O apelo a moral e bons costumes que torna notícias enganosas mais 'compartilháveis' na eleição:arbety saldo bônus
O resultado dessa comparação, publicado no periódico científico da Nature Humanities and Social Sciences Communication, é o que o pesquisador chamaarbety saldo bônus"impressão digital da desinformação".
Palavras e expressões com algum tipoarbety saldo bônusapelo à moralidade — "honra", "infidelidade", "patriotismo", "demônio" — apareceram 37% a mais nos textos classificados como desinformação do que nos jornalísticos convencionais.
"Ou seja, eles tentam influenciar psicologicamente o usuário por intermédioarbety saldo bônusideias que expressam um ataque à identidade social individual do leitor", conclui o estudo. Algo que, com basearbety saldo bônuspesquisas e observações empíricas, estudiosos dizem ocorrer também no Brasil, sobretudoarbety saldo bônusperíodo eleitoral (leia mais abaixo).
Embora o uso da moralidade como armaarbety saldo bônusdesinformação já fosse conhecido, Carrasco-Farré diz que essa é a primeira vez que o emprego desse palavreado moral foi medidoarbety saldo bônustantos detalhes.
"Isso foi o mais surpreendente da pesquisa, porque o apelo à moralidade é a variável [entre todas as estudadas] com mais diferençaarbety saldo bônusrelação às notícias reais, que têmarbety saldo bônusseguir um código deontológico [normas] e jornalístico", diz à BBC News Brasil Carrasco-Farré, atualmente professor na Toulouse Business School, na França.
Classificar automaticamente textos falsos unicamente pelo tipoarbety saldo bônuspalavreado tem limitações. Dalby Dienstbach, linguista da Escolaarbety saldo bônusComunicação, Mídia e Informação da FGV, lembra que a moralidade é um conceito relativo, e a própria escolhaarbety saldo bônusquais palavras serão tratadas como "de cunho moral" exige um juízoarbety saldo bônusvalor prévio, que pode gerar discordâncias.
No estudo, Carrasco-Farré explica que usou como referência um dicionário acadêmico previamente empregado para mensurar discursosarbety saldo bônusassuntos polarizados nos EUA, como controlearbety saldo bônusarmas, casamento homossexual e mudanças climáticas.
Ele calculou quantas das palavras contidas no dicionário apareciam nos textosarbety saldo bônusdesinformação e mediuarbety saldo bônusfrequência (númeroarbety saldo bônuspalavrasarbety saldo bônuscunho moral a cada 500 palavrasarbety saldo bônustexto).
Além da moralidade, ele mensurou a complexidade léxica dos textos e a evocaçãoarbety saldo bônusemoções negativas.
Textos falsos são mais fáceisarbety saldo bônusler
Dos 92 mil textosarbety saldo bônusinglês analisados, 16 mil eram especificamente "fake news" — ou seja, seu conteúdo era totalmente fabricado.
Segundo os cálculosarbety saldo bônusCarrasco-Farré, esse conteúdo falso tinha 18 vezes mais ênfasearbety saldo bônusemoções negativas do que as notícias veiculadas pela grande imprensa. Soma-se a isso o fatoarbety saldo bônusque eram mais fáceisarbety saldo bônusler, porque tinham menos diversidade léxica — ou seja, menos palavras difíceis.
Com isso e uma estrutura gramatical mais simples, eles exigiam,arbety saldo bônusgeral, menos esforço cognitivo do leitor. Essas características dão à desinformação vantagens competitivas para serem mais compartilhadas nas redes sociais do que as notícias com padrões jornalísticos, explica Carrasco-Farré.
"Em geral, conteúdo que evoca emoções intensas é mais viral, o que explica por que redes sociais são uma fontearbety saldo bônuscontágio emocionalarbety saldo bônusgrande escala", escreve.
Ao ler ou assistir ao conteúdo com forte carga moral, o leitor que acredita no discursoarbety saldo bônusdesinformação conclui que seu grupo social está sob ataque, aponta o pesquisador.
