Não é só preço: por que carne bovina está perdendo espaço no prato do brasileiro:o jogo do bambam

Carne

Crédito, Peter Dazeley/Getty Images

Legenda da foto, Consumoo jogo do bambamcarne no Brasil vai ter crescimento no período pós-covid, mas deve estagnar anteso jogo do bambam2025

E "não retornará aos níveiso jogo do bambampicos anteriores" na América Latina, complementa.

A carne já é um item raro nas casaso jogo do bambamdezenaso jogo do bambammilhõeso jogo do bambambrasileiros que enfrentam algum nívelo jogo do bambaminsegurança alimentar - ou seja, passam fome ou têm acesso irregular a comidao jogo do bambamgeral.

A inflação da carne no acumuladoo jogo do bambam12 meses até janeiro foio jogo do bambam9,95%, segundo o índice IPCA-15 do IBGE. Em junho do ano passado, o acumulado chegou a 35,76%.

A Guerra da Ucrânia vai influenciar ainda mais os preços por causa do aumento nos valores do milho e dos fertilizantes - peças da cadeiao jogo do bambamproduçãoo jogo do bambamcarne.

Malafaia explica queo jogo do bambamtornoo jogo do bambam15% da produção mundialo jogo do bambammilho sai do Mar Negro, que banha metade do litoral ucraniano.

"Nos bovinos, o impacto maior será sentido na terminação que utiliza a ração. O aumento nos custos fará com que haja um pressãoo jogo do bambamrepasse ao longo da cadeiao jogo do bambamprodução atingindo o consumidor final, que já se defronta com uma situação inflacionária no mercado doméstico."

Mesmo antes da guerra, o cenário mais otimista para trajetóriao jogo do bambamqueda no preço da carne era 2023.

Dieta sem carne

A inflação que restringe o acesso ao produto se junta a outros incentivos para tirá-lo do cardápio.

Principalmente a partir da décadao jogo do bambam1980, pesquisas científicas começaram a ligar a carne vermelha a doenças cardiovasculares, a alguns tiposo jogo do bambamcâncer e a problemas como diabetes.

No século 21, outros questionamentos ganharam força: a preocupação com os impactos ambientais da produção e o tratamento dado aos animais nessa indústria. São pressões exercidas por um público cada vez maior - e jovem.

Além dos novos adeptos do veganismo e vegetarianismo, há uma corrente bastante significativao jogo do bambamdiminuição do consumo.

Pesquisa do Ipec (antigo Ibope Inteligência) com 2.002 pessoas das cinco regiões do paíso jogo do bambam2021, encomendada pela Sociedade Vegetariana Brasileira, indicou que quase metade (46%) dos entrevistados deixam o itemo jogo do bambamfora do prato por vontade própria ao menos uma vez por semana.

É um movimento que chega até a pessoas que se definem como grandes apreciadoraso jogo do bambamcarne.

"Moro com meu namorado tem uns 4 anos. Sempre fomos apaixonados por carne. Nossas refeições sempre tinham alguma proteína senão parecia que estava incompleta", diz Camila Fuck,o jogo do bambamBlumenau (SC),o jogo do bambam28 anos [o sobrenomeo jogo do bambamorigem alemã sempre inspira curiosidade, ela conta].

Camila Fuck,o jogo do bambamBlumenau (SC), diz que gosta bastanteo jogo do bambamcarne, mas decidiu limitar a cinco vezes por mês

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Camila Fuck,o jogo do bambamBlumenau (SC), diz que gosta bastanteo jogo do bambamcarne, mas decidiu limitar a cinco vezes por mês

Ela está limitando a carne a cinco ocasiões por mês. "Por enquanto, quero manter a rotinao jogo do bambambaixo consumo. Ainda sinto falta, porque gosto muitoo jogo do bambamcarne", afirma.

"Mas tenho consumido mais conteúdoso jogo do bambamreceitas vegetarianas e entendido mais sobre esse universo."

Uma conjunçãoo jogo do bambamdiferentes fatores influenciou a reduçãoo jogo do bambamconsumo do casal: dilemas éticos sobre o usoo jogo do bambamanimais na produção, o ciclo atualo jogo do bambamalta do preço e a preocupação com o custo ambiental.

A pegada da indústria

"As pegadas ambientais da cadeia produtiva da carne bovina estão bem documentadas", diz Josefa Garzillo, pesquisadora do Núcleoo jogo do bambamPesquisas Epidemiológicaso jogo do bambamNutrição e Saúde (Nupens), da Universidadeo jogo do bambamSão Paulo (USP).

