Dicasum pai neurocientista para lidar com os adolescentes:

Mãe falando com adolescente

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Legenda da foto, Como entender o cérebro adolescente e aproveitar mais a grande potencialidade dessa fase da vida?

Um dos fatores-chave por trás disso é um processo chamadomielinização, que só se completa depois dos 20 anos. Trata-se da aquisiçãomielina - substância que faz os impulsos nervosos andarem mais rápido - pelos neurônios. Em algumas áreas do cérebro, como o córtex pré-frontal, essa mielinização demora mais para acontecer. E essa área é justamente a que controla nossa impulsividade, a avaliaçãoriscosnossas ações, o planejamento e o processamentoemoções.

Isso ajuda a explicar por que os adolescentes são mais impulsivos e menos capazesprever a consequênciaseus atos. Seus cérebros simplesmente ainda não têm essa capacidade regulada.

"Temos, então, jovens que são maduros sexualmente e imaturos emocionalmente. (...) A tendência éeles serem mais influenciados pelos pares e a (comportamentos de) risco", explica Louzada. "Eu, como pai, me preocupoemprestar o córtex pré-frontal para o meu filho,avaliar prós e contras, ponderar riscos. E o momento do 'não' é fundamental."

Cérebro

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Legenda da foto, Cérebro adolescente ainda não desenvolveu plenamente o córtex pré-frontal, essencial para avaliaçãorisco e planejamentolongo prazo; isso ajuda a explicar a impulsividade

Mas como convencer o adolescente disso? "Se eu soubesse a reposta disso eu venderia", brinca o neurocientista.

"Mas adolescentes estão abertos a argumentos e evidências. Temos informações que podem ser mostradas a eles. Ao dizer um 'não', podemos ouvir que 'você quer acabar com o meu prazer', então a chave é mostrar que você está aberto a ele, é um aliado dele e dasaúde."

Para a cientista americana Frances Elizabeth Jensen, do DepartamentoNeurologia da EscolaMedicina da Universidade da Pensilvânia, explicar aos adolescentes o funcionamento - e as debilidades -seu próprio cérebro é um bom pontopartida.

"Os adolescentes estão tentando entender a si mesmos", disse elaentrevista à revista Time. "É ótimo ter explicações sobre por que você fez aquela coisa idiota na frente dos seus amigos. Acho que falar sobre isso dá a eles mais entendimento."

Jensen sugere ensinar, também, que a biologia do cérebro adolescente o torna muito mais suscetível que um adulto às drogas, as quais interferem no aprendizado e na memória. "Os adolescentes conseguem aprender com mais força e rapidez, mas também se viciam com mais força e rapidez", agregou.

Construir autonomia e respeitar sentimentos

Conter a impulsividade enquanto incentiva a autonomia é um equilíbrio delicado, reconhece Louzada, já que a adolescência é também uma etapa crucial para construir o chamado "cérebro social", que nos permite entender sentimentos e intenções nossas e dos demais. E essas habilidades podem ser inibidas pelo excessonãos ou pela superproteção dos pais.

"Muitas vezes exageramos e impedimos o amadurecimento e a interação social. Como jovens que nunca pegaram um ônibus vão ter sensibilidadeo que está acontecendo na sociedade? A gente acaba não apresentando a realidade, as diferenças. Além disso, se para tudo dissermos 'não', os filhos deixarãoconfiar nas nossas sinalizaçõesquando estamos no nosso limite", afirma Louzada.

Adolescentes

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Legenda da foto, Imaturidade cerebral torna o jovem mais suscetível à influência do grupo

O psicólogo Matthew Rouse, do instituto americano Child Mind, sugere que pais não protejam os filhostodas as situações difíceis, mas sim ajam como seus guias nesses momentos e estimulem os comportamentos que considerarem positivos.

Por exemplo, dianteuma tarefa frustrantematemática, Rouse sugere que os pais evitem o excessosupervisão, sob o riscodesestimularem a autorregulação dos jovens. "Em veza criança (aprender a) reconhecer que está frustrada com a lição e descobrir como lidar com isso, ela sentirá que seus pais a estão frustrando ao forçando-a a fazer a tarefa", disse Rouse ao site da entidade.

A recomendação é que os pais deem ferramentas aos jovens para lidar com esses desafios, por exemplo ajudando-o a criar estratégias para resolver a tarefa ou ajudando-a a determinar momentos para um intervalo.

Para Louzada, as relações entre pais e filhos se beneficiariamos adultos escutarem mais os adolescentes, sem julgar seus sentimentos.

