'Catálogo da Terra inteira', o livro revolucionário que inspirou Steve Jobs e outros pioneiros da internet:cassino dados

Capa do livro Whole Earth Catalog

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O 'Whole Earth Catalog' influenciou toda uma geraçãocassino dadosidealistas e pioneiros

"A internet, para nós, naquela época, antes que existisse a internet, era o Whole Earth Catalog", declarou ele à BBC.

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Brilliant estava começandocassino dadoscarreiracassino dadosMedicinacassino dadosDetroit, nos Estados Unidos, quando chegou à Califórniacassino dados1967. Ele foi envolvido pela ondacassino dadosativismo político e pelo "Verão do Amor" daquele ano,cassino dadosSão Francisco.

Ele conheceu Steve Jobs aos 19 anos,cassino dadosum ashram indiano. Os dois se tornaram amigos para o resto da vida.

Brilliant foi detido junto com Martin Luther King, enquanto marchavacassino dadosdefesa dos direitos civis. E também ajudou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a erradicar a varíola.

Em toda parte ao seu redor, as pessoas falavamcassino dadosrevolução e os hippies experimentavam a vida comunitária. Mas havia um grande problema, como detectou o ícone da contracultura da época, Stewart Brand.

Brand viviacassino dadosuma comunidade cuja aspiração era "reinventar a civilização, o que era corajoso e admirável", recordou ele,cassino dadosentrevista ao Museu Victoria & Albertcassino dadosLondres. Mas ninguém "sabia fazer nada, cultivar um jardim ou construir uma casa... nadacassino dadosnada."

Brand quis ajudar esses hippies idealistas.

"Como eu havia me formado como cientista, minha perspectiva foi tentar fornecer a esse movimento o respeito por fazer as coisas", afirma ele.

Fotocassino dadospreto e brancocassino dadosum homem apoiando o rosto na mão

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Stewart Brand,cassino dadosfotocassino dados1975, foi o autor do livro

'Somos como deuses'

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Brand passou anos viajando pelos Estados Unidos coletando informações que poderiam ajudar essas comunidades. E reuniu todas essas informaçõescassino dadosum livro redigido com máquinacassino dadosescrever e encadernado com cola e tesoura.

O Whole Earth Catalog era,cassino dadosparte, um manualcassino dadosinstruções e,cassino dadosparte, uma enciclopédia da contracultura.

Além do subtítulo "acesso a ferramentas", a capa continha uma imagem da Terra, que foi resultadocassino dadosuma campanha do próprio Brandcassino dados1966. Ele queria que a Nasa publicasse uma foto do planeta inteiro, visto do espaço.

Abrindo-se o livro,cassino dadosintrodução começava dizendo: "Somos como deuses e é melhor nos acostumarmos com isso."

Seguia-se uma coleçãocassino dadosresenhas, guias práticos e manuais sobre o libertarismo anárquico, análises culturais e comentários sarcásticos, tudo impressocassino dadospáginas com denso conteúdo.

E por que esse livro foi tão importante?

"Foi importante porque não tínhamos internet", explica Brilliant. "Não tínhamos acesso aos grandes livros. Não tínhamos acesso às coisascassino dadosfora da nossa comunidade local. Não tínhamos contato com tanta gente."

"O catálogo nos uniu e foi essencialmente um guia para o consumidor sobre as melhores ferramentas para viver, empoderar-se e fazer partecassino dadosalguma coisa. Se você quisesse saber qual era o melhor canivete suíço ou qual a melhor ferramenta para escavar latrinas, se fosse ficar muito tempo na floresta, você consultava o livro."

Brilliant disse, ainda: "Era como o Google, mas sem a parte do motorcassino dadosbusca,cassino dadosforma que era preciso revisá-lo cuidadosamente".

Reproduçãocassino dadospágina do catálogo

Crédito, Whole Earth Index

Legenda da foto, Um coletivocassino dadosartecassino dadosSão Francisco colocou quase todas as edições do catálogo na internet

O coletivocassino dadosartecassino dadosSão Francisco (EUA) Grey Area,cassino dadosconjunto com a organização cultural Long Now Foundation e o Internet Archive, recentemente colocou quase todas as edições do catálogo no website wholeearth.info.

Atribui-se à publicação a união do movimento hippie dos anos 1960 com a revolução da informática nas décadascassino dados1970 e 80 – o casamento da contracultura com a cibercultura.

Por isso, para uma geraçãocassino dadospessoas que cresceram na Califórnia na décadacassino dados1960 e se tornariam os pioneiros da informática moderna, aquele era o livro mais importante que eles já haviam lido.

Sua mensagem ficou gravada na mentecassino dadospessoas como Jobs: não seriam os protestos, nem a política, nem o lobby – o que mudaria o mundo seria o acesso à informação.

Naquela época, a ideiacassino dadosque a informação poderia ser liberada para empoderar as pessoas era revolucionária. Mas, quando Jobs lançou o primeiro computador pessoal no mercadocassino dadosconsumocassino dados1984, ele disse a Brilliant que aquela era a nova contracultura.

"Certa vez, brincando, perguntei a ele se, ao entrar no mundo dos computadores, ele estaria abandonando os valores que tínhamos nos anos 1960 e 70, o movimento rumo à igualdade", recorda Brilliant.

