Como Portugal elevou375beteducação às melhores do mundo: Pouco dinheiro, muito empenho:375bet
Nem mesmo nos períodos mais duros da última grande crise, com a redução375betinvestimentos e o ajuste fiscal imposto pelo Fundo Monetário Internacional, pelo Banco Central Europeu e pela Comissão Europeia, essa evolução cessou.
É tamanha a consistência375betresultados que Portugal hoje recebe informalmente a alcunha375bet"estrela ascendente da educação internacional" - e fez isso sem apostar375betnenhuma grande estratégia educativa, mas investindo nas pessoas que formam a comunidade escolar, especialmente as mães e as crianças375bet0 a 6 anos.
Apesar dos resultados positivos, a interpretação é375betque ainda há muito a melhorar. A recomendação do professor António Gomes Ferreira, diretor da Faculdade375betPsicologia e Ciências da Educação da Universidade375betCoimbra, é ter prudência na leitura dos dados.
"O Pisa traduz uma boa evolução, mas não uma boa colocação: Portugal está apenas ligeiramente acima da média da OCDE, ocupando um lugar simplesmente mediano", afirma.
Entre os 72 participantes no teste, a pontuação375betPortugal na última avaliação foi oito pontos superiores à média375betciências, cinco pontos375betleitura e dois pontos375betmatemática - esta última diferença não é considerada estatisticamente significativa.
A colocação final dos alunos portugueses foi 17º lugar375betciências, 18º375betleitura e 22º375betmatemática - o que posiciona o país entre os melhores do mundo, mas distante ainda do desempenho dos sistemas educacionais375betreferência globais, como Cingapura, Finlândia, Hong Kong, Canadá e Suíça.
"O que o Pisa e outras avaliações nos mostram é que Portugal está num patamar375betpaís desenvolvido, mas ainda longe375betacompanhar os que estão no topo", diz Gomes Ferreira, que coordena o Grupo375betPolíticas Educativas e Dinâmicas Educacionais do Centro375betEstudos Interdisciplinares do Século 20 (CEIS20).
No entanto, ele concorda que não é por acaso que o país demonstra avanços no estudo - e que isso merece ser reconhecido.
Escolarização das mães e atenção à primeira infância
Nos últimos 50 anos, Portugal tem apresentado uma evolução educacional que vai além da dimensão escolar. Advém375betum esforço amplo375betmudança do status socioeconômico e cultural da população375betgeral, particularmente das comunidades375betmenor renda.
A partir dos anos 1970, Portugal universalizou o ensino, passando a ter todas as crianças375betidade escolar na escola. Isso significa que os pais das crianças que estão hoje na escola são a primeira geração escolarizada - isso leva a outra maneira375beteducar e também a expectativas diferentes375betrelação ao percurso acadêmico dos filhos.
Em um período mais recente, entre 2003 e 2015, o número375betmães que completaram ao menos o ensino secundário, equivalente ao ensino médio brasileiro, subiu 41%.
"O indicador que mais influencia o rendimento escolar é a educação e a escolarização da mãe", diz Ferreira.
"Se temos hoje mães mais educadas e mais encorajadas, é natural que tenhamos crianças mais capazes375betse inserir na escola,375betse envolver e375betevoluir na escola."
Outro aspecto positivo está na primeira infância. A mortalidade infantil até aos 5 anos375betidade375betPortugal caiu 94% desde os anos 1970, segundo a Unicef, passando375bet68 mortes375betcrianças375betcada mil nascimentos para 4375betcada mil375bet2015.
Um relatório375bet2017 indica ainda que só 15 países, entre eles Portugal, adotam as três políticas nacionais básicas375betapoio a pais375betbebês e crianças pequenas no período mais crítico375betseu desenvolvimento, com dois anos375beteducação pré-primária gratuita, pausa para amamentação no trabalho para as novas mães nos primeiros seis meses e licença parental adequada.
"Isso (o desenvolvimento das crianças nos primeiros anos375betvida) pode ser tão ou mais relevante para esses resultados do que um método ou outro aplicado à escola", defende Ferreira.
Ele destaca, entretanto, que esse é um desafio para o qual o Estado e a sociedade ainda precisam se mobilizar, ampliando a oferta375betcreche e educação pré-escolar para todos e atendendo a outras necessidades no âmbito sanitário e materno-infantil.
Segundo o recém-lançado relatório Education at a Glance, da OCDE, apesar dos progressos recentes, Portugal está entre os países mais desiguais, com uma grande proporção375betadultos sem ensino secundário e níveis375betdesigualdade375betrenda acima da média.
Os 10% mais ricos têm um rendimento quase cinco vezes superior aos 10% mais pobres - e a diferença está relacionada à baixa qualificação da população, uma vez que 55% das pessoas entre 18 e 64 anos não concluiu o ensino secundário.
"Os países que apresentam melhores resultados educacionais são aqueles que são mais coesos socialmente", diz Ferreira, acrescentando que geralmente são também sociedades menos violentas, mais eficientes, mais igualitárias, com mais qualidade375betvida e bem-estar.
