Brasil não precisa ficar rico para dar salto7 games 7qualidade na educação, diz diretor da OCDE:7 games 7

menino estudando

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Legenda da foto, Foco deveria ser no ensino básico, não no superior, para que faculdades recebam 'os melhores, não os mais ricos'.

Segundo ele, qualidade da educação num país não tem a ver com o nível7 games 7riqueza, mas sim com o investimento inteligente dos recursos7 games 7que dispõe.

"As pessoas dizem: 'O Brasil é um país pobre e precisa ficar rico antes7 games 7alcançar uma boa educação.' E isso não é verdade. Você pode ver países como o Vietnã, onde os mais pobres vão tão bem quanto os ricos no Brasil."

Diretor7 games 7educação da OCDE

Crédito, Divulgação/OCDE

Legenda da foto, 'Alguns retrocessos7 games 7qualidade educacional no Brasil não têm nada a ver com pobreza, são problemas sistêmicos que o Brasil precisa resolver', disse Andreas Schleicher

O diretor da OCDE critica o que chama7 games 7"investimentos desproporcionais" do governo brasileiro no ensino superior,7 games 7comparação com os gastos com ensino fundamental. Uma estratégia que, segundo ele, "cimenta desigualdades".

Mas vê como um grande feito do Brasil o fato7 games 7ter conseguido incluir a população na escola, na década7 games 790 e nos anos 2000, sem piorar resultados durante o processo.

Schleicher defende ainda que,7 games 7um país desigual7 games 7oportunidades como o Brasil, é importante direcionar investimentos públicos para quem mais precisa.

"É preciso alocar recursos onde eles realmente farão a diferença, ou seja, nas escolas e7 games 7pessoas7 games 7situação7 games 7desvantagem econômica e social. Se você vem7 games 7uma família rica, escolaridade pode não fazer toda a diferença na7 games 7vida. Mas se você vem7 games 7uma família pobre, a escola pode ser7 games 7única chance na vida. Se você perder esse barco, não haverá outra oportunidade."

Leia os principais trechos da entrevista, que faz parte7 games 7uma série7 games 7reportagens da BBC News Brasil sobre as lições que o mundo oferece à educação no país:

7 games 7 BBC News Brasil - Quais os pontos mais vulneráveis do sistema educacional brasileiro?

7 games 7 Andreas Schleicher - Eu não tenho uma postura crítica ao Brasil. O Brasil conseguiu expandir o seu sistema7 games 7ensino e, pelo menos, manter o nível dos resultados7 games 7aprendizado. Isso é raro. Muitos países que expandiram o acesso perderam qualidade. Mas claro que é um passo inicial e há muitos desafios pela frente.

O Brasil, por exemplo, investe7 games 7forma bem desproporcional7 games 7alunos universitários, ou seja, aqueles que sobreviveram ao sistema educacional ganham muitos fundos públicos. E, nos primeiros anos7 games 7escola, o investimento é bem modesto. Eu não acho que dinheiro seja tudo, mas é um ponto7 games 7partida.

Os países que vão bem focam7 games 7fatores que influenciam na qualidade dos professores, e esses profissionais cumprem um papel mais relevante no sistema educacional, para além da transferência7 games 7conhecimento aos alunos. Os professores no Brasil não têm uma verdadeira carreira e também não há uma variedade7 games 7oportunidades para os alunos. Tudo é muito centrado7 games 7universidade. Você não tem muita alternativa.

mecânicos

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Legenda da foto, Para Schleicher, universidade não deve ser vista como 'único caminho para o sucesso' e o Brasil deveria ampliar oportunidades7 games 7capacitação7 games 7áreas técnicas

7 games 7 BBC News Brasil - No contexto brasileiro,7 games 7que é preciso educar e empregar os jovens? Seria recomendável investir mais7 games 7educação técnica?

7 games 7 Schleicher - É importante garantir variedade7 games 7formas7 games 7aprendizado, possibilitar o aprendizado7 games 7maneira mais prática e menos teórica. No momento, todo o foco está nas universidades, como se esse fosse o único caminho para o sucesso. E todos se digladiam para chegar lá. Se não conseguem7 games 7universidades públicas, vão para instituição privadas - algumas com qualidade questionável.