"Ele respondeu: 'Enquanto muitas pessoas levantam os punhos e gritam: 'poder para o povo', eu desenvolvo um Apple [ou, naquela época, um Macintosh] e coloco nos seus escritórios a um preço acessível. Assim, estou literalmente dando poder às pessoas", disse. "Ele realmente acreditava nisso."

Fotografiacassino dadosum homem branco idoso sentadocassino dadosum jardim ao ladocassino dadosestátuas do hinduismo

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Larry Brilliant era amigocassino dadosSteve Jobos e ganhou um dos primeiros computadores da Apple

O poço

Naquela época, o idealismo hippie já havia desaparecido. Mas Brilliant se perguntou se as novas e estranhas máquinas que Jobs e outros pioneiros estavam desenvolvendo seriam a peça que faltava na visãocassino dadosStewart Brand.

O Whole Earth Catalog só conseguia atingir um número limitadocassino dadospessoas. E se os computadores pudessem conectar a nós todos, oferecendo acesso a ferramentas e nos transformassecassino dadosdeuses?

Brilliant então ligou para Brand. No princípio, ele duvidou.

"Era um negócio e nenhumcassino dadosnós havia realmente dirigido um negócio", contou ele. "Mas, durante um almoço, surgiu a ideiacassino dadosreunir online as pessoas que haviam ficado fascinadas com o catálogo."

Brilliant ficou intrigado com o que havia visto nas poucas comunidades virtuais que havia naquela época.

"Algumas daquelas primeiras conversas eram mágicas", relembra ele. "As pessoas se conheciam e não se sabiam se o outro com quem conversavam era negro ou branco, homem ou mulher, alto ou baixo, norte-americano ou estrangeiro..."

"Era como o que Martin Luther King havia dito – que as pessoas seriam conhecidas não pela cor da pele, mas pelo conteúdo do seu caráter. Isso acontece quando você não pode ver a outra pessoa."

Assim foi criada The Well (o poço,cassino dadostradução livre). Era a siglacassino dadosinglêscassino dadosWhole Earth 'Lectronic Link (Link eletrônico da terra inteira,cassino dadostradução livre), o irmão gêmeo do livrocassino dadosBrand,cassino dadosforma digital.

Chamado à insensatez

Em meados da décadacassino dados1990, The Well havia se tornado o lugar mais importante da internet.

Quase ninguém estava online naquela época, mas as poucas pessoas conectadas conheciam The Well.

"Passou Imediatamente a ser um lugar a que você podia recorrer se quisesse manter uma conversa interessante", relembra Brilliant.

"Tivemos muita sorte porque [a bandacassino dadosrock] Grateful Dead fazia parte do nosso mundo, já que,cassino dadoscerto momento, 30 a 40% da nossa receita vinha dos [seus fãs] Deadheads tentando conseguir entradas", brinca ele.

The Well reuniu hackers, hippies e escritorescassino dadostoda a região da baíacassino dadosSão Francisco. Eles conversavam online sobre tudo, desde tecnologia e política até o sentido da vida.

Depoiscassino dadosse conhecerem online, eles acabavam promovendo festas – um sinal precocecassino dadosque os mundos real e virtual poderiam se fundir.

"Diferentemente do Facebook, nós nos conhecíamos online antescassino dadosnos conhecermos pessoalmente", conta o escritor Howard Rheingold.

Ele foi um membro influentecassino dadosThe Well e cunhou a expressão comunidade virtual.

"Muitas das comunicações pessoais se tornaram relações. As pessoas se conheceram e se casaram, os casamentos foram desfeitos, as pessoas recebiam apoio quando ficavam doentes, recebiam ajuda quando alguém morria", contou Rheingold ao jornalista Rory Cellan-Jones, da BBC,cassino dados2011.

O website e o livro compartilhavam uma visãocassino dadosmundo radical.

As velhas hierarquias controlavam a informação. Os poderosos magnatas da televisão e dos jornais decidiam o que as pessoas comuns liam e viam.

O conhecimento estava encerradocassino dadosvelhas bibliotecas empoeiradas. As pessoascassino dadosfora do bairro eram consideradas alienígenas.

O livrocassino dadosBrand tratoucassino dadosmudar tudo isso – e a internet completariacassino dadosmissão.

Para muitos, The Well é a primeira rede social do mundo, o ancestral direto do Facebook, Twitter, Instagram e do TikTok.

Não foi apenas uma tecnologia, mas uma revolução social, construída com basecassino dadosuma ideia maluca: que deveríamos ter acesso a tudo e a todos, todo o tempo.

O livrocassino dadospapel deixoucassino dadosser publicadocassino dados1972. A capa da última edição mostrava uma fotografia tirada pela missão Apolo 4, com a Terra parcialmente na sombra.

Na contracapa da publicação, estava a mensagem que Steve Jobs disse ao final dacassino dadospalestracassino dadosStanford: "Stay Hungry. Stay Foolish" (Continue com fome. Continue sendo tolo,cassino dadostradução livre).

"Sempre desejei isso para mim", disse.

Ouça no site BBC Sounds (em inglês) o episódio "We are as Gods", da série da BBC Rádio 4 "The Gatekeepers", que deu origem a esta reportagem. A série tem autoria do escritor especializadocassino dadostecnologia Jamie Bartlett e é produzida por Caitlin Smith.