A 'guerra ao carro' que combate trânsito, melhora ar e cria polêmicabet3658Paris há 15 anos:bet3658
Hoje, 60% dos parisienses não possuem carro. No início dos anos 2000, esse número representava a metade dos moradores da cidade.
A mais recente medida foi aprovada no mês passado pela Câmara dos Vereadores, onde a prefeita socialista Anne Hidalgo comprou uma longa queda-de-braço com seus críticos.
Mas no fim, conseguiu a aprovaçãobet3658um projeto para tornar uma áreabet36583,3 quilômetros da margem direita do rio Sena (rive droite), onde circulam diariamente dezenasbet3658milharesbet3658veículos, uma região totalmente para os pedestres, onde carros são proibidos.
O acesso dos veículosbet3658pouco maisbet36582 quilômetros da margem esquerda do Sena (rive gauche), entre o museu d'Orsay e a ponte d'Alma, já havia sido restritobet36582013 pelo antecessorbet3658Anne Hidalgo, o também socialista Betrand Delanoë.
A zona foi transformadabet3658áreabet3658lazer, com atividades esportivas e culturais, alémbet3658bares e restaurantes.
"Não estamos mais no modelo do século 20, quando o carro era utilizado o tempo todo", disse à BBC Brasil o secretário municipalbet3658transportes, Christophe Najdovski.
"É preciso usá-lo menos para melhorar o trânsito e se voltar cada vez mais para a multimodalidade, que combina diferentes meiosbet3658locomoção."
Discussão urbana
A discussão interessa as grandes cidades, como as metrópoles brasileiras. E entre as medidas discutidas tanto no Brasil quanto na Europa estão o incentivo ao usobet3658bicicletas e a redução da velocidadebet3658avenidas expressas, como as marginais paulistas.
Christophe Najdovski diz que, para as cidades que enfrentam graves problemasbet3658trânsito e poluição, a única alternativa é "investirbet3658maneira maciça nos transportes coletivos e nas bicicletas".
"É a única solução para enfrentar os congestionamento. Se as cidades continuarem investindobet3658infraestruturas viárias, isso aumentará ainda mais a circulação (de carros) e não resolverá nada a longo prazo", argumenta.
"Quem constrói pistas para carros terá mais motoristas pela frente. Se você fizer ciclovias, terá ciclistas."
Em ambos os casos, o prefeito eleitobet3658São Paulo, João Doria (PSDB), reiterou posições que vão contra a experiência parisiense.
Doria disse que deve desativar algumas ciclovias e não pretende ampliá-las. Afirmou que não deve manter as que não são amplamente utilizadas pela população e que as que funcionam bem serão bancadas pela iniciativa privada, permitindo publicidade no local.
Enquanto o paulista se mantém vago sobre o que fará com a velocidade nas marginais - cuja redução, política da gestão Fernando Haddad (PT), ele prometeu reverter -, Paris vai ampliar as áreas onde a velocidade dos carros será limitada a 30 km/h.
'Paris Respira'
Na capital francesa, a "guerra ao carro" começou quando Betrand assumiu o comando da cidade,bet36582001. Entre as primeiras medidas dessa política estiveram a eliminaçãobet3658faixas para os carrosbet3658ruas e avenidasbet3658grande movimento.
No lugar, foram criados corredores para ônibus, táxis e bicicletas.
Milharesbet3658vagasbet3658estacionamento nas ruas da capital também foram suprimidas.
Vários áreas, chamadasbet3658"Paris Respira", tiveram a velocidade limitada para 30 km/h e a direçãobet3658ruas foi alteradabet3658tal forma que os locais se tornaram um "labirinto do Minotauro" para circularbet3658carro.
Outro pilar dessa política foi a valorização do uso da bicicleta. Uma medida emblemática foi a criação do Vélib,bet36582007, o sistemabet3658aluguelbet3658bicicletas, copiadobet3658várias cidades no mundo, como São Paulo e Londres.
Já são maisbet3658mil estaçõesbet3658Paris e outras maisbet3658200 nos arredores da capital. O Vélib possui 300 mil assinantes (que pagam a anuidadebet3658€ 29, pouco maisbet3658R$ 100, para utilizar o serviço o ano todo).
Diariamente, cercabet3658160 mil trajetos são realizados,bet3658média, nesse sistema.
As medidas incluem o advento do Autolib, sistema públicobet3658aluguelbet3658carros elétricos, lançado pela prefeiturabet36582011 e disponívelbet3658quase 80 municípios nos arredores da capital. A iniciativa possui maisbet3658100 mil assinantes anuais.
Sob Anne Hidalgo, os ciclistas continuam ganhando espaço na cidade.
