O mistério das lutasbrp535 cassinoespadas medievais que intriga historiadores:brp535 cassino

Em 1157, Henriquebrp535 cassinoEssex havia sido um nobrebrp535 cassinonascimento (não por seus feitos), rico e poderoso. Ele era um cavaleiro famoso pelas suas habilidades com a espada e contava com a confiança do rei Henrique 2° da Inglaterra.

Mas ele não era muito bondoso. Essex roubava dinheiro, trazia vergonha para as mulheres e havia torturado um homem inocente.

Até que ocorreu um incidente inusitadobrp535 cassinouma batalha no Paísbrp535 cassinoGales, que ameaçoubrp535 cassinoposição. Essex anunciou erroneamente que o rei havia morrido, quase causando a desistência e fuga do exército.

Seis anos depois,brp535 cassinoReading, um dos seus próprios parentes declarou publicamente que aquele havia sido um atobrp535 cassinotraição e o desafiou para um duelo. Seria um julgamento por combate, algo comum na época.

Com a multidão assistindo nas margens lamacentas do rio Tâmisa, o parente acusador, que também era cavaleiro, atacou com "golpes duros e frequentes".

Inicialmente, Essex defendeu-se com habilidade. Mas, depoisbrp535 cassinouma sériebrp535 cassinovisões das pessoas que ele havia mal tratado, começou se encherbrp535 cassinovergonha e medo.

Ele voou cegamente contra o seu oponente, abandonando tudo o que, um dia, havia aprendido sobre lutas com espadas. E,brp535 cassinomeio a muitos ruídos das lâminas atingindo as armaduras dos oponentes, ele caiu. O rei ordenou que os monges locais carregassem o corpobrp535 cassinoEssex e o enterrassem.

Mas, milagrosamente, Essex sobreviveu e passou o resto da vidabrp535 cassinopenitência entre os monges. E, muitos anos depois do incidente, ele conheceu aquele monge cronista.

Sua história foi imortalizada como uma fábula moral, mas existe um outro pontobrp535 cassinovista: Essex havia abandonado seu conhecimentobrp535 cassinolutabrp535 cassinoespadas e perdeu tudo.

Os cavaleiros eram as maiores celebridades da era medieval. Os mais hábeis eram recompensados com castelos, terras e influência na corte.

Eles eram generosamente festejados como heróis românticos do seu tempo, retratadosbrp535 cassinolendas, poemas e pinturas, que registravam seus confrontosbrp535 cassinoespadas e gestos cavalheirescos.

É claro que tornar-se cavaleiro exigia mais do que apenas uma armadura brilhante e um nobre cavalo. Era preciso ter técnica.

Era comum que os guerreiros ambiciosos treinassem por até 10 anos, muitas vezes desde a infância, praticando a agilidade com os pés, ensaiando como repelir ataques e aprendendo as mais terríveis formasbrp535 cassinomatar seus oponentes o mais rápido possível.

A luta com espadas não era questãobrp535 cassinocortar ou espetar aleatoriamente os adversários. Era uma arte marcial sofisticada, que poderia competir com o sumô ou kung fu.

Mas, séculos depois, as informações básicas para entender seus segredos foram perdidas. Apesarbrp535 cassinoanosbrp535 cassinoestudo, as técnicas envolvidas atualmente são um mistério. E, na verdade, as lutasbrp535 cassinoespadas retratadas no cinema, no teatro ou na TV, com ataques e defesas elaboradas, foram,brp535 cassinogrande parte, inventadas.

"Às vezes, isso estraga o prazerbrp535 cassinoassistir à TV", segundo Jamie MacIver, instrutorbrp535 cassinolutabrp535 cassinoespadas e ex-presidente do Clubebrp535 cassinoEsgrima Históricabrp535 cassinoLondres, "porque você olha e pensa, 'oh, meu Deus, espere, o que vocês estão fazendo?'"

Como isso aconteceu? Será que, algum dia, chegaremos a descobrir como realmente era?

