cangaço. Lampião logo ganhou fama como um cangaceiro valente e estrategista no Nordeste.

Seu maior trunfo estava na grande redeentrar blazercoiteiros que cultivava. Coiteiros eram aqueles que, por interesses diversos, protegiam os cangaceiros. Podiam ser simples vaqueiros ou coronéis poderosos.

Um deles, o capitão do Exército Eronildesentrar blazerCarvalho, foi governadorentrar blazerSergipe.

Amparado por esses contatos espalhados pelo Nordeste, Lampião chegou a liderar maisentrar blazercem homens, distribuídosentrar blazergrupos menores, agindoentrar blazeruma vasta área que se estendia por Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Sergipe.

Por 16 anos, ele reinou e zombou da polícia, que,entrar blazersuas tropas volantes, espalhava um terror semelhante ao do cangaço.

Os relatos da época apontam que os cangaceiros roubavam, sequestravam, estupravam, matavam, torturavam. Mutilavam mulheres e homens e tinham rituais perversosentrar blazerexecução.

Muitos desses relatos foram publicadosentrar blazerjornais da época cujas fontes eram apenas a polícia. Ou seja, segundo especialistas, pode haver exageros, incluise com relação aos crimes atribuídos a Lampião.

“Muitas das crueldades imputadas a ele foram praticadas por indivíduosentrar blazeroutros bandos”, disse o pesquisador Amaury Corrêaentrar blazerAraújo (mortoentrar blazer2021), autorentrar blazerdiversos livros sobre o cangaço, à revista Aventuras na História.

A imagementrar blazerum bandidoentrar blazercunho social, espécieentrar blazerRobin Hood do sertão, começou a se desenhar enquanto Lampião ainda estava na ativa.

Em 1935, a Aliança Nacional Libertadora (ANL), frenteentrar blazeresquerdaentrar blazercaráter antifascista, alçou Lampião à condiçãoentrar blazerinspirador político do movimento.

“Depoisentrar blazeradotado pelos comunistas,entrar blazerderrota se tornara questãoentrar blazerhonra para (Getúlio) Vargas”, escreveu o jornalista Wagner Barreiraentrar blazerLampião e Maria Bonita: Uma históriaentrar blazeramor e balas (Planeta).

Em 1938, durante a ditadura do Estado Novo, a polícia torturou um coiteiro até ele entregar o paradeiroentrar blazerLampião.

O bando foi surpreendidoentrar blazer28entrar blazerjulho. Em uma batalhaentrar blazer15 minutos, 11 cangaceiros, incluindo Lampião e Maria Bonita, acabaram mortos na Grotaentrar blazerAngico, Sergipe.

Seentrar blazervida Lampião já inspirava poetas, morto ele virou notícia internacional.

“Lampiãoentrar blazerum olho só, conhecido como um dos mais implacáveis matadores do Hemisfério Ocidental, morreentrar blazerbatalha campal”, noticiou, com destaque, o The New York Times na época.

Todos os corpos foram degolados, e as cabeças ficaram expostas por maisentrar blazer30 anos.

Nessa época, um dos historiadores mais famosos do século 20, o britânico (e marxista) Eric Hobsbawn, entrou na discussão.

Na obra Bandidos (1969), ele tratou Lampião como um defensor do povo, um vingador dos oprimidos, um exemplo notório do chamado “banditismo social”.

Pouco antes, o jornalista cearense Rui Facó, ex-membro da ANL e um reconhecido nome da esquerda nacional, publicou Cangaceiros e Fanáticos (1963).

No livro, ele justificava a brutal violência do cangaço como uma resposta à violência socialentrar blazerséculos que assola o semiárido brasileiro.

E não eram só nomes da esquerda que cultivavam essa imagementrar blazerLampião.

O historiador Vagner Ramos lembra que o intelectual e notório antissemita Gustavo Barroso, membro da Ação Integralista Brasileira (AIB), nos anos 1930, valorizava a “valentia”entrar blazerLampião sob um viés folclórico.

Essa visão começou a cairentrar blazerdesuso com a publicaçãoentrar blazerGuerreiros do Sol - Violência e banditismo no Nordeste do Brasil,entrar blazer1985, do historiador recifense Frederico Pernambucanoentrar blazerMello.

