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Militares se desgastaram muito no 1º ano do governo Bolsonaro, diz cientista político João Roberto Martins Filho:crb e bahia palpite
"Tem gente que acha que havia um objetivo material (conseguir a reestruturação da carreira por meio da reforma da Previdência). Eu acho que o principal objetivo era voltar à política, mostrar que poderiam ajudar o governo e discretamente voltar à política. Essa era a grande aposta. Não aceitavam aquela situação prevista na Constituiçãocrb e bahia palpitenão interferir na política. O segundo ponto era retirar do governo o máximo que pudessemcrb e bahia palpitetermoscrb e bahia palpitemelhorias materiais", diz ele.
Se conseguiram essa segunda demanda, não foram tão bem sucedidos na primeira, diz Martins Filho. "Os militares não conseguiram moderar o presidente (como esperavam), não conseguiram conter a piora da imagem externa ao Brasil."
Além disso, afirma, tiveram seus membros e seus valores atacados por colegascrb e bahia palpitegoverno.
"Logo ficou claro que havia um conflito entre o bolsonarismo civil, ligado ao Olavocrb e bahia palpiteCarvalho, e os generais que tinham ajudado a eleger o Bolsonaro. (...) Os generais que estavam no começo do governo foram demitidos, marginalizados ou xingados por alguém do governo. O único que ficou, e mesmo assim foi ofendido, foi Heleno [general Augusto Heleno, hoje ministro do Gabinetecrb e bahia palpiteSegurança Institucional], porque se adaptou ao bolsonarismo civil. (...) Também temos casos do bolsonarismo civil atacando valores das Forças Armadas", diz ele.
O professor da Universidade Federalcrb e bahia palpiteSão Carlos (UFSCar) é referênciacrb e bahia palpitepesquisas sobre o governo militar, especialmente no que diz respeito a disputas internas entre militares nesse período. Criou o Arquivocrb e bahia palpitePolítica Militar Ana Lagôa e foi o primeiro presidente da Associação Brasileiracrb e bahia palpiteEstudoscrb e bahia palpiteDefesa (2005-2008).
Passou a acompanhar e escrever sobre o governo atual após a vitóriacrb e bahia palpiteBolsonaro, quando entendeu quecrb e bahia palpitecandidatura vinha sendo gestada entre militares por cercacrb e bahia palpitedois anos.
"Nós, que estudamos os militares, percebemos isso tudo tardiamente. (...) Assim como não previmos a politização das Forças Armadas, não previmos que o Bolsonaro trataria militares como tratou", diz o pesquisador.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - O senhor é referência no estudo do governo militar. Quando e por que começou a se dedicar a acompanhar e escrever sobre o governo atual?
crb e bahia palpite João Roberto Martins Filho - Com a vitória do Bolsonaro, que foicrb e bahia palpitecerta maneira imprevista, fomos ver o que tinha acontecido nas Forças Armadas nos anos anteriores e ficou claro que, uns dois anos antes, as Forças Armadas passaram a considerá-lo como uma opção para uma vitória da centro-direita e começaram a se politizar.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - O que aconteceu, nacrb e bahia palpiteopinião?
crb e bahia palpite Martins Filho - Nós, que estudamos os militares, percebemos isso tudo tardiamente. Víamos o Villas Bôas (general Eduardo Villas Bôas, ex-comandante do Exército) como um homem que achava que as Forças não deviam interferir na política. Mas não percebemos dois processos importantes. Havia generais que desafiavam a disciplina com manifestações políticas, principalmente o Heleno (general Augusto Heleno, hoje ministro do Gabinetecrb e bahia palpiteSegurança Institucional), mas não só ele. Então o general Villas Bôas foi mudandocrb e bahia palpiteposição para ficar no comando da situação, ele mesmo assumindo um discursocrb e bahia palpitecrítica aos governos do PT, coisa que ele não fazia.
