Os segredos dos escritores para nos 'prender' até o final dos textos:guts poker

Máquinaguts pokerescrever

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"Em um lugar da Mancha,guts pokercujo nome não quero me lembrar, vivia, não há muito tempo, um fidalgo, daquelesguts pokerlançaguts pokercabido, adarga antiga, rocim fraco e galgo corredor" (Dom Quixoteguts pokerla Mancha,guts pokerMiguelguts pokerCervantes).

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"Era o melhor dos tempos, era o pior dos tempos, a idade da sabedoria e também da loucura; a época das crenças e da incredulidade; a era da luz e das trevas; a primavera da esperança e o inverno do desespero" (Um Contoguts pokerDuas Cidades,guts pokerCharles Dickens).

"As famílias felizes são todas iguais; as infelizes o são cada uma àguts pokermaneira" (Anna Karenina,guts pokerLeon Tolstoi).

"Tudo no mundo começou com um sim" (A Hora da Estrela,guts pokerClarice Lispector).

Que vontadeguts pokercontinuar mencionando outros exemplos brilhantes! Mas estes são suficientes para observar que o princípioguts pokeruma história é um anúncio, uma surpresa, uma declaraçãoguts pokerintenções.

Em detalhes

Mãoguts pokermulher segurando caneta e escrevendoguts pokerfolhaguts pokerpapel

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Legenda da foto, A primeira fraseguts pokerum livro, muitas vezes, é a que leva mais tempo para ser escrita
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Que História!

A 3ª temporada com histórias reais incríveis

Episódios

Fim do Que História!

Vamos começar do princípio. Que melhor começo existe que a primeira grande históriaguts pokeraventuras da literatura ocidental?

Esta é a aberturaguts pokerA Odisseia,guts pokerHomero:

"Conta-me sobre um homem complicado.

Musa, conta-me como ele vagou e se perdeu depoisguts pokerdestruir a sagrada cidadeguts pokerTroia, aonde foi e a quem conheceu; a dor que sofreu na tormenta nos mares e como batalhou para salvarguts pokervida e guiar seus homens para casa.

Não conseguiu mantê-los a salvo."

A primeira linha já nos adverte que esta não é uma história comum. É uma declaração simples que expõe as perguntas: por que este homem é o herói da história? E quais são as suas complicações?

"Musa, conta-me como ele vagou e se perdeu depoisguts pokerdestruir a sagrada cidadeguts pokerTroia." A ousada abertura convida a outras perguntas.

Por que Ulisses andou errante? Por que ele se perdeu? Quando e como ele destruiu a sagrada cidadeguts pokerTroia? Por que Troia era sagrada? O que o levou a destruí-la?

Uma boa narração dependeguts pokerapresentar não uma, mas uma sérieguts pokerperguntas que precisamguts pokerrespostas... e, neste caso, as perguntas não param. Elas nos dão vontadeguts pokersaber aonde ele foi e quem conheceu, saber das suas dores e dos esforços para salvar seus homens e levá-los paraguts pokerpátria.

Homero nos convida a ouvir aguts pokerhistória. E até nos presenteia com um spoiler do que irá acontecer: "não conseguiu mantê-los a salvo".

Mas até esta frase gera mais uma pergunta: por que ele fracassou? E Homero nos diz que eles morreram pelos seus próprios erros. Mas quais foram esses erros? Como morreram os homensguts pokerUlisses?

A cada duas ou três palavras, a aberturaguts pokerA Odisseia impulsiona a narração e provoca um por quê, como, quando ou onde – questões cuja resposta só a leitura pode trazer.

Esta é a essênciaguts pokertodas as boas narrações: elas se alimentam da curiosidade. Algo que foi um tanto problemático para a premiada escritora britânico-paquistanesa Kamila Shamsie quando escreveu seu romance Sombras Marcadas (Ed. Alfaguara, 2011).

Mundos

A história começaguts pokerum lugar e momento que, só ao mencioná-los, já revelam o que irá acontecer.

Algo assim pode ocasionar a queda da "espadaguts pokerDâmocles", que, segundo o romancista americano Richard Ford, "pende sobre todas as nossas cabeças: que os leitores encontrem uma razão para deixarguts pokerler".

Ganhador do prêmio Pulitzer, Ford afirmou à BBC que "para mim, um livroguts pokersucesso é aquele que leva o leitor do princípio até a última palavra".