Muitos países ofereceram uma gama mais variada7 games 7opções7 games 7formação com alta qualidade. Imagino que muitas pessoas no Brasil não considerariam uma educação profissionalizante como primeira opção, porque ela não tem o mesmo nível7 games 7prestígio.

É diferente da Suíça e da Alemanha, onde esse tipo7 games 7qualificação tem o mesmo prestígio que a universitária, o que faz com que essas opções se tornem atrativas para os jovens. Em geral, as pessoas aprendem7 games 7maneiras diferentes e o sistema7 games 7ensino tem7 games 7ser capaz7 games 7criar essa diversidade. Professores7 games 7sala têm7 games 7abraçar técnicas pedagógicas variadas, mas também oferecer caminhos diferentes para os alunos.

7 games 7 BBC News Brasil - Então, a universidade não deve ser encarada como o melhor caminho para o desenvolvimento, e não deve ser prioridade7 games 7termos7 games 7investimentos públicos?

7 games 7 Schleicher - Com certeza, não. Não é bom para as pessoas e não é bom para o Brasil. Os conhecimentos e qualificações7 games 7que a sociedade brasileira precisa são muito diversos e o sistema deve responder7 games 7forma criativa. O foco não deve ser só nas universidades.

Por um lado, você pode dizer que é bom que o dinheiro público esteja indo para as universidades, mas ele acaba sendo direcionado somente àquelas pessoas que foram bem sucedidas da escola. E, normalmente, os jovens7 games 7famílias mais ricas, que têm mais apoio e foram para boas escolas, se beneficiam com a maior parcela do dinheiro público. Isso praticamente cimenta as desigualdades que vemos no Brasil.

7 games 7 BBC News Brasil - E7 games 7que o Brasil deveria focar, no próximo governo?

7 games 7 Schleicher - Seria melhor garantir que todas as pessoas, nos primeiros anos7 games 7vida, recebam mais apoio e acesso aos melhores professores, além7 games 7desenvolver a capacidade7 games 7atrair os professores mais talentosos para as escolas7 games 7maior vulnerabilidade, dando a melhor educação às crianças7 games 7maior desvantagem socioeconômica.

Queremos que os melhores alunos consigam vagas nas universidades, não os mais ricos. Investir nos primeiros anos7 games 7escolaridade, criar fundamentos sólidos já no início da infância é o melhor investimento. Isso inclui garantir fundamentos psicológicos e emocionais sólidos aos jovens estudantes.

criança aprendendo

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Legenda da foto, Para diretor da OCDE, Brasil deveria focar7 games 7investir no ensino fundamental,7 games 7vez7 games 7gastar três vezes mais com alunos universitários

7 games 7 BBC News Brasil - Então, universidade não deve ser vista como algo que precisa ser universalizado?

7 games 7 Schleicher - A tendência é que algum tipo7 games 7formação continuada, após o ensino médio, seja universalizado. No século 21, especialização ou formação técnica é o que o ensino médio era no século 20. As pessoas precisam7 games 7algum aprendizado para além da escola. Mas isso não significa ir para a universidade. E não significa uma formação que venha logo após o ensino médio.

Precisamos pensar7 games 7um aprendizado ao longo da vida, que garanta que as pessoas tenham mais controle sobre o que querem aprender, como e onde. No momento, a ideia preponderante (no Brasil) é que temos que ter um bom diploma7 games 7ensino médio, depois um bom diploma universitário e, então, eu paro7 games 7aprender. Esse não é o modelo do século 21. O Brasil deve oferecer a todos uma oportunidade7 games 7continuar7 games 7formação educacional. Isso deve ser universal, mas isso não significa que a universidade deva ser o único caminho.

7 games 7 BBC News Brasil - Que outros caminhos para o sucesso o senhor sugeriria?

7 games 7 Schleicher - Poderia ser uma formação técnica7 games 7alta qualidade, poderia ser treinamentos7 games 7alto padrão diretamente nos locais trabalho, nas empresas. Há vários caminhos para expandir seus horizontes.

7 games 7 BBC News Brasil - Ter uma boa política7 games 7qualificação e valorização dos professores é chave para bons resultados educacionais, segundo os relatórios da OCDE. Como o Brasil pode melhorar 7 games 7 ?

