Candida auris: o que é o 'superfungo' que matou 2 pessoas e tem 3º surto no Brasil:ganhos da roleta

Candida auris

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, A maioria das infecções por Candida auris documentadas no mundo aconteceramganhos da roletaambientes hospitalares

A infecção por C. auris é resistente a medicamentos e pode ser fatal. Em todo o mundo, estima-se que infecções fúngicas invasivasganhos da roletaC. auris tenham levado à morteganhos da roletaentre 30% e 60% dos pacientes. Mas esses números costumam variar bastante a depender das variáveis envolvidas, a exemplo da gravidade da doença que levou o paciente ao hospital (como a covid-19) e da capacidade do fungoganhos da roletaresistir ou não aos medicamentos.

Segundo a Anvisa, essa espécieganhos da roletafungo produz "biofilmes tolerantes a antifúngicos apresentando resistência aos medicamentos comumente utilizados para tratar infecções por Candida" e até 90% das amostrasganhos da roletaCandida auris analisadas apontam resistência ao fluconazol, anfotericina B ou equinocandinas.

Em seu alerta, a Anvisa afirma que tem analisado casos suspeitos do fungo desde 2017, mas os primeiros só foram confirmados durante a pandemiaganhos da roletacovid-19. E o Brasil não foi o único a registrar infecções desse tipo nesse período ligados ao novo coronavírus.

Nos Estados Unidos, o Centroganhos da roletaControle e Prevençãoganhos da roletaDoenças (CDC) registrou 1.156 casos clínicosganhos da roletaCandida auris entre 1ºganhos da roletasetembroganhos da roleta2020 e 31ganhos da roletaagostoganhos da roleta2021. Não há informações sobre o númeroganhos da roletamortos. Até 2016, o fungo havia sido detectadoganhos da roletaapenas 4 Estados americanos. O número saltaria para 19 Estadosganhos da roleta2020.

No México, um surtoganhos da roletaCandida auris começou com um paciente que não estava infectado com coronavírusganhos da roletamaioganhos da roleta2020, momento que o hospital San José Tec-Salud, no norte do país, era transformadoganhos da roletauma unidadeganhos da roletasaúde exclusiva para pacientes com covid-19.

Três meses depois, o fungo Candida auris foi detectadoganhos da roletatrês UTIs e atingiu 12 pacientes e três áreas hospitalares. Dez eram homens, 9 eram obesos e todos eles respiravam com auxílioganhos da roletarespiradores mecânicos, tinham cateter urinário e venoso e estavam internadosganhos da roleta20 a 70 dias ali. Dos 12 pacientes, 8 morreram.

Os pesquisadores que analisaram os casos listam diversos fatoresganhos da roletarisco para o surgimentoganhos da roletainfecções por fungos. Entre eles, diabetes, usoganhos da roletamúltiplos antibióticos, falência renal, usoganhos da roletacateter venoso central e, no caso específicoganhos da roletacovid-19, o uso excessivoganhos da roletacorticosteroides (que tem efeito imunossupressorganhos da roletaneutrófilos e macrófagos, células do sistemaganhos da roletadefesa do corpo humano).

Candida auris

Crédito, Science Photo Library

Legenda da foto, Candida auris é um fungo que cresce como levedura

Na Índia, o surtoganhos da roletacandidemia atingiu 15 pacientes com coronavírusganhos da roletauma UTIganhos da roletaNova Déli entre abril e julhoganhos da roleta2020. Do total, 10 estavam infectados por Candida auris e 6 deles morreram.

No caso do Brasil, um grupoganhos da roletadez pesquisadores brasileiros e holandeses investigou o primeiro surtoganhos da roletaSalvador,ganhos da roletadezembroganhos da roleta2020, e a relação dos casos com a covid-19. Segundo artigo publicadoganhos da roletamarçoganhos da roleta2021 no Journal of Fungi, todos os pacientes atingidos eram oriundos do próprio Estado (Bahia), não tinham históricoganhos da roletaviagem para o exterior e estavam internados na mesma UTI por causa do coronavírus. "As restriçõesganhos da roletaviagem durante a pandemiaganhos da roletacovid-19 e a ausênciaganhos da roletahistóricoganhos da roletaviagem entre os pacientes colonizados por fungos levaram à hipóteseganhos da roletaa espécie ter sido introduzida meses antesganhos da roletao primeiro caso ser identificado e/ouganhos da roletater emergido localmente na regiãoganhos da roletaSalvador."