Um programabet3658investimentos milionários prevê dobrar a extensão das ciclovias, passando dos atuais 700 quilômetros (eram 180bet36582000) para 1,4 mil quilômetros até 2020, segundo o secretário municipal.
Os recursos preveem ciclovias com maior segurança, separadas do restante do trânsito, alémbet3658novas áreas onde a velocidade dos carros será limitada a 30 Km/h, a criaçãobet3658uma via expressa para ciclistas e 10 mil vagasbet3658estacionamento para bicicletas.
As medidas incluem incentivos econômicos para aquisiçãobet3658transporte alternativo ao carro.
A prefeitura subsidiabet3658até € 400 (quase R$ 1,5 mil) a comprabet3658uma bicicleta elétrica.
O governo francês também concede um bônusbet3658€ 10 mil (R$ 36,7 mil) para quem trocar um carro a diesel por um elétrico e € 1 mil (R$ 3,67 mil) na comprabet3658uma moto elétrica.
Metrô
E um dos maiores focos foi o metrô. Com praticamente uma estação a cada esquina, a rede parisiense possui atualmente uma malhabet3658cercabet3658220 km (terá mais 200 km até 2030).
É praticamente o triplo dos cercabet365875 kmbet3658São Paulo, embora a áreabet3658Paris seja quase 15 vezes menor do que a da capital paulistana.
Algumas linhas do metrô parisiense ganharam vagões mais amplos e com ar-condicionado para melhorar o conforto dos passageiros.
Quatro novas linhasbet3658metrô, que circularão na periferia da capital, serão criadas nos próximos anos.
Elas integram um gigantesco projeto, chamado "Grande Paris", que conta com recursos ministeriais e regionais para a modernização e a extensão da rede ferroviária suburbana e a criaçãobet3658um "supermetrô", batizado "Grand Paris Express".
"É um reequilíbrio dos meiosbet3658transporte", diz Najdovski.
Segundo ele, 600 mil veículos circulam hoje diariamentebet3658Paris, sendo 400 mil carros, 100 mil motos e 100 mil caminhonetes.
Resultados
As medidas significaram que 230 mil carros deixarambet3658circular por dia na capital francesa.
Segundo o Institutobet3658Planejamento ebet3658Urbanismo, a caminhada se tornou o meiobet3658transporte mais utilizado na regiãobet3658Ile-de-France, que engloba Paris e periferias próximas: 39% dos deslocamentos são realizados a pé.
Paris ainda enfrenta problemasbet3658congestionamentos ebet3658picosbet3658poluição, atingidos regularmente.
Mas a situação seria certamente pior sem as medidas da última década e meia, diz Najdovski.
"A qualidade do ar vem melhorando nos últimos anos, mas ainda não é satisfatória", afirma.
Um estudo da Airparif, organismo que monitora a qualidade do arbet3658Paris ebet3658periferia, revela que a diminuição no númerobet3658carros resultoubet3658uma reduçãobet3658cercabet365830% nas emissõesbet3658partículas finas ebet3658gases com nitrogênio entre 2002 e 2012, segundo os últimos dados disponíveis.
Críticas
Mas como Betrand Delanoë, a prefeita Hidalgo também enfrenta críticas da oposição, do setor empresarial ebet3658motoristas porbet3658políticabet3658restringir o usobet3658veículos.
Opositores afirmam que o fechamentobet3658parte das margens do Sena, uma via expressa, acaba criando mais engarrafamentos na capital, já que os motoristas são obrigados a desviar para outras ruas, que ficam ainda mais congestionadas.
Para a associação "40 milhõesbet3658motoristas", a prefeitura está restringindo a liberdadebet3658circulação das pessoas.
"É uma aberração fechar esses acessos que permitem atravessar a cidade mais rapidamente. O trânsito já é congestionado nos horáriosbet3658pico. Os motoristas da periferia precisam do carro para se deslocar e trabalhar", afirma,bet3658um comunicado, o presidente da entidade, Daniel Quero.
A associação diz entender que seja mais fácil para um parisiense não precisarbet3658carro, mas ressalta que não é o caso dos motoristas das periferias.
O Medef, maior sindicato patronal da França, estimou que o fechamentobet3658parte da margem direita do Sena "custará" à economia francesa 1 milhãobet3658horas anuais perdidas no trânsitobet3658Paris.
Najdovski diz que é preciso "uma vontade política muito forte para enfrentar o lobby das montadoras".
"Se existir vontade e investimentos, dá para conseguir. Mas é preciso tempo. São necessários vários anos até que isso produza resultados", diz o secretário parisiense.