7 games 7 Schleicher - Tudo começa por selecionar os melhores profissionais. Isso significa tornar a formação para o magistério bem seletiva, e garantir que uma parte considerável do treinamento se dê nas salas7 games 7aula das escolas, não apenas nas universidades. As salas7 games 7aula são os locais onde os professores adquirem boa parte da técnica e da qualificação.

Em resumo, ter um equilíbrio entre formação teórica e prática e ser seletivo na contratação seriam bons pontos7 games 7partida. E, por fim, o que eu acho que é muito importante no contexto brasileiro dar aos professores oportunidades para continuar a aprender e se desenvolver.

O mundo está mudando muito rapidamente e dar aos professores carreiras interessantes, apoio e tempo para investir no aprendizado, para além do tempo gasto7 games 7sala7 games 7aula é essencial. A imagem do professor no Brasil, não raro, é a7 games 7um instrutor.

professor7 games 7sala7 games 7aula

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Legenda da foto, 'Os salários aumentaram um pouco. Mas o Brasil não fez o suficiente para tornar a carreira7 games 7professor intelectualmente atrativo', diz o diretor7 games 7educação da OCDE

7 games 7 BBC News Brasil - A valorização da carreira7 games 7professor passa primeiro por melhores salários?

7 games 7 Schleicher - Por um lado, podemos dizer que o Brasil tornou dar aulas um pouco mais atrativo financeiramente nos últimos anos. Os salários aumentaram um pouco. Mas o Brasil não fez o suficiente para tornar a carreira7 games 7professor intelectualmente atrativa. E você quer que as pessoas mais talentosas e competentes da sociedade se tornem professores. É o que aprendemos da Finlândia. Lá, os salários7 games 7professores não são fantásticos, mas todos querem se tornar professores, porque é considerado uma carreira incrível. Professores estão sendo melhor pagos no Brasil do que antes, mas o tipo7 games 7trabalho que eles exercem é industrial.

Escola pública

Crédito, Tânia Rêgo/Agência Brasil

Legenda da foto, Para diretor da OCDE, política7 games 7valorização dos professores passa por oferecer carreiras estimulantes e aumentar a seletividade, para atrair os melhores profissionais

7 games 7 BBC News Brasil - No Brasil, não existe um currículo nacional. Mais recentemente, foram lançadas diretrizes nacionais para o ensino fundamental e está7 games 7elaboração um projeto semelhante para o ensino médio. Seria recomendável haver um currículo nacional a ser seguido pelas escolas?

7 games 7 Schleicher- Esse é um tema controverso no Brasil, mas a minha visão sobre isso é clara. A grande maioria dos países com bom desempenho tem um currículo nacional. Não se trata7 games 7dizer às pessoas o que ensinar e como ensinar, é sobre ter uma visão compartilhada do que são bons resultados7 games 7aprendizado.

É algo que sobre o que a sociedade precisa refletir: o que é importante para nós7 games 7termos7 games 7aprendizado, que metas educacionais queremos alcançar? Poucos países vão bem sem ter essa visão compartilhada.

7 games 7 BBC News Brasil - Qual país seria um bom exemplo7 games 7uso7 games 7currículo nacional, sem que isso signifique reduzir a autonomia do professor?

7 games 7 Schleicher - Currículo não precisa ser algo imposto7 games 7cima para baixo. O Japão, por exemplo, tem um currículo nacional e um único livro didático usado nas escolas. Quem vê7 games 7fora pode achar que os professores não têm influência no que está sendo ensinado, mas é o contrário. Todo professor do Japão participa da elaboração desse currículo. Eles participam7 games 7debates nas escolas e encaminham material, revisam.

Então, o currículo não é algo que cai do céu7 games 7repente ou que é feito só pelo Ministério da Educação. Acho que o Brasil está tentando fazer isso. Considero que o processo (de elaboração das diretrizes nacionais para ensino fundamental e médio) tem sido bem aberto e inclusivo.

Estudantes japoneses

Crédito, xavierarnau/Getty Images

Legenda da foto, No Japão, existe um currículo nacional e um livro didático único, mas os professores7 games 7diferentes escolas participam na elaboração do material. No Brasil, não existe um currículo nacional, apenas diretrizes para o ensino fundamental

7 games 7 BBC News Brasil - No Brasil, mesmo os alunos das escolas com mais recursos não chegam nem à média das notas dos países analisados pela OCDE. Há uma 'universalização' da baixa qualidade na educação?

