Por que Einstein recebeu Nobel 'atrasado' e nunca foi premiado por Teoria da Relatividade:bwin livescore
Mas como? — alguém pode se perguntar. A explicação é aparentemente simples, mas as razões da concessão inusitada permanecem um pouco obscuras até hoje, pois envolvem questões científicas, políticas e ideológicas, além do regulamento do prêmio.
Para começar,bwin livescore1921, o Comitê do Nobel, responsável pela escolha dos vencedores, decidiu que não havia nenhum físico que fizesse jus à honraria, mesmo Einstein tendo recebido 15 indicações naquele ano, inclusive algumasbwin livescorecientistas que já haviam sido premiados.
Apesar disso, mais uma vez ele foi preterido e, conforme está previsto no regulamento do Nobel, o prêmio "acumulou" para o ano seguinte.
Finalmente, depoisbwin livescoreter sido indicado todos os anosbwin livescore1910 a 1922, com exceçãobwin livescore1911 e 1915, Einstein recebeu seu merecido Nobel. Mas para muitos houve algobwin livescoreestranho nisso.
Para entender, é preciso retroceder um pouco na história.
O efeito fotoelétrico foi descobertobwin livescore1886 pelo físico alemão Heinrich Hertz (1857-1894).
"Ele consiste na emissãobwin livescoreelétronsbwin livescoreum metal, devido à absorçãobwin livescoreenergiabwin livescoreradiação eletromagnética, ou seja, luz", explica o físico Peter Schulz, da Unicamp (Universidade Estadualbwin livescoreCampinas).
Segundo ele, descrever o feitobwin livescoreHertz assim é até curioso, pois a partícula elementar da eletricidade, o elétron, só foi descoberta dez anos depois pelo físico britânico Joseph John Thomson (1856-1940).
"O efeito fotoelétrico não podia ser descrito pela física da época", diz Schulz.
"Não se entendia por que ele só acontecia para frequênciasbwin livescoreluz acimabwin livescoreum determinado patamar, que dependia do metalbwin livescorequestão. A física clássica previa que, aumentando a intensidade da luz, mais energia seria transferida continuamente para arrancar os elétrons, mas isso não era observado para aquelas frequências mais baixas. Ninguém entendia o que estava acontecendo."
Foi aí que entrou Einstein. O trabalho delebwin livescore1905 explicou o tal efeito — foi um ano muito produtivo para ele.
"Ele descobriu que a luz não é absorvida continuamente, masbwin livescore'pacotes' com energia determinada", explica Schulz. "Cada elétron absorve a energia necessária para pular fora do metalbwin livescoreum 'pacote', que é um 'quantum'bwin livescoreluz, chamadobwin livescorefóton. Assim, pacotes com energia menor que a necessária não são absorvidosbwin livescoresequência."
A descoberta foi muito importante, diz Schulz, pois a ideiabwin livescorequantum, ou seja, a base da física quântica, era vista com desconfiança até pelo próprio proponente da ideia, Max Planck (1858-1947), que descobriu a quantização da energiabwin livescore1901.
"Em 1905, Einstein dá uma explicação para um outro efeito baseada no mesmo conceitobwin livescorePlank", diz Schulz. "Surgia com isso a física quântica e a explicação do efeito fotoelétrico traz junto um aspecto fundamental dessa nova fronteira: a dualidade onda-partícula, a luz se propaga como onda e é absorvida como partícula."
Essa descobertabwin livescoreEinstein era, por si só, merecedorabwin livescoreum Nobel. O problema é que a teoria da relatividade era muito mais revolucionária.
Além disso, há outra estranheza. Sua explicação do efeito fotoelétrico foi publicadabwin livescore1905, ou seja, 16 anos, antes do anobwin livescoreque o Comitê do Nobel avaliou que não havia nenhum cientista merecedor do prêmio. Um ano depois, no entanto, sem que houvesse nadabwin livescorenovo, o físico alemão foi agraciado com a honraria.