Heróis e açougueiros

Os maiores especialistasbrp535 cassinolutasbrp535 cassinoespadas medievais eram os "mestres do combate" - atletasbrp535 cassinoelite que treinavam seus discípulos nas artes sutis do combate corpo a corpo. Os treinadores mais renomados eram quase tão famosos quando os próprios cavaleiros treinados por eles.

Muitas das técnicas que eles usaram eram antigas,brp535 cassinocentenasbrp535 cassinoanos antes, transmitidasbrp535 cassinotradição contínua. Pouco se sabe sobre esses raros talentos, mas as poucas informações que chegaram até nós são cheiasbrp535 cassinointrigas.

Um exemplo é o mestre da esgrima alemão Hans Talhoffer, com seus cabelos ondulados, enormes costeletas, inclinação para roupas apertadas e um passado particularmente atribulado. Em 1434, Talhoffer foi acusadobrp535 cassinoassassinar um homem e admitiu tê-lo raptado na cidadebrp535 cassinoSalzburg, na Áustria.

Os mestres do combate trabalhavam com uma assustadora variedadebrp535 cassinoarmas mortais.

A maior parte do treinamento era dedicada à esgrima com espadas longas, ou espada e broquel (um estilobrp535 cassinocombate que envolvia empunhar uma espadabrp535 cassinouma das mãos e um pequeno escudo na outra). Mas os mestres também ensinavam como brandir punhais, alabardas, escudos e até como lutar com as mãos ou apenas com um sacobrp535 cassinopedras.

Acredita-se que alguns mestres do combate fossem organizadosbrp535 cassinoirmandades, como a Fraternidadebrp535 cassinoLiechtenauer - uma sociedade que congregava cercabrp535 cassino18 homens que treinavam com a orientação do sombrio mestre Johannes Liechtenauer, no século 15.

Os detalhes sobre aquela figura quase lendária permanecem obscuros, mas acredita-se que ele levasse uma vida nômade, atravessando fronteiras para treinar alguns poucos protegidos selecionados e aprender novos segredos da esgrima.

Outros mestres do combate moravam mais pertobrp535 cassinocasa, contratados por duques, arcebispos e diversos outros nobres para treinamento próprio e dos seus guardas. Alguns chegavam a formar suas próprias "escolasbrp535 cassinoluta", onde reuniam alunos com menos recursos para sessões semanaisbrp535 cassinoaprendizado.

Neil Grant, curador do museu Royal Armouries, no Reino Unido, explica que um desses professores formou um programabrp535 cassinoensino na Universidadebrp535 cassinoBolonha, no norte da Itália. Os registros existentes mostram que o custo para frequentar esse programa era aproximadamente equivalente aobrp535 cassinouma academiabrp535 cassinoginástica moderna.

Lá, o professor ensinava aspirantes a guerreiros e cavaleiros, alémbrp535 cassinocidadãos comuns, preparando-os para a guerra ou ensinando a sobreviver a torneios ou duelos judiciais.

Não era brincadeira. Na Idade Média, a principal motivação dos aprendizesbrp535 cassinolutadores era a perspectivabrp535 cassinonão morrer como recompensa dos seus esforços. Mas também era possível ganhar honras sociais. Os melhores lutadores conseguiam transcender as hierarquias da época, lançando-se até as classes governantes.

Era essencial, no mínimo, que a esgrima fosse sofisticada para não desperdiçar dinheiro.

"Até mesmo a fabricaçãobrp535 cassinouma espada pequena exigia uma incrível quantidadebrp535 cassinoaço", afirma Richard Scott Nokes, professorbrp535 cassinoliteratura medieval da Universidade Troy, no Alabama (Estados Unidos). Ele explica que aquecê-la o suficiente também consumia centenasbrp535 cassinoquilosbrp535 cassinocarvão.

"O imenso custo significava que não era apenas ter uma arma e dizer, 'bem, vou sair agora e espetá-los na ponta [da espada]'", ele conta. "Você não iria querer danificá-la."

Alguns mestres do combate consideravam suas técnicas um segredo absoluto, mas ainda se discute exatamente o verdadeiro grau desse segredo. Um cavaleiro italiano particularmente famoso do século 14, Fiore de'I Liberi, decidiu manter suas técnicasbrp535 cassinosegredo para que seus alunos pudessem ter uma vantagem - ou qualquer pessoa poderia aprender a lutar contra eles.