Além disso, começaram a chamar Bolsonaro para participarcrb e bahia palpiteformaturas da Academia Militar das Agulhas Negras (escolacrb e bahia palpiteensino superior do Exército que forma oficiais), onde ele fazia propaganda política e começou a ser visto como um modelo para os cadetes, o que ele nunca havia sido. Não percebemos isso no momento.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - Passado um ano, quais são suas impressões da situação dos militares no governo?
crb e bahia palpite Martins Filho - Assim como não previmos a politização das Forças Armadas, não previmos que o Bolsonaro trataria militares como tratou. Logo ficou claro que havia um conflito entre o bolsonarismo civil, ligado ao Olavocrb e bahia palpiteCarvalho, e os generais que tinham ajudado a eleger o Bolsonaro — eles chegaram a ter uma listacrb e bahia palpite2 milhõescrb e bahia palpitepessoas, membros das Forças Armadas e policiais, que recebiam regularmente mensagens por Whatsappcrb e bahia palpiteapoio ao Bolsonaro. Não ganharam sozinhos, mas apoiaram ativamente. Então achávamos que haveria desgaste, mas não um confronto aberto.
O que aconteceu? Eles tiveram que reconhecer que o presidente era incontrolável. Talvez pensassem que, por serem generais e ele, capitão, teriam alguma ascendência sobre ele. Os generais que estavam no começo do governo foram demitidos, marginalizados ou xingados por alguém do governo. O único que ficou, e mesmo assim foi ofendido, foi Heleno, porque se adaptou ao bolsonarismo civil.
O Santos Cruz (general Carlos Alberto dos Santos Cruz, demitido do comando da Secretaria Geral da Presidência da República, um dos cargos-chave no governo,crb e bahia palpitejunho), que era quem dava prestígio por causacrb e bahia palpitesua carreira, foi demitido sumariamente ecrb e bahia palpiteforma vergonhosa pelo presidente. Temos inúmeros casoscrb e bahia palpitedemissões.
Também temos casos do bolsonarismo civil atacando valores das Forças Armadas. Olavocrb e bahia palpiteCarvalho disse que a última colaboração das escolas militares foram as obras do escritor Euclides da Cunha (1866-1909), e desde então "foi só cabelo pintado e voz empostada". O ano fechou com o ministro da Educação atacando diretamente o Deodoro da Fonseca [marechal que participou da proclamação da República e foi seu primeiro presidente], que é um grande símbolo para os militares, e comparando ele a Lula. Sofreram inúmeros reveses.
No plano internacional, o estilocrb e bahia palpitegovernocrb e bahia palpiteBolsonaro comprou briga com França, Alemanha, se alinhou incondicionalmente aos EUA, quase comprou briga com a China e mundo árabe ao aventar passar a embaixada para Jerusalém. Isso tudo foi colocando militares numa situação ruim porque são associados ao governo, mas é um governo muito imprevisível.
Foi um ano muito agitado. Nós que estudamos as Forças Armadas estamos profundamente desiludidos e preocupados com o que aconteceu.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - Eles próprios foram surpreendidos?
crb e bahia palpite Martins Filho - Sim, e ficaram cada vez mais comprometidos. Depois da demissão do Santos Cruz, nomearam Luiz Eduardo Ramos, general da ativa, licenciado e ex-comandante militar do Sudeste. Quando ele foi perguntado o que pensava das eleições, disse que o Exército não tem lado, que seu candidato é a pátria. Seis meses depois, disse que uma dobradinha entre Bolsonaro e Moro seria imbatível. Qualquer criança percebe que é uma declaração partidária, pela eleição do Bolsonaro. Como um general da ativa se misturacrb e bahia palpitetal forma à articulação política? Não há como dizer que o Exército não se queimaria numa situação como essa.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - Como vê a relação do Alto-Comando com o governo um ano depois?
crb e bahia palpite Martins Filho - Não temos detalhes sobre isso, mas é possível dizer que havia uma grande esperança, manifestada pelo próprio Villas Bôas, mas depois da demissão do Santos Cruz, ficou muito difícil. É nítido que o Alto-Comando sentiu o baque. Há alguns sinais sutis disso. Etchegoyen [general da reserva Sérgio Etchegoyen, ex-ministro-chefe do Gabinetecrb e bahia palpiteSegurança Institucional da Presidência no governocrb e bahia palpiteMichel Temer] disse que militares não se envolveriam mais profundamente com o governo.
