Maduro enfrenta nova crise1 5 betlegitimidade pós-eleição: o que é diferente agora?:1 5 bet

Opositores protestando1 5 betCaracas.

Crédito, EPA

Legenda da foto, A oposição garante que as atas que conseguiram obter provam que Edmundo González Urrutia venceu a eleição para presidente

E, paradoxalmente, o governo agora corre o risco1 5 betperder definitivamente a legitimidade internacional que tentava recuperar durante as eleições.

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À meia-noite1 5 betdomingo (28/07), o presidente do Conselho Nacional Eleitoral (CNE), Elvis Amoroso, declarou que 80% das atas haviam sido apuradas e os resultados eram "irreversíveis", apontando Maduro como vencedor.

A oposição denunciou que o CNE dificultou o fornecimento1 5 betcópias das atas1 5 betvotação, espécie1 5 betboletim1 5 beturna, aos seus fiscais, como determina a lei.

E que os números1 5 betAmoroso contradizem os dados das atas1 5 betposse da oposição, bem como os resultados das pesquisas independentes1 5 betboca1 5 beturna e das contagens rápidas realizadas no dia das eleições.

Desde então, cresceu a pressão, tanto interna quanto externa, para o CNE publicar os resultados completos e detalhados das eleições, para poderem ser auditados.

Na sexta-feira (2/8), o órgão eleitoral atualizou os resultados da eleição presidencial, reafirmando Maduro como vencedor, mas não apresentou as atas eleitorais.

Amoroso explicou que a demora na atualização dos resultados foi causada por "ataques informáticos massivos1 5 betvárias partes do mundo", que "retardaram a transmissão das atas e o processo1 5 betdivulgação dos resultados".

Protesto contra Maduro1 5 bet2019

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, No início do segundo mandato1 5 betMaduro,1 5 bet2019, o país mergulhou numa grave crise

A Venezuela entrou1 5 betprofunda crise no início do segundo mandato1 5 betNicolás Maduro,1 5 bet2019.

Mas o silêncio oficial sobre os resultados se manteve. Enquanto isso, surgiram novas críticas ao CNE.

Uma delas foi o relatório1 5 betobservação eleitoral do Centro Carter, nos Estados Unidos, que denunciou o benefício institucional obtido pela campanha1 5 betMaduro. O relatório destaca que as eleições venezuelanas não foram limpas, nem democráticas.

'Guaidó 2.0'

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No ato realizado na segunda-feira (29/7) proclamando Maduro como vencedor, o líder venezuelano afirmou que é vítima1 5 betuma tentativa1 5 betgolpe1 5 betEstado.

"Os mesmos países que hoje questionam o processo eleitoral venezuelano, a mesma extrema direita fascista... foram os que quiseram tentar impor ao povo da Venezuela, acima da Constituição, um presidente espúrio, usando as instituições do país", declarou ele. "Uma espécie1 5 betGuaidó 2.0."

Nicolás Maduro referiu-se ao caso do opositor Juan Guaidó, que presidia a Assembleia Nacional e se declarou presidente interino1 5 bet2019.

Guaidó alegava que cabia a ele assumir como chefe1 5 betEstado, já que a eleição1 5 betMaduro havia sido fraudada.

O opositor foi reconhecido por cerca1 5 bet60 governos1 5 bettodo o mundo, incluindo muitos países latino-americanos, reunidos no chamado Grupo1 5 betLima.

Agora, o governo1 5 betMaduro tenta equiparar àquele grupo os países que questionaram os resultados eleitorais apresentados pelo CNE no final do mês passado.

Em um comunicado publicado no dia 291 5 betjulho, o ministro das Relações Exteriores da Venezuela, Yván Gil, ordenou que os governos da Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai retirassem seu corpo diplomático da capital venezuelana, Caracas.

Gil acusou estes países1 5 bettentar "reeditar o Grupo1 5 betLima" e1 5 betfingir desconhecer os resultados das eleições.

