'Fui promovida grávida e quando voltei da licença': as raras exceções do mercadoroleta las vegastrabalho:roleta las vegas

A jovem profissional não teve uma gestação planejada e conta que levou um susto quando descobriu — havia se casado quatro meses antes e tinha ambições profissionais que, até então, eram suas prioridades. Além disso, ela conhecia bem a desclassificação da maternidade do mercado.

Jennifer vinha tendo uma atuação bem avaliada no trabalho e, com apenas dois mesesroleta las vegascasa, foi promovidaroleta las vegasjúnior para pleno, e havia uma promessaroleta las vegasque seria promovida novamente. Pouco depois, a gestação foi descoberta.

"Esse foi um momento bem difícil para mim, porque a gente sabe como é o mercado. Eu fiquei muito magoada, porque a gravidez não foi planejada, já tinha iniciado o pagamentoroleta las vegasuma pós-graduação e tinha muito enraizado na minha cabeça o quanto a maternidade prejudica uma mulher no mercadoroleta las vegastrabalho", diz.

Assim que soube da gravidez, Jennifer ligou para aroleta las vegasantiga chefe contando a novidade, pedindo desculpa e dizendo que não merecia a promoção que estava por vir, porque estava "naquela situação".

"E ela me deu uma resposta pronta: 'você está doida? Aroleta las vegasentrega não tem nada a ver com aroleta las vegasgravidez e o seu momento", recorda-se, com rigorroleta las vegasdetalhes, aquela conversa, que fez toda a diferença, mas não inibiu seu estresse emocional.

Jennifer teve um descolamento e ficou afastada por 15 dias do trabalho, o que, segundo ela, aumentou ainda mais o seu desespero, tendoroleta las vegasvista que ela já estava sonhando com a nova promoção que, naroleta las vegascabeça, não aconteceria mais.

Entretanto, na contramão das estatísticas, aos seis mesesroleta las vegasgestação, a atual líderroleta las vegasrecrutamento e seleção foi promovidaroleta las vegaspleno para sênior.

"Na minha cabeça, eu não merecia porque ia ficar muito tempo fora. Mas foi bem gratificante, e eu comecei a acreditar que pessoas e empresas reconhecem mulheres, coisa que até então não seria palpável para mim. Eu tenho muito orgulho e ainda mexe bastante comigo voltar no tempo para falar sobre isso", comenta, emocionada.

Em marçoroleta las vegas2021,roleta las vegasfilha Luísa nasceu, ela saiuroleta las vegaslicença, ficou quase seis meses afastada e estava certaroleta las vegasque seria desligada assim que retornasse ao trabalho.

"Assim que voltei, conversei com a minha atual gerente sobre as minhas inseguranças, medos, tudo. E ela disse que não poderia prometer nada, mas que fariaroleta las vegastudo para me acolher e fazer com que eu realmente me sentisse parte do time", conta. "Ela me abraçou e me levou para um outro lado", diz, ressaltando a importância da empatia.

Novamente, depoisroleta las vegastrês semanas do seu retorno,roleta las vegassetembroroleta las vegas2021, Jennifer foi convidada pela gerente para fazer parte do timeroleta las vegasliderança, ou seja, mais uma promoção.

"Foi difícilroleta las vegasacreditar que isso estava acontecendo, mas quando a gente tem uma líder mulher e que é mãe, ela sabe bem das dores que a gente passa. E hoje eu me sinto acolhida, faz três meses que estou no timeroleta las vegasliderança", comemora.

Toda essa trajetória — ela foi promovida três vezesroleta las vegastrês anosroleta las vegasempresa — finalmente fez com que Jennifer acreditasse que é possível ser mãe, profissional e o que mais ela quiser. O medo, desespero e insegurança deram lugar às muitas alegrias profissionais que teve desde quando souberoleta las vegassua gestação.

"Você só precisaroleta las vegasalguém que acrediteroleta las vegasvocê. Eu tive várias pessoas que lembraramroleta las vegasquem a Jennifer era antes da gravidez e que me puxaram para cima, por isso, eu tive oportunidaderoleta las vegascrescer junto com a (empresa) FCamara", conclui a líderroleta las vegasrecrutamento e seleção, que segue trabalhandoroleta las vegashome office e perto da filha.

Contratada durante a gravidez

A jornalista Julia Boarini,roleta las vegas32 anos, remou contra a maré e hoje é coordenadoraroleta las vegasconteúdo. Ela sempre teve vontaderoleta las vegasengravidar, mas postergava o desejo justamente para priorizarroleta las vegascarreira.

Mas o momento chegou. Em maioroleta las vegas2021, descobriu que estava grávida.

Ela estava participandoroleta las vegasalguns processos seletivos, pois pensava que se a gestação fosse vista como um problema pela futura empresa, a maternidade também seria. "E eu acho que toda mãe vai ter que se ausentarroleta las vegasalgum momento por causa do filho. Então a maternidade tinha que ser bem percebida pela empresa, isso era muito importante para mim", afirma.