"Isso cria uma espéciearbety saldo bônusconflito, na maioria das vezes falso,arbety saldo bônusque alguém externo está atacando o grupo ao qual você pertence, e portanto atacando você pessoalmente", explica ele à BBC News Brasil.
Desinformação nas eleições brasileiras
Algumas das palavras encontradasarbety saldo bônusgrande volume pelo pesquisador espanhol — como "decência", "cidadãoarbety saldo bônusbem", "perversão" — são vistas diariamente pela equipe do coletivo jornalístico Bereia, dedicado à checagemarbety saldo bônusinformações que circulam no meio religioso cristão brasileiro,arbety saldo bônussites e blogs gospel às redes sociaisarbety saldo bônusinfluenciadores. No momento, o coletivo está voltado à checagemarbety saldo bônusinformações ligadas às eleições.
"O conteúdoarbety saldo bônuspânico moral é muito utilizado", diz à BBC News Brasil Magali Cunha, editora-geral do Bereia e pesquisadora do Institutoarbety saldo bônusEstudos da Religião (Iser).
Nestas eleições, a maior parte da desinformaçãoarbety saldo bônuscunho moral nos grupos religiosos tem sidoarbety saldo bônusfalsas ameaças à liberdade religiosa e ao funcionamentoarbety saldo bônusigrejas, prossegue a pesquisadora.
Embora identifique também conteúdoarbety saldo bônusdesinformaçãoarbety saldo bônusdiscursos da direita e da esquerda tradicionais, Cunha observa que, no meio religioso, a maior parte do materialarbety saldo bônus"pânico moral" vem do que ela classifica como extrema direita.
"São materiais mais enganosos do que falsos — têm algum elemento verdadeiro que trazem alguma credibilidade, mas são manipulados", explica Cunha.
E ganham muita relevância porque, assim como as notíciasarbety saldo bônuscunho moralarbety saldo bônuslíngua inglesa, afetam as emoções do público.
"Sensibilizam muito as pessoas porque mexem com suas crenças. Se você diz que é algo que está sob ameaça, as pessoas se mobilizam e se tornam propagadoras. É uma estratégia antigaarbety saldo bônusdesinformação que tem muito impacto no público religioso. (...) E tem efeitos fortíssimosarbety saldo bônustemas eleitorais, por isso passou a ser estratégico."
Mesmo antes das eleições, conteúdos enganosos com alguma referência à "moralidade sexual" foram os mais volumosos entre os checados pelo Bereia até o ano passado, atrás apenas da desinformação ligada à covid-19.
Cunha classifica como desinformaçãoarbety saldo bônus"moralidade sexual" notícias enganosas sobre sexualidade nas escolas, por exemplo. "E sempre com essa ideia do pânico —arbety saldo bônuscolocar medo nas pessoasarbety saldo bônusque possa haver destruição da família, erotização das crianças, 'imposição do gayzismo'", diz Cunha.
Mesmo para o públicoarbety saldo bônusgeral (e não apenas o religioso), estratégiasarbety saldo bônusapelo moral são usadas com frequência no Brasil, explica Raquel Recuero, coordenadora do Laboratórioarbety saldo bônusMídia, Discurso e Análisearbety saldo bônusRedes Sociais (MIDIARS) da Universidade Federalarbety saldo bônusPelotas.
Na eleiçãoarbety saldo bônus2018, uma das pesquisasarbety saldo bônusRecuero no Twitter identificou que os tuítes e retuítes com avaliação moral (que faziam algum tipoarbety saldo bônusreferência a "bem contra o mal" e "moralmente desejável versus indesejável") tiveram mais sucesso do que a médiaarbety saldo bônusserem compartilhados e legitimados.
O objetivo é fazer com que o leitor que se enxergue como "pessoaarbety saldo bônusbem" reaja contra os que "estão prejudicando a sociedade", ela explica.
"É uma das principais estratégias da desinformação — feita para (apelar para) as pessoas 'valorosas', para o 'bem contra o mal'", diz Recuero à BBC News Brasil.
