Quais as relaçõesbet7Bolsonaro e Lula com governos autoritários?:bet7
Lula, PT e as ditadurasbet7esquerda
"Se o PT voltar, o Brasil vai virar uma Venezuela" - essa ideiabet7que o Brasil viraria uma ditadura e entraria numa severa crise econômica e social, como o país comandando por Nicolás Maduro, caso o partidobet7Lula volte ao poder no Brasil, tem sido repetida com insistência por Bolsonaro e seus apoiadores desde a disputabet72018,bet7que o atual presidente derrotou no segundo turno o candidato petista, Fernando Haddad.
Na eleição desse ano, a "ameaça venezuelana" tem sido acompanhada da "ameaça nicaraguense", ou seja, o discurso bolsonaristabet7que Lula adotariabet7seu governo medidas semelhantes às do governo autoritáriobet7Daniel Ortega, que comanda o país desde 2007 e tem perseguido diversos grupos opositores, inclusive católicos.
A ação do governo nicaraguense contra o segmento religioso se intensificou a partirbet72018, quando a Igreja Católica protegeu manifestantes que foram duramente reprimidos pelo governobet7atos contra a reforma previdenciária, episódio que deixou centenasbet7mortos no país. Desde então, diversos integrantes da Igreja foram obrigados a deixar a Nicarágua, como Núncio Apostólico, o equivalente da Igreja Católica a um embaixador. Já o bispo Rolando Álvarez, importante voz crítica ao regimebet7Ortega, foi preso.
A campanhabet7Bolsonaro tem usado o exemplo nicaraguense para dizer que Lula pretende reprimir a liberdadebet7culto e fechar igrejas no Brasil.
No entanto, não há nada que comprove a acusaçãobet7que Lula e o PT perseguiriam católicos ou outros grupos religiosos, como os evangélicos.
O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), inclusive, determinoubet718bet7outubro que Twitter e Instagram removessem postsbet7aliadosbet7Bolsonaro com esse teor. A decisão atingiu postagens dos deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Carla Zambelli (PL-SP) e do ministrobet7Minas e Energia, Adolfo Sachsida.
"As publicações transmitembet7forma intencional e maliciosa mensagembet7que o candidato Luiz Inácio Lula da Silva é aliado político do ditador da Nicarágua Daniel Ortega e, por consequência, apoia e consente com os ilícitos por ele praticados, como a perseguiçãobet7cristãos e a tortura", diz trecho da decisão do ministro Paulobet7Tarso Sanseverino.
Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil ressaltam que o históricobet7governos do PT não mostra qualquer tendência do partido para ações autoritárias, como as adotadasbet7países como Nicarágua, Venezuela e Cuba, por exemplo.
Por outro lado, dizem, a faltabet7um crítica durabet7Lula e seu partido a abusos desses governos acaba sendo explorada pela campanha bolsonarista.
"O PT tem um histórico, desde os anos 80,bet7ligação com partidos da esquerda mais moderadabet7outros países, que adotam uma agenda semelhantebet7apoio a agendas progressistas e a políticasbet7redistribuiçãobet7renda na América Latina", afirma Denilde Oliveira Holzhacker, professorabet7relações internacionais da ESPM-SP.
"Só que, por outro lado, os líderes do PT sempre tiveram dificuldadebet7questionar essa ala da esquerda latino americana autoritária. E essa ambiguidade, essa dificuldadebet7se posicionar frente a esses governos, tem sido explorada pelos grupos bolsonaristas e, principalmente, pela campanha do Bolsonaro agora", acrescenta ela.
Na caso da Nicarágua, por exemplo, o PT tem um históricobet7boa relação com Ortega devido abet7liderança na Revolução Sandinista, um movimento popularbet7esquerda quebet71979 derrubou a ditadura dos Somoza, família que governou o país por maisbet735 anos. Ortega foi eleito presidente pela primeira vezbet71984 e governou até 1990 sob forte oposição dos Estados Unidos, que apoiavam os Somoza.
Após ser eleito novamentebet72007, passou e a governarbet7forma autoritária e conseguiu alterar as regras do país para permitir a reeleição indefinida.
Em 2021, ganhou um quarto mandato, mas o processo eleitoral foi duramente criticado pela comunidade internacional, que o classificou como "antidemocrático", "ilegítimo" e "sem credibilidade". Maisbet730 líderes da oposição foram presos, incluindo sete candidatos presidenciais que não puderam concorrer.
