O que muda na prática se covid virar endemia?:topical solution onabet sd
Uma palavra, múltiplas interpretações
Para começotopical solution onabet sdconversa, vale esclarecer que uma endemia não é necessariamente uma boa notícia.
Ela apenas significa que há uma quantidade esperadatopical solution onabet sdcasos e mortes relacionadas a uma determinada doença,topical solution onabet sdacordo com um local e uma época do ano específicas. E esses números nem aumentam, nem diminuem.
A infecção pelo herpes simples, que provoca feridas na boca e na região genital, é uma endemia. Estima-se que pelo menos dois terços da população mundial com maistopical solution onabet sd50 anos já tiveram contato com esse vírus. Apesartopical solution onabet sdincômodo, esse quadro não está relacionado a grandes complicações ou riscotopical solution onabet sdóbito.
Por outro lado, outras doenças bem mais sérias e mortais, como tuberculose, aids e malária, também são endêmicas. Só na malária, estima-se que cercatopical solution onabet sd240 milhõestopical solution onabet sdcasos e 640 mil mortes aconteçam todos os anos, segundo as estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
A questão, portanto, tem a ver com a estabilidade nas estatísticas relacionadas com aquela enfermidade. Quando esses números fogem do controle, a situação evolui para uma epidemia (se o problema for localizado numa região) ou para uma pandemia (caso a crise se alastre por vários continentes).
Num evento do Fórum Econômico Mundial realizado no finaltopical solution onabet sdjaneiro, representantestopical solution onabet sdvárias instituições discutiram todos esses conceitos e debateram quando a covid-19 poderia ser realmente classificada como uma endemia.
Na visão do imunologista Anthony Fauci, líder da resposta à pandemia dos Estados Unidos, endemia significa "uma presença não disruptiva sem a possibilidadetopical solution onabet sdeliminação [de uma doença]".
De acordo com a avaliação do especialista, o coronavírus não será extinto e passará, aos poucos, a afetar os seres humanostopical solution onabet sdforma similar a outros agentes causadores do resfriado comum.
Na mesma ocasião, o médico Mike Ryan, diretor executivo do Programatopical solution onabet sdEmergênciastopical solution onabet sdSaúde da OMS, também bateu nessa tecla. "Nós provavelmente nunca vamos eliminar esse vírus. Depois da pandemia, ele se tornará partetopical solution onabet sdnosso ecossistema. Mas é possível acabar com a emergênciatopical solution onabet sdsaúde pública."
Ele também reforçou que endemia não é sinônimotopical solution onabet sdcoisa boa. "Ela só significa que a doença ficará entre nós para sempre. O que precisamos é diminuir a incidência, aumentando o númerotopical solution onabet sdpessoas vacinadas, para que ninguém mais precise morrer [de covid]", completou.
A hora e a vez da covid?
De um lado, os cientistas se mostram reticentestopical solution onabet sdjá encarar a covid-19 como uma endemia, pela faltatopical solution onabet sdparâmetros etopical solution onabet sduma estabilidade nas notificações por um período mais prolongado.
"Isso ainda não foi bem estabelecido. Quais são os númerostopical solution onabet sdcasos, hospitalizações e mortes pela doença aceitáveis, ou esperados, todos os anos?", questiona a epidemiologista Ethel Maciel, professora titular da Universidade Federal do Espírito Santo.
Por outro, é inegável que o avanço da vacinação e os recordestopical solution onabet sdnovas infecções impulsionadas pela ômicron nos últimos dois meses garantiram um alto níveltopical solution onabet sdproteção, especialmente contra as formas mais graves da doença.
Até o momento, 53% da população mundial já recebeu ao menos duas doses da vacina. E as projeções publicadas no periódico The Lancet pelo Institutotopical solution onabet sdMétricastopical solution onabet sdSaúde da Universidadetopical solution onabet sdWashington, nos EUA, indicam que, dado o alto grautopical solution onabet sdtransmissibilidade da nova variante, metade das pessoas do planeta terão sido infectadas entre novembrotopical solution onabet sd2021 e marçotopical solution onabet sd2022.
"É muita gente com imunidade", avalia o infectologista Julio Croda, da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul e da Fundação Oswaldo Cruz (FioCruz).
Esse aprimoramento das defesas do organismo garante uma proteção contra as complicações da covid, relacionadas à hospitalização e morte, ao menos por alguns meses.
