A trágica história dos linchamentos nos EUA, que podem finalmente virar crime:betano 100 bonus
No ano passado, o Senado já havia aprovado por unanimidade uma proposta semelhante,betano 100 bonusautoria dos únicos três senadores negros entre os cem integrantes da Casa, os democratas Cory Booker (Nova Jersey) e Kamala Harris (Califórnia) e o republicano Tim Scott (Carolina do Sul).
A passagem do projeto na Câmara abre caminho para que a lei seja enviada ao presidente Donald Trump. A expectativa ébetano 100 bonusque seja sancionada aindabetano 100 bonusfevereiro, que nos Estados Unidos marca o Mês da História Negra.
Maisbetano 100 bonus4 mil linchamentos
De acordo com a Associação Nacional para o Progressobetano 100 bonusPessoasbetano 100 bonusCor (NAACP, na siglabetano 100 bonusinglês), uma das principais organizaçõesbetano 100 bonusdireitos civis dos Estados Unidos, foram registrados 4.743 linchamentos no país no período entre 1882 e 1968. Desses, 3.446 tiveram como vítimas pessoas negras.
Segundo a associação, entre as vítimas brancas, muitas foram linchadas por ajudar negros. A maioria dos linchamentos ocorreu no Sul do país, que até a décadabetano 100 bonus1960 vivia sob rígidas leisbetano 100 bonussegregação racial. Calcula-se que 99% dos autores ficaram impunes.
Antesbetano 100 bonusseu longo discurso diante da Câmara dos Representantes, White havia passado dois anos pesquisando linchamentos ao redor do país. Em 1898, o deputado havia testemunhado um massacre na cidadebetano 100 bonusWilmington,betano 100 bonusseu Estado, Carolina do Norte, onde uma multidãobetano 100 bonussupremacistas brancos matou pelo menos 60 moradores negros e expulsou centenasbetano 100 bonusoutros. Ninguém foi punido pelas mortes.
Depois do fracasso da propostabetano 100 bonusWhite, episódiosbetano 100 bonusviolência racial continuaram a ocorrer no país, com maisbetano 100 bonuscem linchamentos registrados a cada ano. Vítimas eram mortas a tiros, incendiadas, mutiladas e torturadas, geralmente diantebetano 100 bonuscentenasbetano 100 bonuspessoas. Muitas vezes, os planosbetano 100 bonuslinchamento chegavam a ser anunciadosbetano 100 bonusjornais locais.
Alguns episódios tinham uma única vítima, e podiam ser desencadeados por motivos banais. Outros envolviam dezenas ou até centenasbetano 100 bonusmortos. Era comum que os crimes ocorressem diante da polícia, sem intervenção. Segundo historiadores, muitas autoridades locais na época, especialmente no Sul, eram integrantes do grupo supremacista branco Ku Klux Klan.
Manobras do Senado
Em 1917, uma multidãobetano 100 bonusmoradores brancos matou pelo menos 39 homens, mulheres e crianças negrosbetano 100 bonusEast St. Louis,betano 100 bonusIllinois,betano 100 bonusum massacre que durou três dias. Nove brancos morreram no confronto, que ocorreu durante uma greve trabalhista ebetano 100 bonusmeio à tensão racial na cidade, que havia vistobetano 100 bonuspopulação negra triplicarbetano 100 bonusapenas uma década, o que levou à maior competição por empregos.
Testemunhas relatam terem visto casas incendiadas, pessoas arrancadas à forçabetano 100 bonusbondes, outras mortas a tiros ao tentar fugir cruzando o rio a nado e vítimas penduradasbetano 100 bonuspostesbetano 100 bonusluz. Alguns acreditam que o númerobetano 100 bonusnegros mortos pode ter passadobetano 100 bonus100. Muitos moradores negros fugiram da cidade depois do massacre.
O episódiobetano 100 bonusEast St. Louis, localizada na divisa com o Estado Missouri, levou o deputado federal republicano Leonidas Dyer, que representava um distrito vizinho, a apresentar um projetobetano 100 bonusleibetano 100 bonus1918 que punia com multa e prisão autoridades que se recusassem a proteger pessoasbetano 100 bonuslinchamentos e a processar os culpados, e oferecia ajuda financeira a famílias afetadas. Os autores do crime seriam julgadosbetano 100 bonustribunais federais.
Os esforços para aprovar a legislação tinham grande participação da NAACP, que naquele ano já havia publicado um levantamento sobre linchamentos no país. Uma proposta baseada na iniciativabetano 100 bonusDyer acabou sendo aprovada pela Câmarabetano 100 bonus1922, mas não foi adiante no Senado.
Entre 1920 e 1940, a Câmara chegou a aprovar outros dois projetos semelhantes, mas as propostas não avançaram no Senado. Para evitar que os crimes fossem investigados e julgados pelo governo federal, políticos do Sul, que vivia sob segregação racial, alegavam que uma lei nesse sentido violaria os direitos dos Estados.
