Como cientistas tentam combater ideiab2xbetque é 'tarde demais para salvar o planeta':b2xbet

Homem navega pertob2xbetcasa submersa pela águab2xbetenchenteb2xbetBangladesh

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Enchente ocorridab2xbetjunhob2xbetBangladesh foi considerada uma das piores da história do país

Meses depois, McBryde fez um vídeo mais direcionado à tomadab2xbetações e à necessidadeb2xbetpressionar políticos como o presidente brasileiro Jair Bolsonaro. E falou à unidadeb2xbetdesinformação da BBC que não se considera mais um "doomer": "Me convenci que podemos sair dessa".

Os desafios para conter o aquecimento global são,b2xbetfato, gigantescos.

Um dos objetivos mais urgentes é limitar o aumento da temperatura no mundob2xbet1,5°C (em relação a níveis pré-revolução industrial) até o anob2xbet2030, e as ações atuaisb2xbetgovernos e grandes empresasb2xbetdireção a uma economia verde são consideradas insuficientes.

Mas o climatologista norte-americano Michael E. Mann teme que a popularização da narrativa apocalíptica se transforme no que ele chamab2xbet"inativismo" — ou seja, jogar a toalha enquanto ainda é possível fazer algo.

Emb2xbetvisão, essa ideia favorece a indústria dos combustíveis fósseis, que quer ganhar tempo e evitar perdab2xbetmercado enquanto o mundo fazb2xbettransição para uma estrutura sustentável.

O cientista do clima Michael E. Mann

Crédito, Julian Meehan/Upenn

Legenda da foto, O cientista do clima Michael E. Mann

"Tudo isso reflete uma miopia egoísta, um benefício financeirob2xbetcurto prazo para poucos à custab2xbetum sofrimentob2xbetlongo prazo para todos nós. É difícil encontrar vilões piores do que negacionistas do clima e aqueles que querem adiar as ações", diz Mann à BBC News Brasil.

O geofísico e professor da Universidade da Pensilvânia é um dos responsáveis por uma pesquisa do final dos anos 1990 considerada chave no entendimento da influência humana sobre o aquecimento global.

O estudo contém um famoso gráfico apelidado — pelo seu formato —b2xbet"tacob2xbethóquei".

Mann dedica seu livro The New Climate War: The Fight to Take Back Our Planet (em tradução livre, A Nova Guerra do Clima: A Luta para Terb2xbetVolta o Nosso Planeta; sem edição brasileira) e suas falas públicas a combater a crençab2xbetque tudo está irremediavelmente perdido.

Por exemplo, ele aponta uma notícia positiva que afirma não ter ganhado destaque suficiente entre o público.

Um relatóriob2xbet2021 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na siglab2xbetinglês), da ONU, b2xbet desbancou uma antiga ideiab2xbetque, se interrompêssemos todas as emissõesb2xbetgases agora, a temperatura global continuaria subindob2xbetqualquer forma por um períodob2xbet30 a 40 anos.

O entendimento mudou: os estudos mais recentes mostram que a interrupção imediata do acúmulob2xbetcarbono na atmosfera teria b2xbet efeitos positivos jáb2xbetum prazo entre 3 e 5 anos. Ou seja,b2xbetuma perspectivab2xbetlongo prazo, os resultados são "imediatos".

Mas Mann lembra que os subsídios para os combustíveis fósseis chegam a quase b2xbet US$ 6 trilhões (R$ 30 trilhões),segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), um montante que b2xbet representoub2xbet2020 7% do PIB mundial.

E não há soluções mágicas. O cientista norte-americano aponta voto e pressão popular como os caminhos para a mudança. Afirma que evitar cada 0,1°Cb2xbetelevação na temperatura global já conta muito.

Crítica ao pessimismo

Mann não vê apenas na desinformação o focob2xbetproblemas da visão apocalíptica: critica o pessimismob2xbetpensadores sérios sobre o tema, que se baseiamb2xbetevidências científicas.

Ele cita o jornalista David Wallace-Wells, autor do best-seller A Terra Inabitável: Uma História do Futuro (Companhia das Letras, 2019).

Na visão do climatologista, há um "fetiche pelo apocalipse climático [climate doom porn, na expressão original]".

O termo faz sentido quando se sabe que há um canal da TV paga, o WeatherSpy, dedicado a desastres naturais com programasb2xbetnome como Contagem Regressiva do Clima Extremo.

"Talvez seja pela mesma razão que pessoas andamb2xbetmontanha-russa, pulamb2xbetbungee-jump ou fazem sky-diving — às vezes, elas só querem sentir esse frio na espinha. O apocalipse climático dá a elas essa mesma descargab2xbetadrenalina. Estou chamando issob2xbetdroga? Acho que sim", escreve Mannb2xbetseu livro.

Ele afirma que "nós precisamos falar tanto sobre o desafio quanto sobre a oportunidade. Sim, nós já estamos vendo perigosos impactos da mudança climática, e ainda permanece o desafiob2xbetreverter o perigoso aquecimento planetário adicional. Mas nós temos a oportunidadeb2xbetcriar um mundo melhor para nós mesmos, nossos filhos e netos. É essa a nossa luta".