É um método com potencial impacto na decisãoarbety saldo bônusuma parcela dos eleitores, avalia Jacqueline Moraes Teixeira, professora do Departamentoarbety saldo bônusSociologia da UnB, pesquisadora do Cebrap (Centro Brasileiroarbety saldo bônusAnálise e Planejamento) e do Iser.
"As pessoas sempre percebem a política como um espaçoarbety saldo bônuscorrupção e da lógicaarbety saldo bônusque 'vou ter que escolher o menos pior' [na eleição]. Nesse processo, esses princípios morais acabam sendo significativos", diz Teixeira.
"E isso sustenta muito a circulação e o engajamentoarbety saldo bônusvoto ao [presidente Jair] Bolsonaro", agrega Teixeira — uma vez que o presidente se apresenta como um defensor da moral e da família.
'Ativar os sinaisarbety saldo bônusalerta'
Nos textosarbety saldo bônuslíngua inglesa avaliados pelo pesquisador Carrasco-Farré, se sobressaíram temas como a imigração (ligada, sobretudo, à ideiaarbety saldo bônusataque à civilização ocidental) e feminismo ("apelando à população masculinaarbety saldo bônusmedo ao grupo social sendo atacado por outro gênero", detalha o pesquisador).
"O mais importante é se dar conta que, quando um conteúdo nos gera emoções fortes, é preciso ativar os sinaisarbety saldo bônusalerta. Porque a intenção desse tipoarbety saldo bônusconteúdo é nos afastar da racionalidade e nos levar ao campo da emoção, onde as decisões que tomamos já não são tão corretas", diz ele.
"Não somos computadores. Quando nosso cérebro está mais cansado, não consegue se concentrar, é muito mais fácil cairarbety saldo bônusum conteúdo que seja mais fácilarbety saldo bônusse processar. (...) E o mesmo ocorre com o tema da identidade social: a emoção torna mais provável que compartilhemos esse conteúdo nas redes, no grupoarbety saldo bônusWhatsApp da família, e que ajudemos a difundir desinformação — isso no melhor dos casos. No pior, mais extremo, nos leva a agir, com consequências não muito boas para o resto da sociedade", afirma Carrasco-Farré.
Leitor se acostuma com desinformação
Embora alguns dos exemplos estudados pelo pesquisador sejam bastante extremosarbety saldo bônusdiscursoarbety saldo bônusódio, teorias da conspiração ou fake news, ele se preocupa também com os casos mais sutis.
"Alguns textos fazem soar todos os alarmes [por serem claramente falsos ou conspiratórios], exceto pelas pessoas que estão muito convencidasarbety saldo bônusque essas conspirações existem. Os casos mais sutis são mais perigosos porque não são tão facilmente detectáveis. E há evidência científicaarbety saldo bônusque quando as pessoas são submetidas a eles por muito tempo, começam a se acostumar a esse tipoarbety saldo bônusconteúdo. Isso faz com que seja menos provável que ela perceba que os casos extremos são falsos, porque começam a ter dúvidas."
Por isso, o pesquisador espanhol acha problemático quando meios jornalísticos profissionais também recorrem a táticas como "caça-cliques" — com manchetes exageradas ou dúbias para atrair audiência e publicidade.
"Isso é perigoso não pelo caça-cliquearbety saldo bônussi, mas sim porque faz o público se aclimatar e se acostumar a esse tipoarbety saldo bônusconteúdo. E gente que talvez fosse muito boa a identificar pseudociência ou teoria da conspiração terá mais dificuldade", avalia Carrasco-Farré.
No estudo, o pesquisador reconhece que classificar um texto por seu palavreado tem limitações. Mas ele argumenta que o método pode servirarbety saldo bônusparâmetro inicial para ajudar os algoritmos das redes sociais e as agênciasarbety saldo bônuschecagem a identificar quais textos e vídeos têm mais potencial para viralizar.
Com essa informaçãoarbety saldo bônusmãos, argumenta ele, seria possível checá-los, hierarquizá-los ou contextualizá-los nas redes sociais com mais rapidez, antes que uma informação potencialmente enganosaarbety saldo bônusfato viralize.
- Este texto foi publicadoarbety saldo bônushttp://vesser.net/salasocial-62933317
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