O que é a Síndrome da Resignação, a misteriosa doença que só ocorre na Suécia:apostas da copa
"Mas seu pulso está um pouco acelerado hoje. Talvez ela esteja reagindo à visitaapostas da copamuitas pessoas hoje".
Hultcrantz testa os reflexosapostas da copaSophie. Tudo parece normal. Mas a criança não se mexe.
A médica se preocupa, pois Sophie sequer abre a boca. Isso pode ser perigoso, pois a menina pode se engasgar se houver qualquer problema com a sonda gástrica.
Mas como uma criança que gostava tantoapostas da copadançar ficou tão inerte?
"Quando explica aos pais o que aconteceu, digo que o mundo foi tão terrível que Sophie trancou-se dentroapostas da copasi própria, desconectando as partes conscientesapostas da copaseu cérebro", diz a médica.
Sophie não é um caso único: por quase vinte anos, a Suécia tem enfrentado uma misteriosa doença, batizadaapostas da copaSíndrome da Resignação. Ela afeta apenas crianças solicitantesapostas da copaasilo ou refugiadas, e todas simplesmente "desligam"- paramapostas da copaandar, falar ou mesmo abrir os olhos. A boa notícia é que, eventualmente, se recuperam.
Mistério
Mas porque esses casos ocorrem apenas na Suécia?
Os profissionaisapostas da copasaúde tratando dessas crianças argumentam que o trauma é a causa deste afastamento das crianças. As mais vulneráveis são justamente as que passaram por episódiosapostas da copaviolência extrema ou cujas famílias fugiramapostas da copaambientes perigosos.
Os paisapostas da copaSophie sofreram extorsãoapostas da copauma máfia localapostas da copaseu paísapostas da copaorigem. Em setembroapostas da copa2015, o carroapostas da copaque a família viajava foi parado por homensapostas da copauniformes policiais.
"Fomos retirados do carro à força. Sophie viuapostas da copamãe e seu pai serem espancados", conta o pai da menina.
Depoisapostas da copalibertar a mãe, que fugiu do local com a filha, os homens levaram o pai embora.
"Não me lembroapostas da copamais nada (do que aconteceu depois)", diz ele.
Sophie conta que a menina ficou transtornada com o sequestro do pai. Três dias mais tarde, ele finalmente fez contato com a família.
A família permaneceu escondida nas casasapostas da copaamigos até viajar para a Suécia, três meses depois.
Ao chegar à Escandinávia, foram detidos por horas pela polícia sueca. A partir daí, a saúdeapostas da copaSophie deteriorou rapidamente.
"Após alguns dias, percebi que ela não estava brincando muito comapostas da copairmã", diz a mãeapostas da copaSophie, grávidaapostas da copaoito meses.
Foi na mesma época que a família teve negado o pedidoapostas da copaasilo,apostas da copauma audiência na qual Sophie esteve presente. Naquele momento, ela parouapostas da copafalar e comer.
Histórico
A Síndrome da Resignação foi reportada pela primeira vez na Suécia, nos anos 1990. Mas apenas no biênio 2003-05, maisapostas da copa400 casos foram registrados.
As chamadas "crianças apáticas" se tornaram uma questão políticaapostas da copameio a um debate crescente sobre as consequências da imigração na Suécia, país onde, segundo o Censoapostas da copa2010, quase 15% da população é imigrante.
Houve relatosapostas da copacasosapostas da copacrianças fingindo estar doentes e mesmoapostas da copapais drogando ou envenenando crianças para garantir direitoapostas da coparesidência - nenhuma dessas histórias foi comprovada.
Na última década, o númeroapostas da copacrianças afetadas pela síndrome diminuiu. O equivalente sueco ao Ministério da Saúde divulgou recentemente que houve 169 casos no biênio 2015-16.
A doença parece afetar criançasapostas da copaperfis geográficos e étnicos mais vulneráveis: aquelas da antiga União Soviética, dos Balcãs, crianças ciganas e, mais recentemente, yazidis.
Apenas um pequeno númeroapostas da copaafetados éapostas da copacrianças desacompanhadas, muito poucas são asiáticas e nenhuma africana.
Ao contrárioapostas da copaSophie, as crianças com a síndrome normalmente vivem na Suécia há anos quando ficam doentes, e já viviam vidas adaptadas ao estilo nórdico, falando até a língua local.
Inúmeras condições parecidas com a Síndrome da Resignação já foram observadas antes - entre sobreviventesapostas da copacamposapostas da copaconcentração nazistas, por exemplo.
"Pelo que sabemos, nenhum caso foi identificado fora da Suécia", diz Karl Sallin, pediatra do Hospital Universitário Karolinska,apostas da copaEstocolmo.
Mas como uma doença pode respeitar fronteiras nacionais?
Sallin, que estuda a Síndrome da Resignação emapostas da copateseapostas da copadoutorado, diz não haver resposta definitiva para a pergunta.
"A explicação mais plausível é que existem alguns tiposapostas da copafatores socioculturais necessários para que a condição se desenvolva", explica.
Sendo assim, ainda que não conheçamos o mecanismo e nem a razão disso acontecer na Suécia, o tipoapostas da copasintoma exibido pelas criança é explicado culturalmente: seria uma forma das crianças expressarem seu trauma.
Contágio?
Caso isso seja verdade, uma questão importante é levantada: poderia a Síndrome da Resignação ser contagiosa?
"Isso é meio implícito. Se você nutrir esses comportamentosapostas da copauma sociedade, terá mais casos", diz o pediatra.
"O primeiro caso da doença foi registradoapostas da copa1998, no norte da Suécia e, assim que se tornou público, houve outras ocorrências na mesma área. Tivemos ainda casosapostas da copairmãos desenvolvendo a condição", completa ele.
