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‘Meu bebê se mutilava no útero’: após sofrerbetpix365 adriano imperadorsíndrome rara, chilena luta por aborto:betpix365 adriano imperador
Mas Paola precisaria esperar por um aborto espontâneo ou pelo término da gravidez, quando o recém-nascido inevitavelmente morreria. Ambas as opções a amedrontavam.
"Sentia que meu filho estava morrendo, e cada diabetpix365 adriano imperadorgravidez era uma tortura. Mas também tinha medobetpix365 adriano imperadorsofrer um aborto espontâneo, e ser culpada por isso. Tinha medobetpix365 adriano imperadorser presa", lembra.
Condição fatal
As bridas ou bandas costumam aparecer no primeiro trimestrebetpix365 adriano imperadorgestação, quando a membrana amniótica que envolve o embrião se rompe, produzindo vários filamentos fibrosos. A tendência nesse caso é que ocorra um aborto espontâneo.
Mas se o embrião sobrevive, vai ficando preso pelos cordões, que vão provocado lesõesbetpix365 adriano imperadorseu corpo à medida que ele cresce. Os fetos podem sofrer ferimentos ou amputações no rosto, braços, pernas ou órgãos vitais, como cérebro e coração.
Cientistas ainda não sabem a causa exata da condição, mas publicações científicas sugerem predisposição genética ou fatoresbetpix365 adriano imperadorrisco que afetam o sistema vascular, como o usobetpix365 adriano imperadordrogas oubetpix365 adriano imperadormisoprostol (princípio ativobetpix365 adriano imperadormedicamento para tratamentobetpix365 adriano imperadorúlcera, mas também abortivo e, por isso, proibido no Brasil), alémbetpix365 adriano imperadortabaco e diabetes.
Em vários casos, há possibilidadebetpix365 adriano imperadortratamento. Mas condições como abetpix365 adriano imperadorPaola - que ocorrem a cada 15 mil nascidos vivos, segundo a Organizaçãobetpix365 adriano imperadorEnfermidades Raras dos EUA - são mais complexas.
Nem sequer há a possibilidadebetpix365 adriano imperadorque o bebê sobreviva fora do corpo da mãe.
Semana 14
Quando estava na 14ª semanabetpix365 adriano imperadorgestação, Paola sofreu um sangramento e foi levada à emergência do hospital mais próximo.
De início, a equipe médica informou que o bebê tinha morrido. "Senti algo terrível: tive esperançabetpix365 adriano imperadorque aquilo tivesse terminado."
Mas logo o especialista corrigiu: "Não, o coração ainda bate". Tiveram dificuldadebetpix365 adriano imperadornotar a batida, explicaram, porque o coração estava fora do corpo do feto. "Meu filho tinha o peito aberto", lembra ela.
Paola chegou a pensarbetpix365 adriano imperadorfazer um aborto no exterior, mas descartou a ideia. "O que eu poderia fazer sozinhabetpix365 adriano imperadoroutro país, a quem poderia pedir ajuda?", questionou-se na época.
Ela, que é católica, lembra que seu marido chegou a dizer que Deus poderia castigar pela interrupção da gravidez.
"Mas àquela altura ele também já tinha entendido que não havia nada que pudéssemos fazer para salvar nosso filho."
'Não havia o que fazer'
Recomendaram-lhe que procurasse uma equipe médica da Universidade do Chile.
"Senti muita empatia ali, mas o estado do meu filho era tão horrível que pediam desculpas ao descrevê-lo. Tinha o pescoço e a cabeça abertos."
O médico Mauro Parra, que a atendeu, disse que os intestinos também estavam fora do corpo do feto.
"Fizemos a análise com 21 semanasbetpix365 adriano imperadorgravidez. Do pontobetpix365 adriano imperadorvista médico, não havia o que fazer", explica à BBC Mundo.
Parra já tratou outros casos da síndrome e conta que é possível operar malformações ou alterações estruturais, casosbetpix365 adriano imperadorbridas menores, onde há uma perna ou um braço afetado. Nesses casos, a brida é cortada numa cirurgia, evitando-se a amputação da extremidade.
Mas no casobetpix365 adriano imperadorPaola a gravidade das lesões impossibilitava qualquer intervenção. Após o nascimento, tampouco havia alternativa. Seria impossível recolocar o coração dentro do corpo, porque não havia espaço no tórax.
