O que são e como agem as milícias acusadasbet ufc 299matar Marielle Franco:bet ufc 299
Também foi feita uma operaçãobet ufc 299busca e apreensão na casa e no gabinete do vereador Marcello Siciliano (PHS). O político estaria envolvido junto com um miliciano no assassinatobet ufc 299Marielle, segundo depoimentos prestados à polícia. Siciliano nega qualquer participação no crime.
A Polícia Civil ainda apura um suposto plano para executar o deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL). Segundo uma denúncia anônima, um policial militar e comerciantes ligados a milicianos teriam a intençãobet ufc 299matá-lo.
Freixo é o autor do relatório da CPI (Comissão Parlamentarbet ufc 299Inquérito) que investigou a atuação das milícias,bet ufc 2992008, e que culminou no indiciamentobet ufc 299226 pessoas por ligações com estes grupos, entre elas vereadores e deputados estaduais.
Até hoje esta CPI foi a maior investigação já feita sobre a atuaçãobet ufc 299milícias.
Segundo especialistas ouvidos pela BBC News Brasil, as milícias representam hoje uma ameaça maior do que o tráficobet ufc 299drogas no Riobet ufc 299Janeiro.
O que são as milícias
Milícias são grupos armados irregulares formados muitas vezes por integrantes e ex-integrantesbet ufc 299forçasbet ufc 299segurança do Estado, como policiais, bombeiros e agentes penitenciários.
Os milicianos assumem por meio da força armada o controle territorialbet ufc 299áreas ou mesmo bairros inteiros e coagem moradores e comerciantes, segundo definições traçadas pelos pesquisadores Ignácio Cano e Thais Duarte no estudo "No Sapatinho: a evolução das milícias no Riobet ufc 299Janeiro (2008-2011)", publicadobet ufc 2992012.
Estes criminosos se apresentam como uma solução para o problema do tráficobet ufc 299drogas seja para impedirbet ufc 299entradabet ufc 299um determinado bairro, por exemplo, ou como uma formabet ufc 299expulsar os traficantes dali.
"Estes grupos podem ter 20, 30 ou até 40 membros. São pessoas quebet ufc 299alguma forma têm acesso privilegiado a armas e bons contatos na polícia, o que lhes confere proteção. Eles ocupam uma área sob a justificativabet ufc 299que proporcionarão a segurança que o Estado não é capazbet ufc 299fornecer, deixam um grupo armado no local e partem para outras áreas para invadi-las", diz Michel Misse, diretor do Núcleobet ufc 299Estudosbet ufc 299Cidadania, Conflito e Violência Urbana da UFRJ (Universidade Federal do Riobet ufc 299Janeiro).
As milícias têm como objetivo principal o lucro, obtido a princípio pela cobrança da proteção oferecida nestes locais.
"Eles chegam dizendo que trarão a paz, mas isso tem um preço, que é a taxabet ufc 299segurança imposta a moradores e comerciantes. Quem se opõe, é morto. Depois, as milícias percebem que podem criar um negócio mais amplo e ampliam o portfóliobet ufc 299suas atividades", explica o sociólogo José Cláudiobet ufc 299Souza Alves, professor da UFFRJ (Universidade Federal Rural do Riobet ufc 299Janeiro).
O pesquisador diz que atualmente as milícias estão envolvidas na ofertabet ufc 299uma variedadebet ufc 299serviços, como vendabet ufc 299água, gás e cestasbet ufc 299alimentos, transporte clandestino, TV a cabo e internet piratas, roubo e refinobet ufc 299petróleo cru para fabricaçãobet ufc 299combustível, coletabet ufc 299lixo e também na apropriaçãobet ufc 299terras públicas e privadas abandonadas ou sem uso, que são loteadas e vendidas ilegalmente.
Esta última atividade estaria ligada ao crime contra Marielle e Anderson,bet ufc 299acordo com a polícia, porque a vereadora estaria apoiando um grupo que lutava contra o plano da prefeitura para a comunidadebet ufc 299Rio das Pedras, na zona oeste,bet ufc 299realizar parcerias com construtoras para que elas fizessem obrasbet ufc 299urbanizaçãobet ufc 299troca da permissão para construir edifíciosbet ufc 299até 12 andares na região.
Rio das Pedras foi uma das primeiras áreas da cidade a ser controlada por milícias. A atuação da vereadora contrariaria os interessesbet ufc 299milicianos, que seriam donosbet ufc 299imóveis no local.
A origem das milícias
Muitas vezes, as milícias são tratadas como uma novidade surgida no Riobet ufc 299Janeiro nos anos 2000, mas especialistas no tema apontam que suas raízes são mais profundas.
