Por que Brasil vacinou 88 milhõesaposta esportiva mesk3 meses contra H1N1 e agora patina contra covid-19:aposta esportiva mesk
Essa era a situação do Brasilaposta esportiva meskjunhoaposta esportiva mesk2010, três meses depois do começo da campanhaaposta esportiva meskimunização contra a gripe suína, doença causada por uma variante do vírus H1N1 que causou uma crise global.
O Brasil chega agora, na luta contra a covid-19, à mesma marca dos três mesesaposta esportiva meskvacinação, masaposta esportiva meskuma situação bem diferente.
Pouco maisaposta esportiva mesk25 milhõesaposta esportiva meskpessoas, cercaaposta esportiva mesk12% da população, receberam ao menos uma dose desde 17aposta esportiva meskjaneiro, e só 8,5 milhões,aposta esportiva mesktornoaposta esportiva mesk4%, tomaram as duas doses necessárias.
"A gente continua a ser um exemplo, só que o pior e não mais o melhor como a gente já foi", diz Cristina Bonorino, integrante do comitê científico da Sociedade Brasileiraaposta esportiva meskImunologia.
A pesquisadora diz que essa diferença é por causa da faltaaposta esportiva meskvacinas. "Se não fosse por isso, certamente não estaríamos onde estamos hoje", diz.
Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileiraaposta esportiva meskImunizações, acha a mesma coisa. "É o único limitador", diz ele.
Ele acredita que hoje mais gente poderia estar vacinada a essa altura do que há dez anos, porque a covid-19 é uma doença mais perigosa que a gripe suína.
"O que move as pessoas é a sensaçãoaposta esportiva meskrisco. Teria filas e filas, pessoas estariam sendo vacinadas 24 horas por dia. Mas estamosaposta esportiva meskuma campanhaaposta esportiva meskvacinação que não tem vacina."
A epidemiologista Carla Domingues, que coordenou a campanhaaposta esportiva meskvacinação contra H1N1 e esteve à frente do Programa Nacionalaposta esportiva meskImunização entre 2011 e 2019, diz que a campanha atual é mais complexa.
Isso porque as vacinas hoje são aplicadasaposta esportiva meskduas doses,aposta esportiva meskvezaposta esportiva meskuma como a para H1N1, e os imunizantes têm regimes diferentesaposta esportiva meskadministração.
Mas ela acredita que o país tinha o potencialaposta esportiva meskestaraposta esportiva meskuma posição melhor, porque a população quer se vacinar e toda a estrutura estava pronta para essa campanha.
"É lamentável. Temos um programa que é referência, mas estamos na rabeira mundial, junto com países que não têm a menor capacidadeaposta esportiva meskfazer vacinação por causaaposta esportiva meskquestões política e erros estratégicos que levaram à escassezaposta esportiva meskvacinas", diz Domingues.
Os erros do governo Bolsonaro
Os três especialistas ouvidos pela BBC News Brasil também concordam neste outro ponto: a faltaaposta esportiva meskvacinas é uma consequênciaaposta esportiva meskdecisões do governoaposta esportiva meskJair Bolsonaro (sem partido).
O governo brasileiro apostou por muito tempoaposta esportiva meskum único imunizante, o da farmacêutica AstraZeneca, que foi desenvolvidoaposta esportiva meskparceria com a Universidadeaposta esportiva meskOxford, do Reino Unido.
Bolsonaro se recusou a comprar doses da CoronaVac, vacina criada pela chinesa Sinovac com o Instituto Butantan,aposta esportiva meskmeio a uma disputa política com o governador paulista, João Doria (PSDB).
O instituto, ligado ao governoaposta esportiva meskSão Paulo, diz que ofereceuaposta esportiva meskjulho do ano passado 160 milhõesaposta esportiva meskdoses, mas não teve resposta.
O presidente inclusive desautorizou o general Eduardo Pazuello depois do então ministro da Saúde anunciaraposta esportiva meskoutubro a compraaposta esportiva mesk46 milhõesaposta esportiva meskdoses da CoronaVac.
"Mandei cancelar", disse o presidente. "Não compraremos vacina chinesa."
Seu argumento eraaposta esportiva meskque só adquiriria vacinas aprovadas pela Agência Nacionalaposta esportiva meskVigilância Sanitária (Anvisa), ignorando que seu governo já tinha desde julho um acordo para adquirir a vacinaaposta esportiva meskOxford, que também não tinha sido chancelada pela agência àquela altura.
O presidente também não quis comprar a vacina da Pfizer. A farmacêutica americana disse que ofereceu 70 milhõesaposta esportiva meskdosesaposta esportiva meskagosto.