E, pararoleta las vegassurpresa, segundo ela, a informação da gestação foi muito bem recebida pelas empresas. "Talvez porqueroleta las vegas90% dos casos eu estava sendo entrevistada por mulheres, e isso trouxe mais empatia."

Na empresa idwall, era um processo seletivo para uma vagaroleta las vegasassessoriaroleta las vegasimprensa e, assim que começou a entrevista já disse que estava no primeiro trimestre da gestação — o que não impediu a continuidade do processo. Ao contrário. Julia foi parabenizada pelos futuros colegasroleta las vegastrabalho. "Para mim essa foi uma sensaçãoroleta las vegasfelicidade, alívio e um clima muito bom", confessa.

Ainda na entrevista com o gestor, Julia foi sinalizadaroleta las vegasque quando voltasse da licença maternidade, ela poderia caminhar para uma vagaroleta las vegascoordenadora/liderança.

"Mas quando eu fui fazer a entrevistaroleta las vegasemprego admissional com o médico, e falei que estava grávida, ele olhou para mim e perguntou: 'a empresa sabe?'. Eu disse que sim. Daí ele perguntou se eu tinha certeza e se ele podia escrever na minha ficha. Ele era um senhorroleta las vegasum pouco mais idade, ficou chocado e disse nunca ter visto isso", recorda-se, aos risos.

Ela foi contratadaroleta las vegasjulho e seu filho nasceriaroleta las vegasjaneiro, ou seja, trabalharia seis meses, e depois ficaria seis meses afastadaroleta las vegaslicença maternidade. "Mas no finalroleta las vegasoutubroroleta las vegas2021, meu chefe me chamou e disse que queria me promover para coordenadora. Então eu fui contratada e promovida durante a minha gestação", explica Julia, ressaltando que ficou surpresa com tudo que viveuroleta las vegastão pouco tempo.

A promoção veio antes do esperado e, com ela, um turbilhãoroleta las vegasemoções, nesse caso, positivas. Mesmo assim, o medo e a insegurança persistiram no final da gestação. As angústias são semelhantes a que muitas mulheres devem passar: "vou ficar seis meses fora, e se ocuparem meu lugar, e se a empresa mudar, e se não compreenderem minha nova fase?"

Mas Julia diz que recebeu todo apoio da equipe duranteroleta las vegaslicença maternidade, e o time fez o que pôde para acalmá-la frente a tantos anseios pertinentes.

O bebê nasceu prematuro,roleta las vegasdezembroroleta las vegas2021, e ela ficou preocupada por ter que deixar o trabalho antes do "esperado". "Mandei mensagem para o meu chefe pedindo desculpas e pensando 'meu Deus, eu tô pedindo desculpas por ter meu filho'. E a reação dele foi dizer exatamente que era um absurdo eu estar pedindo desculpa, que era uma notícia maravilhosa. E eu fui muito bem acolhida ali", conta, emocionada.

Na época, como já exercia um cargoroleta las vegaschefia, recebia singelas informações do que estava ocorrendo na empresa, mas o foco sempre foi que ela aproveitasse a licença para cuidar do filho. "Eu realmente tive um excelente líder, super-humano, e sou muito grata por todo suporte que recebi", afirma.

Depois, a coordenadoraroleta las vegasconteúdo voltou do afastamento ainda preocupada com o que estaria por vir, mas as coisas caminharam normalmente.

Ambas as histórias,roleta las vegasJennifer e Julia, são inspiradoras, mas é importante lembrar que são exceções.

Mulheres desligadas do mercadoroleta las vegastrabalho

O estudo citado no início desta reportagem, com 247 mil mães, foi realizado pela economista, pesquisadora e professora da Escola Brasileiraroleta las vegasEconomia e Finanças (EPGE) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Cecília Machado e alguns colegas.

"Nós reproduzimos esse estudo com dados mais recentes,roleta las vegas2019 e 2020 e é tudo mais ou menos a mesma coisa. Esse é um resultado bastante estável, que não muda com tanta frequência. O (resultado) líquido éroleta las vegasuma perdaroleta las vegasemprego após a licença maternidade, ou seja, elas saem do mercadoroleta las vegastrabalho", diz a pesquisadora.

Ela pondera que os resultados obtidos mostram que entre 40 e 50% das mães são desligadas. Isso significa que elas foram demitidas, mas também podem ter pedido demissão, tendoroleta las vegasvista que não houve um recorte específico apenas para demissões. Além disso, o mesmo efeito do desemprego,roleta las vegasparte, também é visto como uma penalidaderoleta las vegassalário, ou seja, essas mulheres, posteriormente, podem passar a ganhar menos.

"No líquido, o que a gente observa é muito mais uma tendênciaroleta las vegassaídaroleta las vegasdesligamento do que uma tendênciaroleta las vegascontratação ouroleta las vegaspromoção", avalia a economista.

Machado lembra que esses são dados administrativos do Ministério do Trabalho, por isso, não há como saber o que está acontecendoroleta las vegastempo real, mas acredita que a pandemia favoreceu o trabalho para essas mulheres, devido a flexibilidade nos arranjos, como o home office para algumas.