"Graças à imunidade obtida pela vacinação e,topical solution onabet sdmenor grau, pelo alto númerotopical solution onabet sdinfecções, a doença se tornou menos letal", diz Croda, que também é presidente da Sociedade Brasileiratopical solution onabet sdMedicina Tropical.
A covid chegou a ter uma taxatopical solution onabet sdletalidadetopical solution onabet sd1 a 2%. Atualmente, esse número estátopical solution onabet sd0,25%, segundo alguns registros nacionais e internacionais.
Croda explica que essa taxatopical solution onabet sd0,25% ainda é o dobro do que ocorre na gripe (que ficatopical solution onabet sd0,1%). Mesmo assim, houve uma diminuiçãotopical solution onabet sdpraticamente dez vezes na mortalidade por covid que era observada há poucos meses.
E isso, mais uma vez, tem a ver com a imunidade adquirida ao longo desse tempo.
Os vírus e nosso sistematopical solution onabet sddefesa fazem um verdadeiro cabotopical solution onabet sdguerra. Quando surge uma doença infecciosa nova, a corda pende com mais frequência para o patógeno, já que nossas células imunes não fazem a menor ideiatopical solution onabet sdcomo combater a ameaça.
Com o passar do tempo — e a disponibilidadetopical solution onabet sdvacinas seguras e efetivas — o jogo começa a virar, e o sistema imunológico "aprende" a lidar com o inimigo. Nessa situação, mesmo que o agente infeccioso consiga invadir o organismo, suas consequências tendem a ser menos preocupantes.
É justamente isso que parece estar acontecendo com a covid: dois anos e poucos meses depois dos primeiros casos, o númerotopical solution onabet sdindivíduos com algum níveltopical solution onabet sdproteção é suficientemente alto para que não ocorra mais um aumento na demanda por leitos no mesmo patamar das outras ondas,topical solution onabet sdque o sistematopical solution onabet sdsaúde chegou a entrartopical solution onabet sdcolapso.
Resumindo, pelo observado até agora, a covid ainda não pode ser comparada com a gripe e está longetopical solution onabet sdser um resfriado comum, mas parece caminhar para chegar mais próximo disso algum dia no futuro.
O que muda na prática?
Os países europeus que já classificam a covid-19 como uma endemiatopical solution onabet sdseus territórios acabaram (ou acabarãotopical solution onabet sdbreve) com a maioria das restrições que marcaram os últimos 24 meses.
De forma geral, não haverá mais necessidadetopical solution onabet sdusotopical solution onabet sdmáscarastopical solution onabet sdlocais fechados, não será preciso mostrar o comprovantetopical solution onabet sdvacinação e as aglomerações estarão completamente liberadas.
Num discurso recente no Parlamento do Reino Unido, o primeiro-ministro Boris Johnson disse que, "conforme a covid se tornar endêmica, nós precisaremos substituir as requisições da lei pela orientação,topical solution onabet sdmodo que as pessoas infectadas com o vírus sejam cuidadosas umas com as outras".
Maciel entende que alguns cuidados devem permanecer mesmo assim, ainda que a situação fique menos grave.
"O vírus vai continuar circulando. Mesmo que as medidas não sejam mais obrigatórias, é importante que todos tomem alguns cuidados quando necessário", orienta.
A epidemiologista avalia que é preciso empoderar e ensinar as pessoas, para que elas avaliem o riscotopical solution onabet sdcada situação e tomem as medidas para proteger a si e a todos ao redor.
Um sujeito com sintomastopical solution onabet sdgripe ou covid, por exemplo, deve trabalhartopical solution onabet sdcasa, se possível, para não colocartopical solution onabet sdrisco os demais colegas. E, caso tenha que sair, ele pode usar máscara para, assim, evitar a transmissão do vírus para os contatos próximos.
"É a mesma coisa que acontece com a infecção pelo HIV. Ter uma relação sexual sem preservativo te coloca numa situaçãotopical solution onabet sdrisco, mesmo que essa doença seja considerada hoje uma endemia", compara.
Que fique claro: o alívio nas políticas restritivas não significa que elas foram inúteis ou não deveriam ter sido adotadas no passado. É consenso entre os especialistas que todas essas medidas salvaram muitas vidas num momentotopical solution onabet sdque não existiam outros meios para barrar a infecção e suas complicações.
Hojetopical solution onabet sddia, possuímos ferramentas testadas e aprovadas — vacinas e remédios — para lidar com a covid e torná-la menos ameaçadora para a grande maioria da população.