O Peru já anunciou que reconhece Edmundo González Urrutia como vencedor das eleições. Os presidentes da Argentina, Javier Milei, e da Costa Rica, Rodrigo Chaves, falaram abertamente1 5 betfraude eleitoral na Venezuela. E,1 5 bet1º1 5 betagosto, o governo dos Estados Unidos reconheceu González Urrutia como o vencedor da corrida presidencial venezuelana.

Mas existem importantes diferenças entre o que ocorreu1 5 bet2019 e a situação atual.

Os governos que não reconheceram Maduro1 5 bet2019 tomaram a decisão porque seu novo mandato era fruto1 5 betuma eleição que consideravam fraudulenta.

Na época, a maior parte da oposição decidiu não participar, alegando que não havia condições para que o processo fosse livre e justo.

Mas o governo1 5 betMaduro e aqueles que ainda o apoiam no cenário internacional defendiam que não havia ocorrido fraude.

Simplesmente, a oposição teve a oportunidade1 5 betparticipar e preferiu se abster do processo.

Nesta ocasião, apesar das denúncias1 5 betfalta1 5 betcondições para realizar eleições livres, a oposição participou e também garante ter vencido o pleito.

Eles sustentam esta afirmação com base nas atas eleitorais que estão1 5 betseu poder.

Diferentemente do que fez o CNE, eles publicaram os dados1 5 betum website, para que possam ser revisados e auditados por qualquer pessoa.

Juan Guaidó foi recebido por Donald Trump na Casa Branca

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Juan Guaidó foi reconhecido como presidente interino da Venezuela por dezenas1 5 betgovernos, incluindo Estados Unidos e União Europeia

Dezenas1 5 betpaíses e organizações1 5 betvárias partes do mundo reconheceram Juan Guaidó como presidente interino da Venezuela1 5 bet2019, incluindo os Estados Unidos e a União Europeia.

Outra diferença fundamental é que a autoproclamação1 5 betGuaidó foi baseada1 5 betartigos da Constituição venezuelana que estabelecem que, no caso1 5 betausência do chefe1 5 betEstado, o presidente da Assembleia Nacional (AN) fica encarregado1 5 betocupar o Executivo1 5 betforma provisória.

Guaidó formou uma espécie1 5 betgoverno interino, paralelo ao1 5 betMaduro, e tentou exercer a presidência — na maioria das oportunidades, sem sucesso.

Já González Urrutia foi candidato nas eleições presidenciais e declarou estar1 5 betposse das atas1 5 betvotação que demonstrariam1 5 betvitória.

Ele não reivindica a presidência1 5 betimediato, nem pretende formar um governo paralelo.

González Urrutia pede o reconhecimento1 5 betsua vitória, o que permitiria que ele assumisse como chefe1 5 betEstado1 5 betjaneiro, quando começa o novo mandato presidencial.

Caso a oposição realmente tenha vencido as eleições — com cerca1 5 bet70% dos votos, como eles afirmam ter recebido —, González Urrutia contaria com o apoio expresso e massivo dos venezuelanos para se tornar presidente.

Por outro lado, Guaidó era um parlamentar pouco conhecido, que supostamente teria o direito1 5 betassumir o cargo devido à1 5 betposição na Assembleia Nacional.

O diretor do programa para a América Latina do Centro Wilson1 5 betWashington DC, nos Estados Unidos, Benjamin Gedan, acredita que a situação1 5 betMaduro na Venezuela, agora, ficou mais difícil.

"Estas eleições prejudicaram muito o perfil interno1 5 betMaduro", segundo Gedan, "porque o que temos agora é uma população totalmente mobilizada, comprometida com um processo eleitoral que não teve continuidade e com esperanças não cumpridas1 5 betrealizar a transição política."

"É uma população decepcionada, mas também furiosa e disposta a se manifestar ou procurar outros caminhos para realizar as mudanças políticas que ela exige", declarou o especialista à BBC News Mundo.