Mas Sallin ressalta que os estudos sobre a síndrome até agora não detectaram a necessidadeapostas da copacontato direto entre os casos.
Por sinal, há uma carênciaapostas da copapesquisas mais específicas sobre o assunto, especialmenteapostas da coparelação às crianças, o que impede a compreensão da doença.
Ao menos se sabe que as crianças podem se recuperar.
No entanto, é difícil para os paisapostas da copaSophie acreditarem nessa possibilidade. Eles não viram qualquer melhora no estado da filhaapostas da copa20 meses. Seus dias são vividosapostas da copafunção do tratamento da menina - sejaapostas da copaexercícios para a manter a musculatura dela funcionando, alimentação, troca da fralda ou passeios.
"Você precisa ter o coração forte nesses casos", diz Lars Dagson, pediatraapostas da copaSophie.
"Eu só posso mantê-la viva. Não posso fazer com que ela melhore. Nós, médicos, não podemos decidir se essas crianças vão ou não ficar na Suécia", acrescenta.
Dagson faz parteapostas da copauma correnteapostas da copamédicos tratandoapostas da copacrianças com Síndrome da Resignação cujo argumento é que elas se recuperam quando se sentem seguras. E que o direito permanente a residência é o que deflagra a convalescência.
"De certa forma, a criança vai precisar sentir que há esperança, algo para que valha a pena viver. Essa é a única maneiraapostas da copaexplicar como,apostas da copatodos os casos que vi até agora, o direitoapostas da copapermanecer no país pode mudar a situação", diz.
Burocracia
Até recentemente, as autoridades suecas permitiram que famílias imigrantes com uma criança doente permanecessem.
Mas a chegadaapostas da copamaisapostas da copa300 mil pessoas nos últimos três anos mudou esse cenário.
No ano passado, uma lei temporária entrouapostas da copavigor para limitar o númeroapostas da copachances para solicitantesapostas da copaasilo obterem residência permanente.
Candidatos recebem vistos com duração 13 meses ou três anos. A famíliaapostas da copaSophie tem o primeiro, e o documento venceapostas da copamarço.
"O que vai acontecer depois? A família está no limbo", diz Dagson, para quem Sophie não deve se recuperarapostas da copa13 meses.
"Tudo vai dependerapostas da copacomo os pais vão se sentir, se vão acreditar que podem permanecer após 13 meses. Se eles não estão certos, não podem dar o Sophie a sensaçãoapostas da copaque está tudo bem".
Masapostas da copaSkara, no sul do país, há evidênciasapostas da copacura mesmo sem que as famílias recebam direito a residência.
Trauma
"Do nosso pontoapostas da copavista, essa doença está ligada ao trauma, não ao asilo", diz Annica Carlshamre, assistente social da Gryning Health, que administra Solsidan, um abrigo para crianças com problemas.
Os especialistasapostas da copaSolsidan acreditam que crianças perdemapostas da copamais significativa conexão com o mundo quando testemunham violência ou ameaça contra os pais.
"A criança percebe que 'minha mãe não pode tomar contaapostas da copamim'. E perde a esperança porque sabem que são totalmente dependentes dos pais. Quando isso acontece, para onde a criança pode ir - ou a quem pode recorrer?", explica Carlshamre.
A conexão familiar precisa ser reconstruída, mas primeiro a criança tem que se recuperar. Em Solsidan, o primeiro passo é separar as crianças dos pais.
"Mantemos a família informada sobre o progresso, mas não deixamos que fale com as crianças, porque elas precisam depender dos nossos funcionários. Ao separarmos as crianças, leva apenas alguns dias até vermos os primeiros sinaisapostas da copamelhora", diz Carlshamre.
As crianças frequentemente ficam sem qualquer contato com os pais até que consigam falar com eles ao telefone.
Conversas sobre o processo migratório são proibidas. No abrigo, recebem roupas diurnas e noturnas e são retiradas das camas todos os dias. Funcionárias como Clara Ogren ajudam-nas a colorir ou desenhar, segurando o lápisapostas da copasuas mãos.
"Brincamos por elas até que possam brincar sozinhas. Dançamos e ouvimos muita música. Queremos despertar seus sentidos. Colocamos um poucoapostas da coparefrigeranteapostas da copasuas bocas para que provem algo doce. As que estão sendo alimentadas por sonda, a gente coloca na cozinha para sentirem cheiroapostas da copacomida", explica Ogren.
"Temos a expectativaapostas da copaque elas queiram viver e sabemos que suas habilidades ainda estão ali, mas as crianças se esqueceram delas ou ou não conseguem mais usá-las. Vivemos pelas crianças até que elas consigam viver por si próprias", acrescenta.
O mais longo tempo que uma criança levou para se recuperarapostas da copaSolsidan foi seis meses.
Das 35 crianças que Carlshamre tratou durante seus anosapostas da copatrabalho, apenas uma delas teve permissão para ficar na Suécia enquanto ainda estavaapostas da copaSolsidan. As outras se recuperaram antes da concessão do asilo.
Esse tipoapostas da copatratamento, ainda não muito conhecido no país, poderia ajudar Sophie? Vinte meses é um tempo muito longo para uma criança estar desconectada do mundo. O que pode ajudar, na opiniãoapostas da copaseus pais?
"Talvez a chegada do novo bebê", diz o pai.
A mãe da menina apenas repete o que ouviu do pediatra.
"Para Sophie acordar, o médico diz que ela e a família precisam se sentir seguras", defende.
No entanto, o maior medo da família é ser deportada e eventualmente encontrada pelos homens que a fizeram fugir.
Para a segurança da família, o nome realapostas da copaSophie foi alterado nessa reportagem.