Violência no Rio: Estado vive 'derrota profundabook of ra casino onlineprojeto civilizador', diz especialistabook of ra casino onlinesegurança pública:book of ra casino online
Para Cano, o Rio e o Brasil vivem um momentobook of ra casino online"recuo do direito", com uma políticabook of ra casino onlinesegurança que delega a proteção aos indivíduos, garantindo-lhes maior acesso a armas, e uma retóricabook of ra casino onlineincentivo à letalidade policial tanto no nível estadual, com o governador Wilson Witzel, quanto federal, com o presidente Jair Bolsonaro.
"Acho que vivemos uma derrota muito profunda desse projeto civilizador", afirma. "As UPPs (Unidadesbook of ra casino onlinePolícia Pacificadora), para nós e para os setores mais abertos da polícia, eram uma oportunidadebook of ra casino onlinemudar o modelobook of ra casino onlinesegurança, deixar para trás o modelobook of ra casino onlineconfronto e tentar enveredar para um modelobook of ra casino onlineproteção, contençãobook of ra casino onlinedanos, reduçãobook of ra casino onlineconfrontos", aponta.
"Isso não aconteceu, e agora vem essa reviravolta, esse retorno ainda mais virulento às velhas políticas do confronto."
Leia abaixo os principais trechos da entrevista.
book of ra casino online BBC News Brasil - O senhor se mudou para o Rio no fim dos anos 1990, décadabook of ra casino onlineque o Estado vivia um ápice no índicebook of ra casino onlinehomicídios. A fase atual se parece com aquela?
book of ra casino online Ignacio Cano - A grande diferença é que naquela época a fase era pesada, mas achávamos que aquilo era o resquício da ditadura. Tivemos o general Nilton Cerqueira (chefe da operação que matou o militantebook of ra casino onlineesquerda Carlos Lamarca durante a ditadura) como secretário da Segurança, tivemos aquelas políticas bárbarasbook of ra casino onlinegratificação faroeste (uma bonificação por combate a criminosos que estimulou a letalidade policial).
Tudo aquilo soava como um restobook of ra casino onlineoutro período que ainda não havia sido superado. Havia a ideiabook of ra casino onlineque iria acabar, ebook of ra casino onlinefato foi acabando.
Entretanto, houve uma regressão muito profundabook of ra casino online2013 para cá. Os avanços foram se perdendo. Perdeu-se a batalha retórica, se perderam as políticas públicas e hoje vivemos um momentobook of ra casino onlinederrotabook of ra casino onlinetodos esses avanços que ocorreram ao longo desse período.
Hoje vemos voltar com mais força que nunca aquele espíritobook of ra casino online"é preciso matar o máximo possível". Acho que as políticas tanto do Bolsonaro quanto do Witzel estão baseadas na ideiabook of ra casino onlineque vamos resolver o problema matando o máximobook of ra casino onlinenúmerobook of ra casino onlinepessoas (criminosos). Que se vincula com a ideia da gratificação faroeste.
book of ra casino online BBC News Brasil - O senhor vê na política atual um encorajamento para matar criminososbook of ra casino onlinevez prendê-los? O retornobook of ra casino onlineuma espéciebook of ra casino onlinegratificação faroeste?
book of ra casino online Cano - Bem, agora o Estado não tem dinheiro para oferecer aos policiais. Mas acho que haverá uma premiação simbólica. Há um claro encorajamento para a polícia matar mais, quando já batemos o recorde histórico (de mortes cometidas por policiais) no ano passado.
O grande paradoxo é que as políticas que estão sendo propostas no nível federal e estadual vendem como uma novidade tudo o que, na verdade, já acontece. A possebook of ra casino onlinearmas já vem crescendo muito nos últimos anos. As mortes pela polícia estãobook of ra casino onlineum recorde histórico. Eles estão vendendo a continuidade como novidade.
Elegem a nós como inimigos retóricos - especialistas, membros da sociedade civil, defensoresbook of ra casino onlinedireitos humanos etc. - como se alguma vez tivéssemos conseguido implementar as políticas que defendemos, o que nunca tivemos a possibilidade realbook of ra casino onlinefazer.