Foi nomeado como sucessor do general Ramos [para o Comando Militar do Sudeste] um general que foi chefe da segurança da Dilma, o que certamente desagradou Bolsonaro. O general Rêgo Barros [Otávio Rêgo Barros, atual porta-voz da Presidência] se candidatou para ganhar uma quarta estrela e entrar para o Alto-Comando, mas isso não aconteceu. Era esperado que, por ser próximo do presidente, estaria na lista, mas não estava. São indícios sutiscrb e bahia palpiteuma insatisfação no Alto-Comando. O problema é que não chegam à opinião pública. O que fica é a imagem das Forças Armadas intimamente vinculadas com o governo.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - O que acha que eles queriam e, disso, o que conseguiram?
crb e bahia palpite Martins Filho - Tinham uma pauta oculta que era conseguir a reestruturação da carreira por meio da reforma da Previdência. Isso eles conseguiram, com poucas críticas, apesarcrb e bahia palpiteterem afetado negativamente a economia que o governo vai fazer com a reforma, ecrb e bahia palpiteterem melhorado muito seus salários, principalmente aqueles que estão mais avançados na hierarquia, a partircrb e bahia palpitecoronel e general.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - Essa era o principal objetivo?
crb e bahia palpite Martins Filho - Tem gente que acha que sim, que havia um objetivo material. Eu acho que o principal objetivo era voltar à política, mostrar que poderiam ajudar o governo e discretamente voltar à política. Essa era a grande aposta. Não aceitavam aquela situação prevista na Constituiçãocrb e bahia palpitenão interferir na política.
O segundo ponto era retirar do governo o máximo que pudessemcrb e bahia palpitetermoscrb e bahia palpitemelhorias materiais. Isso foi uma vitória do corporativismo, uma espéciecrb e bahia palpiteprêmio pelo apoio ao Bolsonaro.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - A reforma da Previdência privilegiou militarescrb e bahia palpitealta patentecrb e bahia palpitecomparação aoscrb e bahia palpitebaixa patente. Houve bastante barulho sobre isso. Quais podem ser as consequências?
crb e bahia palpite Martins Filho - Sim, houve tensão e até medidas no comando para impedir manifestaçõescrb e bahia palpiteredes sociais. Houve ordenscrb e bahia palpiteque nas redes sociais militares têm que respeitar disciplina e hierarquia. Houve desgaste, mas foi menor do que se esperava. O apoio ideológico a Bolsonaro entre praças e sargentos foi mais forte. Quem apostava numa rebelião apostou errado. Apesar da instatisfação, isso não ocorreu. A base dele nesses setores segue forte.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - Em que esse apoio se baseia agora?
crb e bahia palpite Martins Filho - Ele sempre foi eleito por esses setores, as chamadas famílias militares. Existe uma identidade muito forte e ambígua dele como militar e como líder sindical desses setores. Essa última é tão forte que permanece. Ideologia pesa muito. A alternativa para esses setores mais baixos seria aceitar uma aliança com os partidos da esquerda, e isso eles descartam totalmente (deputados do PSOL defenderam praças nas discussões sobre a reforma no Congresso). Está claro que estão insatisfeitos, mas não há possibilidadecrb e bahia palpitealiança com a esquerda.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - O que os militares não conseguiram nesse primeiro ano?
crb e bahia palpite Martins Filho - Não conseguiram moderar o presidente, não conseguiram conter a piora da imagem externa ao Brasil — hoje, o Brasil tem uma imagem que não tinha desde a ditadura. Conseguiram coisas pontuais — evitar a transferência da embaixada do Brasilcrb e bahia palpiteIsrael para Jerusalém, evitar interferir na Venezuela. Eles deveriam ser contrários a essa deterioração da imagem do Brasil, mas hoje o conservadorismo entre eles não permite afirmar que houve um afastamento. Houve tensões, mas não afastamento.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - Qual foi o efeito da crise na Amazônia?
crb e bahia palpite Martins Filho - Foi ambíguo. Em parte alguns militares ficaram preocupados com a briga com a França, mas também houve um surtocrb e bahia palpitenacionalismo, alegaçõescrb e bahia palpiteque estrangeiros estavam tentando interferir na Amazônia. Essa crise beneficiou a aliança com Bolsonaro. Ele soube explorar isso bem porque houve uma espéciecrb e bahia palpitereflexo nacionalista com relação a críticas internacionais. Acabou sendo favorável ao Bolsonaro.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - Quantocrb e bahia palpiteinfluência os militares têm hoje?