Lula já se manifestoubet7defesa da democracia na Nicarágua, mas ele e seu partido não fizeram repúdios mais duros à ditadurabet7Ortega.
"Se eu pudesse dar um conselho ao Daniel Ortega, daria a ele e a qualquer outro presidente: não abra mão da democracia, não deixebet7defender a liberdadebet7imprensa,bet7comunicação,bet7expressão, porque isso é o que favorece a democracia", dissebet7agosto do ano passadobet7entrevista a um canal mexicano.
Porém,bet7novembrobet72021, o PT divulgou uma nota celebrando a terceira reeleiçãobet7Ortega, assinada por Romenio Pereira, secretáriobet7Relações Internacionais da legenda. No texto, a legenda classifica o pleito como "uma grande manifestação popular e democrática" e diz que o resultado confirma "o apoio da população a um projeto político que tem como principal objetivo a construçãobet7um país socialmente justo e igualitário.
Logo depois, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, desautorizou a nota e reforçou a posição do partido pela democraciabet7um post no Twitter, mas sem críticas diretas a Ortega.
"Nota s/ eleições na Nicarágua ñ foi submetida à direção partidária. Posição PTbet7relação qq país é defesa da autodeterminação dos povos, contra interferência externa e respeito à democracia, por partebet7governo e oposição. Nossa prioridade é debater o Brasil c/ o povo brasileiro", tuitou Hoffmann.
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Finalbet7Twitter post, 1
Por outro lado, a presidente do PT endossou outras declarações do partido favoráveis aos regimesbet7Venezuela e Cuba, ambos paísesbet7que há décadas não há alternânciabet7poder e cujos governos são acusadosbet7perseguir a oposição.
No caso cubano, o partido emitiu uma nota apoiando a versão do governo, que desqualificava os protestos da oposição realizados no ano passado como se fossem atos promovidos pelos Estados Unidos. Ao mesmo tempo, o PT se calou sobre denúnciasbet7abusos na repressão aos manifestantes.
Segundo a organizaçãobet7defesa dos direitos humanos Human Rights Watch, os protestos pacíficos foram reprimidos com prisões abusivas. "Na maioria dos casos documentados, as pessoas detidas foram mantidas incomunicáveis por dias, semanas e, às vezes, meses, sem poder telefonar ou receber visitasbet7seus familiares ou advogados. Algumas foram espancadas, forçadas a agachar-se nuas ou submetidas a maus-tratos, incluindo privaçãobet7sono e outros abusos que,bet7alguns casos, constituem tortura", diz uma relatório da organização.
Segundo o professorbet7História Contemporânea da USP Lincoln Secco, que há muitos anos acompanhabet7perto o PT, dois elementos explicam a proximidade que o partido mantém historicamente com forçasbet7esquerdabet7outros países.
Ele explica que o PT segue a tradição da esquerda internacionalista, que entende que os trabalhadoresbet7diferentes países não têm apenas interesses locais, mas convergem embet7resistência contra a exploração das classes dominantesbet7diferentes países.
"Então, é normal que os partidos sociais-democratas, comunistas, socialistas, trabalhistas tenham vínculos internacionais", ressalta Secco.
Um segundo aspecto, nota o professor, é o fatobet7que as esquerdas na América Latina se orientam historicamente pelo anti-imperialismo.
"E o anti-imperialismo acaba também fazendo com que o partido tenha uma política externabet7vínculo com outros povos que ele julga que estão combatendo o mesmo inimigo, que seriam os Estados Unidos, principalmente quando eles intervêmbet7outros países ou apoiam golpesbet7Estado", acrescenta.
Segundo Secco, emborabet7seu início o PT tivesse correntes revolucionárias,bet7viés marxista ou socialista, "o partido caminhou para a defesa da democracia como um valor universal". Por outro lado, a legenda também se guia pelo princípio da "autodeterminação dos povos", que preconiza que não se deve interferirbet7questões internasbet7outras nações.
É uma visão que fica clara na resposta que Lula deu a Bolsonaro no debate da TV Bandeirantes, quando foi questionado sobre Nicarágua: "Quem acha que é imprescindível, insubstituível começa a nascer um ditador. Então se o Daniel Ortega está errando, o povo da Nicarágua que puna o Daniel Ortega, se o Maduro está errando, o povo que puna; porque você quem vai punir é o povo brasileiro, dia 30bet7outubro, se prepare", disse o petista.