Na obra, ele explica que as justificativas das ações dos cangaceiros eram mais variadas do que se imaginava. Às vezes, eles só queriam fugir das autoridades ou arranjar uma nova fonteentrar blazerrenda, segundo o autor.

Vingança, que já foi tida como o principal motor que movimentava esses bandos, nem sempre era importante.

Lampião dizia ter entrado nessa vida para vingar o pai, morto por um policial.

Mas, mesmo na condiçãoentrar blazer“rei do cangaço”, ele não se esforçou para encontrar os assassinos, segundo Mello.

O sociólogo Gilberto Freyre assinou o prefácio da primeira ediçãoentrar blazerGuerreiros do Sol, escrito por Mello.

Ele destacou o trunfo dessa mudançaentrar blazervisão, devido à existênciaentrar blazer“dois Nordestes, não um só, o que leva à consideraçãoentrar blazerexistir maisentrar blazerum banditismo, e nãoentrar blazerum só (...). São vários cangaços, várias honras”.

O livro derruba a ideiaentrar blazerque cangaceiros eram inimigos dos opressores coronéis.

“Ao contrário do que teimamentrar blazerafirmar certos intérpretes, não é possível surpreender uma relaçãoentrar blazerantagonismo necessária entre cangaceiro e coronel”, escreveu Mello.

Autorentrar blazerdiversos livros sobre o cangaço, Mello é considerado o maior especialista no assunto.

O que prosperou, o autor explica, foi “uma tradiçãoentrar blazersimbiose entre essas duas figuras, representada por gestosentrar blazerconstante auxílio recíproco, porque assim lhes apontava a conveniência”.

A obra Maria Bonita: Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço (Objetiva),entrar blazerAdriana Negreiros, também trabalha para desmistificar o mitoentrar blazerLampião como "Robin Hood do sertão".

"Ele era aliado dos grandes latifundiários do Nordeste e era amigoentrar blazerum interventor", disse a autora à BBC News Brasilentrar blazer2018.

"O fatoentrar blazerter passado impune tantos anos se deve à relação que tinha com o poder. Os grandes prejudicados eram os mais pobres."

Ramos explica que a historiografia atual observa o tema como um duplo desafio: investigar os fatos e investigar a forma como esses fatos foram e são descritos por diferentes grupos ao longo do tempo.

“Há argumentos mais racialistas que explicam o cangaceiro como criminoso nato e aqueles mais folclóricos que enfatizam a valentiaentrar blazerquem entrou nessa vida. Há também argumentos com tom marxista que identificam na vida fora-da-lei uma expressão contra dominações”, diz.

“Há ainda argumentos mais sociológicos que visualizam valoresentrar blazerhonra que guiam as açõesentrar blazercangaceiros. E outros, culturalistas, tratam da estética apurada que eles tinham na construçãoentrar blazersuas indumentárias.”

Quem é Pavinatto

Tiago Pavinatto é formadoentrar blazerDireito, mas se tornou conhecido como apresentador da Jovem Pan News, onde começou a trabalharentrar blazer2022.

Ele acabou demitido da emissora no ano passado ao se recusar a pedir desculpas a um desembargador que ele chamouentrar blazer“vagabundo e tarado” por ter inocentado um homem acusadoentrar blazerter estuprado uma meninaentrar blazer13 anos.

Em 2006, participou da fundação do Diversidade Tucana, a ala LGBTQIA+ do PSDB.

Foi membro do Movimento Brasil Livre (MBL) e candidato a vereadorentrar blazerSão Pauloentrar blazer2020 pelo Patriotas.

Autodeclarado gayentrar blazerdireita, Pavinatto dá cursos e palestras sobre assuntos como oratória e Lei Geralentrar blazerProteçãoentrar blazerDados e mantém um canal no YouTube.