crb e bahia palpite Martins Filho - Menos do que achávamos no início do governo. Nunca achei que seriam o lado racional do governo, mas não esperava que fosse ser tão ruim para eles. Foi um desgaste muito grande. Ao mesmo tempo, o conservadorismo é muito forte e também o pragmatismo. Hoje, parecem ter uma visão mais curta, pensando no que podem tirarcrb e bahia palpitetermoscrb e bahia palpiteequipamentos militares dessa relação com os Estados Unidos, por exemplo. É um momento muito pobrecrb e bahia palpitetermoscrb e bahia palpitepensamento das Forças Armadas. Estamos vivendo uma crisecrb e bahia palpiteprestígio que deveria preocupá-los.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - O sr. vê diferenças entre as gerações? Quem está hoje no governo se formou antes do retorno à democracia.
crb e bahia palpite Martins Filho - Não vejo diferença. Gostariacrb e bahia palpiteacreditar que, 35 anos depois, teríamos uma corrente democrática nas Forças Armadas que percebesse os danos que podem vir dessa associação com a política partidária. Infelizmente, não vejo crítica deles ao que aconteceu durante o governo militar e vejo um discursocrb e bahia palpiteanticomunismo que justifica, na visão deles, o apoio ao Bolsonaro.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - A política voltou aos quartéis?
crb e bahia palpite Martins Filho - Sim, não como naquela época, onde tudo passava por eles, mas acho que sim. São maiscrb e bahia palpite2.000 cargos para militares no governo. São aspectos que tocam no bolso.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - Como manifestações do presidente Bolsonaro,crb e bahia palpiteseus filhos e tambémcrb e bahia palpiteministros do governo relacionadas à ditadura militar ressoam entre militares?
crb e bahia palpite Martins Filho - Estamos falandocrb e bahia palpiteum governocrb e bahia palpiteextrema-direita. Essas declarações deveriam provocar grande incômodo nos militares, que supostamente seriam mais racionais e menos ideológicos, mas não estou vendo isso.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - O senhor parece surpreso com a postura dos militares nesse primeiro ano…
crb e bahia palpite Martins Filho - Fiquei no começo, mas somos realistas, percebemos o quão pouco as Forças se democratizaramcrb e bahia palpitetermoscrb e bahia palpiteideias desde o regime militar.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - Quando o senhor começou a pensar assim?
crb e bahia palpite Martins Filho - No começo do governo Temer, com a ascensão do general Etchegoyen. Há pouca informação sobre a participação militar no processo do impeachment, mas o papel desempenhado por ele foi ocrb e bahia palpitefiador do novo governo, para o que contou com o prestígio que tinha e tem no Exército. Etchegoyen integrou o núcleo decisório do governo Temer e, com a recriação do GSI, reconstruiu o sistema militarcrb e bahia palpiteinteligência no coração do Estado.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - Como o senhor acha que pode ficar a relação no futuro?
crb e bahia palpite Martins Filho - Como está hoje. Uma tentativacrb e bahia palpitenegar o óbvio, que há essa relação forte entre militares e o governo. A não ser que aconteça algo muito grave na economia ou [no cenário internacional], a relação deve continuarcrb e bahia palpitebanho-maria. É como disse o próprio Etchegoyen, 'não devemos nos comprometer mais, mas o governo tem mais coisas positivas do que negativas'. Acho que é essa a visão, no Exército especialmente.
crb e bahia palpite BBC News Brasil - E na Marinha e na Aeronáutica? Por que há essa diferença e como ela se manifestou nesse primeiro ano?
crb e bahia palpite Martins Filho - O Exército é muito mais numeroso e ativo politicamente. Houve apoio ao Bolsonaro nas outras Forças, mas o desgaste é maior entre elas. Parece haver mais condescendência com o Bolsonaro no Exército do que na Marinha e na Aeronáutica.
Bolsonaro tem tido um papelcrb e bahia palpitedivulgar o que foi o governo militar. Ele acaba associando os militares atuais com a ditadura, que é algo que eles não querem. Ele recebeu duas vezes a viúva do Ustra [Carlos Alberto Brilhante Ustra, ex-chefe do DOI-CODI apontado pela Justiça como responsável por torturas e ídolocrb e bahia palpiteBolsonaro]. Que bem traz a eles lembrar a população que houve uma ditadura? O aniversário do golpe não foi comemorado na Marinha e na Aeronáutica. No Exército, sim, discretamente, mas chegou à primeira página dos jornais. Militarescrb e bahia palpiteoutros países democráticos passaram a ver os militares brasileiros como politizados ecrb e bahia palpitedireita. Isso não pega bem.
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