Para o historiador, embora a faltabet7críticas duras do PT a governos autoritáriosbet7esquerda abra espaço para cobranças contra o partido, o histórico dos governos petistas mostra que um nova administraçãobet7Lula não representa riscos a democracia.
"O PT já governou o Brasilbet7quase quatro mandatos consecutivos e ele já deu provas suficientesbet7que é um partido da ordem democrática, não um partido que contesta essa ordem dentro do Brasil", diz Secco.
O ex-presidente conseguiu formar uma ampla aliança contra Bolsonaro nesta eleição porque antigos adversários do PT veembet7vitória como uma defesa da democracia. É o caso da senadora Simone Tebet (MDB), que ficoubet7terceiro lugar no primeiro turno presidencial, ebet7Geraldo Alckmin (PSB), candidato a vice-presidente na chapabet7Lula.
Bolsonaro e as ditadurasbet7extrema-direita
Ao mesmo tempo que ataca Lula e o PT pela relação com governos autoritáriosbet7esquerda, Jair Bolsonaro priorizou embet7política externa outras nações comandadas por líderes antidemocráticos.
O atual presidente entroubet7conflito direto com nações democráticas com as quais o Brasil tinha um históricobet7boa relação, como França, Alemanha e Noruega, devido a pressões que sofreu desses governos para fortalecer a preservação da Amazônia. Por outro lado, estreitou relações com a Hungria, cujo primeiro-ministro Viktor Orbán, foi um dos poucos líderes europeus presentes embet7posse,bet72019.
Desde que chegou ao poder,bet72010, Orbán, vem acumulando poderes por meiobet7uma guinada autoritária que começou no Judiciário e no Legislativo, avançou para a imprensa e chegou às escolas. Em pouco maisbet7uma década, o primeiro-ministro trocou centenasbet7juízes das cortes húngaras por aliados, alterou a lei eleitoral para beneficiar seu partido, transformou centenasbet7jornais independentesbet7máquinasbet7propaganda do Estado e chegou a reimprimir livros didáticosbet7História com conteúdo considerado xenofóbico.
Na avaliaçãobet7Kim Lane Scheppele, professorabet7sociologia e relações internacionais na Universidadebet7Princeton, nos EUA, Orbán chama atenção da ultradireita por ter conseguido incorporar uma espéciebet7"ditador do século 21", que corrói as instituições democráticas por dentro, muitas vezesbet7forma discreta, por meio da lei.
A família Bolsonaro vê a Hungriabet7Orbán não só como aliada, mas como um exemplo a ser seguido. O presidente, que adiou a visita que pretendia fazerbet72020 devido à pandemiabet7covid-19, esteve no paísbet7fevereiro deste ano.
"Acredito na Hungria e no prezado Orbán, que eu trato praticamente como um irmão, dadas as afinidades que nós temos na defesa dos nossos povos e na integração dos mesmos", disse Bolsonaro na ocasião.
Já o deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi recebido pelo primeiro-ministro Húngarobet7Budapestebet7abrilbet72019. Em junho deste ano, o segundo filho do presidente realizou a palestra "Hungria, exemplo a ser seguido" durante a conferência conservadora CPAC Brasil 2022,bet7que elogiava as políticasbet7Orbán.
Uma das políticasbet7Orbán que Bolsonaro tem cogitado tentar implementar no Brasil é a interferência na Suprema Corte.
O primeiro-ministro húngaro aumentou o totalbet7juízes do Tribunal Constitucionalbet711 para 15 e indicou todos os ocupantes das quatro novas cadeiras. Proposta semelhante já foi abertamente defendida por aliados do presidente, como o vice-presidente Hamilton Mourão, eleito senador, e o atual líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros (PP).
"Já chegou essa proposta para mim e eu falei que só discuto depois das eleições. Eu acho que o Supremo exerce um ativismo judicial que é ruim para o Brasil todo", respondeu Bolsonaro, sem descartar a ideia, ao ser questionado sobre o tema no iníciobet7outubro.
Segundo a professora Denilde Holzhacker, a política externa brasileira tem um compromisso com a promoção da democracia no mundo, desde a redemocratização do país nos anos 80. Nabet7visão, o governo Bolsonaro se afastou desse princípio ao priorizar uma aliança ideológica com nações governadas pela extrema-direita, como Hungria e Polônia.