"Quando se cria essa categoria, parece um fenômeno novo, mas foi apenas um novo nome para um tipobet ufc 299atividade que já existia na Baixada Fluminense [na região metropolitana do Rio] desde os anos 1950,bet ufc 299que gruposbet ufc 299extermínio já agiam como protomilícias e cobravam taxasbet ufc 299comerciantes locais para manter a ordem", diz Misse.
Alves afirma que, a partirbet ufc 299meados dos anos 1990, estes grupos mudarambet ufc 299perfil - até então formados majoritariamente por civis, eles passaram a ter entre seus membros cada vez mais agentes públicosbet ufc 299segurança e ganharam força, atuando também na política.
"Com o controlebet ufc 299um território urbano, eles passam a oferecer o acesso a eleitores e vendem votosbet ufc 299áreas inteiras para quem paga mais", diz o sociólogo.
A socióloga Julita Lemgruber, coordenadora do Centrobet ufc 299Estudosbet ufc 299Cidadania na Universidade Candido Mendes (CESeC) e ex-diretora do sistema prisional do Riobet ufc 299Janeiro, diz que,bet ufc 299princípio, "havia a crença que estes grupos tinham bons propósitos".
"Políticos chegaram a transmitir a ideiabet ufc 299que, como a polícia não podia dar segurança, a própria população estava se organizando para fazer isso, mas, com o tempo, ficou claro que eram grupos armados que estavam submetendo comunidades inteiras a um regimebet ufc 299terror e cometendo todo tipobet ufc 299crimes", diz Lemgruber.
A CPIbet ufc 2992008, instaurada após funcionários do jornal O Dia terem sido torturados por milicianos, foi um ponto importante para essa mudançabet ufc 299percepção.
A Secretariabet ufc 299Segurança Pública do Riobet ufc 299Janeiro informou à BBC News Brasil que, entre 2006 e setembro deste ano, 1709 pessoas foram presas por ligações com milícias.
No entanto, Lemgruber faz críticas ao real efeito da CPI e da atuação do Estado contra estes grupos.
"A CPI mostrou que temos um problemabet ufc 299grandes proporções, durante algum período pessoas foram presas, mas nada foi feito além disso", afirma a socióloga.
"Algumas medidas simples poderiam ter sido tomadas. As corregedorias das corporações deveriam ter aberto investigações para verificar se agentes suspeitos tinham rendimentos para levar a vida que tinham. Estes grupos precisavam ser sufocados financeiramente, mas isso nunca aconteceu, porque não há interesse. Ou melhor, há muitos interesses escusos entremeados aí."
A dimensão das milícias
Estudos apontam que as milícias cresceram bastante desde a conclusão da CPI.
Um levantamento do MPE (Ministério Público Estadual) do Riobet ufc 299Janeiro reveladobet ufc 299abril pelo jornal O Globo mostra que, nos últimos oito anos, as milícias mais do que dobrarambet ufc 299áreabet ufc 299atuação na zona oeste do Riobet ufc 299Janeiro.
Em 2010, grupos paramilitares controlavam 41 comunidades e favelas cariocas nesta região da cidade. Hoje, são 88.
Porbet ufc 299vez, um levantamento do site G1 feito com basebet ufc 299dados do MPE, da Polícia Civil, da Secretariabet ufc 299Estadobet ufc 299Segurança e do IBGE aponta que,bet ufc 2992008, as milícias estavambet ufc 299161 favelas da região metropolitana fluminense. Dez anos depois, já estãobet ufc 29937 bairros da cidade e 165 favelas.
Estes grupos teriam 2 milhõesbet ufc 299pessoas sobbet ufc 299influência,bet ufc 299uma áreabet ufc 299348 km², uma expansão ocorrida não só na zona oeste, mas também na Baixada Fluminense e no municípiobet ufc 299Itaguaí, a 69 km do Rio.
Na avaliaçãobet ufc 299Alves, da UFRRJ, as milícias representam hoje um perigo maior do que o tráficobet ufc 299drogas.
"O poder deles é incomparável, têm um portfóliobet ufc 299negócios embet ufc 299base e estão dentro do Estado. Eles elegem políticos, o tráfico não. Veja que, para a investigação sobre a morte da Marielle chegar a alguma coisa, foram necessários nove meses. Não sei se isso terá algum resultado, mas mostra o poder que as milícias têm hoje."
Misse, da UFRJ, concorda que os grupos paramilitares são um problemabet ufc 299segurança pública "mais grave do que o tráfico, porque envolve agentes e ex-agentes públicos".
"Hojebet ufc 299dia, há um discurso que legitima esse tipobet ufc 299atuação,bet ufc 299que isso é algo eficiente para controlar a criminalidade, algo que o tráfico não tem", afirma.
"As milícias continuam se espalhando e parecem ter um projetobet ufc 299expansão,bet ufc 299ampliar seu poder por meio da política, conferindo a ela uma proteção por dentro do Estado."
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