O argumento dos opositores dessas medidas era obetano 100 bonusque os Estados eram capazesbetano 100 bonusresolver o problema por conta própria. Em alguns casos, autoridades chegavam a aprovar leis locais, alegando que, por isso, não havia necessidadebetano 100 bonuslegislação federal. Essas leis, porém, eram ignoradas.
As sucessivas manobrasbetano 100 bonusobstrução no Senado ao longobetano 100 bonusdécadas chegaram a motivar,betano 100 bonus2005, um pedido formalbetano 100 bonusdesculpas da Casa por seus repetidos fracassosbetano 100 bonusaprovar uma lei federal que tornasse linchamento crime.
Na época, a senadora democrata Mary Landrieu,betano 100 bonusLouisiana, disse que "talvez não haja nenhuma outra injustiça na história americana pela qual o Senado tenha tanta responsabilidade".
Emmett Till
A lei aprovada pela Câmara nesta quarta-feira recebeu o nomebetano 100 bonusEmmett Till, adolescente negrobetano 100 bonus14 anos cujo linchamentobetano 100 bonus1955, no Mississippi, chocou o país e impulsionou o movimento por direitos civis nos Estados Unidos.
Bobby Rush representa o distritobetano 100 bonusChicago onde a famíliabetano 100 bonusTill morava e faloubetano 100 bonusentrevistas sobre o impacto que as imagens do corpo desfigurado do jovembetano 100 bonusum caixão aberto, publicadas pela revista Jet Magazine, tiveram sobre ele, que tinha oito anosbetano 100 bonusidade na época.
A mãebetano 100 bonusTill, Mamie Till Mobley, havia exigido que o filho fosse veladobetano 100 bonuscaixão aberto, para que o mundo visse seu corpo mutilado, resultado da violência racial que assolava o país. Os dois homens brancos acusados do crime foram absolvidos.
Till foi morto quando visitava familiares na zona rural do Mississippi, depois que a mulher do proprietáriobetano 100 bonusum mercado local o acusoubetano 100 bonuster assobiado, falado obscenidades e a agarrado pela cintura. Quatro dias após o incidente, seu marido, Roy Bryant, e seu meio-irmão, J.W. Milam, sequestraram, espancaram e torturaram o jovem, antesbetano 100 bonusmatá-lo com um tiro na cabeça e jogar seu corpobetano 100 bonusum rio.
Depoisbetano 100 bonusserem absolvidos por um júri composto apenasbetano 100 bonushomens brancos, os acusados confessaram o crimebetano 100 bonusentrevista a uma revista, mas morreram sem ser punidos. Anos depois, Carolyn Donham, a mulher que havia acusado Till, voltou atrásbetano 100 bonusuma entrevista e disse que o adolescente não tinha feito avanços verbais ou físicos contra ela.
Mais do que gesto simbólico
Décadas depois do auge do terror racial nos Estados Unidos, linchamentos ficaram no passado, mas analistas afirmam que a aprovação da lei não deve ser encarada apenas como um gesto simbólico.
"É o reconhecimento do tipobetano 100 bonusterror racial a que negros, e também outras pessoasbetano 100 bonuscor e pessoas pobres, foram sujeitados por tantas décadas", diz à BBC News Brasil a historiadora Brenda Stevenson, especialistabetano 100 bonusconflitos raciais e professora da Universidade da Califórniabetano 100 bonusLos Angeles.
Stevenson observa que o conhecimento sobre esse capítulo da história americana pode ajudar as pessoas a entender melhor o legado do racismo no país e compreender temas atuais como injustiça racial, problemas no sistemabetano 100 bonusjustiça criminal e a lutabetano 100 bonuscomunidades marginalizadas.
"Faz com que mais pessoas entendam a história do país e, portanto, entendam melhor o que está acontecendo na sociedade atualmente."
Mesmo que linchamentos não sejam mais comuns, os Estados Unidos ainda registram crimesbetano 100 bonusmotivação racial, como o massacrebetano 100 bonusnove fiéis negrosbetano 100 bonusuma igrejabetano 100 bonusCharleston, na Carolina do Sul,betano 100 bonus2015.
"De Charlottesville a El Paso, ainda estamos sendo confrontados com o mesmo racismo violento e ódio que tiraram a vidabetano 100 bonusEmmett ebetano 100 bonustantos outros", disse Rush, o autor da proposta, referindo-se a uma manifestaçãobetano 100 bonussupremacistas brancos realizadabetano 100 bonus2017 e um massacre a tiros ocorrido no ano passado,betano 100 bonusque latinos eram a maioria das vítimas.
Stevenson afirma que o fatobetano 100 bonustanta gente dizer que a lei é apenas simbólica pode ter sido um dos motivos pelos quais pode finalmente ser aprovada agora. "Porque as pessoas que se opõem à igualdade racial sentem que isso é algo que podem apoiar, porque não vai fazer diferença", ressalta.
"Mas eu acho que vai fazer diferença. Porque quanto mais conhecimento tivermos da históriabetano 100 bonusopressão racial neste país, mais seremos capazesbetano 100 bonusincorporar esse conhecimentobetano 100 bonusnossos projetos para o futuro, para eliminar o problema."
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