EUA dependem do Brasil e aliados para achar uma saída para Venezuela, diz ex-embaixador Shannon :flat poker

Thomas Shannon é um homem branco,flat pokercabelos brancos, sem barba. Ele veste um terno preto sobre camisa branca e gravata vermelha e cinza. Está falandoflat pokerum púlpito.

Crédito, State Department

Legenda da foto, Thomas Shannon foi embaixador dos EUA no Brasil e conselheiro na embaixadaflat pokerCaracas

Segundo informou o governo, maisflat pokerduas mil pessoas já foram detidasflat pokerações que a oposição classifica como arbitrárias.

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A crise no país latino-americano tem impacto transfronteiriço. As consequências dos movimentos do xadrez venezuelano podem afetar economicamente, socialmente e até politicamente paísesflat pokertoda a América.

Por isso, os países estão agindo. Brasil, México e Colômbia, que não reconheceram a vitóriaflat pokerMaduro, cobram as atas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) venezuelano enquanto tentam liderar uma possível mediação entre governistas e oposição. Já um grupo liderado pela Argentina rejeitou os resultados e não tem mais laços formais com Caracas.

Na tarde da quinta-feira (8/8), os países emitiram um segundo comunicado conjunto a respeito da crise.

Após uma reunião virtual entre os ministros das Relações Exteriores dos três governos, a nota afirma que os países "consideram fundamental a apresentação pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) dos resultados das eleições presidenciaisflat poker28flat pokerjulhoflat poker2024 desagregados por mesaflat pokervotação".

O texto prossegue afirmando que "as soluções da situação atual devem surgir da Venezuela".

"Nesse sentido, [os ministros] reiteramflat pokerdisposiçãoflat pokerapoiar os esforçosflat pokerdiálogo e buscaflat pokerentendimentos que contribuam à estabilidade política e à democracia no país."

A imagem mostra uma multidãoflat pokertornoflat pokerum pequeno caminhãoflat pokersom com algumas pessoasflat pokercima e uma delas com um microfone na mão.

Crédito, Fausto Torrealba/Reuters

Legenda da foto, Opositores a Maduro durante protesto no dia 3flat pokeragostoflat pokerCaracas
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Mais ao norte, os Estados Unidos, que instituíram sanções econômicas à Venezuela que podem ser afrouxadas ou incrementadasflat pokeracordo com o desenrolar da situação, pisamflat pokerovosflat pokerpleno ano eleitoral.

O presidente democrata Joe Biden telefonou para Luiz Inácio Lula da Silva e os dois países também pediramflat pokerconjunto o detalhamento do voto dos venezuelanos.

Dias depois e após alguns ruídos, os EUA explicitaram seu posicionamento: disseram reconhecer a vitória da oposição, mas não afirmaram que González será tratado como presidente.

A nuance tem importância porque, na análise do ex-embaixador dos Estados Unidos no Brasil, Thomas Shannon, Washington não quer,flat pokernovo, apoiar um presidente oposicionista autodeclarado que, na prática, não tem e nem terá poder.

Isso já aconteceuflat poker2019, quando o líder da oposição, Juan Guiadó, se autodeclarou presidente após a dissolução dos poderes da Assembleia pelo chavismo, mas não teve poder para governar ou decidir. Na época, não só os EUA, mas a União Europeia e o Brasil, então sob Jair Bolsonaro, reconheceram Guaidó.

"Os Estados Unidos preferem encontrar outra saída para esta crise. Por isso dependem do que Brasil, Colômbia e México consigam fazer", disse Shannonflat pokerentrevista à BBC News Brasil.

Ocupante do mais alto posto diplomático dos EUA para a América Latina na administração Barack Obama, Shannon avalia que haverá muita cautelaflat pokerWashington na horaflat pokeraprovar possíveis novas sanções a Caracas.

O motivo, segundo ele, é que as sanções aplicadas ainda no governoflat pokerDonald Trump não atingiram seu objetivo, ou seja, não retiraram Maduro do poder. Além disso, a penúria econômica teve reflexos na onda migratória venezuelana que se espraiou pela região, inclusive pelos EUA.

"A Venezuela desempenhará um papel muito importante, não tanto nas eleições presidenciais, mas nas eleições para a Câmara dos Representantes [em novembro deste ano]", diz ele, que também foi conselheiro político na Embaixada dos Estados Unidosflat pokerCaracas entre 1996 e 1999, deixando o país no primeiro anoflat pokerHugo Chávez na presidência.