Ele contou,entrar blazersuas redes, que a inspiração para concluirentrar blazerobra sobre Lampião e para oferecê-la à editora veio com o Carnavalentrar blazer2023, quando, no aniversárioentrar blazer85 anos da morte do cangaceiro, Lampião foi tema do desfile da Mancha Verde,entrar blazerSão Paulo, e da Imperatriz Leopoldinense, no Rioentrar blazerJaneiro, com a primeira-dama Janja Silva como madrinha da velha-guarda.

Por que Lampião ainda é relevante?

As muitas versões e as fronteiras fluidas entre história e ficção inspiraram a Imperatriz Leopoldinenseentrar blazer2023.

Pavinatto afirmouentrar blazerseu canal que ficou indignado com uma escolaentrar blazersamba homenagear um “notório estuprador”.

No entanto, o próprio samba-enredo deixa claro que Lampião era controverso.

"O enredo O aperreio do cabra que o excomungado tratou com má-querença e o santíssimo não deu guarida se debruça nas visões delirantes dos cordéis nordestinos que contam histórias fantásticas sobre a chegadaentrar blazerVirgulino Ferreira da Silva, o famoso Lampião, ao céu e ao inferno”, explicou a escola carioca nas redes sociais.

Não são só as escolasentrar blazersamba que o cangaço inspira há um século. Cangaceiros já foram retratados na literatura, música, artes plásticas, cinema, dança e moda.

Grandes nomes como os escritores José Lins do Rego e Rachelentrar blazerQueiroz e os pintores Candido Portinari, Carybé e Aldemir Martins exploraram o tema.

O filme O Cangaceiro, do cineasta Lima Barreto, ganhou prêmioentrar blazerCannes e colocou o Brasil no mapa do cinema mundial.

Os cangaceiros difundiram o xaxado, dançaentrar blazerguerra que se tornou uma expressão cultural importanteentrar blazeralgumas regiões do Nordeste.

O ateliê do filho do criador da sandáliaentrar blazerLampião (que era retangular para que as pegadas não indicassem o caminho seguido pelo bando) participou da São Paulo Fashion Week e fez parcerias com grifes brasileiras.

Sem contar o chapéuentrar blazercangaceiro, um ícone cultural brasileiro que toda eleição aparece na cabeçaentrar blazeralgum políticoentrar blazervisita ao Nordeste.

Não importa a orientação política:entrar blazerJair Bolsonaro (PL) a Lula (PT),entrar blazerSérgio Moro (União) a Fernando Haddad (PT),entrar blazerAécio Neves (PSDB) a Dilma Rousseff (PT), a lista dos que usaram tal chapéu é longa.

Até o músico Axl Rose, no primeiro show do Guns N’ Rosesentrar blazerFortaleza,entrar blazer2014, cantou com ele na cabeça.

"Todo criminoso tende à ocultação, até para facilitarentrar blazeração. O cangaceiro, na Caatinga muitas vezes cinzenta, era um porreentrar blazercores", disse o escritor Frederico Pernambucanoentrar blazerMelloentrar blazerentrevista ao apresentador Jô Soares,entrar blazer2010.

Para o especialista, esses bandidos brutais tinham uma tremenda sensibilidade estética: "Lampião costurava muito bementrar blazerpano eentrar blazercouro."

Lampião era também um mestre do marketing pessoal. Posava para fotos, fazia vídeos, dava entrevistas, o que, sem dúvida, ajudou a alimentar o mito.

Chegou até a ser garoto-propaganda da farmacêutica Bayer. Em um registroentrar blazer1936, distribuiu drágeasentrar blazercafiaspirina a seu bandoentrar blazerfrente a um cartaz da marca.

Um dos motivosentrar blazerLampião e do cangaço despertarem tanta polêmica é porque o conceito do cangaço passou a ser um recurso central no vocabulário das disputas políticas entre Sudeste e Nordeste.

"Com o tempo, o conceitoentrar blazercangaço deixouentrar blazerser expressar simplesmente um fenômeno fora-da-lei e passou a indicar igualmente uma simbologia da região nordestina", explica Ramos.

"Quer dizer, o conceito não se aplica a somente quem viveu no cangaço, mas a qualquer pessoa que pode ser associada ao cangaço, sobretudo quem nasceu na região, falaentrar blazernome dela ou se identifica com valores associados àentrar blazercultura."