E, para consegui-lo, os escritores precisam fazer com que passemos a morar nos mundos que eles criaram.

Mas como eles ambientam seus romancesguts pokerlugares que podemos tocar, cheirar, ouvir e até saborear?

Em suas obras, Shamsie nos levaguts pokerLondres até Karachi, no Paquistão; eguts pokerNova York, nos Estados Unidos, até Nagasaki, no Japão – o cenárioguts pokerSombras Marcadas que tanto a preocupou.

Chegar à versão final da abertura do romance levou "muito tempo. Escrevi quatro ou cinco rascunhos e nenhum funcionava", conta a autora.

Até que ela decidiu pegar o touro à unha: abriu o livro com o nome da cidade e a data precisa, sabendo que seus leitores "saberiam que iria cair uma bomba":

"Nagasaki, 9guts pokeragostoguts poker1945.

Mais tarde, quem sobreviver recordará este dia como cinza. Mas, na manhãguts poker9guts pokeragosto propriamente dita, tanto o homemguts pokerBerlim, Konrad Weiss, quanto a professora da escola, Hiroko Tanaka, saemguts pokersuas casas e observam o azul perfeito do céu onde floresce a fumaça branca das chaminés das fábricasguts pokermunições.

Konrad não pode ver as chaminés daguts pokercasaguts pokerMinamiyamate, mas, há três meses, seus pensamentos visitaram com frequência a fábrica na qual Hiroko Tanaka passa seus dias medindo a espessura do açoguts pokermicrômetros, com imagensguts pokeraulas invadindo seus pensamentos, como as recordações do voo talvez entrassem nas mentesguts pokerpássaros com asas rasgadas."

Alémguts pokernos situar no marco histórico, Shamsie nos adianta que uma dessas pessoas irá sobreviver e a outra, não.

"Quero que você se envolva com a data, com os personagens e com seu próprio desconhecimento, porque, naquele dia,guts pokerNagasaki, ninguém acordou pensando no que iria acontecer", declarou ela à BBC.

Para criar seus mundos, Shamsie começa imaginando a si mesma neles. "É claro que não estiveguts pokerNagasakiguts poker1945,guts pokerforma que li e vi fotografias e todo tipoguts pokercoisa para tentar criar para mim esse sentidoguts pokerlugar", ela conta.

"Quando procurava Nagasaki, tudo o que via era uma nuvemguts pokerformaguts pokercogumelo", prossegue Shamsie. "Eu quis restaurar a cidade nas páginas. E realçar o contraste. Hiroko estáguts pokerférias, existe um azul perfeito no céu e a ilusão da vitória."

Essa tranquilidade antes da tormenta é deliberada, mas também um fato. "Esse 9guts pokeragosto realmente começou como um dia ensolarado e,guts pokerum dado momento, o céu ficou cheioguts pokernuvens que quase impediram o lançamento da bomba", relembra a autora.

Mas Shamsie ressalta que "a escrita descritiva nunca se trata apenasguts pokermostrar algo como se fosse uma fotografia. Ela deve ir além do visual. É preciso haver algo nos detalhes específicos oferecidos para começar a semear a trama do romance."

Mulher sentada com livro gigante na mão olhando para o alto e vendo borboletas coloridas

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Legenda da foto, Para que seu livro seja lido do princípio ao fim, os escritores precisam fazer com que o leitor passe a morar nos mundos que eles criaram

Silêncio

E foi um detalhe sobre as mulheres que vestiam quimonos brancos com botões escuros, que Shamsie encontrou ao ler Hiroshima, do escritor John Hersey, que deu ao seu livro o nomeguts pokerSombras Marcadas e a levou a "ver uma imagem que poderia se transformarguts pokerum romance".

"O branco refletiu o calor da bomba para longe do seu corpo e o preto o absorveu. Por isso, pavorosamente, surgiram tatuagens na pele na forma dos botões dos seus quimonos", ela conta. "Ao ler isso, tive na cabeça a imagemguts pokeruma mulher com um quimono com botões na formaguts pokertrês grous pretos nas costas. Eu quis que essa mulher se virasse."

"Hiroko sai para o terraço. Seu corpo, do pescoço para baixo, é uma colunaguts pokerseda, branco com três grous pretos que caem sobre suas costas. Olhaguts pokerdireção às montanhas e tudo parece mais bonito no início dessa manhã. Nagasaki está mais bonita do que nunca. Ela vira a cabeça e vê as torres da Catedralguts pokerUrakami, que Konrad está olhando quando observa um espaço aberto entre as nuvens. A luz do sol atravessa aquele espaço, separando as nuvens ainda mais.