"A gente aprende demais interagindo com adolescentes, comperspectiva emaneiralidar com os problemas. (...) E precisamos pensarnossa disponibilidade emocional para eles. De que modo estamos reagindo às tristezas, frustrações e alegrias deles? Não podemos tratar (suas angústias) como bobagem, mas sim tentar entender os valores que levam a isso."

Moderar o usocelular e telas

Louzada ensina algumas perguntas para pais avaliarem se seus filhos estão usando celulares e outras telasexcesso: será que o adolescentequestão está passando mais tempo diantetelas do que interagindo com pessoas? Será que os meios digitais estão servindo mais para o lazer do que para os estudos? Será que o adolescente consegue interromper o uso do dispositivo com facilidade quando é horadormir oufazer refeiçõesfamília? Será que ele acorda à noite para checar o celular? (Louzada cita um estudo feitoCuritiba que apontava que uma grande quantidadejovens se sentia compelida a checar o celular na madrugada).

Se as respostas a essas perguntas inquietarem os pais, é possível que o usodigitais esteja excessivo. E esse excesso pode atrapalhar o desenvolvimento do córtex pré-frontal do cérebro, que depende, necessariamente,interações humanas reais para alcançar seu potencial.

Adolescente no celular

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Legenda da foto, Cérebro dependeinterações humanas para se desenvolver, e excessotelas na adolescência pode atrapalhar isso

Alémestabelecer limiteshora para o uso, Louzada acha que os pais precisam mostrar que eles mesmos são capazesencontrar prazer e diversão para além das telas - e distante delas. "Nas minhas oportunidadesférias (com o filho), eu ia para o mato, para o mar, longeshopping centers e aparelhos digitais", diz o neurocientista. "Como estamos o tempo todo conectados, temos cada vez menos momentosintrospecção (de estarmos a sós com nossos próprios pensamentos), algo que é fundamental para o autoconhecimento."

Estimular com reforços positivos

Louzada diz que, desde a infância do seu filho, percebeu que a neurociência ensinou-o da importância do reforço positivo com coisas do dia a dia. Na prática, isso significa associar práticas e hábitos que sejam importantes aos pais a momentos prazerosos da interação com os filhos.

"Por exemplo, se os pais acham que a leitura tem valor, tem que ser prazerosa. Se a atividade envolver bronca e enfrentamento, será associada (pelo jovem) a algo desagradável", explica.

Cuidar do tripé comida, sono e atividade física

Outra descobertaestudos neurocientíficos é que a qualidade do sono, da alimentação e dos cuidados com o corpo são essenciais para o aprendizadoadolescentes.

"Ao longo da infância e da adolescência, deficiências nutricionais podem comprometer a aprendizagem e reduzir o desempenho acadêmicocrianças", diz o documento Fatores fisiológicos que influem sobre a educação, da Rede NacionalCiências para a Educação (CpE), que tem Louzada como um dos autores.

"Criançassituaçãoinsegurança alimentar têm o dobrochanceapresentar hiperatividade e problemasatenção quando comparadas àquelas que vivemsituaçãosegurança alimentar. Um trabalho preliminar indicou até mesmo que a fome na infância pode ser um preditordepressão e ideação suicida na adolescência e no início da idade adulta."

Adolescente dormindo

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Legenda da foto, Sono, alimentação e exercício físico ajudam no aprendizado do adolescente

Também há, segundo Louzada, prova suficienteque o "exercício físico diário estimula a formação e o crescimentonovos neurônios, o que melhora a cognição. Isso se traduz, por exemplo,um melhor desempenhomatemática". Não precisa ser uma atividade física intensa ou totalmente estruturada, mas ela precisa ser incentivadacasa e na escola, todos os dias.

Segundo a CpE, "o exercício físico aeróbico é capazaumentar o estadoatençãoavaliações, com melhores resultados nas tarefas e compreensão mais clara da leitura".

Já o sono, para adolescentes, deve serno mínimo 8 ou 9 horas por dia para adolescentes, recomenda o NHS, sistemasaúde público britânico.

A CpE aponta que "problemas do sono estão associados à obesidade e ao aumento do risco cardiovascular" e que "o deficitsono constitui um dos principais gargalos fisiológicos para o aprendizado", uma vez que, ao dormir, consolidamos memórias e repomos neurotransmissores.

O documento defende, também, mudanças nos horários escolares, "para atender as necessidadessono dos estudantes".

"Há uma clara inadequação no horárioinício das aulas. O horário das 7h da manhã, bastante difundidonosso país, é inadequado, principalmente para adolescentes, que apresentam maior dificuldade para antecipar o horárioinício do sono noturno", diz o texto.

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