"Vão desde as elevadas emissõeso jogo do bambamgases do efeito estufa, usoo jogo do bambamágua, pisoteamento e degradação do solo, até a supressão florestal, destruiçãoo jogo do bambamhabitats e dos biomas. Tudo isso numa épocao jogo do bambamque já chegamos a limites críticoso jogo do bambamdegradação ambiental."

É estimado que o gado bovino necessite 28 vezes mais terra e 11 vezes mais irrigação que a criaçãoo jogo do bambamsuínos e aves. A proteína bovina é apontada como o alimento que mais contribui para emissõeso jogo do bambamgases do efeito estufa.

Segundo a pesquisadora, "a indústria da carne vai além da carne bovina e dos produtos à baseo jogo do bambamcarne. Trata-seo jogo do bambamum complexo agroindustrial bastante sofisticado, verticalizado, concentradoo jogo do bambampoucos 'players'".

É estimado que o gado bovino necessite 28 vezes mais terra e 11 vezes mais irrigação que a criaçãoo jogo do bambamsuínos e aves

Crédito, Paulo Hoeper/Getty Images

Legenda da foto, É estimado que o gado bovino necessite 28 vezes mais terra e 11 vezes mais irrigação que a criaçãoo jogo do bambamsuínos e aves

Garzillo considera que falta aos produtores ir "além da burocracia" e demonstrar "interesse genuíno" por quem é afetado por práticas e resultadoso jogo do bambamempresas do setor.

"As formaso jogo do bambamprestar contas e publicizar os resultados ambientais deveriam chegar ao consumidor final para facilitar escolhas esclarecidas, como selos ou certificações, e as declarações das pegadaso jogo do bambamcarbono por quiloo jogo do bambamproduto nos rótulos", diz ela.

A BBC News Brasil questionou a Associação Brasileirao jogo do bambamIndústrias Exportadoraso jogo do bambamCarnes (Abiec) sobre as críticas ao modoo jogo do bambamprodução das empresas, mas não recebeu resposta.

Para Gus Guadagnini, diretor-executivo do The Good Food Institute Brasil, a necessidadeo jogo do bambamenquadrar práticas para ter acesso a mercados internacionais preocupados com sustentabilidade já traz impactos estruturais na indústria e na ofertao jogo do bambamcarne.

"Existe um movimento mundialo jogo do bambamter normas ambientais eo jogo do bambambem estar animal mais rígidas, existe a preocupação com o controleo jogo do bambamdoenças zoonóticas, então, há uma sérieo jogo do bambamtendências globais que apontam para um cenário onde a carne tende a ficar talvez até mais cara e mais difícilo jogo do bambamproduzir."

É algo ecoado por Malafaia, da Embrapa Gadoo jogo do bambamCorte, que enxerga uma tendência da carne bovina se tornar um produto cada vez mais "premium",o jogo do bambammeio a uma "percepçãoo jogo do bambammais saúde, qualidade e experiência" no seu consumo.

Em paralelo, o consumo per capitao jogo do bambamcarneo jogo do bambamaves vai crescer intensamente e superaro jogo do bambammuito a carne bovina no mundo nos próximos anos.

O mercado do futuro

Guadagnini diz que a indústria está sob pressão, mas "a cadeiao jogo do bambamprodução é grande demais, importante demais para desaparecer da noite para o dia". O mercado do futuro, no entanto, terá alterações cruciais.

Ele cita um estudo da consultoria global Kearney que prevê o aumento do mercado mundial do produto entre 2020 e 2040o jogo do bambamUS$ 1,2 trilhão para US$ 1,8 trilhão - mas apenas 40% seráo jogo do bambamcarne tradicional. Os 60% restantes serão divididos entre carneo jogo do bambambase vegetal ou cultivada a partiro jogo do bambamcélulas.

"Existem relatoso jogo do bambamqueo jogo do bambamalguns supermercados a vendao jogo do bambamhambúrguer vegetal já supera a vendao jogo do bambamhambúrguero jogo do bambamcarne", diz Sérgio Pflanzer, professor da Faculdadeo jogo do bambamEngenhariao jogo do bambamAlimentos da Universidade Estadualo jogo do bambamCampinas (Unicamp).

Mas ele enumera uma sérieo jogo do bambamdesafios para que esse tipoo jogo do bambamproduto ganhe a mesma relevância e escala da carne tradicional.

Carne com base vegetal

Crédito, Aamulya/Getty Images

Legenda da foto, Consultoria prevê que 60% do mercadoo jogo do bambam2040 seráo jogo do bambamcarneo jogo do bambambase vegetal ou cultivada a partiro jogo do bambamcélulas.