Hiroko.

E, então, o mundo se torna branco."

Seguem-se duas páginasguts pokerbranco no livro.

"Como escritora, existem momentosguts pokerque você reconhece que faltam as palavras."

Diálogos

O silêncio, assim como as entrelinhas e o discurso inarticulado, certamente são indispensáveis.

"Às vezes, costuma-se dizer que existem palavras indeléveis, mas, na verdade, o silêncio depois do discurso, a mudança no silêncio ou a transformação do ambiente depois que se fica sabendoguts pokeralguma coisa é o que marca", afirma à BBC a romancista irlandesa e ganhadora do prêmio Booker Anne Enright.

A tarefa do narrador é mostrar como tudo acontece, não só com descrições, mas também com diálogos. E, neles, sempre cabem os protestos, as interrupções, as frases foraguts pokerlugar, os insultos acidentais e o arrebatamento não articulado. Estes encontros impulsionam a história.

A boa narração depende dos confrontos. Se todos entrarem na cena com o mesmo pensamento, não tem sentido ficar para ver o que acontece.

O drama dependeguts pokerque os personagens não saibam o que querem ou esperem por coisas diferentes. E o autor precisa nos surpreender com reviravoltas inesperadas, como fez Jane Austen neste trechoguts pokerOrgulho e Preconceito:

" – Oh, senhor Bennet! Precisamos do senhor com urgência. Estamosguts pokerdificuldades. É preciso que o senhor vá e convença Elizabeth a casar-se com Collins, pois ela jurou que não o fará e, se não se apressar, Collins mudaráguts pokerideia e não a irá querer mais.

Ao entrarguts pokermulher, o senhor Bennet ergueu os olhos do livro e os fixou no seu rosto com uma calma indiferença que a notíciaguts pokernada alterou.

– Não tive o prazerguts pokerentendê-la – disse, quando ela terminouguts pokerladainha. – Do que você está falando?

– Do senhor Collins e Lizzy. Lizzy diz que não irá se casar com o senhor Collins e o senhor Collins começa a dizer que não se casará com Lizzy.

– E o que eu vou fazer? Parece-me que não há remédio.

– Fale com Lizzy. Diga a ela que o senhor quer que ela se case com ele.

– Diga-lhe que desça. Ela ouvirá minha opinião.

A senhora Bennet tocou a campainha e Elizabeth foi chamada à biblioteca.

– Venha, minha filha – disse seu pai, quando a jovem entrou. – Pedi que a buscassem para um assunto importante. Dizem que Collins fez propostasguts pokermatrimônio para você, é verdade?

Elizabeth respondeu que sim.

– Muito bem; e dizem que você as recusou.

– É verdade, papai.

– Bem. Agora, vamos ao assunto. Sua mãe deseja que você aceite. Não é verdade, senhora Bennet?

– Sim, caso contrário não a quero ver mais.

– Você tem uma triste escolha pela frente, Elizabeth. A partirguts pokerhoje, você terá que renunciar a um dos seus pais. Sua mãe não quer voltar a ver você se não se casar com Collins e eu não quero voltar a vê-la se você se casar com ele."

A linguagem é precisa. Nenhuma palavra é desperdiçada, mesmo com as repetições.

O contraponto é convertidoguts pokeruma sérieguts pokeropostos irreconciliáveis, que termina fazendo com que a filha já não precise escolher um marido, mas sim optar entre seus pais. Fazer o leitor esperar algoguts pokerum diálogo sem que ocorra exatamente o esperado é outro pilarguts pokeruma narração convincente.

E, para que isso aconteça, é indispensável que os moradores do mundo criado pelo autor sejam quase queguts pokercarne e osso.

Homem com capa pretaguts pokerpé no parapeito da coberturaguts pokerum prédioguts pokernoiteguts pokerLua cheia

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Legenda da foto, Transformações e múltiplas identidades fazem com que os personagens da ficção pareçam reais para o leitor

Personagens

Como criar personagensguts pokerficção que pareçam reais?

Um dos segredos da narração é o reconhecimentoguts pokerque todos nós podemos adotar várias identidades, como observou o poeta norte-americano Wlat Whitman naguts pokerCançãoguts pokerMim Mesmo:

"Eu me contradigo?