E, claro, caso surja uma nova variante agressiva e com capacidadetopical solution onabet sdescapar da imunidade, será preciso instaurar novamente muitos desses cuidados preventivos que começam a ser abandonadostopical solution onabet sdcertas partes do mundo.
Além das questões relacionadas à prevenção, outra mudança significativa da endemia envolve a vigilância: a forma como os casos são detectados e notificados é bem diferente.
Durante os últimos dois anos, muitos países fizeram uma busca ativatopical solution onabet sdinfectados, mesmo aqueles que nem apresentavam sintomas típicos da covid. Foram montadas tendastopical solution onabet sdtestagemtopical solution onabet sddiversos locais e kitstopical solution onabet sddiagnóstico eram distribuídos gratuitamente (ou vendidos por um preço baixo) para os cidadãos — no Brasil, foram poucas as cidades ou os Estados que lançaram uma política nesses moldes.
Aqueles indivíduos que testavam positivo eram então monitorados e orientados a ficartopical solution onabet sdquarentena. Na sequência, as pessoas com quem eles tiveram contato próximo nos dias anteriores eram comunicadas a também buscar os exames.
Durante uma pandemia ou uma epidemia, essa estratégia permite cortar as cadeiastopical solution onabet sdtransmissão do vírus na comunidade e evita que a situação cresça e gere uma bolatopical solution onabet sdneve, que desembocatopical solution onabet sdum aumento massivotopical solution onabet sdhospitalizações e mortes.
Com a endemia, todo esse amplo programatopical solution onabet sdtestagem, isolamento e rastreamentotopical solution onabet sdcontatos deixatopical solution onabet sdfazer sentido.
"Passa-se então para um modelotopical solution onabet sdvigilância sentinela,topical solution onabet sdque não é necessário testar todo mundo que apresenta sintomastopical solution onabet sdinfecção respiratória", explica Croda.
"Um sistema que concentre os testes nos hospitais ou nos ambulatóriostopical solution onabet sdatenção primária é custo-efetivo e ajuda a identificar padrões no númerotopical solution onabet sdcasos."
"Se a vigilância notar um novo crescimentotopical solution onabet sddeterminada região, é possível intervir cedo, antecipando campanhastopical solution onabet sdvacinação ou disponibilizando mais testes para aquele local", completa o especialista.
Ainda nesse contexto endêmico, a ciência ainda não sabe ao certo como será o futuro da vacinação contra a covid. Será que todos deverão tomar uma quarta dose? Ou haverá a necessidadetopical solution onabet sdreforços anuais, a exemplo do que ocorre com a gripe?
"É possível que precisemostopical solution onabet sdvacinas adaptadastopical solution onabet sdacordo com o surgimentotopical solution onabet sdnovas variantes, para proteger principalmente os grupos mais vulneráveis, como idosos, pacientes imunossuprimidos e crianças", antevê Croda.
É cedo para decretar uma endemia?
As decisões tomadas por alguns países europeus geraram algumas controvérsias no meio acadêmico.
Num artigo publicado na revista especializada Nature, o pesquisador Aris Katzourakis, da Universidadetopical solution onabet sdOxford, no Reino Unido, criticou o que ele considera um "otimismo preguiçoso".
"Como virologista evolutivo, fico frustrado quando gestores públicos invocam a palavra 'endemia' como uma desculpa para fazer pouco, ou não fazer nada. Existem mais coisas que podem ser feitas do que aprender a conviver com rotavírus, hepatite C ou sarampo endêmicos", escreveu.
Katzourakis também diz que é um erro pensar que a evolução dos vírus sempre os tornam mais "bonzinhos".
"Lembre-se que as variantes alfa e delta são mais virulentas que a versão original detectadatopical solution onabet sdWuhan, na China. E a segunda onda da pandemiatopical solution onabet sdgripe espanholatopical solution onabet sd1918 foi muito mais mortal que a primeira", argumenta.
"Pensar que a endemia é leve e inevitável não é apenas errado, mas perigoso: deixa a humanidade à mercêtopical solution onabet sdmuitos anos da doença, incluindo ondas imprevisíveis e novos surtos. É mais produtivo considerar o quão ruim as coisas podem ficar se continuarmos a dar ao vírus oportunidadestopical solution onabet sdnos enganar. E daí então podemos fazer mais para garantir que isso não aconteça", finaliza.