"O argumentobet7Bolsonarobet7que esse relacionamento se dá por pragmatismo é bastante fraco quando a gente olha que são paísesbet7que o Brasil não tem um grande relacionamento econômico e sim porque há uma afinidadebet7agenda ebet7posições ideológicas", afirma.
bet7 Perseguição aos cristãos na aliada Arábia Saudita
A boa relação estabelecida pela família Bolsonaro com o governo da Arábia saudita é outro focobet7críticas. A nação foi estabelecidabet71932 pelo rei Abd-al-Aziz, que tomou a provínciabet7Hejaz da família Hashemita e uniu o paísbet7tornobet7seu governo familiar. Desdebet7morte,bet71953, ele foi sucedido por váriosbet7seus filhos.
Acompanhado do filho Eduardo Bolsonaro, o presidente se reuniu com Mohammed bin Salman, príncipe herdeiro da Arábia Saudita, durante o encontro do G20 no Japão,bet7junhobet72019, e depois visitou o país no final daquele ano, com o argumentobet7atrair investimentos sauditas para o Brasil.
"Temos uma reuniãobet7negócios hoje à tarde. Todo mundo gostariabet7passar uma tarde com um príncipe. Especialmente vocês mulheres, né? Tenho uma certa afinidade com o príncipe. Em especial depois do encontrobet7Osaka", disse Bolsonaro, a jornalistas, na visita ao país.
Enquanto a família presidencial brasileira denuncia a perseguição aos católicos na Nicarágua, fecha os olhos para a opressão ainda mais severa que esse grupo religioso sofre na nação aliada.
Segundo a organização cristã internacional Portas Abertas, a Arábia Saudita é o 11° país do mundo com maior perseguição a cristãos. A Nicarágua não aparece na lista, que anualmente detalha os cinquenta países com pior graubet7opressão a esse segmento religioso.
De acordo com o último relatório da organização, na Arábia Saudita "cristãos estrangeiros são impedidosbet7compartilhar a fé e se reunir para adoração" e "qualquer ação fora da norma pode levar a detenção e deportação". A Portas Abertas diz ainda que "as fontesbet7perseguição aos cristãos na Arábia Saudita são: oficiais do governo, líderesbet7grupos étnicos, líderes religiosos não cristãos, cidadãos e quadrilhas, parentes, grupos religiosos violentos".
A repressão não se limita aos cristãos, mas atinge qualquer voz crítica ao governo, segundo a Human Rights Watch: "As autoridades sauditasbet72021 realizaram prisões, julgamentos e condenações arbitráriasbet7dissidentes pacíficos. Dezenasbet7defensores e ativistasbet7direitos humanos continuaram a cumprir longas penasbet7prisão por criticar autoridades ou defender reformas políticas ebet7direitos", diz o relatóriobet72022 da organização.
"A Arábia Saudita anunciou reformas importantes e necessáriasbet72020 e 2021, mas a repressão contínua e o desprezo pelos direitos básicos são as principais barreiras ao progresso. A repressão quase total da sociedade civil independente e vozes críticas impede as chancesbet7sucesso dos esforçosbet7reforma", afirma ainda o documento.
Entre os crimes cometidos pelo governo saudita contra seus críticos, ganhou especial notoriedade o assassinato do jornalista Jamal Khashoggibet7outubrobet72018, dentro do consulado da Arábia Sauditabet7Istambul, na Turquia.
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Um tribunal saudita condenou cinco pessoas à morte e prendeu outras três no finalbet72019 pelo assassinato do jornalista, num julgamento classificado pela relatora especial da ONU Agnes Callamard como "farsa". Ela havia pedido que o príncipe herdeiro saudita Mohammed bin Salman fosse investigado pelo crime.
Ele sempre negou qualquer envolvimento com o assassinato. Em outubro, no entanto, príncipe Salman disse que assumia, pelo crime, "total responsabilidade como líder na Arábia Saudita, principalmente porque foi cometido por indivíduos que trabalham para o governo saudita".
Cobrado no Twitter porbet7proximidade com um líder que enfrenta duras acusações, Eduardo Bolsonaro defendeu a aliança com o Arábia Saudita.
"A Arábia Saudita é um regime tradicional que está passando por reformas modernizantes e dando passos graduais rumo a mais liberdade e mais coexistência pacífica com outras cultura e religiões. Tenho orgulhobet7apoiar nossos aliados nesse processobet7abertura e modernização", tuitoubet7marçobet72021.
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