Sim, eu me contradigo. E daí?

(Sou imenso e tenho multidões dentroguts pokermim)."

Os personagens sempre podem ser maisguts pokeruma coisa. Ninguém é típico.

Eles nem mesmo precisam estar presos aos estereótiposguts pokergênero. Um exemplo é o personagem Orlando,guts pokerVirginia Woolf, que mudaguts pokersexo no transcurso do romance (Orlando: uma Biografia).

"Orlando havia se transformadoguts pokeruma mulher – era inútil negá-lo. Mas,guts pokertodo o mais, Orlando era ele mesmo. A mudançaguts pokersexo alterava seu futuro, nãoguts pokeridentidade."

Alteraçõesguts pokeridentidade foram temaguts pokernarração desde a Metamorfoseguts pokerOvídio. Na versão atualizadaguts pokerFranz Kafka, o personagem central chega a mudarguts pokerespécie:

"Quando Gregor Samsa acordou certa manhã, depoisguts pokerum sono intranquilo, encontrava-se sobreguts pokercama transformadoguts pokerum monstruoso inseto."

É muito dramático, mas,guts pokerum romance, os personagens precisam mudar. Se não o fizerem, terminam sem futuro, como a senhorita Havisham do romance Grandes Esperanças,guts pokerCharles Dickens. Ela ficou presa no momentoguts pokerque foi abandonada antes do casamento.

"Sentadaguts pokeruma poltrona com o cotovelo apoiado sobre a mesa e a cabeça na mão correspondente, observei a dama mais estranha que já havia visto e que jamais verei.

Ela vestia uma roupa muito belaguts pokercetim, renda e seda, toda branca. Seus sapatos eram da mesma cor. Daguts pokercabeça, pendia um longo véu, também branco, e seus cabelos estavam ornados com floresguts pokernúpcias, embora fossem grisalhos. No pescoço e nas mãos, brilhavam algumas joias e, na mesa, viam-se outras joias cintilando. Por toda parte, meio dobrados, havia outros trajes, embora menos esplêndidos que o vestido daquela estranha mulher.

Ela aparentava não haver terminadoguts pokervestir-se, já que só calçava um sapato e o outro repousava sobre a mesa. E, quanto ao véu, estava arrumado pela metade, não havia colocado o relógio e a corrente e, sobre a mesa coroada pelo espelho, podia-se ver algumas rendas, seu cachecol, suas luvas, algumas flores e um livroguts pokerorações, todos amontoados.

Não observei tudo imediatamente, mas pude ver muito mais do que se acreditaria, e também percebi que tudo aquilo que deveria ser branco,guts pokerfato, foi dessa cor, talvez muito tempo atrás, já que havia perdido seu brilho, assumindo tons amarelados. Além disso, observei que a noiva, vestida para casar-se, havia perdidoguts pokercor, da mesma forma que a roupa e as flores, e que nela nada mais brilhava além dos seus olhos profundos.

Ao mesmo tempo, notei que aquela roupa vestiu, um dia, a figura arredondadaguts pokeruma mulher jovem e que, agora, encontrava-se sobre um corpo reduzido a pele e ossos."

Se a metamorfose da personagem é fundamental para a trama, o que fazguts pokerum romanceguts pokerDickens alguém que não consegue ou não quer se transformar?

"Perceba que, neste trecho tão curto, o que você vê é o que foi e o que é agora", destaca o escritor tanzaniano Abdulrazak Gurnah, vencedor do Prêmio Nobelguts pokerLiteraturaguts poker2021.

"Você observa a mudança, mas ele é muito cuidadoso para mostrá-la e o fazguts pokeruma forma muito dramática", explica Gurnah. "Ao mostrar como mudou a cor da seda, ele deixa a entender a passagem do tempo."

Assim, nem a senhorita Havisham consegue evitar a mudança, por mais que tente. "Não, o que ela procura é deter o momento, mas, na verdade, o que está fazendo é demonstrar como o tempo passou para ela", destaca o escritor.

Se os personagens mudam, desenvolvem-se e crescem ao longoguts pokerum romance, talvez o leitor também se transforme no processo. O prazer da ficção reside neste poder.