Para Croda, só o tempo dirá se a decisão dos países europeus foi certa ou errada. "Isso depende muitotopical solution onabet sdfatores que não controlamos. Nesse meio tempo, pode surgir uma nova variante extremamente contagiosa, com escape imunológico e maior riscotopical solution onabet sdhospitalização e óbito", especula.
"É justamente para evitar que isso aconteça que precisamos ofertar vacinas para todos, especialmente para aqueles que ainda não tomaram nenhuma dose. Essa deveria ser a prioridade número um do mundo inteiro", acrescenta.
Maciel concorda. "Quando a transmissão está muito alta, tudo pode acontecer, inclusive o surgimentotopical solution onabet sdnovas variantes.", alerta.
"E o Brasil, alémtopical solution onabet sdseguir com a vacinação, precisa ampliar o acesso aos tratamentos contra a covid, como os anticorpos monoclonais e os antivirais, que já são usadostopical solution onabet sdoutros países", complementa.
Onde o Brasil se encaixa nesse debate?
Por ora, ainda é muito cedo para falartopical solution onabet sdendemia no nosso país, explicam os especialistas. Estamos na crista da onda da ômicron, com recordes no númerotopical solution onabet sdcasos e um aumento expressivo nas hospitalizações e nas mortes por covid durante os últimos dias.
O Institutotopical solution onabet sdMétricastopical solution onabet sdSaúde da Universidadetopical solution onabet sdWashington, nos EUA, projeta que o Brasil deve atingir o picotopical solution onabet sdóbitos relacionados a essa nova variante no meiotopical solution onabet sdfevereiro. A partir daí, os números devem cair novamente e se estabilizar durante o mêstopical solution onabet sdmarço.
Portanto, estamos alguns passos atrás do que é observadotopical solution onabet sdoutras partes do mundo, onde os números já estão se estabilizando.
Para garantir uma situação mais tranquila por aqui, também é preciso ampliar a cobertura vacinal com a terceira dose. No momento, 23% dos brasileiros tomaram o reforço, número muito aquém do ideal. Vários estudos já mostraram que essa aplicação do imunizante é essencial para proteger contra a ômicron e seus efeitos mais graves no organismo.
Croda entende que, com o passar do tempo, vários países devem seguir os passos dos europeus e começarão a encarar a covid sob uma nova ótica.
"E a América do Sul pode até ter uma vantagem nisso, já que é o continente com a maior cobertura vacinal contra a covid do mundo", compara.
"Assim que a onda da ômicron passar, podemos ficar numa condição muito melhor para diminuir as restrições", diz.
Para entender como os gestores públicos enxergam essa discussão e se já há algum planejamento para que o país entre nessa fasetopical solution onabet sdtransição, a BBC News Brasil entroutopical solution onabet sdcontato com o Conselho Nacionaltopical solution onabet sdSecretários da Saúde (Conass) e com o Ministério da Saúde.
Por meiotopical solution onabet sduma notatopical solution onabet sdesclarecimentos, o Conass declarou que "o avanço da vacinação no Brasil, que hoje já alcança maistopical solution onabet sd75% do público-alvo vacinado com as duas doses, é o primeiro passo para que o país caminhe para superar a pandemia da covid-19, porém, a introdução da variante ômicron mostrou a complexidade do enfrentamento do vírus etopical solution onabet sdalta capacidadetopical solution onabet sdmutações."
"A rápida transmissão desta variante criou uma nova pressão na rede assistencial e o aumentotopical solution onabet sdóbitos. Não é possível considerartopical solution onabet sdcaráter endêmico uma doença que traz esse peso na assistência e que tenha essa alta morbimortalidade. Superar a pandemia não quer dizer que não teremos mais casos e óbitos pela covid-19, mas não temos parâmetros ainda para saber o quantotopical solution onabet sdcasos e óbitos serão considerados esperados e, dessa forma, tratados como endêmicos", continua o texto.
"As atenções e os esforços atuais devem estar voltados para garantir a ampliação e manutenção dos leitos clínicos e UTI covid, além da intensificação das campanhastopical solution onabet sdincentivo para que todos os brasileiros completem o esquema vacinal, incluindo a dosetopical solution onabet sdreforço. Ainda não é o momento para baixar a guarda e decretar o controle da pandemia no Brasil", conclui o Conass.
O Ministério da Saúde não enviou resposta até a publicação desta reportagem.
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