Confira a seguir os principais pontos da entrevistaflat pokerShannon, que conversou com a reportagem por videoconferência no escritórioflat pokeradvocacia Arnold & Porter,flat pokerWashington, onde trabalha.

flat poker BBC News Brasil - flat poker Como o senhor vê a situação da Venezuela agora? Maduro está reprimindo os protestos, enquanto a oposição não dá sinaisflat pokerque aceitará a vitória declarada pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE). O que esperar? E no que a situaçãoflat pokeragora flat poker se difereflat pokeroutras crises no passado flat poker ?

flat poker Thomas Shannon - Acho que a principal diferença, a essa altura, é a própria eleição. E também o fatoflat pokera oposição ter participado nestas eleições, o que deu uma oportunidade ao povo venezuelanoflat pokerdizer o que pensa. E, com base nas provasflat pokerque todos dispomos, é bastante claro que o povo venezuelano escolheu o candidato da oposição, por cercaflat pokerdois [votos para Edmundo González] para um [voto para Nicolás Maduro]. Isso cria um ambiente político muito diferente para o governo, para o presidente Maduro e para a oposição.

flat poker BBC - O Brasil, juntamente com a Colômbia e o México, está tentando ser um mediador nesta crise. Mas qual é a influência que o Brasil realmente pode exercer agora? E como o senhor avalia essa estratégia?

flat poker Shannon - Creio que o Brasil tem uma influência considerável na Venezuela, tal como a Colômbia e o México, devido à liderança do presidente Lula, do presidente [Gustavo] Petro e do presidente [Antonio Manoel] López Obrador, que estão tentando usar aflat pokercredibilidade e a relação que construíram ao longo do tempo com o governo venezuelano para encontrar uma saída para um impasse que, neste momento, parece quase insolúvel.

flat poker BBC - Os Estados Unidos publicaram uma nota reconhecendo a vitóriaflat pokerGonzález ao mesmo tempoflat pokerque Biden apoia Lula pedindo a divulgação das atas. Como a campanha eleitoral e seu calendário podem impactar os caminhos da Casa Branca nesta questão ?

flat poker Shannon - Os comentários do secretário [Antony] Blinken à imprensa tinham dois objetivos. Reconhecer uma realidade, que é o fatoflat pokertodas as provas, como referi, indicarem que Edmundo González ganhou as eleições. Mas o segundo ponto tem a ver com a política interna dos Estados Unidos. Porque a Venezuela vai se tornar um problema. Quer dizer, já é um problema. E desempenhará um papel muito importante, não tanto nas eleições presidenciais, mas nas eleições para a Câmara dos Representantes [em novembro deste ano].

Os democratas estão buscando uma formaflat pokerreconquistar a Câmara dos Representantes e por isso não querem ser retratados pelos republicanos como sendo brandos com alguém como o presidente Maduro, queflat pokerprimeiro lugar, roubou as eleições. E,flat pokersegundo lugar, está ocupado reprimindo as pessoas que estão protestando contra essa eleição roubada.

Dito isto, os Estados Unidos têm mantido uma comunicação muito estreita com o Brasil, a Colômbia e o México e o presidente Biden falou com o presidente Lula. Os EUA apóiam o que o Brasil, a Colômbia e o México estão tentando fazer, que é,flat pokerprimeiro lugar, convencer os venezuelanos a divulgarem os seus boletinsflat pokervoto. E isso eles nunca farão, porque vai mostrar o que já sabemos: que o presidente Maduro perdeu as eleições.

flat poker BBC - flat poker O senhor acha que as atasflat pokervotação nunca serão apresentadas?

flat poker Shannon - Não. A razão pela qual pediram ao Supremo Tribunal para resolver esta questão é porque não querem que o CNE resolva a questão. Mas vale a pena registrar que o porta-voz do Departamentoflat pokerEstado [dos EUA] veio a público e acrescentou um comentário adicional ao que o secretário Blinken tinha dito.

Ele afirmou que os Estados Unidos não reconhecem Edmundo González como presidente da Venezuela,flat pokerprimeiro lugar, porque a posse do presidente não vai acontecer até o ano que vem [seráflat pokerjaneiroflat poker2025]. Mas,flat pokersegundo lugar, o governo dos Estados Unidos não quer voltar a cairflat pokeruma experiência semelhante, quando os EUA declararam Juan Guaidó presidente [em janeiroflat poker2019] e depois ficaram limitados a apoiar um presidente que não tinha autoridade para governar e nem poder.

Agora, os Estados Unidos preferem encontrar outra saída para esta crise. Por isso dependem do que o Brasil, a Colômbia e o México consigam fazer.

A imagem mostra três pessoas no primeiro plano, uma delas utilizando uma grande máscaraflat pokerNicolás Maduro, com bigode e cabelo curto preto.

Crédito, Ronald Pena R/EPA

Legenda da foto, Militante usa máscaraflat pokerapoio a Nicolas Máduro Em Caracas

flat poker BBC - flat poker O senhor acredita que novas sanções dos EUA sobre a Venezuela estariam sobre a mesa agora?

flat poker Shannon - Provavelmente, mas dependerá muito dos níveisflat pokerviolênciaflat pokerCaracas. Mas se houver sanções, acredito que o governo dos EUA será muito cuidadoso na forma como elas serão aplicadas. Acho que uma das lições aprendidas com a campanhaflat pokerpressão máxima da administração [Donald] Trump é que a dureza das sanções,flat pokerprimeiro lugar, não atingiu seu objetivo. Em outras palavras, não foram capazesflat pokerexpulsar Maduro do poder. Também não romperam a relação entre Maduro e as forças armadas.