Gedan indicou ainda que muitos dos militantes tradicionais do chavismo não compareceram para votar porque, embora não estejam a favor da oposição, querem uma mudança política no país.

O mal-estar dos que votaram para fazer essa mudança estaria sendo refletido nas manifestações que ocorrem na Venezuela desde o dia seguinte às eleições, como destaca o ex-presidente do CNE Andrés Caleca, que hoje faz parte da oposição venezuelana.

"A grande diferença é que estes protestos não se destinam a defender um político (...). As pessoas estão protestando porque estão roubando seus votos", declarou Caleca,1 5 betentrevista à TV online venezuelana VPI. Ele acrescentou que os eleitores, os fiscais do governo e os militares que protegeram os locais1 5 betvotação1 5 bettodo o país sabem o que aconteceu ali.

E, segundo Caleca, eles estão cientes da vitória1 5 betGonzález Urrutia, o que debilitaria a situação interna1 5 betNicolás Maduro.

De sanções à reinserção internacional

Em consequência da reeleição questionada1 5 bet2018, o governo1 5 betMaduro enfrentou diversas sanções internacionais impostas principalmente pelos Estados Unidos e pela União Europeia.

O governo americano adotou uma série1 5 betmedidas que restringiram a capacidade da PDVSA, a empresa estatal1 5 betpetróleo da Venezuela,1 5 betexplorar e comercializar o petróleo venezuelano.

Essas sanções foram implementadas1 5 betum período1 5 betque a economia venezuelana já estava1 5 betprofunda recessão, com o país1 5 betmoratória1 5 betsua dívida externa e enfrentando uma crise hiperinflacionária.

Como resultado, o governo venezuelano ficou isolado no cenário internacional, contando apenas com o apoio1 5 betseus aliados da ALBA (Aliança Bolivariana para os Povos da América), como Cuba, Nicarágua, Bolívia e várias ilhas do Caribe, além1 5 betoutros aliados internacionais, como Rússia, China, Irã e Turquia.

A situação começou a mudar a partir1 5 bet2021, quando Maduro foi convidado pelo presidente mexicano, Andrés Manuel López Obrador, para uma reunião da Comunidade1 5 betEstados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac) no México.

Naquele mesmo ano, a chegada1 5 betJoe Biden à Casa Branca trouxe um novo diálogo entre Washington e Caracas, permitindo a realização1 5 betalguns acordos pontuais.

A saída1 5 betlíderes1 5 betdireita do poder1 5 betpaíses como Bolívia, Brasil e Colômbia também ajudou Maduro a recuperar gradualmente seu reconhecimento internacional, avançando1 5 betdireção a uma certa normalização1 5 betseu status no cenário mundial.

Bomba1 5 betpetróleo

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Legenda da foto, Em 2021, os EUA flexibilizaram sanções contra petróleo produzido na Venezuela

O presidente Joe Biden flexibilizou as sanções dos Estados Unidos sobre o petróleo venezuelano.

Como parte desse processo, os EUA permitiram que a empresa americana Chevron expandisse suas operações na Venezuela.

Em troca, o governo1 5 betMaduro deveria retomar as negociações com a oposição venezuelana no México.

Esse movimento iniciou o processo que culminou nas eleições1 5 bet281 5 betjulho.

Se o pleito fosse considerado suficientemente transparente, poderia abrir caminho para uma nova legitimação1 5 betMaduro, possibilitando a eliminação das sanções internacionais contra seu governo.

No entanto, até agora, isso não parece provável.

'Oportunidade perdida'

O governo1 5 betMaduro considera as eleições encerradas e nega qualquer má conduta durante a apuração.

No entanto, os resultados das eleições presidenciais1 5 bet281 5 betjulho, anunciados pelo CNE, foram recebidos com grande ceticismo pela comunidade internacional.

Países como Nicarágua, Rússia, Irã, Bolívia, Cuba, China e Honduras reconheceram a vitória1 5 betMaduro como legítima e o parabenizaram.

