O que é a Síndrome da Resignação, a misteriosa doença que só ocorre na Suécia:melhor casa de aposta futebol

Fotomelhor casa de aposta futebolSophie

"Mas seu pulso está um pouco acelerado hoje. Talvez ela esteja reagindo à visitamelhor casa de aposta futebolmuitas pessoas hoje".

Hultcrantz testa os reflexosmelhor casa de aposta futebolSophie. Tudo parece normal. Mas a criança não se mexe.

A médica se preocupa, pois Sophie sequer abre a boca. Isso pode ser perigoso, pois a menina pode se engasgar se houver qualquer problema com a sonda gástrica.

Elisabeth Hultcrantz
Legenda da foto, Elisabeth Hultcrantz diz que crianças simplesmente "desligam" partes do cérebro

Mas como uma criança que gostava tantomelhor casa de aposta futeboldançar ficou tão inerte?

"Quando explica aos pais o que aconteceu, digo que o mundo foi tão terrível que Sophie trancou-se dentromelhor casa de aposta futebolsi própria, desconectando as partes conscientesmelhor casa de aposta futebolseu cérebro", diz a médica.

Sophie não é um caso único: por quase vinte anos, a Suécia tem enfrentado uma misteriosa doença, batizadamelhor casa de aposta futebolSíndrome da Resignação. Ela afeta apenas crianças solicitantesmelhor casa de aposta futebolasilo ou refugiadas, e todas simplesmente "desligam"- parammelhor casa de aposta futebolandar, falar ou mesmo abrir os olhos. A boa notícia é que, eventualmente, se recuperam.

Mistério

Mas porque esses casos ocorrem apenas na Suécia?

Os profissionaismelhor casa de aposta futebolsaúde tratando dessas crianças argumentam que o trauma é a causa deste afastamento das crianças. As mais vulneráveis são justamente as que passaram por episódiosmelhor casa de aposta futebolviolência extrema ou cujas famílias fugirammelhor casa de aposta futebolambientes perigosos.

Os paismelhor casa de aposta futebolSophie sofreram extorsãomelhor casa de aposta futeboluma máfia localmelhor casa de aposta futebolseu paísmelhor casa de aposta futebolorigem. Em setembromelhor casa de aposta futebol2015, o carromelhor casa de aposta futebolque a família viajava foi parado por homensmelhor casa de aposta futeboluniformes policiais.

"Fomos retirados do carro à força. Sophie viumelhor casa de aposta futebolmãe e seu pai serem espancados", conta o pai da menina.

Depoismelhor casa de aposta futebollibertar a mãe, que fugiu do local com a filha, os homens levaram o pai embora.

"Não me lembromelhor casa de aposta futebolmais nada (do que aconteceu depois)", diz ele.

Sophie conta que a menina ficou transtornada com o sequestro do pai. Três dias mais tarde, ele finalmente fez contato com a família.

A família permaneceu escondida nas casasmelhor casa de aposta futebolamigos até viajar para a Suécia, três meses depois.

Ao chegar à Escandinávia, foram detidos por horas pela polícia sueca. A partir daí, a saúdemelhor casa de aposta futebolSophie deteriorou rapidamente.

"Após alguns dias, percebi que ela não estava brincando muito commelhor casa de aposta futebolirmã", diz a mãemelhor casa de aposta futebolSophie, grávidamelhor casa de aposta futeboloito meses.

Foi na mesma época que a família teve negado o pedidomelhor casa de aposta futebolasilo,melhor casa de aposta futeboluma audiência na qual Sophie esteve presente. Naquele momento, ela paroumelhor casa de aposta futebolfalar e comer.

Sophie na cama
Legenda da foto, Sophie há 20 meses vivem estado vegetal

Histórico

A Síndrome da Resignação foi reportada pela primeira vez na Suécia, nos anos 1990. Mas apenas no biênio 2003-05, maismelhor casa de aposta futebol400 casos foram registrados.

As chamadas "crianças apáticas" se tornaram uma questão políticamelhor casa de aposta futebolmeio a um debate crescente sobre as consequências da imigração na Suécia, país onde, segundo o Censomelhor casa de aposta futebol2010, quase 15% da população é imigrante.

Houve relatosmelhor casa de aposta futebolcasosmelhor casa de aposta futebolcrianças fingindo estar doentes e mesmomelhor casa de aposta futebolpais drogando ou envenenando crianças para garantir direitomelhor casa de aposta futebolresidência - nenhuma dessas histórias foi comprovada.

Na última década, o númeromelhor casa de aposta futebolcrianças afetadas pela síndrome diminuiu. O equivalente sueco ao Ministério da Saúde divulgou recentemente que houve 169 casos no biênio 2015-16.