Para entender isso, é preciso contextualizar os fatos. Em 1920, Einstein recebeu oito indicações ao Nobel pela teoria da relatividade. O comitê do prêmio solicitou, então, que um dos seus membros, o oftalmologista Allvar Gullstrand (1862-1930), laureado com prêmio Nobelbwin livescoreMedicina e Fisiologiabwin livescore1911, elaborasse um parecer sobre a relatividade.
O resultado não foi o que se esperava, no entanto. "Com argumentos frágeisbwin livescoreantirelativistas extremados, Gullstrand criticou fortemente a teoria da relatividade", conta o físico Ildeubwin livescoreCastro Moreira, do Institutobwin livescoreFísica da UFRJ (Universidade Federal do Riobwin livescoreJaneiro).
"Ele também citou autores e literatura preconceituosos e racistasbwin livescorerelação a Einstein."
Além disso, o parecerista alegou que "as medições que comprovaram a relatividade estavam abaixo dos limites do erro experimental".
O parecerbwin livescoreGullstrand, na verdade, ecoava as desconfianças que muitos cientistas tinham na época quanto à validade da teoria da relatividade.
"Apesarbwin livescorejá ter algumas comprovaçõesbwin livescore1921, como o cálculo do periéliobwin livescoreMercúrio e a observação do desvio da luz do sol durante o eclipsebwin livescore1919, ela ainda era considerada muito especulativa e distante da realidade", explica a física Cecília Chirenti, da Universidade Federal do ABC (UFABC) e pesquisadora associada do Centrobwin livescoreVôo Espacial Goddard da Nasa.
"Para se ter uma ideia, a existênciabwin livescoreondas gravitacionais, que é uma das previsões da teoria, só foi verificada observacionalmentebwin livescorequase 100 anos depois,bwin livescore2016, com a detecção direta delas."
Apesarbwin livescorea teoria da relatividade já ter sido provada por algumas experiências realizadas entre 1921 e 1922, os integrantes do comitê do Nobel não os levarambwin livescoreconta.
"É possível que, naquele momento, eles tenham considerado que ainda não havia experimentos mais controláveisbwin livescorelaboratório, que validassem a teoria", conjectura o físico Antonio Gomes Souza Filho, da Universidade Federal do Ceará (UFC). "No caso do efeito fotoelétrico, esses resultados eram claros."
De acordo com ele, fato também é que, à época, o desenvolvimento tecnológico ainda não permitia ter acesso a tudo que a teoria da relatividade trazia para a cena.
"Somente nas últimas décadas, com a construção dos relógios atômicos e o sistema do GPS, dentre outras tecnologias, ficou clarobwin livescoreforma inequívoca que a teoria era robusta e contribui com aplicações tecnológicas", diz Souza Filho. "A teoria da relatividade era muito complexa e talvez isso também não tenha ajudado no seu reconhecimento."
Para o também físico Sylvio Canuto, do Institutobwin livescoreFísica da USP (Universidadebwin livescoreSão Paulo), tudo indica que havia muita relutância do comitê Nobelbwin livescoreconceder o prêmio a Einstein antesbwin livescorese confirmar,bwin livescorebases muito firmes,bwin livescoreteoria.
"Seria desastroso dar o prêmio e posteriormente não confirmar inteiramente o acerto da dela", explica.
"Em contrapartida, começava a ficar embaraçoso que Einstein não ganhasse o prêmio. Assim, a premiação pelo efeito fotoelétrico se impôsbwin livescore1922. É importante dizer que esse efeito ébwin livescoreenorme grandeza e justifica a premiação por si só."
As desconfianças sobre por que o comitê do Nobel demorou para dar o prêmio a Einstein pela descoberta relacionada ao efeito fotoelétrico e nunca o concedeu para a relatividade vão além das questões científicas e incluem o fato, entre outros,bwin livescoreque ele era judeu.
