Para onde caminha o banco do BRICS?:

Sede do banco dos BRICS (à esq.),Xangai; pretensão é tornar instituição global
Legenda da foto, Sede do banco dos BRICS (à esq.),Xangai; pretensão é tornar instituição global

Entenda melhor abaixo,quatro pontos, como o NDB pretende alcançar essa ousada meta.

Vice-presidente do banco, Paulo Nogueira Batista diz que NDB irá abrir-se a todas as nações da ONU

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Legenda da foto, Vice-presidente do banco, Paulo Nogueira Batista diz que NDB irá abrir-se a todas as nações da ONU

Do BRICS ou global?

Em julho, a direção do NDB foi autorizada a iniciar conversas com países interessadosingressar no banco. Batista estima que os primeiros novos sócios devem entrar apenas no final2017, mas não detalha quais poderiam ser.

"Não é por acaso que o banco não se chama banco do BRICS. O NDB foi concebido para ser um banco global. Já no seu convênio constitutivo está estabelecido que estará aberto a todos os membros das Nações Unidas", explica o vice-presidente.

"O que posso dizer é que a decisão éser um processo gradual, que inclua paísesrenda alta, média e baixa, e que cubra todas as regiões do mundo", acrescentou.

Mas, embora a intenção seja atrair também países ricos, o banco manterá seu foco nas nações menos desenvolvidas, ressalta ele. "Nosso estatuto prevê que os países emergentes edesenvolvimento terão sempre pelo menos 80% do podervoto (no NDB), porque a ideia é criar um banco que tem a visão dos paísesdesenvolvimento".

Alguns analistas no entanto veem com ceticismo a ambição global do banco e criticam o fato da instituição ter começado com apenas cinco membros.

Simultaneamente à criação do NDB, a China liderou a fundaçãooutro bancodesenvolvimento, focadoinvestimentospaíses asiáticos, o Asian Infrastructure Investment Bank (AIIB) - ele já tem 57 membros, inclusive o Brasil.

Embora intenção do banco seja atrair países ricos, seu foco continuará nos BRICS

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Legenda da foto, Embora intenção do banco seja atrair países ricos, seu foco continuará nos BRICS, diz Batista

Contraponto ao Banco Mundial?

O NDB costuma ser visto como um contraponto ao Banco Mundial, instituiçãoque as nações desenvolvidas têm poder decisório bem maior que as emergentes.

Os países do BRICS há anos reivindicam uma reforma da instituição e também do FMI (Fundo Monetário Internacional), para que reflitam melhor o peso cada vez maiornaçõesdesenvolvimento na economia global.

A lentidão com que esse processo tem avançado foi um fator importante para a decisãocriar o NDB, explica Batista, que durante oito anos atuou como diretor do FMI.

Seguindo esse princípiocriar instituições alternativas às tradicionais, simultaneamente ao banco, o BRICS lançou também um fundoUS$ 100 bilhões, chamado ArranjoReservasContingência, que deve servir para socorrer seus membroscasoeventual crise financeira.

"Dificilmente o BRICS teria se dado ao trabalhoiniciar esse processo,um banco eum fundo, se os países estivessem satisfeitos com a atuação das entidades sediadasWashington, notadamente o FMI e o Banco Mundial", destaca Batista.

Jim Yong, do Banco Mundial, ao ladoChristine Lagarde, do FMI; para Batista, banco dos BRICS deve ser complementar ao Banco Mundial

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Legenda da foto, Jim Yong, do Banco Mundial e Christine Lagarde, do FMI; para Batista, banco dos BRICS deve ser complementar ao Banco Mundial

Apesar disso, ele diz que o objetivo do NDB é ser complementar ao Banco Mundial e conta que ambos já inclusive assinaram acordoscooperação.

"Essas iniciativas são complementares? São, e são também competitivas. Essa relação complementaridade, competição não é ruim. Todo mundo se beneficiacompetição. Eles não são favoráveis a competição (risos)? Não é uma Bíblia para eles que a competição é muito importante para o funcionamento das coisas?", questiona Batista,referência a um dos "mantras" das economias capitalistas.