"O consumidor precisa entender que os produtos análogos, feitoso jogo do bambamplantas, são muito diferentes do alimento vegetal in natura. A soja e a ervilha são baratas, mas transformar issoo jogo do bambamproteína isolada ou texturizada, juntar com mais 15 ou 20 ingredientes e processar na formao jogo do bambamhambúrguer, por exemplo, é um processo muito caro", afirma Pflanzer.

Além dos produtos feitos a partiro jogo do bambamvegetais, há a carneo jogo do bambamlaboratório, cultivada a partiro jogo do bambamcélulaso jogo do bambamanimais. O primeiro hambúrguer do mundo criadoo jogo do bambamlaboratório foi feito a partiro jogo do bambamfibras musculares produzidas com o cultivoo jogo do bambamcélulas retiradaso jogo do bambamuma vaca.

Pflanzer também vê com ceticismo a popularização dessa modalidade: "Os custoso jogo do bambamprodução, mesmo que infinitamente menores hoje do que quando foram inicialmente idealizados, ainda é proibitivo. Não existe no mundo uma cadeiao jogo do bambamsuprimentos preparada para atender os volumes necessários para uma queda brutal nos preços".

Passar pela aprovação dos consumidores, incluindo vencer a resistência por ser um produto "de laboratório", enquanto há forte preferência por alimentos naturais, deve ser o desafio mais decisivo, diz Malafaia, da Embrapa Gadoo jogo do bambamCorte.

"Alémo jogo do bambamsensorialmente aceitável (visão e paladar) e com preço competitivo, ela deve manter esses atributos consistentemente."

Comida para 10 bilhõeso jogo do bambampessoas

Há uma questão mais ampla na visãoo jogo do bambamGuadagnini, que é equacionar e repensar a produçãoo jogo do bambamproteínas (e alimentoso jogo do bambamgeral) para as 10 bilhõeso jogo do bambampessoas que viverão no mundoo jogo do bambam2050.

É uma questão monumental: serão 3 bilhões a maiso jogo do bambampessoas que precisarão ser alimentadas, mas, ao mesmo tempo, há o desafioo jogo do bambamlimitar a emissãoo jogo do bambamgaseso jogo do bambamtemposo jogo do bambamaquecimento global.

"Para cada caloria que eu extraio da carne, dez calorias foram usadas para a criação do animal ao longo da vida. Temos hoje 75% das terras aráveis do planeta gerando 12% das calorias consumidas. Porque eu planto grandes áreaso jogo do bambamgrãos, alimento os animais com esses grãos e esses animais viram caloria numa proporçãoo jogo do bambam10 para 1", diz.

"Então eu desperdiço 90% das calorias que são produzidas pelo sistemao jogo do bambamalimentação. Por isso, é difícil fazer crescer essa produção. A plantaçãoo jogo do bambammilho e soja para alimentar os animais e as áreaso jogo do bambamcriação já ocupam a maior parte do planeta Terra."

Mas Guadagnini (que é vegano) afirma que o sabor da carne é algo que vem acompanhando as pessoas há muitas gerações e não pode ser ignorado.

"Olhando para quatro problemas - segurança alimentar, meio ambiente, a saúde humana e a ética animal é que começa a se pensar: 'beleza, o que a gente come então?'. Talvez a grande dificuldade disso seja exatamente a questão dos hábitos e tradições alimentares: as pessoas querem comer carne. Carne é gostoso. A comida mostrao jogo do bambamonde a gente vem, mostra a nossa cultura, são as nossas receitaso jogo do bambamfamília."

Ele vê nas proteínas alternativas o caminho para solucionar o desafio e considera a tecnologia o meio que vai possibilitar isso.

Para Pflanzer, "alimentar a população do planeta não é e nunca foi uma tarefa fácil, tanto que até hoje milhõeso jogo do bambampessoas passam fome. Mas isso não é devido à faltao jogo do bambamalimentos: 1/3 do que produzimos vai para o lixo".

Na visão do professor da Unicamp, "o ser humano sempre teve uma ligação direta com os animais" e será difícil abrir totalmente mão da produçãoo jogo do bambamanimais para consumo humano.

Ele diz que é possível viver sem carne e leite, mas apenas com uma dieta planejada e acompanhamento médico eo jogo do bambamnutricionistas - a vitamina B12 também precisa ser suplementada. "Qual proporção dos habitantes do planeta pode fazer isso? Poucos."

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