Acho que vivemos uma derrota muito profunda desse projeto civilizador. As UPPs, para nós e para os setores mais abertos da polícia, eram uma oportunidadebook of ra casino onlinemudar o modelobook of ra casino onlinesegurança. Deixar para trás o modelobook of ra casino onlineconfronto e tentar enveredar para um modelobook of ra casino onlineproteção, contençãobook of ra casino onlinedanos, reduçãobook of ra casino onlineconfrontos. Isso não aconteceu, e agora vem essa reviravolta, esse retorno ainda mais virulento às velhas políticas do confronto.
book of ra casino online BBC News Brasil - Em fevereiro, uma operação policial no morro Fallet-Fogueteiro deixou 13 mortos no Rio. A Polícia Militar afirma que os criminosos foram mortosbook of ra casino onlineconfronto, mas as famílias denunciam execuções e torturas. Como o senhor avalia esse caso?
book of ra casino online Cano - É um caso muito simbólico, com 13 mortes, o mesmo númerobook of ra casino onlinemortes que encontramos nas chacinas da Nova Brasíliabook of ra casino online1994book of ra casino online1995 (somadas, 26 pessoas foram mortos nos dois episódios, na zona norte do Rio). Os casos resultaram na condenação do Brasil na Corte Interamericanabook of ra casino onlineDireitos Humanos, condenação que está pendente e que ébook of ra casino onlinecumprimento obrigatório pelo país.
Esta operação, neste iníciobook of ra casino onlinegoverno, simboliza essa políticabook of ra casino onlineextermínio que tem sido defendida abertamente pelo governador e pelo presidente, a velha políticabook of ra casino online"bandido bom é bandido morto". O fatobook of ra casino onlineo governador afirmar que a ação foi legítima sem que as investigações tenham sido concluídas indica um recuo do direto.
As evidênciasbook of ra casino onlinetortura contra alguns dos meninos mortos são um fatobook of ra casino onlineextrema gravidade, que inclusive fugiria aos argumentos mais estapafúrdiosbook of ra casino onlineque a polícia tem direito a matar, porque estamos falandobook of ra casino onlinetortura, que é outro crime.
É um caso extremamente grave e o ônus está com o Ministério Público do Rio, para ver se vai ser capazbook of ra casino onlineacompanhar essas investigações e oferecer denúncias, se for confirmado que houve tortura e execução sumária.
book of ra casino online BBC News Brasil - O governador Wilson Witzel planeja extinguir a Secretariabook of ra casino onlineSegurança Pública. Isso pode acentuar a divisão entre as polícias Civil e Militar?
book of ra casino online Cano - Ele alega que, sem a Secretariabook of ra casino onlineSegurança Pública, as polícias vão poder recuperar a autonomia e trabalhar. Como se antes não trabalhassem por culpabook of ra casino onlineum jugo que a secretaria exercesse sobre elas. Isso é falso. Qualquer um que acompanhe o cenáriobook of ra casino onlinesegurança no Brasil sabe que as secretariasbook of ra casino onlinesegurança mandam pouco. As polícias têm um graubook of ra casino onlineautonomia elevadíssimo, e não trabalham juntas.
Há dois beneficiários dessa políticabook of ra casino onlinedescontrole. O primeiro é a lógica corporativa das polícias, que já era forte, e vai se reforçar. A Polícia Civil vai trabalhar para a Polícia Civil, a Polícia Militar para a Polícia Militar.
O outro é a corrupção. Os policiais corruptos e as milícias estão adorando essas falasbook of ra casino onlineque a partirbook of ra casino onlineagora não vai ter interferência,book of ra casino onlineque mortes pela polícia não vão ser investigadas. Tem coisa melhor para a milícia? Basta dizer que foi mortobook of ra casino onlinetrocabook of ra casino onlinetiro. É muito perigoso o que está acontecendobook of ra casino onlinetermosbook of ra casino onlinedescontrole, e os efeitos perversos que isso pode gerar.
book of ra casino online BBC News Brasil - A intervenção federal na áreabook of ra casino onlinesegurança pública do Rio foi decretada há um ano pelo governo do então presidente Michel Temer, e encerrada no fimbook of ra casino onlineseu mandato. Que efeitos deixou?
book of ra casino online Cano - A intervenção foi uma tentativabook of ra casino onlinefazer uma operação política e conseguir uma bandeira para o (ex-ministro da Segurança Pública Raul) Jungmann e Temer no momentobook of ra casino onlineque eles não tinham nenhuma. Essa operação política fracassou. Nenhum dos dois conseguiu articular um projeto político com base naquilo.