A doença parece afetar criançasmelhor casa de aposta futebolperfis geográficos e étnicos mais vulneráveis: aquelas da antiga União Soviética, dos Balcãs, crianças ciganas e, mais recentemente, yazidis.

Apenas um pequeno númeromelhor casa de aposta futebolafetados émelhor casa de aposta futebolcrianças desacompanhadas, muito poucas são asiáticas e nenhuma africana.

Ao contráriomelhor casa de aposta futebolSophie, as crianças com a síndrome normalmente vivem na Suécia há anos quando ficam doentes, e já viviam vidas adaptadas ao estilo nórdico, falando até a língua local.

Inúmeras condições parecidas com a Síndrome da Resignação já foram observadas antes - entre sobreviventesmelhor casa de aposta futebolcamposmelhor casa de aposta futebolconcentração nazistas, por exemplo.

"Pelo que sabemos, nenhum caso foi identificado fora da Suécia", diz Karl Sallin, pediatra do Hospital Universitário Karolinska,melhor casa de aposta futebolEstocolmo.

Paismelhor casa de aposta futebolSophie, commelhor casa de aposta futebolirmã - todosmelhor casa de aposta futebolcostas para a câmera
Legenda da foto, Famíliamelhor casa de aposta futebolSophie diz ter fugido da máfia da antiga União Soviética

Mas como uma doença pode respeitar fronteiras nacionais?

Sallin, que estuda a Síndrome da Resignação emmelhor casa de aposta futeboltesemelhor casa de aposta futeboldoutorado, diz não haver resposta definitiva para a pergunta.

"A explicação mais plausível é que existem alguns tiposmelhor casa de aposta futebolfatores socioculturais necessários para que a condição se desenvolva", explica.

Sendo assim, ainda que não conheçamos o mecanismo e nem a razão disso acontecer na Suécia, o tipomelhor casa de aposta futebolsintoma exibido pelas criança é explicado culturalmente: seria uma forma das crianças expressarem seu trauma.

Contágio?

Caso isso seja verdade, uma questão importante é levantada: poderia a Síndrome da Resignação ser contagiosa?

"Isso é meio implícito. Se você nutrir esses comportamentosmelhor casa de aposta futeboluma sociedade, terá mais casos", diz o pediatra.

"O primeiro caso da doença foi registradomelhor casa de aposta futebol1998, no norte da Suécia e, assim que se tornou público, houve outras ocorrências na mesma área. Tivemos ainda casosmelhor casa de aposta futebolirmãos desenvolvendo a condição", completa ele.

Mas Sallin ressalta que os estudos sobre a síndrome até agora não detectaram a necessidademelhor casa de aposta futebolcontato direto entre os casos.

Por sinal, há uma carênciamelhor casa de aposta futebolpesquisas mais específicas sobre o assunto, especialmentemelhor casa de aposta futebolrelação às crianças, o que impede a compreensão da doença.

Ao menos se sabe que as crianças podem se recuperar.

No entanto, é difícil para os paismelhor casa de aposta futebolSophie acreditarem nessa possibilidade. Eles não viram qualquer melhora no estado da filhamelhor casa de aposta futebol20 meses. Seus dias são vividosmelhor casa de aposta futebolfunção do tratamento da menina - sejamelhor casa de aposta futebolexercícios para a manter a musculatura dela funcionando, alimentação, troca da fralda ou passeios.

"Você precisa ter o coração forte nesses casos", diz Lars Dagson, pediatramelhor casa de aposta futebolSophie.

"Eu só posso mantê-la viva. Não posso fazer com que ela melhore. Nós, médicos, não podemos decidir se essas crianças vão ou não ficar na Suécia", acrescenta.

Annica Carlshamre
Legenda da foto, Annica Carlshamre: doença tem a ver com trauma, não asilo

Dagson faz partemelhor casa de aposta futeboluma correntemelhor casa de aposta futebolmédicos tratandomelhor casa de aposta futebolcrianças com Síndrome da Resignação cujo argumento é que elas se recuperam quando se sentem seguras. E que o direito permanente a residência é o que deflagra a convalescência.

"De certa forma, a criança vai precisar sentir que há esperança, algo para que valha a pena viver. Essa é a única maneiramelhor casa de aposta futebolexplicar como,melhor casa de aposta futeboltodos os casos que vi até agora, o direitomelhor casa de aposta futebolpermanecer no país pode mudar a situação", diz.

Burocracia

Até recentemente, as autoridades suecas permitiram que famílias imigrantes com uma criança doente permanecessem.

