Por que teorias da conspiração são tão populares?:da betano
O cenário não está restrito ao sarampo ou aos EUA. Na Austrália, um estudoda betano2016 concluiu que 23 mortes ocorridas entre 2005 e 2014 e causadas por uma sérieda betanodoenças diferentes poderiam ter sido evitadas com vacinas que hoje são bastante acessíveis.
As pessoas que não se vacinam geralmente optam deliberadamente por não fazê-lo. Elas fazem parte do chamado movimento "antivacina", acreditam que a imunização faz mal e, muitas vezes, que as companhias farmacêuticas encobrem seus efeitos prejudiciais.
É uma entre as várias teorias conspiratórias que são repassadas mesmo dianteda betanoabundantes evidências científicas que dizem o contrário - uma rápida busca na internet mostra centenas delas.
Há também os negadores das mudanças climáticas, que acreditam que a Terra não está ficando mais quente - e cientistas que distorcem evidências para fazer com que isso pareça verdade.
Enquanto algumas teorias da conspiração são relativamente inofensivas - a ideiada betanoque a Nasa fingiu o pouso na Lua ou que o Beatle Paul McCartney morreu há muito tempo e um doppelgänger (pessoa idêntica) tomou seu lugar desde então -, outras têm efeitos catastróficos.
Com novas evidências, pesquisadores estão chegando mais próximoda betanoentender melhor os fatores envolvidos nesses desdobramentos. Isso irá, esperam eles, ajudar a mitigar alguns dos perigos reais e das divisões sociais que as teorias conspiratórias encorajam.
Não há nada novo sobre teorias da conspiração. Já no século 3 uma lenda dizia que Jesus e Maria Madalena eram casados, um mito que foi perpetuadoda betanoficções populares, como no livro O Código Da Vinci.
Algumas ligam a conspiração dos manipuladores Illuminati à sociedade secretada betano1776, mas essa sociedade não era nada como os 'Illuminati'da betanohoje. Mais recentemente, alguns negam até que o Holocausto aconteceu. Apesarda betanoinúmeras evidências, eles insistem que os nazistas não mataram seis milhõesda betanojudeus durante a Segunda Guerra Mundial.
A questão que psicólogos como Karen Douglas, uma professora da Universidadeda betanoKent, no Reino Unido, se perguntam é: por que essas crenças persistem?
Não há uma resposta simples. Considerando a quantidadeda betanoteorias da conspiração que existem e o fatoda betanoque até metade dos americanos acreditamda betanoao menos uma delas, não há um conjuntoda betanocaracterísticas que determinem um perfil. Quem nunca quis acreditarda betanoalgum momento que um artista que morreu possa estar vivo? Elvis Presley e Tupac Shakur foram alvos desse debate, por exemplo.
"Em algum nível, todos estamos predispostos a suspeitar do governo", diz Douglas. Faz sentido,da betanouma perspectiva evolucionista, que tenhamos suspeitasda betanoum grupo ouda betanopessoas que não compreendemos. "Em alguns sentidos, faz parte do comportamento adaptativo suspeitarda betanooutros grupos, para preservarda betanoprópria segurança", diz ela.
Quando ela começou a investigar o tema mais a fundo, contudo, deparou-se com uma sérieda betanooutros motivos que explicam por que algumas pessoas são mais atraídas a teorias conspiratórias que outras.
Em primeiro lugar, elas parecem ter uma necessidade intrínseca e quase narcisistada betanoalgo único, mostrou um estudo. É a ideiada betanoque a pessoa sente que tem acesso a uma informação escassa ou a explicações alternativas e secretas sobre alguns eventos mundiais.
Como disse o escritor e acadêmico Michael Billigda betano1984: "a teoria da conspiração oferece a chanceda betanoter um conhecimento escondido, importante e imediato para que aquele que acredita nela se torne um especialista no assunto, tendo um conhecimento que nem mesmo os ditos especialistas no assunto têm". O trabalhoda betanoDouglas agora comprova o que Billig quis dizer.