Mas Grant indica que pode ter sido mais questãobrp535 cassinomarketing do quebrp535 cassinointegridade. "Se você tiver três mestres do combate e um deles disser 'vou ensinar a você aquilo que todos conhecem' e os outros dois disserem 'não, eu conheço artes místicas que ninguém mais poderia combater', qual deles você irá seguir?", questiona ele.

Felizmente, vários cavaleiros pensaram na direção oposta e escreveram suas técnicasbrp535 cassino"livrosbrp535 cassinoluta". São manuscritos ornamentadamente decorados que incluem descriçõesbrp535 cassinodiversas técnicas, frequentemente acompanhadas por ilustrações - às vezes,brp535 cassinopessoas reais da era medieval - para demonstrá-las na prática.

Esses livros teriam sido encomendados pelos empregadores mais ricos dos instrutores e alguns teriam vários autores, trabalhandobrp535 cassinoconjunto por anos até completá-los.

Mas, apesarbrp535 cassinotoda abrp535 cassinobeleza, as obras desenhadas à mão também podem ser decididamente sanguinárias.

O manualbrp535 cassinoTalhoffer,brp535 cassino1467, mostra sequências clarasbrp535 cassinomovimentos parecidos com danças que terminam abruptamente com espadas através das órbitas, violentos empalamentos e instruções pontuais sobre como vencer o oponente até a morte. Algumas técnicas específicas chegam a ter nomes - títulos assustadores como "talhar com fúria", "amassador", "enforcamento duplo", "bater no crânio" e "quatro aberturas".

Mesmo depoisbrp535 cassinoincontáveis geraçõesbrp535 cassinoproprietários e,brp535 cassinoalguns casos, séculosbrp535 cassinorabiscos, queimas, roubos e períodos misteriososbrp535 cassinodesaparecimento dos registros históricos, uma quantidade surpreendente desses livros sobrevive até hoje. Eles incluem pelo menos 80 códigos, somente das regiõesbrp535 cassinofala alemã.

Movimentos impossíveis e faltabrp535 cassinoindicações

Mas existe um problema. Muitas das técnicas dos manuaisbrp535 cassinocombate, conhecidosbrp535 cassinoalemão como fechtbücher, são complicadas, vagas e incompreensíveis. Apesar da grande quantidadebrp535 cassinolivros remanescentes, eles surpreendentemente oferecem poucas informações sobre o que o mestre do combate está tentando transmitir.

"A dificuldadebrp535 cassinopegar essas imagens entalhadasbrp535 cassinoxilogravura, estáticas, sem movimento, e determinar a ação dinâmicabrp535 cassinocombate é famosa", afirma Scott Nokes. "É um temabrp535 cassinodebate, pesquisa e experimentação há gerações."

Em algumas ocasiões, esses manuais parecem ilustrar contorções do corpo que são fisicamente impossíveis. Em outras, ilustrações que tentam mostrar movimentosbrp535 cassinotrês dimensões, às vezes, exibem os combatentes com maior quantidadebrp535 cassinobraços e pernas, acrescentados por erro.

Ainda outros manuais incluem instruções decepcionantemente imprecisas. Às vezes, eles ilustram ações que não parecem funcionar ou baseadasbrp535 cassinomovimentos enigmáticos perdidos há muito tempo.

Curiosamente, o texto é frequentemente escritobrp535 cassinoformabrp535 cassinopoesia,brp535 cassinovezbrp535 cassinoprosa. E alguns autores chegaram a dificultar propositadamente a interpretação das suas obras.

Liechtenauer registrou suas instruçõesbrp535 cassinoversos obscuros que permanecem quase incompreensíveis hojebrp535 cassinodia. Um especialista chegou a chamá-losbrp535 cassino"indecifrável".

Segundo um mestre do combate contemporâneo treinado por ele, o grande mestre escreveu o livrobrp535 cassino"palavras secretas", para que fosse ininteligível por qualquer pessoa que não desse valor suficiente àbrp535 cassinoarte.