Outra hipótese levantada pelos pesquisadores aponta que os pacientes já estavam infectados com a Candida auris antesganhos da roletaficarem gravemente doentes com a covid-19. Ao serem internadosganhos da roletaUTI, "foram intensamente expostos a antibióticos e procedimentos médicos invasivos, e desenvolveram superinfecções". A pandemiaganhos da roletacovid-19, portanto, "pode estar acelerando a introdução e/ou espalhando a Candida aurisganhos da roletaambientes hospitalares que estava livres do fungo".

E concluem: "Num futuro próximo, a superlotação e a escassezganhos da roletarecursos para práticasganhos da roletacontroleganhos da roletainfecções, como o uso prolongadoganhos da roletaequipamentosganhos da roletaproteção pessoal por faltaganhos da roletadisponibilidade, serão um terreno fértil para que C. auris se espalhe, colonize dispositivo invasivos (como um cateter) e deflagre infecções associadas ao tratamentoganhos da roletasaúde".

Segundo a Anvisa, o Candida auris "pode permanecer viável por longos períodos no ambiente (semanas ou meses) e apresenta resistência a diversos desinfetantes, entre os quais, os que são à baseganhos da roletaquaternárioganhos da roletaamônio".

Difícil controle e prevenção

Na maioria das vezes, as leveduras do gênero Candida residemganhos da roletanossa pele, boca e genitais sem causar problemas, mas podem causar infecções quando estamos com a imunidade baixa ou quando se provocam infecções invasivas, como na corrente sanguínea ou nos pulmões. No caso do C. auris, ele costuma causar infecções na corrente sanguínea, mas também pode infectar o sistema respiratório, o sistema nervoso central e órgãos internos, assim como a pele.

Esse fungo, que cresce como levedura, foi identificado pela primeira vezganhos da roleta2009 no canal auditivoganhos da roletauma paciente no Japão. Desde então, houve maisganhos da roleta5.000 casos identificadosganhos da roleta47 países, entre eles Índia, África do Sul, Venezuela, Colômbia, Estados Unidos, Israel, Chile, Canadá, Itália, Holanda, Venezuela, Paquistão, Quênia, Kuwait, México, Reino Unido, Brasil e Espanha.

A taxaganhos da roletamortalidade média é estimadaganhos da roleta39%, segundo cálculosganhos da roletaestudoganhos da roletasete pesquisadores chineses publicado na revista científica BMC Infectious Diseasesganhos da roletanovembroganhos da roleta2020.

Segundo o infectologista Arnaldo Lopes Colombo, professor da Unifesp e especialistaganhos da roletacontaminação com fungos, é possível ser colonizadoganhos da roletaforma passageira pelo C. auris na pele ou na mucosa sem ter problemas. O fungo apresenta risco real se contaminar a corrente sanguínea.

Para a pessoa ser infectada, explicou ele à BBC News Brasilganhos da roleta2019, é preciso que tenha sofrido procedimentos invasivos (como cirurgias, usoganhos da roletacateter venoso central) ou tenha o sistema imunológico comprometido. Pacientes internadosganhos da roletaunidadesganhos da roletaterapia intensiva por longos períodos e com uso prévioganhos da roletaantibióticos ou antifúngicos também são considerados grupoganhos da roletarisco para a contaminação.

Em 2016, a Opas, braço da Organização Mundial da Saúde para a América Latina e o Caribe, publicou um alerta recomendando a adoçãoganhos da roletamedidasganhos da roletaprevenção e controle por causaganhos da roletasurtos relacionados ao fungo na região. O primeiro surto da região ocorreu na Venezuela, entre 2012 e 2013, atingindo 18 pacientes.

Candida auris

Crédito, Reuters

Legenda da foto, A infecção pelo Candida auris é resistente a medicamentos e pode ser fatal

Além disso, o C. auris costuma ser confundido com outras infecções, levando a tratamentos inadequados.

"O C. auris sobreviveganhos da roletaambientes hospitalares e, portanto, a limpeza é fundamental para o controle. A descoberta (do fungo) pode ser uma questão séria tanto para os pacientes quanto para o hospital, já que o controle pode ser difícil", explicou a médica Elaine Cloutman-Green, especialistaganhos da roletacontroleganhos da roletainfecções e professora da University College London (UCL).

Nem todos os hospitais identificam o C. auris da mesma maneira. Às vezes, o fungo é confundido com outras infecções fúngicas, como a candidíase comum.