7 games 7 Schleicher - Essa é uma observação importante. As escolas privilegiadas não estão entregando os resultados que se esperaria dentro do contexto econômico e social. O que isso mostra é que alguns retrocessos7 games 7qualidade educacional no Brasil não têm nada a ver com pobreza, são problemas sistêmicos que o Brasil precisa resolver. Isso inclui qualidade dos professores e ter currículos inspiradores.

Em algumas áreas ricas do Brasil, os alunos têm boas notas no boletim, mas resultados ruins no Pisa. Há claramente um desencontro entre o que se espera do sistema e o que ele entrega7 games 7resultados. Mas eu vejo um lado positivo nisso. Isso mostra que nem tudo tem a ver com pobreza. Tem muita coisa que pode ser feita no atual contexto econômico para melhorar os resultados7 games 7educação.

7 games 7 BBC News Brasil - Os 10% mais pobres do Vietnã apresentam os mesmos resultados que os 10% ricos do Brasil...

7 games 7 Schleicher - Exatamente, as pessoas dizem: 'O Brasil é um país pobre e precisa ficar rico antes7 games 7alcançar uma boa educação.' E isso não é verdade. Você pode ver países como o Vietnã, onde os mais pobres vão tão bem (nos testes) quanto os ricos no Brasil. Isso mostra que é mais uma questão7 games 7política pública:7 games 7como investir os recursos; atrair os professores mais talentosos para as escolas mais pobres; priorizar a qualidade do ensino na sala7 games 7aula; elevar aspirações e expectativas tanto para alunos quanto para professores; e garantir caminhos diversos.

O Brasil não precisa esperar ter mais recursos. Aliás, se o Brasil não investir7 games 7educação, não se tornará um país rico. A Coreia do Sul era muito mais pobre que o Brasil nos anos 60 e usou todos os últimos recursos que tinha7 games 7educação. E foi isso que fez com que se tornasse um país rico.

Andreas Schleicher

Crédito, Divulgação/OCDE

Legenda da foto, O diretor7 games 7educação da OCDE destaca que número baixo7 games 7professores com especialização no Brasil também afeta resultados no Pisa. 'A primeira coisa que você como aluno percebe é se o seu professor realmente domina a matéria que ele está ensinando', destaca

7 games 7 BBC News Brasil - Uma minoria dos professores brasileiros tem especialização nas áreas que eles ensinam. Segundo a OCDE, só 29% dos que lecionam matérias7 games 7ciência têm especialização ou mestrado. Isso afeta diretamente os resultados?

7 games 7 Schleicher- Com certeza. A primeira coisa que você como aluno percebe é se o seu professor realmente domina a matéria que ele está ensinando, então, claramente é uma vantagem ter um profissional com especialização na área que ele ensina. Mas há países com as mesmas limitações que o Brasil nesse quesito que melhoraram a qualidade da educação dando oportunidades7 games 7aprendizado continuado aos professores e apoio profissional. Então, eles podem desenvolver essa qualificação.

7 games 7 BBC News Brasil - Quais seriam as recomendações da OCDE na área7 games 7investimento7 games 7educação para o futuro novo governo brasileiro?

7 games 7 Schleicher - Acho importante continuar o empenho7 games 7desenvolver um currículo nacional e, principalmente, investir nos professores. A qualidade da educação nunca será melhor que a qualidade dos professores. E se o Brasil não tiver, no momento, muito dinheiro para investir7 games 7educação, é preciso refletir mais sobre como investir da maneira mais produtiva. E isso significa, por exemplo, priorizar a qualidade do professor7 games 7detrimento7 games 7reduzir o número7 games 7alunos por profissional. Então, se você tem uma escolha entre contratar mais professores para uma turma ou um bom professor, melhor investir no bom professor. Significa priorizar investimento nos primeiros anos7 games 7ensino,7 games 7vez7 games 7focar nos últimos (universidade).

E, por fim, alocar recursos onde eles realmente farão a diferença, ou seja, nas escolas e pessoas7 games 7situação7 games 7desvantagem econômica e social. Se você vem7 games 7uma família rica, escolaridade pode não fazer toda a diferença na7 games 7vida. Mas se você vem7 games 7uma família pobre, a escola pode ser7 games 7única chance na vida. Se você perder esse barco, não haverá outra oportunidade.

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