Mesmo quando for possível decifrar o que o manualbrp535 cassinoluta está descrevendo ou demonstrando, alguns especialistas suspeitam que fiquem sempre faltando informações contextuais básicas.

Um exemplo é Philippo di Vadi, outro mestre da esgrima italiano. Ele escreveu seu livrobrp535 cassinoluta no século 15, basicamentebrp535 cassinoformabrp535 cassinotexto - novamente, escritobrp535 cassinopoesia, incluindo passagens escolhidas puramente por motivobrp535 cassinorima.

Uma análise indica que, para conseguir qualquer informação significativa, os tradutores precisam atravessar metáforas obscuras que saírambrp535 cassinouso há muito tempo. Por exemplo: "se você tiver sal no cérebro [se você tiver o dom], precisa considerar aqui a melhor formabrp535 cassinosubir estas escadas [a melhor formabrp535 cassinoter sucesso]."

Mesmo as instruções genuinamente informativas, muitas vezes, deixambrp535 cassinoincluir detalhes importantes.

"Na maior parte das vezes, não é tanto questãobrp535 cassinonão conseguir entender o que está escrito, mas sim que existem quatro ou cinco possibilidades do que possa ser. E, às vezes, elas não fazem sentido", explica MacIver.

Para MacIver, um dos movimentos mais difíceisbrp535 cassinoentender é o movimento dos pésbrp535 cassinodi Vadi - onde você pisa enquanto "corta", um tipobrp535 cassinoataque feito com um movimentobrp535 cassinocorte da espada.

"Em todo o texto, ele fala, 'oh, eu consegui um novo movimento dos pés, é melhor que o movimento antigo'", afirma MacIver. "Por isso, ele realmente enfatiza o quanto é importante para ele. E ele então escreve sobre isso - e é simplesmente incompreensível."

E existem as imagens. Na época, ainda não era comum desenhar ou pintarbrp535 cassinotrês dimensões. Quando essa forma nascentebrp535 cassinoarte estava sendo aprimorada, as tentativasbrp535 cassinotransmitir profundidade nas ilustrações, muitas vezes, podiam ser confusas. É o caso das imagens dos livrosbrp535 cassinoluta.

"Às vezes, você realmente não consegue descobrir qual dos dois lutadores envolvidos deve estar ganhando", afirma MacIver. "Existe uma [ilustração] específica... os dois lutadores têm uma espada contra o pescoço."

Para descobrir a fundo o que os cavaleiros realmente estavam fazendo, tudo isso precisa ser desvendado. Mas, mesmo que isso aconteça, existem inúmeras outras incógnitas, como a frequência exatabrp535 cassinoque as técnicas mais específicas eram realmente utilizadas.

"Alguns [livrosbrp535 cassinoluta] trazem coisas tão estranhas que você vê que 'isso não pode ser usado com frequência'", explica Grant.

Ele dá como exemplo a sequênciabrp535 cassinolivrosbrp535 cassinoluta conhecida como Série Gladiatória, que contém indicações surpreendentes. "Um dos movimentos incluem desenroscar o pomo da espada [o acabamento esférico do punho] e atirá-lobrp535 cassinoalguém", segundo ele.

Como essas técnicas extravagantes são mencionadasbrp535 cassinoapenas um livro, fica difícil afirmar se elas realmente erambrp535 cassinouso comum, tendo sido simplesmente desprezadas pela maioria dos autores, ou se são tão raras que quase nunca eram praticadas.

Mais monges... e mulheres

Escondida nas últimas páginas do livrobrp535 cassinoTalhoffer, depois das numerosas imagensbrp535 cassinohomens medievais engalfinhando-se com espadas, porretes e alabardas, existe uma visão surpreendente: um homembrp535 cassinopé, dentrobrp535 cassinoum buraco até a cintura, parecendo um tanto ansioso, enquanto uma mulherbrp535 cassinouma armadura folgada balança calmamente uma espéciebrp535 cassinoporrete improvisado no ar acima dele.