A intervenção conseguiu reduzir a quantidadebook of ra casino onlineroubosbook of ra casino onlinecargas, mas aumentou muito as mortes pela polícia. Basicamente, houve uma inércia, uma continuidade (nos índicesbook of ra casino onlinecriminalidade), exceto no roubobook of ra casino onlinecargas.
Acho que, no mínimo, deveria ter mostrado para as pessoas que o Exército não vai resolver magicamente os problemasbook of ra casino onlinesegurança. Embora o apoio popular à intervenção militar tenha sido alto.
book of ra casino online BBC News Brasil - O númerobook of ra casino onlinemortes por policiais alcançou o recordebook of ra casino online1.532 no ano passado, contra 1.127book of ra casino online2017. O que causou esse crescimento?
book of ra casino online Cano - Claramente, as orientações da intervenção federal. O discurso públicobook of ra casino onlinedizer que não eram homicídios, a tentativabook of ra casino onlinemudar a contagem dos casos (durante a intervenção, o ex-secretáriobook of ra casino onlineSegurança Pública Richard Nunes criou um grupobook of ra casino onlinetrabalho para modificar o modelobook of ra casino onlinecontabilizaçãobook of ra casino onlinehomicídios decorrentesbook of ra casino onlineintervenção policial, buscando desmembrar os casosbook of ra casino onlinelegítima defesa). Houve uma sinalização no sentidobook of ra casino onlineque o caminho era esse.
book of ra casino online BBC News Brasil - A retórica conta muito nas políticasbook of ra casino onlinesegurança?
book of ra casino online Cano - Muito. A retórica local é o que mais conta. O que o comandante diz no batalhão, isso é o mais importantebook of ra casino onlinetudo. A retórica num nível central também conta, mas a local, do batalhão, é decisiva.
Quando o Bolsonaro vai ao Bope e fala que agora quem manda no Brasil são os capitães, isso é uma fala venenosa. Porque é interpretada nas bases da polícia como: "Agora somos nós. O comando não vai mais determinar o que nós fazemos".
book of ra casino online BBC News Brasil - A seu ver, o contexto atual favorece a expansão das milícias book of ra casino online ?
book of ra casino online Cano - Essa fase é extremamente perigosa para favorecer o desenvolvimento das milícias. Pelo contextobook of ra casino onlinedescontrole,book of ra casino onlineque não vai ter investigação.
Quando veio a intervenção federal, o discurso erabook of ra casino onlineque a polícia do Rio estava descontrolada e era preciso um general para recuperar o controle. Agora o discurso é o oposto. A polícia vai ser liberada. E não só a polícia, mas os capitães. Eu acho extremamente perigoso o que isso pode significarbook of ra casino onlinetermosbook of ra casino onlineexpansãobook of ra casino onlinemilícias.
book of ra casino online BBC News Brasil - Em janeiro, veio a público que o deputado Flavio Bolsonaro empregoubook of ra casino onlineseu gabinete a mãe e a mulherbook of ra casino onlineum miliciano que está foragido desde janeiro, apontado pelo Ministério Público como uma das lideranças do Escritório do Crime book of ra casino online , grupobook of ra casino onlineextermínio no Rio. Flávio fez homenagens a ele e outros milicianos na Alerj, e depois se defendeu dizendo que não foi responsável pelas nomeações, e que já homenageou centenasbook of ra casino onlinepoliciais embook of ra casino onlinetrajetória parlamentar. Essas revelações preocupam?
book of ra casino online Cano - Acho que as homenagens a policiais envolvidos com milícia são um elemento preocupante. Mas dado o fatobook of ra casino onlineque ele homenageou muitos policiais, isso não quer dizer que ele está apoiando a milícia. Porém, algumas declarações dele ebook of ra casino onlineseu pai no passado indiciaram um apoio aberto às milícias, e o fatobook of ra casino onlineter nomeado para seu gabinete pessoas diretamente ligadas a milicianos é mais preocupante.