Outro ponto a ser levadoroleta las vegasconta para a retenção dessas mães no trabalho é a melhora da economia. A taxaroleta las vegasdesemprego no Brasil recuou para 8,7% no terceiro trimestreroleta las vegas2022 — a menor marca desde o segundo trimestreroleta las vegas2015, que ficouroleta las vegas8,4%, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostraroleta las vegasDomicílios (Pnad), divulgados pelo IBGE.

"Com essa recuperação do mercadoroleta las vegastrabalho que temos visto, aumenta a consciênciaroleta las vegasque há uma forçaroleta las vegastrabalho muito qualificada que, sendo desligada, você perde vários tiposroleta las vegasinvestimentos que as próprias firmas fazem nas mulheres. Existe um valorroleta las vegasretê-las no mercado", salienta a professora da FGV.

Políticas públicas são necessárias para melhorar cenário econômico para mães

Para a economista e professora da FGV, uma formaroleta las vegasmelhorar a situação das mães seria ampliar a políticaroleta las vegaslicença maternidade para licença parental, ou seja, tanto mãe quanto pai terem os mesmos direitos. Ela argumenta que, quando há uma política que designa apenas às mulheres o afastamento do trabalho para cuidar dos filhos, enquanto os homens não têm esse direito, a desigualdade no mercadoroleta las vegastrabalho é alimentada.

"Uma política pública importante é a discussão e efetivação das licenças parentais, flexibilidade no mercadoroleta las vegastrabalho e a própria consciência das empresasroleta las vegasque a mãoroleta las vegasobra feminina nas empresas é muito produtiva", pontua Machado.

Vale ressaltar que mães, já com filhos pequenos, têm ainda mais dificuldaderoleta las vegasse estabilizar economicamente. Segundo dados do IBGEroleta las vegas2021, o nívelroleta las vegasocupação das mulheresroleta las vegas25 a 49 anos que vivem com criançasroleta las vegasaté três anos eraroleta las vegas54,6%, contra 89,2% no caso dos homens, que estavam na mesma faixa etária e situação.

Isso ocorre,roleta las vegasparte, porque no Brasil eroleta las vegasvárias partes do mundo, ainda patinamos na ideiaroleta las vegasque apenas a mulher deve deixar seu trabalho para cuidar do filho.

Por fim, chegamos no mesmo ponto: os principais entraves são a desigualdade das responsabilidades domésticas e a faltaroleta las vegaspolíticas públicas que realmente incentivem as empresas a mudar essa realidade.

"Licença paternidaderoleta las vegasuma semana ou um pouco mais é uma piada. O homem tem que ter a mesma proporção da licença maternidade", defende também a psicóloga, especialistaroleta las vegaspsicologia perinatal e fundadora do Instituto MaterOnline, Rafaelaroleta las vegasAlmeida Schiavo.

A especialista, membro da Sociedade Brasileiraroleta las vegasPsicologia, prossegue dizendo que "após a licença, esse homem também teria que dizer 'olha, hoje eu não vou trabalhar porque o meu filho está com febre e eu preciso levá-lo ao médico'. Isso facilitaria (combater) a desigualdade que vivemos hoje", prossegue Schiavo.

Desigualdade doméstica é um dos principais entraves

Atualmente, a legislação brasileira determina que mulheres com carteira assinada não podem ser demitidas sem justa causa a partir do momentoroleta las vegasque a gravidez é concebida até cinco meses após o parto.

Em geral, a licença maternidade éroleta las vegas120 dias corridos. Portanto, quando a profissional retorna desse período, ela ainda terá um mêsroleta las vegasestabilidade. "É muito comum, porém, que a mulher emende a licença com alguns diasroleta las vegasférias. Se ela fizer isso, por exemplo, unindo 120 diasroleta las vegaslicença a 30 diasroleta las vegasférias, ao retornar à empresa ela já terá esgotado seu prazoroleta las vegasestabilidade", alerta a advogada especialistaroleta las vegasdireitos das mulheres, Karoline Soares Chaves.

Há também, acrescenta a advogada, empresas que aderem ao Programa Empresa Cidadã e oferecem licença maternidaderoleta las vegas180 dias corridos. Nesses casos, o períodoroleta las vegasestabilidade pode ser prorrogadoroleta las vegasaté 60 dias, dependendo do pedido da profissional ou da adesão voluntária da própria empresa.

Ao contrário das mulheres cujas histórias foram contadas nesta reportagem, a psicóloga Rafaelaroleta las vegasAlmeida Schiavo lembra outro lado ainda obscuro no cenário. "Muitas vezes, essa mulher estava para ser promovidaroleta las vegascargo na empresa, mas vem uma gestação e, quando ela volta da licença maternidade, outra pessoa já está no lugar que, até então, seria dela", lamenta a especialista.

Essa situação, alémroleta las vegasatingir economicamente a família, especialmente as mães solo, também pode afetar a saúde mental. Ou seja,roleta las vegasvez da maternidade ser um períodoroleta las vegasdescobertas e,roleta las vegasgeral, positivo, pode gerar uma instabilidade emocional que pode prejudicar a mãe e a estrutura familiar.

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