Outros estudos revelam que as teorias da conspiração ajudam as pessoas a entender o mundo quando elas sentem que perderam o controle, estão ansiosas ou se sentem impotentes se suas necessidades estão sob ameaça. As pessoas podem achar difícil aceitar que vivemosda betanoum mundo onde atosda betanoviolência aleatórios, como assassinatosda betanomassa, possam acontecer.
É por isso que pode ser psicologicamente reconfortante para alguns acreditar que "pessoas poderosas" estão por trásda betanoacontecimentos aleatórios, diz Stephan Lewandowsky, professorda betanoPsicologia da Universidadeda betanoBristol, no Reino Unido. As pessoas são literalmente viciadasda betanorespostas, segundo um estudo do ano passado publicado no Jornal Europeuda betanoPsicologia Social.
Um exemplo é o tiroteioda betano2017da betanoLas Vegas, o mais mortal tiroteio na história dos EUA, com 58 vítimas. Foram apontados como culpados terroristas muçulmanos, o grupo Antifa e até os Illuminati, que teriam feito ritualda betanosacrifício.
O siteda betanochecagemda betanofatos Snopes tem uma longa listada betanoinformações falsas que eles derrubaram. "Nós não gostamos da ideiada betanoque algo terrível possa acontecer do nada, então é psicologicamente reconfortante para algumas pessoas acreditar que exista uma conspiração muito bem organizadada betanopessoas poderosas que são responsáveis por esses acontecimentos", diz Lewandowsky.
Ada betanoformação também pode influenciar nas suas crenças sobre o mundo. Pessoas que cresceram inseguras e apegadas aos pais - e se tiveram uma relação negativa com algum deles ou com os dois - também teriam maior propensão a crerda betanoteorias da conspiração, segundo um estudo que será publicadoda betanoabril deste ano no Jornalda betanoPersonalidade e Diferenças Individuais.
"Essas pessoas têm uma percepção exagerada dos perigos", explica Douglas, ressaltando que isso acontece porque,da betanoparte, esse é o meio que elas encontram para lidar com o medo.
"Elas ajudam as pessoas a explicar ou justificar suas ansiedades". Se isso funciona ou não é outra questão. As evidências que se têm hoje apontam no sentido contrário, mostram que as pessoas podem se sentir menos ainda no controle - que as teorias conspiratórias podem fazer as pessoas se sentirem mais inseguras, impotentes e desiludidas.
E, uma vez nesse estado, elas têm uma tendência ainda maiorda betanocontinuar acreditando nessas teorias. O fatoda betanoque existam muitas pessoas que optam por acreditar nessas conspirações tem consequências perigosas, mesmo quando elas são absurdamente bobas ou até mesmo cômicas.
As pessoas que acreditam nessas teoriasda betanogeral são menos engajadas politicamente e, portanto, menos propensas a votar. Céticos das mudanças climáticas também estão menos propensos a reduzir suas emissõesda betanocarbono e a apoiar políticos que prometem fazê-lo. De uma maneira parecida, os antivacina também contribuem para o contágio da doença, que pode machucar ou até matar os mais jovens ou pessoas com a imunidade comprometida.
Não parece haver uma saída fácil. Infelizmente, para os cientistas, apresentar dados precisos que desmentem uma teoria da conspiração geralmente não ajuda. Aliás, isso pode até tornar uma crençada betanoalgo falso ainda mais forte. Lewandowsky descobriu que, quanto mais fortemente alguém acreditada betanouma conspiração, menor a probabilidadeda betanoconfiarda betanodados científicos.
É mais possível que eles acreditem que a pessoa tentando debater com eles tem algum motivo especial para defendê-la. "O que isso significa é que qualquer evidência contra uma teoria da conspiração é reinterpretada como evidência a favor dela". A rejeição da ciência éda betanoparte alimentada por teóricos da conspiração, ele descobriu mais tarde.