Ele não pode argumentar que as nomeações eram feitas por outra pessoa. Cada deputado é diretamente responsável pelas indicaçõesbook of ra casino onlineseu gabinete. O fatobook of ra casino onlineter pessoas diretamente vinculadas a um miliciano seria um elemento grave contra qualquer deputado, e no caso o é contra o senador Flávio Bolsonaro.
book of ra casino online BBC News Brasil - O juiz Sérgio Moro apresentou um pacotebook of ra casino onlinepropostas anticrimebook of ra casino onlineque poderá ampliar o chamado excludentebook of ra casino onlineilicitude, ou seja, casosbook of ra casino onlineque mortes cometidas por policiais são enquadradas como legítima defesa. Essa era uma bandeirabook of ra casino onlineBolsonaro na campanha. Como o senhor vê essa proposta?
book of ra casino online Cano - O direitobook of ra casino onlinelegítima defesa já existe, não só para policiais, mas para qualquer cidadão. O que eles estão propondo, na verdade, é a continuidade da situação atual, mas vendendo como uma novidade. É mais uma tentativabook of ra casino onlineencontrar uma tradução jurídica para o velho bordão "bandido bom é bandido morto". É deixar que a polícia aplique a penabook of ra casino onlinemorte na rua, o que é uma barbárie.
Na prática, é extremamente fraca a probabilidadebook of ra casino onlineuma morte causada por um policialbook of ra casino onlineserviço resultarbook of ra casino onlineuma investigação profunda e, havendo prova,book of ra casino onlinecondenação. Os estudos mostram que muitos casosbook of ra casino onlineexecução sumária não são punidos.
Não é simplesmente uma tolerância, uma permissão. Há um encorajamento aberto por parte tanto do governo federal quanto do governo Estado do Rio. Quando as pessoas argumentam que a proposta permite que policiais não sejam punidos por isso (matarembook of ra casino onlineconfronto), isso é o que a proposta jurídica diz. A proposta política, que está na rua, é que eles sejam encorajados politicamente a fazer isso.
book of ra casino online BBC News Brasil - O ministro Sergio Moro diz que a proposta visa a tornar a legislação mais clara e nega que possa ser vista como uma carta branca para matar. Há instânciasbook of ra casino onlineque policiais podem ser injustamente penalizadosbook of ra casino onlinecasosbook of ra casino onlineperigo contra a própria vida?
book of ra casino online Cano - Isso é absolutamente falacioso. Os policiais têm o direitobook of ra casino onlinese defender, e eles aplicam esse direito. Não tem nenhum casobook of ra casino onlineque o policial tenha morrido porque não quis reagir. Também não é verdade que o policial tenha que esperar, sob a legislação atual, tomar o primeiro tiro para depois se defender. Você tem elementos para avaliar que vai ser objetobook of ra casino onlineagressão iminente. Se o cara puxa uma arma nabook of ra casino onlinefrente, você pode atirar para se defender. Não só um policial. Qualquer cidadão.
Outro elemento preocupante da proposta do Moro é dizer que, quando houver medo razoável ou violenta emoção (motivando a morte por um policial), o juiz poderá reduzir à metade a pena, ou simplesmente não aplicá-la. Isso gera uma insegurança jurídica muito grande. O juiz pode ou aplicar a totalidade da pena oubook of ra casino onlinemetade, ou não aplicar nada.
É o recuo do próprio direito. Cada um pode fazer o que quer. O policial faz o que quer, o juiz aplica a pena se quer. É um cenáriobook of ra casino onlinedegradação da tutela jurídica da conduta social.
book of ra casino online BBC News Brasil - O decreto que flexibiliza o acesso às armas book of ra casino online assinado por Bolsonaro reflete esse recuo? É uma maneirabook of ra casino onlineterceirizar a defesa para os cidadãos?
book of ra casino online Cano - As propostas do governo envolvem incrementar a letalidade policial e entregar uma arma para que cada cidadão se defenda como bem entender. O Estado abdicabook of ra casino onlinesua funçãobook of ra casino onlineproteção e deixa esse controle nas mãos do cidadão.
É literalmente um tiro no pé, ebook of ra casino onlineoutras partes do corpo. Quando você coloca uma arma no mercado,book of ra casino onlinegeral, ela não volta mais. A arma vai visitar várias pessoas, vários lugares, é emprestada, vendida, furtada.
Então,book of ra casino onlinenovo, é uma dialética do descontrole. E aí temos um perigo muito grande. Acho que veremos uma multiplicaçãobook of ra casino onlineconflitos com armasbook of ra casino onlinefogo, acidentes, suicídio, ou mesmo casos como o do menino que vai à escola com a pistola do pai e atira nos colegas, como vemos nos EUA. E sempre que houver um casobook of ra casino onlinegrande repercussão com armas recém-compradas, isso vai trazer um forte desgaste para o governo.
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