Na verdade, ela está empunhando uma rocha que pesa cercabrp535 cassino1,8-2,3 kg (o peso aproximadobrp535 cassinoum tijolo padrão moderno) e estava embrulhada no seu véu. Ele está armado com um porrete com comprimento equivalente.

Esta cena estranha intriga os historiadores há décadas. Acredita-se que seja um "duelo judicial", o mesmo método usado para julgar Henriquebrp535 cassinoEssex por traição.

Na era medieval, esta era uma forma perfeitamente legalbrp535 cassinoresolver disputas, confiando no julgamentobrp535 cassinoDeus. Segundo a lógica da época, deve haver uma parte culpada e, naturalmente, o poder celestial garantiria que essa parte perdesse a luta.

Era comum treinar para essas lutas, da mesma forma que para qualquer outro combate, e as imagens parecem ser instrutivas.

São nove imagens ao todo, cada uma ilustrando um movimento diferente. Como costuma ocorrer, não é muito fácil acompanhá-las, mas,brp535 cassinoalgumas, o homem tem sucesso e mata a mulher -brp535 cassinoum cenário particularmente dramático, ela é puxada para o buracobrp535 cassinoponta-cabeça. Jábrp535 cassinooutras, a mulher sai vitoriosa.

Tem se especulado muito que essa batalha específica seria uma tentativabrp535 cassinoresolver uma disputa conjugal, possivelmente até o "divórcio por combate" - e a configuração incomum pode ter sido idealizada para eliminar parte das vantagens do homem. Mas, como ocorre com muitas técnicas bizarras nos livrosbrp535 cassinoluta, trata-sebrp535 cassinoum completo mistério.

"É muito, muito estranho - por favor, não me peça para explicar!", afirma Grant.

E esta não é a única menção inexplicadabrp535 cassinomulheres nos livrosbrp535 cassinoluta. O manualbrp535 cassinocombate europeu mais antigo já encontrado é um livro com cercabrp535 cassino750 anosbrp535 cassinoidade, conhecido como MS I.33 - a páginabrp535 cassinotítulo com seu nome real e autor está faltando.

O curioso volume contém instruçõesbrp535 cassinosequências com a espada e broquel e envolve um grupobrp535 cassinopersonagens que confunde os historiadores até hoje.

Para começar, cercabrp535 cassinometade das cenas ilustra um padre - completo, com a "coroa"brp535 cassinocalvície ou cortebrp535 cassinocabelo característico e manto - duelando com um aprendiz. Por si só, esta já é uma imagem totalmente não ortodoxa.

Ela significa que a esgrima era um passatempo comum nos monastérios? Seria possível que nobresbrp535 cassinodesgraça como Essex pudessem ter continuado a aprimorar suas técnicas depoisbrp535 cassinose tornarem monges? Ou a inclusão das figuras religiosas,brp535 cassinoalguma forma, é simbólica?

De fato, o primeiro lugar que se tem registrobrp535 cassinoter abrigado o livro foi um monastério. Mas, até hoje, ninguém tem as respostas.

As outras imagens são tão estranhas quanto esta. Elas ilustram uma mulher chamada Walpurgia (Valburga,brp535 cassinoportuguês) duelando com um padre. Ela usa cabelo soltobrp535 cassinotranças até a cintura ou ostenta o cortebrp535 cassinocabelo tradicional das mulheres daquela época.

Mulheres lutando na Idade Média não seriam algo totalmente sem precedentes. Na Europa, Joana d'Arc, camponesa do norte da França, ficou famosa ao vestir a armadura para participar da Guerra dos Cem Anos. Já a rainha inglesa Margaridabrp535 cassinoAnjou liderou seu próprio exércitobrp535 cassinobatalha no século 15.

Mas não se acredita que as mulheres costumassem lutar com frequência,brp535 cassinoforma que a inclusão casualbrp535 cassinoWalpurgia no livro é uma surpresa. "As pessoas já criaram todo tipobrp535 cassinoteorias, mas simplesmente não sabemos", afirma Grant.

Por que as lutas com espadas desapareceram?

Os cavaleiros atingiram seu auge na era medieval, mas a luta com espadas permaneceu sendo uma parte importante da cultura europeia por séculos. Ela foi mais popular durante a dinastia Tudor, no século 16.