"A resposta é mais política do que científica", diz o físico George Matsas, do Institutobwin livescoreFísica Teórica da Unesp (Universidade Estadual Paulista). "Apesarbwin livescoreos judeus alemães terem lutado pela Alemanha na Primeira Guerra Mundial, já havia um forte antissemitismo germânico."
Ele cita como exemplo Philipp von Lenard (1862-1947), que ganhara o Nobelbwin livescore1905 e era ligado ao movimento nazista, assim como Johannes Stark (1862-1947), Nobelbwin livescore1919.
"Einstein era particularmente mal visto porque era um pacifista confesso, o que não era considerado patriótico", explica Matsas. "Então havia um forte lobby contra elebwin livescorevários setores."
Apesar disso, a pressão para o comitê do Nobel conceder o prêmio a Einstein aumentava cada vez mais.
"Foi aí que entroubwin livescorecena um personagem chave: Carl Oseen (1879-1944), este, sim, físico, que passou a ajudar o relator, agora com competência", conta Moreira.
"Ele adotou a estratégiabwin livescorepropor a premiaçãobwin livescoreEinstein pela 'lei do efeito fotoelétrico' e não pela relatividade. Ele também aderiu à estratégiabwin livescorepropor Bohr (pessoalmente mais palatável ao comitê do que Einstein) para o Nobelbwin livescore1922, com uma contribuição conectada com a do físico alemão para o efeito fotoelétrico."
Além disso, Oseen não mencionou o conceitobwin livescorefóton, que era a contribuição mais revolucionáriabwin livescoreEinstein no artigobwin livescore1905, porque muitos físicos, incluindo Bohr e Planck, ainda não aceitavam o conceito.
"Depoisbwin livescorealgumas discussões, a proposição dele foi aceita, mas sob a condiçãobwin livescorenão se mencionar a relatividade", conta Moreira.
E,bwin livescorefato, o texto do comitê do Nobel atribui o prêmio a "contribuições para a física teórica, e especialmente pela descoberta da lei do efeito fotoelétrico".
"De alguma forma, alguns interpretam que as contribuições à física teórica incluem a relatividade e outros interpretam que não a mencionarbwin livescoreforma explícita deixaria o caminho aberto para um segundo prêmio", diz Souza.
O próprio texto parece, no entanto, afastar essa possibilidade ao fazer a ressalvabwin livescoreque o prêmio concedido "sem levarbwin livescoreconta o valor que será atribuído as suas teorias da relatividade e da gravitação depois que forem confirmadas no futuro".
Se Einstein ganharia um segundo prêmio nunca se saberá. O certo é que ele não foi à cerimôniabwin livescoreentrega do primeiro e único.
O laureado soube com antecedência que receberia o Nobel, mas, especulam alguns, talvez intencionalmente, não foi até Estocolmo, na Suécia, onde receberia a honrariabwin livescoredezembrobwin livescore1922.
O físico alemão estava fazendo um tourbwin livescorepalestras pela Ásia e foi recebido com uma admiração raramente concedida até ao mais eminente dos cientistas.
No Japão, uma multidão o acompanhava aonde quer que fosse.
"No Festival do Crisântemo", escreveu um jornalista chinês, conforme o livro 1922: Cenasbwin livescoreum ano turbulento,bwin livescoreNick Rennison, "o centro das atenções não era nem o Imperador nem o príncipe regente; as pessoas giravambwin livescoretornobwin livescoreEinstein".
"O cientista tratava toda a adulação com um bom humor irônico", diz o autor. "De uma varandabwin livescorehotelbwin livescoreTóquio, olhando para a multidão que o aplaudia lá embaixo, ele comentou com a esposa: 'Nenhuma pessoa viva merece esse tipobwin livescorerecepção. Receio que sejamos vigaristas. Ainda vamos acabar na prisão'."
Acabou na história, como se sabe.
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