O economista conta que encontrou no NDB um ambientemais consenso e cooperação entre os membros. Atualmente, a direção da instituição é composta pelo presidente Kundapur Vaman Kamath, da Índia, e mais quatro vices, cada um com nacionalidadeum dos membros.

"Eu passei oito anos no FMI, é um ambienteembate,divisão, não é uma entidade unida, embora possa parecer, porque é uma preocupação transmitir uma união para fora. E aqui existe um ambientegrande consenso entre os cinco países. Ás vezes eu sinto até falta do embate (risos)".

Segundo batista, o NDB pretende ser um banco mais focado do que o Mundial, que atuadiversas áreas, dando prioridade a projetosdesenvolvimento sustentável. O banco do BRICS também não influiráquestões internas, impondo determinadas políticas aos tomadoresempréstimos, observou.

Primeira emissãotítulos do banco dos BRICS ocorreu no mercado chinês
Legenda da foto, Primeira emissãotítulos do banco dos BRICS ocorreu no mercado chinês

Banco verde

Dentro dessa filosofia, o NDB anunciou suas primeiras operaçõesabril deste ano, com a previsãoempréstimosUS$ 811 milhões para projetosenergia renovável nos cinco países. A maior parcela deve ser destinada ao Brasil (US$ 300 milhões).

São investimentosgeração solar, eólica e hidrelétrica. A previsão é que os recursos comecem a ser liberados ainda este ano. No caso brasileiro, as operações estão sendo feitas com intermédio do BNDES (Banco NacionalDesenvolvimento Econômico e Social).

"Nós resolvemos aproveitar a expertise do BNDES, que é o bancodesenvolvimento mais antigo entre os bancos do BRICS. Era uma escolha natural num primeiro momento", justificou Batista.

A primeira operaçãocaptaçãorecursos no mercado financeira também teve o "selo" da sustentabilidade.

Em julho, o NDB vendeu títulos com vencimentocinco anos no valor3 bilhõesiuans (cercaUS$ 450 milhões). Esses bônus são chamados"verdes" porque todos os recursos captados têm que necessariamente financiar projetosinfraestrutura sustentável.

"Vamos submeter a aplicação dos recursos a uma verificação independente para assegurar que a destinação específica foi essa", disse Batista.

A procura pelos títulos foi três vezes superior a oferta, anunciou o banco na época.

"Os investidores têm interessecontribuir para o financiamento verde. É uma temática que tem a ver com a preocupação que se generaliza com o que você está vendo aí", afirma o vice-presidente, apontado através da janela para a cortinapoluição que domina o céuXangai.

Próxima cúpula dos BRICS ocorreráGoa, na Índia, neste fimsemana; país também receberá próxima emissãotítulos do NDB

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Legenda da foto, Próxima cúpula dos BRICS ocorreráGoa, na Índia, neste fimsemana; país também receberá próxima emissãotítulos do NDB

Alternativa ao dólar

O banco planeja novas emissõestítulomoedas locais, mas ainda não há previsãotítulosreais.

A próxima emissão provavelmente será realizadarúpias (moeda indiana). Um segunda captação no mercado chinês também esté prevista para ocorrer nos próximos seis meses, no valor10 bilhõesiuans.

Segundo Batista, há dois motivos para as emissõesmoedas nacionais dos países BRICS.

Por um lado, busca-se evitar o risco da variação cambial, já que insvestimentosinfraestrutura têm longo prazoduração. Dessa forma, ao captar nas mesmas moedasque vai conceder empréstimos, o banco reduz riscoperdas com mudanças nas cotações.

Outro objetivo é contribuir para aumentar a inserção dessas moedas globalmente.

"O mundo é cada vez mais multilteral e é natural que ele se torne também mais multilateral do pontovista monetário, que não dependa só do dólar ealgumas moedaspaíses avançados, na medidaque houver a evolução dos mercados locais", observou o vice-presidente.