Antes disso, as escolasbrp535 cassinoluta eram comuns nas cidades alemãs, mas proibidas na Inglaterra, onde eram consideradas uma ameaça à lei e à ordem. Até que,brp535 cassinodado momento, as leis começaram a se afrouxar.

"Na verdade, você começa a ter o crescimento dos duelos entre civis. Na maior parte da Idade Média, as pessoas não andavam com espadas durante o dia mais do que as pessoas modernas andam com fuzisbrp535 cassinoassalto nos ombros", segundo Grant.

Mas, no século 16, as espadas se tornaram perfeitamente aceitáveis e até entraram na moda. "Começamos a ter duelos sobre questõesbrp535 cassinohonra cada vez mais banais", afirma ele.

Naquela época, muitas das técnicas antigasbrp535 cassinoluta com espadas já estavam sendo abandonadas e a prática começava a evoluir rumo à esgrima moderna. Um historiador da época era particularmente crítico do declínio das técnicas antigas, incluindo a preferência pelos espadinsbrp535 cassinosubstituição às espadas curtas tradicionais - embora "ele também fosse o tipobrp535 cassinopessoa que [se estivesse vivo hoje] estaria reclamando das coisas no YouTube", indica Grant.

O golpe final veio com a invenção da pistola. No século 18, essas novas armas acabaram substituindo as espadas como método preferidobrp535 cassinoduelo. Afinal, enquanto você precisava aprender a lutar com uma espada, qualquer pessoa conseguia simplesmente puxar um gatilho.

Casacos acolchoados e espadas cegas

Surpreendentemente, as pessoas que tentam responder essas questões, muitas vezes, não são historiadores, mas artistas marciais modernos.

Ao longo dos últimos 20 anos, vem crescendo constantemente o interesse pelas Artes Marciais Históricas Europeias (HEMA, na siglabrp535 cassinoinglês). Existe atualmente uma comunidade florescentebrp535 cassinoentusiastas amadores, que passam grande parte do seu tempo livre mergulhados nos livrosbrp535 cassinoluta e, muitas vezes, traduzindo os manuaisbrp535 cassinoidiomas europeus antigos, como o alto-alemão médio.

Essas primeiras conversões ainda precisam ser interpretadas. Por isso, para poderem avançar, os artistas marciais as discutem e apresentam possíveis movimentos correspondentes.

É aqui que tudo fica sério. "Realmente, a única formabrp535 cassinoconseguir algum tipobrp535 cassinoresposta é experimentar esses movimentos com os amigos", explica MacIver.

Os entusiastas modernos e os mestres da luta medievais têm objetivos diferentes. Os primeiros lutam para evitar lesões a todo custo, enquanto os últimos queriam ensinar como matar um adversário o mais rápido possível.

Por isso, nada acontece hojebrp535 cassinodia sem equipamento completobrp535 cassinoproteção, desde grossos casacos com enchimentobrp535 cassinoespumabrp535 cassinovolta dos órgãos vitais, luvas e calçasbrp535 cassinoproteção, até máscarasbrp535 cassinoesgrima resistentes.

O movimento é então realizadobrp535 cassinobaixíssima velocidade, para descobrirbrp535 cassinomecânica. Em vezbrp535 cassinoespadas reais, eles usam armas cegas com peso similar.

"E são mais flexíveis", segundo MacIver. "Por isso, se você atingir uma pessoa, elas simplesmente não a perfuram."

Em algum momento, depoisbrp535 cassinovárias tentativas com diferentes métodos, os artistas marciais conseguem definir o movimento que mais se aproxima das imagens e ilustrações. E, finalmente, ele é realizadobrp535 cassinovelocidade normal, normalmente como partebrp535 cassinouma sequência que inclui outras técnicas antigas.

Se eles tiverem sucesso, a recompensa é quase uma formabrp535 cassinoviagem no tempo - uma interação com mestres do combate que morreram centenasbrp535 cassinoanos atrás, experimentando ações físicas que estavam esquecidas há muito tempo. Talvez o mesmo movimentobrp535 cassinoespada que derrubou Henriquebrp535 cassinoEssex, quem sabe?