"Em casos como esse, mesmo que o cirurgião conseguisse fabricar um tórax e colocasse o coração ali, o bebê não sobreviveria. As condições não permitiram que ele desenvolvesse os pulmões, ele não respiraria", detalha.
A equipe ofereceu apoio psicológico e o adiantamento do parto para a 37ª semana, quando a lei chilena já não criminaliza a mulher.
"Poderíamos assim diminuir um pouco o dano psicológico dessa espera eterna. Mas para uma mulher naquelas circunstâncias, isso não era nada", comentou Parra.
Paola buscou assistência psicológica da ONG Miles, que apoia a descriminalização do aborto no Chile, e acabou se envolvendo com a causa.
Em maio, quando a mortebetpix365 adriano imperadorseu filho completava dois anos, ela apresentou seu caso durante uma audiência pública da Comissão Interamericanabetpix365 adriano imperadorDireitos Humanos. A sessão foi solicitada pela Miles e outras entidades, que criticam a demora na tramitação do projetobetpix365 adriano imperadorlei para descriminalizar o aborto.
Uma salabetpix365 adriano imperadorsilêncio
Paola completou 22 semanasbetpix365 adriano imperadorgravidez. "Após uma noitebetpix365 adriano imperadorcontrações, cheguei correndo ao hospital. Às 7h30, meu filho nasceu", contou.
Ela lembra que todos na salabetpix365 adriano imperadorcirurgia ficarambetpix365 adriano imperadorsilêncio.
"Perguntei aos médicos se seu coração ainda batia, e me disseram que ele nasceu morto". Perguntaram-lhe se ela queria ver o bebê, que foi descrito "como uma massinha, como um tumor".
"Meu marido disse que não. Eu tampouco queria ficar com aquela imagem. Sabia que não tinhabetpix365 adriano imperadorcarinha, mas me lembreibetpix365 adriano imperadorque estava inteiro até a cintura, e então pedi que me mostrassem apenas as pernas. Assim, o cobriram, se aproximarambetpix365 adriano imperadormim e vimos suas perninhas."
O bebê nasceu no dia 29betpix365 adriano imperadormaio e recebeu o nomebetpix365 adriano imperadorJesus.
De acordo com a ciência, a capacidadebetpix365 adriano imperadorsentir dor não se desenvolve até a 24ª semanabetpix365 adriano imperadorgestação. E as bridas, como são parte do feto e provocam lesões lenta e progressivamente, não causam sofrimento. Mas a mãe sentia o contrário.
"Todos me diziam que não (sentia dor), mas como uma mãe sente, eu acho que ele sentia tudo desde o primeiro dia", relata. "Pensava o tempo todo que ele estava sendo cortado. E pedia, por favor, que não se movimentasse, pois estaria se ferindo."
Leibetpix365 adriano imperadordiscussão
Na última semana, a Comissãobetpix365 adriano imperadorConstituição do Senado chileno aprovou a descriminalização do abortobetpix365 adriano imperadorcasosbetpix365 adriano imperadorrisco para a mãe e inviabilidade do feto, mas ainda falta debater o casobetpix365 adriano imperadorestupro. O projetobetpix365 adriano imperadorlei seguebetpix365 adriano imperadortramitação.
Segundo Parra, mesmo numa "legislação limitada como a que pode ser aprovada, o casobetpix365 adriano imperadorPaola seria contemplado sem discussão".
Em um país com cercabetpix365 adriano imperador250 mil gestações por ano, o médico estima que ocorrambetpix365 adriano imperadorcinco a dez casos como o dela. No dia anterior à conversa com a BBC Mundo, o cirurgião tinha inclusive atendido um deles.
"Era um enorme defeito na cabeça, no rosto", contou. "Uma mãe jovem, e o que se pode oferecer? Nada. Nada alémbetpix365 adriano imperadoresperar que ele nasça."
No Brasil, a legislação permite interromper a gravidez quando há risco para a mulher,betpix365 adriano imperadorcasobetpix365 adriano imperadorestupro ou se o feto for anencéfalo (sem cérebro).
Além disso, o Supremo Tribunal Federal (STF) deu mais um passo rumo à descriminalização do abortobetpix365 adriano imperadornovembro passado quando decidiu, sobre um caso isolado, que praticar aborto nos três primeiros mesesbetpix365 adriano imperadorgestação não é crime.
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