Ela nos permite viver foraguts pokernós mesmos, imaginar novos personagens, novos mundos e novas maravilhas,guts pokerforma que, quando terminarmosguts pokerler, talvez reconsideremos quem somos,guts pokerquem nos transformamos e quem ainda poderíamos ser.

Talvez este seja o maior segredo da narraçãoguts pokerhistórias.

Mulher relaxada sentadaguts pokercadeira ao ar livre lendo um livro enquanto um gato a observa

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Legenda da foto, Sentar-se no seu lugar preferido e abrir um livro para ler é um dos maiores prazeres que existem

O fim

Pouco a pouco, vamos irremediavelmente chegando à última página, muitas vezes sem querer que a história termine, mesmo estando intrigados para saber o seu final.

Parteguts pokeruma boa narração depende da capacidadeguts pokerfazer conexões entre o comum e o extraordinário, permitindo a nós, os leitores, sair do cotidiano, pensarguts pokervidas diferentes das nossas, encontrar o espaço, considerar o significado e o propósito, a ambição e a futilidade, o amor e a morte, o humor e a graça.

Mas depende também da habilidade do escritor para manter o ritmo e chegar até o final, o que pode ser fundamental para moldar nossa compreensão do que acabamosguts pokerler. Ou talvez não tão claramente, como aconteceguts pokerum dos finais mais impactantes e discutidos: oguts pokerO Grande Gatsby,guts pokerF. Scott Fitzgerald:

"E, enquanto estava ali, raciocinando sobre um velho mundo desconhecido, pensei na maravilhaguts pokerGatsby quando vislumbrou pela primeira vez a luz verde no caisguts pokerDaisy.

Ele havia percorrido um longo caminho para chegar a esta grama azul e seu sonho devia parecer tão próximo para ele que quase conseguia capturá-lo. Ele não sabia que já estava atrás dele,guts pokeralgum lugar naquela vasta escuridão além da cidade, onde os campos escuros da república giravam à noite.

Gatsby acreditava na luz verde, o futuro orgásmico que, ano após ano, afasta-seguts pokernós. Ela nos escapou, mas não importa: amanhã, correremos mais rápido, esticaremos mais os braços e, algum dia,...

Assim remamos para frente com os barcos contra a corrente, arrastados incessantementeguts pokerdireção ao passado."

O romance termina aqui, mas a curiosidade, não.

Por que Gatsby, Myrtle e George Wilson morrem? Por que Daisy volta com Tom? Por que ninguém vem ao funeralguts pokerGatsby?

O final abrupto e pessimista deixa uma sensaçãoguts pokervazio e sem sentido que apresenta mais perguntas do que respostas, gerando interpretações que transformam o ponto finalguts pokerreticências.

Outros finais não deixam interrogações, mas sim reflexões que os escritores parecem querer nos fazer levar conosco, como o final da romancista britânica George Eliotguts pokerMiddlemarch:

"... o bem acumulado do mundo depende,guts pokerparte,guts pokerfatos que não constam na história.

O fatoguts pokerque as coisas não estejam tão mal como poderiam haver ficado para mim e para você deve-se,guts pokerparte, àqueles que viveram fielmente uma vida oculta e descansamguts pokertúmulos que ninguém visita."

Nas mãosguts pokerescritores geniais, muitas vezes, os finais são tão brilhantes e inesquecíveis quanto os inícios. Comoguts pokerNinguém Escreve ao Coronel,guts pokerGabriel García Márquez (Ed. Record, 1980):

"A mulher se desesperou. 'E, enquanto isso, o que comemos?', perguntou, agarrando o coronel pelo colarinhoguts pokerflanela. Ela o sacudiu energicamente.

– Diga-me, o que comemos?

O coronel precisouguts pokersetenta e cinco anos – os setenta e cinco anos daguts pokervida, minuto após minuto – para chegar a este momento. Ele se sentiu puro, explícito, invencível, quando respondeu:

– Merda."

Ouça a série "The Secrets of Storytelling", da BBC Rádio 4, que deu origem a esta reportagem (em inglês), no site BBC Sounds. A série é apresentada pelo escritor britânico James Runcie e produzida por Ellie Bury.

Esta reportagem é parte do Hay Festival Cartagena, um encontroguts pokerescritores e pensadores realizado na Colômbia entre 26 e 29guts pokerjaneiroguts poker2023.

- Este texto foi originalmente publicadoguts pokerhttp://vesser.net/articles/c4nz99zgkvdo