Isso demonstra como vivemosda betanoum mundo polarizado. Um estudo sobre como teorias da conspiração se espalham na internet revelaram que não há uma sobreposição entre aqueles que compartilham notícias científicas e os que compartilham notícias falsas ou teorias da conspiração.
"Vivemosda betanobolhas distintas", diz o físico David Grimes, da Universidadeda betanoBelfast. Ele foi perseguido tantas vezes por conspiracionistas que desenvolveu um algoritmo para mostrar quão improvável é a possibilidadeda betanosegredos tão grandes serem mantidos por um longo tempo. Quanto mais pessoas envolvidasda betanoencobrir algo, mais rápido seria o desvendamento, ele apontou.
"Nós todos compartilhamos um único mundo e as consequências do que decidimos,da betanoum pontoda betanovista ético ou político, afeta todos nós. Se não podemos sequer concordar com a ciência mais básica, coisas que não deviam ser tão contraditórias, teremos sérios problemas para tomar decisões", diz Grimes.
Por mais que não exista uma solução única, pesquisas que investigam a psicologia por trás da participação nas teorias da conspiração são um começo. Sabemos que a ideologiada betanoalguém geralmente está ligada a suas crenças. O mais forte indicador da negação das mudanças climáticas, por exemplo, é a ideologia do livre mercado, comprovou Lewandowky.
Através do trabalhoda betanoDouglas eda betanomuitos outros, hoje conhecemos também muitas características das pessoas mais propensas a acreditarda betanoalgo sem evidência. Precisamos entender que somos "definidosda betanopadrões", mesmo quando não há padrões, diz Grimes.
"A verdade é que vivemosda betanoum universo estocástico. É tentador criar uma narrativa, mas quando não há uma, quando não há ondas, conectamos pontos na areia", acrescenta.
Apesarda betanoa tecnologia ter criado muitas das bolhas e câmarasda betanoeco que vemos hoje, ela também pode nos ajudar a superá-las. Um experimento pioneiro desenvolvido na Noruega submete participantes a um questionário para garantir que eles entenderam o que leram antes que possam comentarda betanoum artigo publicado. Isso pode ajudar as pessoas a "se acalmarem" antesda betanodisparar comentários aleatórios, diz Lewandowsky, mas ao mesmo tempo não censura ninguém por expressarda betanoopinião e ter uma voz.
Outra estratégia que poderia ajudar seria instruir as pessoas para que elas possam entender o que são fontes confiáveis, assim como questionar e responsabilizar figuras públicas quando essas espalham informações falsas ou imprecisas. Muitos sitesda betanochecagemda betanofatos e jornalistas já tentam fazer isso, mas nem sempre funcionam.
Grimes descobriu que as pessoas que estão firmesda betanosuas crenças dificilmente mudarãoda betanoopinião, mas os que "não estão completamente comprometidos" podem ser convencidos dianteda betanoevidências. Isso, espera ele, significa que podemos derrubar muitas teorias conspiratórias se as pessoas tiverem evidências convincentes baseadasda betanofatos.
E, por último, podemos olhar com mais atenção para o que nós mesmos postamos nas redes sociais. As pessoas muitas vezes compartilham uma manchete que parece esperta sem ter realmente lido o conteúdo do artigo. "Temos a informação na palma da mão e ainda assim somos obcecados por ficções vazias", ele destaca. É exatamente assim que informações falsas e teorias da conspiração se espalham tão facilmente.
Isso significa que realmente não podemos acreditar sempre no que lemos e ouvimos. Se algo parece peculiar ou forçado, é porque provavelmente é. Se você estiver informado sobre quantas teorias da conspiração circulam por aí, você já estará um passo a frente na tarefada betanoevitar que elas se espalhem mais ainda.
- da betano Leia a versão original desta matéria (em inglês) da betano no site da BBC Future