Mercedes Bustamante, professora do Departamentob2xbetEcologia da Universidadeb2xbetBrasília (UnB), diz que "há preocupação da comunidade científica eb2xbetinstituições sobre a comunicação do tema".

A ideia é "fornecer uma visão balanceada sobre o desafio que precisamos enfrentar e as soluções que podemos viabilizarb2xbetdiferentes escalasb2xbettempo".

Para a professora da UnB, "a perspectiva fatalista, ou seja,b2xbetque não há mais espaço para soluções, contribui somente para tornar a marcha mais lenta na resolução da crise global".

Qual o melhor caminho para chamar a atenção?

Há discordâncias dentro da comunidadeb2xbetcientistas e ativistas do clima sobre qual mensagem é mais eficaz para sair do imobilismo.

Para alguns, ajuda a dar dimensão da gravidade do problema atual se lembrar que os dados sobre o aquecimento global são preocupantes e que os esforços para eliminar emissõesb2xbetcarbono continuam insuficientes.

Em um famoso discurso, a jovem ativista sueca Greta Thunberg, então com 15 anosb2xbetidade, dizia "eu quero que você sinta o medo que eu sinto todos os dias e eu quero que você aja. Eu quero que você se comporte como se a nossa casa estivesse pegando fogo, porque é isso o que está acontecendo".

A ativista sueca Greta Thunberg

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A ativista sueca Greta Thunberg conseguiu chamar a atenção para a crise climática com seus discursos

Thunberg logo se tornaria um rosto para a ideiab2xbetenfrentar com urgência as mudanças climáticas.

Em abril deste ano, cercab2xbetmil cientistas participaramb2xbetuma sérieb2xbetprotestosb2xbet25 países como parteb2xbetuma coalização chamada "Rebelião dos Cientistas".

O objetivo, segundo o manifesto do grupo, é "expor a realidade e a severidade da emergência climática e ecológica com engajamentob2xbetdesobediência civil não violenta".

Peter Kalmus, cientista da Nasa e parte da "Rebelião dos Cientistas", disse ao jornal The Guardian que "essas notícias [de eventos climáticos fora do normal] provavelmente vão começar a se estabilizar. É onde nós estamos agora. Essa é uma semana normalb2xbet2022. Como então vai ser umab2xbet2024? E 2025?".

Mann, que enfrentou durante anos ataquesb2xbetnegacionistas e relata ter sido alvob2xbetcampanhas promovidas pela indústria dos combustíveis fósseis, afirma que prossegueb2xbetseus esforçosb2xbetdécadas para chamar atenção ao problema "simplesmente me mantendo focado na tarefa que está a mão".

"Eu tenho féb2xbetque nós tomaremos as ações necessárias. E eu fico encorajado pelas ações que governos como osb2xbetEstados Unidos e Austrália estão tomando. Já era tempo e nós ainda não estamos fazendo o suficiente. Mas parece que os dividendos para quem esteve na linhab2xbetfrente por décadas começaram a aparecer. É possível vencer a maior batalha que temos como espécies", diz ele.

O presidente norte-americano Joe Biden sancionou um planob2xbetUS$ 700 bilhões para atuar contra a mudança climática. A Austrália tornou lei as seguintes metas: emissõesb2xbetgases precisarão ser cortadasb2xbet43% no intervalo entre 2005-2030 e zerar até 2050.

O governo chinês também tem investido esforçosb2xbetpesquisa e desenvolvimento para eficiência sustentável eb2xbetestratégiasb2xbetdescarbonizaçãob2xbetsua economia.

Para Alexandre Costa, cientista do clima e professor da UECE (Universidade Estadual do Ceará), "há atualmente entre os cientistas uma atmosferab2xbet'está desesperador, mas ainda dá para salvar muita coisa. A pior alternativa é entregar os pontos".

"Nós precisamos assumir uma posição que é o oposto do conformismo, do tanto faz."

"Minha experiência pessoal foi difícil nos últimos dez anos. Principalmente pela frustraçãob2xbetnão ser ouvido."

Costa afirma que o pensamento apocalíptico é "tão paralisante quanto o negacionismo. Embora eles estejamb2xbetextremos opostos na narrativa, o efeito prático dos dois é muito próximo."

Ele faz uma conexão do "doomismo" com o fenômeno do ecofascismo na Europa e nos EUA. Pela sobrevivência durante uma grande crise climática (que ainda pode ser evitada), gruposb2xbetextrema-direita já defendem o bloqueiob2xbetfronteiras e a proibição da imigração.

"Sempre tento dissuadir colegas [cientistas] que estejam derivando para esse caminho", afirma o climatologista.

"Não vamos conseguir nadab2xbetbom com a ideiab2xbetque tudo está perdido. Aí é um terreno estéril, infértil."

- Este texto foi publicado originalmenteb2xbethttp://vesser.net/geral-62653493

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