Em contraste, o presidente do Chile, Gabriel Boric, declarou que os resultados são "difíceis1 5 betacreditar", enquanto o presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou, afirmou que o pleito "esteve claramente viciado".

O governo brasileiro adotou uma postura mais cautelosa, mas enfatizou que a publicação das atas eleitorais é um "passo indispensável para a transparência, credibilidade e legitimidade do resultado". O presidente Lula, tradicional aliado1 5 betMaduro, também defendeu a apresentação das atas para resolver a disputa.

Se as dúvidas sobre a transparência das eleições não forem esclarecidas, é improvável que Maduro consiga a legitimação desejada. Sem isso, será difícil para ele recuperar economicamente o país no cenário internacional.

Economistas apontam que, para alcançar a recuperação, não só é necessário o levantamento das sanções, mas também a renegociação da dívida externa, a atração1 5 betinvestimentos substanciais e o apoio financeiro1 5 betorganismos multilaterais, como o FMI e o Banco Mundial.

Protesto1 5 betexilados venezuelanos1 5 betMadri

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Legenda da foto, Resultados eleitorais foram questionados dentro e fora da Venezuela

Os resultados das eleições presidenciais são questionados tanto dentro quanto fora da Venezuela.

Para Benjamin Gedan, o interesse pelo petróleo venezuelano é significativo devido à grande capacidade1 5 betextração do país, mas ele duvida que esses investimentos se concretizem.

"Não acho que seja viável devido à grande incerteza política", afirma Gedan. "Há uma grande possibilidade1 5 betretorno das sanções, e também não há perspectivas1 5 betmudanças profundas no marco legal."

Ele acrescenta: "As petroleiras desejam desempenhar um papel mais ativo no setor energético, mas, no momento, o marco legal da Venezuela é muito socialista."

Gedan observa que todos os especialistas1 5 betenergia da Venezuela concordam que o país não tem futuro sem uma transição política.

"Independentemente das sanções dos Estados Unidos, o que a Venezuela precisa é1 5 betuma renovação total dos governantes, um novo marco regulatório para o setor, novas leis e enormes investimentos para reconstruir um setor que está quase totalmente destruído."

Benedicte Bull, professora1 5 betciências políticas da Universidade1 5 betOslo, destaca que essa crise1 5 betlegitimidade não deve impactar a aliança1 5 betMaduro com a China e a Rússia.

No entanto, ela alerta que a situação internacional mudou desde 2019.

"Atualmente, a Rússia não tem a capacidade econômica para oferecer a Maduro o mesmo apoio que fornecia1 5 bet2019 para evitar sanções", explica a professora.

"Com a China, há uma relação, mas Maduro sabe que a China não está disposta a oferecer mais financiamento."

Nicolás Maduro e Xi Jinping1 5 bet2023

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A China parabenizou Maduro pela vitória, apesar1 5 betreeleição ser contestada

A China parabenizou Nicolás Maduro pela vitória nas eleições1 5 bet281 5 betjulho, apesar das contestações sobre o resultado.

Em relação à América Latina, Benjamin Gedan alerta que a crise1 5 betlegitimidade gerada pelas eleições deste ano interrompeu o processo1 5 bet"normalização" das relações entre a Venezuela e os países da região.

"Será muito difícil para a maioria dos governantes da América Latina restabelecer relações com este governo", afirma ele, "pois ainda existe um compromisso regional com a democracia, e é evidente que a Venezuela não a possui."

Gedan explica que isso não necessariamente resultará1 5 betsanções regionais, o que não é comum, nem no fechamento1 5 betembaixadas.

"O que significa é que a Venezuela não terá aliados na região que justifiquem seu comportamento, como teve por muitos anos", esclarece.

Ele conclui: "Para pessoas como Lula, o presidente colombiano Gustavo Petro ou o ex-mandatário argentino Alberto Fernández, será muito difícil defender o regime ou justificar as violações dos Direitos Humanos após essas eleições."