Neste sentido,375betopinião é375betque a Finlândia, hoje referência375beteducação, foi o primeiro "aluno aplicado", ao garantir um equilíbrio375betsuas políticas sociais e criar um desenvolvimento sustentado.
O Pisa simplesmente apontou para a375betconsistência do ponto375betvista educacional. "Este, como outros países, fez um trabalho sistêmico375betorganização da sociedade onde a educação se insere, gerando resultados que extrapolam o Pisa."
Repetência e envelhecimento dos professores: os desafios
Se há uma receita portuguesa para a evolução na educação, ela passa por trabalhar375betconjunto e375betforma consistente a organização da sociedade. "As pessoas esquecem-se que educação é muito mais do que escola. É preciso olhar para a escola dentro da educação."
A percepção geral é375betque as instituições públicas portuguesas são bem estruturadas, com foco no desempenho dos alunos, espaço para crítica entre colegas e planejamento375betatividades375betacordo com os resultados. As diferenças estão, por exemplo, mais na importância dada às atividades orientadas à recuperação, na atenção às relações pedagógicas, no apoio individualizado oferecido a cada aluno.
Há uma controversa hipótese para os bons resultados dos alunos portugueses devido à ênfase que as escolas dão às provas e testes intermédios, aplicados com alta frequência e regularidade - à margem375betestratégias educativas preferidas por países como a Finlândia, que abrem mão375betexames para diminuir a ansiedade dos alunos com o aprendizado e ainda assim figuraram entre os países com o melhor desempenho escolar do mundo.
Enquanto ainda é difícil estabelecer o exato efeito desses elementos no desempenho dos alunos portugueses, um dos principais fatores375betrisco apontado por constantes estudos da OCDE (2017) é o uso frequente da retenção ou reprovação escolar.
Para Gomes Ferreira, essa política "indesejável e perniciosa" só existe por tradição e foi construída sob um modelo educacional seletivo. "(A reprovação) nunca atendeu à desigualdade375betcondições das crianças que estão na escola e afeta principalmente crianças375betfamílias375betmenos renda", explica.
O desafio das escolas portuguesas passa a ser, portanto, instigar o sucesso por meio da discriminação positiva e dar mais coesão à comunidade estudantil.
Uma das escolas portuguesas com melhores resultados externos, a escola secundária do agrupamento375betCarcavelos, que já ocupou as últimas posições entre as escolas portuguesas na virada do século, tem hoje a taxa375betrepetência mais baixa do país (aproximadamente 3%).
Sem adotar um modelo educacional específico, mas atenta ao funcionamento375betoutras instituições, decidiu acabar com as repetências até o nono ano do ensino básico, contrariando a visão375betque a medida estaria associada ao rigor educacional. A ação vem acompanhada por um programa mais intensivo375betrecuperação e apoio ao aluno.
No que tange os docentes, há muitas variantes e nenhuma dúvida375betque é preciso haver bons professores para haver boas escolas, mas o desafio que preocupa atualmente Portugal é o envelhecimento desta população.
De acordo com a OCDE, apenas 1% dos professores375betensino básico e secundário têm menos375bet30 anos e 38% têm 50 anos ou mais - um aumento375bet16% entre 2005 e 2016.
Isso gera mais um desafio à ação escolar: a desmobilização e a resistência à inovação. Uma das queixas são as mudanças repentinas feitas pelo Ministério da Educação, causando, a médio e longo prazo, um desgaste e desconforto375betparte dos professores375betrelação à implementação375betmudanças.
Existe também um risco375betescassez375betprofessores, devido ao pouco interesse dos jovens pela profissão. Segundo as últimas conclusões do Education at a Glance, o salário está compatível com o mercado375bettrabalho e, no topo375betcarreira, até acima da média dos outros países. O que torna a formação inicial menos atraente aos jovens é a falta375betvagas375bettrabalho. Sabendo que a tendência é o desemprego, os jovens não escolhem a carreira.
Por outro lado, os professores375betPortugal são melhor formados e selecionados hoje do que há 15 anos - entre os docentes do 3º ciclo e secundário, anos compreendidos pelo Pisa, a formação pedagógica específica aumentou 48% entre 2003 e 2015.
Ferreira ressalta que as relações entre a ação escolar e o desenvolvimento educacional são muito inconclusivas, deixando margem para análises mais sutis.
Além disso, quando se trata375betpolíticas educativas, "as coisas estão sempre a mudar", por meio375betalterações375betlei, no currículo ou375betmétodo. É o caso, por exemplo, da autonomia e flexibilidade curricular, medida implantada sobre 25% do tempo letivo, que acaba375betentrar vigor375bettodas as escolas do país.
A principal questão, na opinião do professor, é saber se as mudanças são sólidas, consistentes e permitem que as gerações futuras tenham melhores perspectivas, construindo uma sociedade mais livre, igualitária e capaz375betbeneficiar aqueles que não têm condições.
É por isso que a leitura do Pisa interessa mais375bettermos375betfuturo do que375betpresente. "Olhar para os resultados do Pisa apenas375betfunção de: 'hoje somos melhores do que éramos no passado' é pouco", conclui.