"É uma grande satisfação quando você está finalmentebrp535 cassinoum torneio [de HEMA] e faz algo que pode ser encontradobrp535 cassinoum livro que foi escrito 500 anos atrás", afirma MacIver.

Mas o processo pode ser extremamente complicado e, muitas vezes, repletobrp535 cassinoconfusões e enormes falhasbrp535 cassinodedução.

"São muitas idas e vindas, sabe, você chega a becos sem saída todo o tempo", segundo MacIver. "Então você pensa, 'OK, acho que consegui', tenta alguma coisa e diz, 'isso não funciona'."

Na busca para resolver o famoso movimento dos pésbrp535 cassinodi Vadi, MacIver chegou a quatro possíveis movimentos que se enquadram,brp535 cassinoforma geral, na poesia ambígua das suas instruções.

"E todas elas parecem funcionar bem", ele conta, "de forma que é quase impossível descobrir a qual ele se referia... Tenho um amigo que especulou que talvez ele quisesse indicar todas as quatro, mas acho que isso daria muito crédito a ele."

Em outros casos, uma dor aguda e um grito pedindo para parar são a indicaçãobrp535 cassinoque eles podem estar chegando a algum lugar. Ao tentar simular um movimentobrp535 cassinoquebrabrp535 cassinobraço, MacIver e seu amigo descobriram que este deveria ser acrescentado àbrp535 cassinolistabrp535 cassinomovimentos proibidos.

"Estávamos tentando todas essas opções diferentes - este não parece certo, este não faz nada, este não é bom...", ele conta. Mas, quando eles finalmente encontraram uma provável solução, surgiu um grito súbito: "... depois da mais leve pressão, ele começou, 'não, não, não, pare, já chega'."

É claro que nem sempre é fácil dizer se uma técnica funcionou como pretendido. Por isso, os artistas marciais atualizam continuamente suas interpretações à medida que surgem novas evidências.

As posiçõesbrp535 cassinoproteçãobrp535 cassinodi Vadi são um exemplo. São posturas defensivas a serem adotadas antesbrp535 cassinocomeçar uma sequênciabrp535 cassinoaçõesbrp535 cassinoluta com espadas.

MacIver explica que esses pontosbrp535 cassinopartida são essenciais, pois tudo o que acontece depois envolve a movimentaçãobrp535 cassinoum para outro.

Por cercabrp535 cassinodois anos, ele acreditou que uma dessas posturas ensinava a manter a espada no lado direito do corpo. Até que, um dia, algo o fez perceber que era exatamente o contrário.

"É muito difícil dizer a partir da imagem, pois a perspectiva não é muito boa. Era meio que plana. E existe algum tipobrp535 cassinoindicação visual, mas não é óbvio, por exemplo, o ângulo do cotovelo dobrado, alémbrp535 cassinooutras partes e informações", afirma MacIver.

E, mesmo com relação aos movimentos mais óbvios, alguns historiadores acreditam que os artistas marciais estejam tentando o impossível. Nesta perspectiva, tentar recriar técnicasbrp535 cassinoluta antigas é um pouco como reviver músicas perdidas há muito tempo. Ambos dependembrp535 cassinoconsiderações intangíveis que erambrp535 cassinoconhecimento comum na época, mas foram esquecidas há muito tempo.

Como ocorre com lutas medievais, as descriçõesbrp535 cassinomúsicas da época são muito vagas e decepcionantes.

Muito antesbrp535 cassinoserem expressasbrp535 cassinonotas musicais, as canções eram escritas por meiobrp535 cassino"descrições melódicas". Tudo o maisbrp535 cassinoque você precisava para interpretar uma música específica era armazenado nos cérebros dos músicos e passado fielmente por meiobrp535 cassinotradições orais. Depois que ela saíabrp535 cassinomoda, tudo deixavabrp535 cassinoser transmitido - e, quando isso acontecia, as músicas desapareciam.