Mas a chegadamelhor casa de aposta futebolmaismelhor casa de aposta futebol300 mil pessoas nos últimos três anos mudou esse cenário.

No ano passado, uma lei temporária entroumelhor casa de aposta futebolvigor para limitar o númeromelhor casa de aposta futebolchances para solicitantesmelhor casa de aposta futebolasilo obterem residência permanente.

Candidatos recebem vistos com duração 13 meses ou três anos. A famíliamelhor casa de aposta futebolSophie tem o primeiro, e o documento vencemelhor casa de aposta futebolmarço.

"O que vai acontecer depois? A família está no limbo", diz Dagson, para quem Sophie não deve se recuperarmelhor casa de aposta futebol13 meses.

"Tudo vai dependermelhor casa de aposta futebolcomo os pais vão se sentir, se vão acreditar que podem permanecer após 13 meses. Se eles não estão certos, não podem dar o Sophie a sensaçãomelhor casa de aposta futebolque está tudo bem".

Masmelhor casa de aposta futebolSkara, no sul do país, há evidênciasmelhor casa de aposta futebolcura mesmo sem que as famílias recebam direito a residência.

Trauma

"Do nosso pontomelhor casa de aposta futebolvista, essa doença está ligada ao trauma, não ao asilo", diz Annica Carlshamre, assistente social da Gryning Health, que administra Solsidan, um abrigo para crianças com problemas.

Solsidan
Legenda da foto, Abrigomelhor casa de aposta futebolSolsidan registrou curas

Os especialistasmelhor casa de aposta futebolSolsidan acreditam que crianças perdemmelhor casa de aposta futebolmais significativa conexão com o mundo quando testemunham violência ou ameaça contra os pais.

"A criança percebe que 'minha mãe não pode tomar contamelhor casa de aposta futebolmim'. E perde a esperança porque sabem que são totalmente dependentes dos pais. Quando isso acontece, para onde a criança pode ir - ou a quem pode recorrer?", explica Carlshamre.

A conexão familiar precisa ser reconstruída, mas primeiro a criança tem que se recuperar. Em Solsidan, o primeiro passo é separar as crianças dos pais.

"Mantemos a família informada sobre o progresso, mas não deixamos que fale com as crianças, porque elas precisam depender dos nossos funcionários. Ao separarmos as crianças, leva apenas alguns dias até vermos os primeiros sinaismelhor casa de aposta futebolmelhora", diz Carlshamre.

As crianças frequentemente ficam sem qualquer contato com os pais até que consigam falar com eles ao telefone.

Conversas sobre o processo migratório são proibidas. No abrigo, recebem roupas diurnas e noturnas e são retiradas das camas todos os dias. Funcionárias como Clara Ogren ajudam-nas a colorir ou desenhar, segurando o lápismelhor casa de aposta futebolsuas mãos.

"Brincamos por elas até que possam brincar sozinhas. Dançamos e ouvimos muita música. Queremos despertar seus sentidos. Colocamos um poucomelhor casa de aposta futebolrefrigerantemelhor casa de aposta futebolsuas bocas para que provem algo doce. As que estão sendo alimentadas por sonda, a gente coloca na cozinha para sentirem cheiromelhor casa de aposta futebolcomida", explica Ogren.

"Temos a expectativamelhor casa de aposta futebolque elas queiram viver e sabemos que suas habilidades ainda estão ali, mas as crianças se esqueceram delas ou ou não conseguem mais usá-las. Vivemos pelas crianças até que elas consigam viver por si próprias", acrescenta.

O mais longo tempo que uma criança levou para se recuperarmelhor casa de aposta futebolSolsidan foi seis meses.

Das 35 crianças que Carlshamre tratou durante seus anosmelhor casa de aposta futeboltrabalho, apenas uma delas teve permissão para ficar na Suécia enquanto ainda estavamelhor casa de aposta futebolSolsidan. As outras se recuperaram antes da concessão do asilo.

Esse tipomelhor casa de aposta futeboltratamento, ainda não muito conhecido no país, poderia ajudar Sophie? Vinte meses é um tempo muito longo para uma criança estar desconectada do mundo. O que pode ajudar, na opiniãomelhor casa de aposta futebolseus pais?

"Talvez a chegada do novo bebê", diz o pai.

A mãe da menina apenas repete o que ouviu do pediatra.

"Para Sophie acordar, o médico diz que ela e a família precisam se sentir seguras", defende.

No entanto, o maior medo da família é ser deportada e eventualmente encontrada pelos homens que a fizeram fugir.

Para a segurança da família, o nome realmelhor casa de aposta futebolSophie foi alterado nessa reportagem.