Em 2017, uma pesquisa publicada por Alessandro Pasqualotto, da Santa Casaganhos da roletaMisericórdiaganhos da roletaPorto Alegre, analisou 130 laboratóriosganhos da roletacentros médicosganhos da roletareferência na América Latina e descobriu que só 10% deles têm capacidadeganhos da roletadetecçãoganhos da roletadoenças invasivasganhos da roletafungosganhos da roletaacordo com padrões europeus.

Segundo a Anvisa, o surtoganhos da roleta2016ganhos da roletaCartagena, na Colômbia, é um exemploganhos da roletacomo o micro-organismo é difícilganhos da roletaidentificar. Cinco casosganhos da roletainfecção foram identificados como três fungos diferentes até um método mais modernoganhos da roletaanálise diagnosticar o patógeno corretamente como C. auris.

Também não é possível eliminá-lo usando os detergentes e desinfetantes mais comuns. É importante, portanto, utilizar os produtos químicosganhos da roletalimpeza adequados dos hospitais, especialmente se houver um surto.

Em alerta emitidoganhos da roleta2017, a Anvisa explicou que não se sabe ao certo qual é o modo mais precisoganhos da roletatransmissão do fungo dentroganhos da roletauma unidadeganhos da roletasaúde. Estudos apontam que isso pode ocorrer por contato com superfície ou equipamentos contaminados eganhos da roletapessoa para pessoa. O CDC também afirma que o fungo pode permanecer na peleganhos da roletapacientes saudáveis sem causar infecção e se espalhar para outras pessoas, por exemplo.

Em entrevista à BBC News Brasilganhos da roletadezembroganhos da roleta2020, Pasqualotto, também professor da Universidade Federalganhos da roletaCiências da Saúdeganhos da roletaPorto Alegre (UFCSPA), afirmou que casosganhos da roletaCandida auris são como "um evento adverso do progresso da humanidade".

"À medida que a gente progride, produz mais antibióticos, que as pessoas são mais invadidas por procedimentos médicos e sobrevivem mais, passam a surgir novos patógenos que antes não causavam doenças. E, devido à pressão dos remédios, eles surgem resistentes", disse ele.

"Então, a Candida auris é só a bola da vez. Assim como já foi o Staphylococcus aureus, que desenvolveu resistência à penicilina após a Segunda Guerra Mundial; depois o Enterococo resistente à vancomicina e tantos, tantos outros. Cada vez a gente tem menos antibióticos para usar e cada vez mais patógenos resistentes."

A resistência microbiana, que envolve fungos e também bactérias, é considerada uma das maiores ameaças à saúde global pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Ela acontece pois os microrganismos têm evoluído e se tornado mais fortes e hábeisganhos da roletadriblar medicamentos como antibióticos e antifúngicos, fazendo com que várias doenças já tenham poucas ou nenhuma opçãoganhos da roletatratamento disponível.

Resistência a medicamentos

A resistência aos antifúngicos comuns, como o fluconazol, foi identificada na maioria das cepasganhos da roletaC. auris encontradasganhos da roletapacientes.

médica com garota

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, Especialistas afirmam há décadas que o uso indiscriminadoganhos da roletaantibióticos pode ter efeitos desastrosos na saúde pública

Isso significa que essas drogas não funcionam para combater o C. auris. Por causa disso, medicações fungicidas menos comuns têm sido usadas para tratar essas infecções, mas o C. auris também desenvolveu resistência a elas.

"Há registroganhos da roletaresistência à azólicos, equinocandinas e até polienos, como a anfotericina B. Isso significa que o fungo pode ser resistente às três principais classesganhos da roletadrogas disponíveis para tratar infecções fúngicas sistêmicas", explicou o epidemiologista e microbiologista Alison Chaves, no Twitter, logo após a descoberta do primeiro surtoganhos da roletaSalvador no fimganhos da roleta2020.

Estima-se que maisganhos da roleta90% das infecções causadas pelo C. auris são resistentes ao menos a um medicamento, enquanto 30% são resistentes a dois ou mais remédios.

Análisesganhos da roletaDNA indicam também que genesganhos da roletaresistência antifúngica presentes no C. auris têm passado para outras espéciesganhos da roletafungo, como a Candida albicans (C. albicans), um dos principais causadores da candidíase (doença comum que pode afetar a pele, as unhas e órgãos genitais, e é relativamente fácilganhos da roletatratar).

*Com informações adicionaisganhos da roletaMariana Alvim e Letícia Mori, da BBC News Brasilganhos da roletaSão Paulo.

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