Bolsonaro se justificou dizendo que uma cláusula do contrato previa que o governo federal,aposta esportiva meskvez da empresa, se responsabilizaria por danos à saúde causados pelo imunizante, que usa uma tecnologia inéditaaposta esportiva meskvacinas baseadaaposta esportiva meskengenharia genética.
"Se você virar um jacaré, é problemaaposta esportiva meskvocê, pô", ironizou o presidente,aposta esportiva meskmeadosaposta esportiva meskdezembro.
Mas aí a vacinaaposta esportiva meskOxford atrasou. Erros na pesquisa obrigaram os cientistas a fazer mais testes, e a AstraZeneca teve — e ainda tem — dificuldades para produzir o que prometeu.
O governo Bolsonaro acabou fechando um acordo com o Butantanaposta esportiva meskjaneiro e com a Pfizeraposta esportiva meskmarço, mas já havia perdido um tempo importante.
Um outro acordo foi acertado com a Covax Facility, aliança liderada pela Organização Mundialaposta esportiva meskSaúde (OMS) para levar vacinas contra a covid-19 aos países mais pobres.
Mas o governo brasileiro, que tinha a opçãoaposta esportiva meskencomendar doses suficientes para até 50% da população, optou pela cobertura mínima,aposta esportiva mesk10%.
"O governo não encomendou as vacinas quando elas estavam sendo encomendadas por outros países. Não diversificou por achar que não era necessário. Só teve escolha errada. Não teve uma certa. Assim fica difícil", diz a imunologista Cristina Bonorino.
O que fizemosaposta esportiva meskdiferente há dez anos
O governo federal agiuaposta esportiva meskmaneira bem diferente uma década atrás.
Luís Inácio Lula da Silva, então no fim do seu segundo mandato, anunciou a compraaposta esportiva meskum imunizante do laboratório francês Sanofi Pasteur, que ainda estava sendo testado,aposta esportiva meskagostoaposta esportiva mesk2009.
Fazia dois meses que a OMS havia reconhecido que o surtoaposta esportiva meskH1N1 havia se transformadoaposta esportiva meskuma pandemia.
A nova variedade tinha sido identificadaaposta esportiva meskabril daquele ano no México e nos Estados Unidos — no Brasil, os primeiros casos foram confirmados no inícioaposta esportiva meskmaio.
Um dia depois da OMS declarar a pandemia, a uma farmacêutica suíça, a Novartis, anunciou a produçãoaposta esportiva meskuma vacina contra a gripe suína.
Isso só foi possível porque já existiam imunizantes contra a gripe comum, e os laboratórios só precisaram desenvolver versões que protegessem contra o novo H1N1.
Os termos acertados entre o governo brasileiro e a Sanofi previam a importaçãoaposta esportiva mesk18 milhõesaposta esportiva meskdoses. Depois, também a fabricaçãoaposta esportiva meskmais 33 milhõesaposta esportiva meskdoses pelo Instituto Butantan, que tinha um acordoaposta esportiva mesktransferênciaaposta esportiva mesktecnologia com essa empresa.
O Brasil comprou outras 40 milhõesaposta esportiva meskdoses da canadense GlaxoSmithKleinaposta esportiva mesknovembroaposta esportiva mesk2009. Um terceiro contrato foi fechadoaposta esportiva meskjaneiroaposta esportiva mesk2010, com a Organização Pan-Americanaaposta esportiva meskSaúde, braço da OMS nas Américas, para mais 10 milhõesaposta esportiva meskdoses.
O governo federal disse na época que esperaria ter a maioria das dosesaposta esportiva meskmãos para dar início à vacinação, que só começouaposta esportiva meskfatoaposta esportiva meskmarçoaposta esportiva mesk2010, seis meses depois da China se tornar o primeiro país do mundo a imunizar contra H1N1.
"Em 2010, teve planejamento. Maisaposta esportiva mesk50% das doses já estavam no país quando a vacinação começou, e todo o quantitativo chegou durante a campanha", diz Carla Domingues.
Desorganização, confusão e ansiedade
A epidemiologista avalia que outra diferença entre aquela época e hoje foi que o calendárioaposta esportiva meskvacinação foi sido divulgado dois meses antes da primeira dose ser aplicada.
Desde janeiro, já se sabia quando seria imunizado cada um dos seis gruposaposta esportiva meskrisco da gripe suína: profissionaisaposta esportiva mesksaúde, gestantes, indígenas, pessoas com comorbidades, crianças entre 6 meses e 2 anosaposta esportiva meskidade e adultos saudáveis entre 20 e 29 anos. Depois, foram incluídos adultos entre 30 e 39 anos.