Na verdade, os historiadores reconhecem cada vez mais a importância do chamado "conhecimento incorporado" -brp535 cassinoque o corpo aprende como agir por meio da prática ou da observação - para compreender o passado. Este tipobrp535 cassinomemória sensorial inclui coisas como andarbrp535 cassinobicicleta, que pode ser descritobrp535 cassinopalavras, mas não dominado sem que se sente fisicamente sobre o selim.

Infelizmente, a luta medieval com espadas apresenta inúmeras oportunidades para a compreensão errada desses detalhes. Não sabemos com que força os golpes atingiam o adversário, o momentobrp535 cassinoque eram realizados os diferentes movimentos (incluindo quanto tempo ficarbrp535 cassinocada posição, o que poderia sofrer grandes variações) ou os ângulos exatos dos movimentosbrp535 cassinocorte da lâmina da espada no ar.

É como tentar ensinar alguém a ser uma bailarina profissional comunicando-se apenas por e-mail. Quais seria a possibilidadesbrp535 cassinorealizar todos os movimentos corretamente?

Isso sem falar na drástica diferença entre como você se comportariabrp535 cassinoreal perigobrp535 cassinomorte,brp535 cassinocomparação com uma sessão basicamente coreografadabrp535 cassinouma reunião depois do trabalho.

MacIver indica um fato importante ressaltado por de'I Liberi, que dizia aos seus alunos: "... para quem luta com espadas afiadas,brp535 cassinouma simples cobertura [tentativabrp535 cassinobloquear um golpe] que falha, este ato resulta nabrp535 cassinomorte." Lutar sem armadura era tão perigoso que ele próprio só o fez cinco vezesbrp535 cassinotoda a vida - nunca voluntariamente.

De fato, muitas conclusões modernas sobre como lutavam os cavaleiros provavelmente não se mantêm. Uma é a elegância das lutasbrp535 cassinoespadas, que eram muito diferentes das exibidas na televisão ou mesmo na literatura medieval.

Teoricamente, os cavaleiros eram regidos pelo código da cavalaria - um conjuntobrp535 cassinopadrõesbrp535 cassinocomportamento aceitável no campobrp535 cassinobatalha. Mas Grant indica que, mesmo assim, esses nobres ideais, muitas vezes, não eram cumpridos nem mesmo na teoria, que dirá na prática.

"Certamente, Fiore [de'I Liberi] sabe o que é uma luta justa e não quer fazer parte dela", afirma Grant. "O importante é ter certezabrp535 cassinoque você seja o que irá sair vivo no final. Se isso significar dar golpes sujos, 'OK, muito bem, sigabrp535 cassinofrente'."

De fato, existem indicaçõesbrp535 cassinoque o combate no mundo real teria sido escandalosamente bárbaro. Grant destaca as indicações oferecidas por esqueletos medievais. Eles demonstram que as lutas raramente ocorriam com um golpe após o outro, pelo menos nas guerras. Elas eram confusas, rápidas e, muitas vezes, vários homens atacavam um único adversário simultaneamente.

"O que acontece é que você dá um bom golpe na cabeçabrp535 cassinoalguém e eles sofrem uma sériebrp535 cassinogolpes", ele conta. "... Com muita frequência, o que você vê [no crânio] é que eles têm seis feridas na cabeça e duas ou três delas provavelmente serão fatais. No momentobrp535 cassinoque você perde o equilíbrio, o seu oponente irá acompanhar, ficarbrp535 cassinocimabrp535 cassinovocê e continuar batendo."

Mas, apesar das grandes diferenças entre as reinterpretações modernas e a realidade histórica, MacIver está irredutível. Ele acredita que, independentemente dos erros que são inevitáveis, os antigos mestres das lutas aprovariam o que os entusiastas da HEMA estão tentando fazer. Afinal, alguns deles registraram seus segredos exatamente porque queriam evitar que eles fossem perdidos.

Como explicou di Vadi 540 anos atrás,brp535 cassinoseu próprio livrobrp535 cassinoluta, as técnicas antigas que ele aprendeu "não desaparecem por negligênciabrp535 cassinominha parte". E, embora ainda haja muito trabalho pela frente, podemos dizer que ele está a caminhobrp535 cassinoatingir seu objetivo.

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