Em segundo lugar, causaram um sofrimento realmente significativo na população venezuelana e aceleraram a migração que já estava ocorrendo. Essa aceleração ocorreuflat pokeruma forma que prejudicou os nossos parceiros na região, como Colômbia, Equador, Peru, Brasil, Chile e Panamá.

Ao mesmo tempo, criou uma espécieflat pokercrise para os Estados Unidos na nossa fronteira sudoeste, porque os venezuelanos começaram a imigrar para os Estados Unidos. Se houver uma segunda ondaflat pokerimigração, os venezuelanos não vão perder seu tempo indo para países da América do Sul. Virão diretamente para os Estados Unidos.

flat poker BBC - flat poker Publicamente, o Brasil e os Estados Unidos parecem ter adotado abordagens diferentes,flat pokerrelação à crise, já que os EUA reconhecem a vitóriaflat pokerGonzález, enquanto o Brasil, não. Ao mesmo tempo, Biden se referiu a Lula como uma espécieflat pokerlíder regional nessa questão. O senhor vê alguma coordenação acontecendo?

flat poker Shannon - Eu não faço parte disso, mas com certeza há muita coordenação ocorrendo, muita comunicação entre os dois países. E, como sabem, o Brasil, a Colômbia e o México decidiram adotar uma linhaflat pokeração que atribui a si próprios a responsabilidadeflat pokercolocar um fim à crise venezuelana.

E houve uma oportunidade, na reunião do Conselho Permanente da OEA na semana passada,flat pokerenvolver a OEA nesta questão e tentar construir uma abordagem hemisférica, mas o Brasil e a Colômbia se abstiveram na votação desta resolução e o México sequer participou. E a resolução não foi bem sucedida.

Eu entendo por que eles escolheram se abster. Compreendo por que é que o México optou por não ir para a OEA. E compreendo que considerem que a OEA foi uma plataforma inadequada para resolver esta questão.

Mas como foram eles que efetivamente acabaram com a possibilidadeflat pokerum papel da OEA, pelo menos na negociaçãoflat pokerum fim para o conflito, eles assumiram a responsabilidadeflat pokerfazê-lo. E isso é corajoso, mas também é desafiador.

flat poker BBC - flat poker E quais são as consequências para o Brasilflat pokerincitar a essa viaflat pokerdiálogo quando Maduro não dá sinaisflat pokerestar aberto à negociação, nemflat pokerapresentar as atas?

flat poker Shannon - Antesflat pokermais nada, acho que o Brasil está agindoflat pokerboa fé. Em segundo lugar, o Brasil deixou claro que não tem qualquer intençãoflat pokerfazer aquilo a que nós,flat pokeringlês, chamamosflat pokerwhitewashing [acobertar] a fraude conduzida pelo CNE. Ou seja, o Brasil não vai participar dessa fraude.

E, talvez o mais importante, eu não creio que o Brasil queira participar da repressão nas ruas. Por isso, penso que vão trabalhar arduamente para tentar encontrar uma formaflat pokeriniciar as negociações entre o governoflat pokerNicolás Maduro e a oposição sobre o resultado das eleições.

E onde é que essas negociações vão dar, eu não sei. Mas acho que é importante compreender que, apesarflat pokero Brasil, a Colômbia e o México terem assumido essa responsabilidade, e apesarflat pokerterem se empenhado e tentado encontrar uma formaflat pokerresolver esta crise política e limitar a violência que poderia resultar da crise, a responsabilidade final pelo resultado é do governo do presidente Maduro. Não é dos mediadores.

E acho que há duas coisas que têmflat pokerser claramente entendidas aqui, e acredito que o Brasil compreende isso. Em primeiro lugar, a responsabilidade final cabe ao governo do presidente Maduro. E,flat pokersegundo lugar, isto é mais do que uma mera negociação entre a oposição e o governo. Porque o novo ator aqui é o povo venezuelano.

São os milhõesflat pokervenezuelanos que foram votar na esperançaflat pokerque aflat pokervoz fosse ouvida e que pudessem escolher o seu governo.

Por isso, todas as partes envolvidas, os Estados Unidos, o Brasil, a Colômbia, o México e todos os outros países da região, mas não só da região, têmflat pokercompreender que, no fim das contas, o povo venezuelano é o ator soberano. E precisa ser respeitado.

flat poker BBC - Como seria uma transição política na Venezuela? Quem ou quais grupos seriam capazesflat pokerrealizá-la?

flat poker Shannon - Penso que se trataflat pokeruma solução internacional e, ao mesmo tempo, nacional. Quer dizer, há uma saída para isto, mas requer criatividade, requer alguma paciência e requer muito trabalho árduo.