Domingues recorda que houve uma campanha nacional na época para explicar como seria a vacinação e que as pessoas deveriam esperaraposta esportiva meskvez.
"A população entendeu isso. Não teve gente indo pra outra cidade para tomar vacina ou tentando furar a fila porque não sabe quando vai conseguir se vacinar", afirma a especialista.
Desta vez, o governo Bolsonaro divulgou o esboçoaposta esportiva meskum planoaposta esportiva meskimunização contra a covid-19aposta esportiva meskmeadosaposta esportiva meskdezembro, mas sem um cronograma — e chegou a ser cobrado pelo Supremo Tribunal Federal por causa disso.
Questionado, o ministro Pazuello disse que a vacinação começaria "no dia D, na hora H". Dias depois, ele anunciouaposta esportiva meskum encontro com prefeitos que seriaaposta esportiva mesk20aposta esportiva meskjaneiro, uma quarta-feira.
Pego no contrapé por Doria, que mandou aplicar a primeira dose da CoronaVac assim que a Anvisa aprovou a vacina, no próprio dia 17, o general adiantou o começo da campanha nacional para a segunda-feira.
A vacinação começou com 6 milhõesaposta esportiva meskdoses da CoronaVac. O primeiro lote da vacinaaposta esportiva meskOxford só chegou ao país cinco dias depois.
"Hoje, o que estamos vendo é a própria definiçãoaposta esportiva meskum plano desorganizado. O governo federal abriu mãoaposta esportiva meskdefinir a política e deixou cada Estado e município fazer como quiser", diz Domingues.
Enquanto alguns lugares estão vacinando quem tem 65 anos, diz a epidemiologista, outros ainda estão aplicandoaposta esportiva meskquem tem 70. Alguns já imunizam professores e profissionaisaposta esportiva mesksegurança, enquanto outros não.
"Olha a confusão que isso causa na cabeça das pessoas... Muita gente fica ansiosa."
As mentiras que contam sobre as vacinas
Assim como hoje, com os imunizantes contra covid-19, a vacina contra H1N1 também foi alvoaposta esportiva meskmentiras que circulavam pela internet e no boca-a-boca.
O Ministério da Saúde disse na época que esses boatos eram "irresponsáveis" e lançou uma campanha para esclarecer que a vacina não causava autismo, paralisia, reações alérgicas potencialmente fatais, problemas neurológicos ou malformação do fetoaposta esportiva meskgestantes, entre outras coisas.
Não houve nenhum esforço deste tipo agora, pelo contrário. O próprio Bolsonaro já questionou a segurança e a eficácia das vacinasaposta esportiva meskmaisaposta esportiva meskuma ocasião, mesmo depoisaposta esportiva meskelas serem aprovadas pela Anvisa.
Também já disse diversas vezes que não as tomaria, porque já tinha sido infectado, contrariando as recomendações das principais autoridades no assunto.
"A grande falha do governo foi o negacionismo,aposta esportiva mesktodas as vacinas. Não deram ouvidos à ciência. Agora, estamos sem vacina no pior momento da pandemia", diz Renato Kfouri.
O clima no país era radicalmente diferente a esta altura do campeonatoaposta esportiva mesk2010. Em meadosaposta esportiva meskjunho daquele mesmo ano, o governo federal veio a público anunciar que tinha vacinado 88% dos 92 milhõesaposta esportiva meskbrasileiros que faziam parte dos grupos prioritários tinham sido vacinados.
Havia conseguido bater assim a meta original,aposta esportiva meskaplicaraposta esportiva mesk80% dessa população. O Ministério da Saúde divulgou depois que o resultado final tinha sido ainda melhor e que maisaposta esportiva mesk88 milhõesaposta esportiva meskpessoas haviam sido imunizadas nos três mesesaposta esportiva meskcampanha.
Foi "a maior vacinação que já aconteceu (no país)", como disse o então ministro da Saúde José Gomes Temporãoaposta esportiva meskuma entrevista coletiva na época.
O país pode agora superar essa marca, porque o governo federal diz já ter comprado maisaposta esportiva mesk562 milhõesaposta esportiva meskdoses, que serão entregues até o final do ano.
A campanhaaposta esportiva meskvacinação contra a covid-19 pode entrar assim para a história, como tudo mais que diz respeito a essa pandemia. Mas a imunologista Cristina Bonorino diz que não está otimista.
"Quantas vezes as previsões do governo já foram alteradas? Muda toda semana. Dá para confiar que teremos 500 milhõesaposta esportiva meskdoses até o final do ano?"
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