Covid: como evitar a trágica marcawin blaze5 mil mortes por dia no Brasil?:win blaze

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Cinco dias depois,win blaze6/04, um novo recorde entrava para a história da pandemia: o país perdiawin blaze24 horas um totalwin blaze4.165 pessoas para a infecção pelo coronavírus.
Com essa progressão avassaladora e imprevisível, epidemiologistas e cientistaswin blazedados não conseguem determinar quando (e se) o Brasil chegará ao (ainda mais) trágico número das 5 mil mortes diárias.
Se, por um lado, o cenário é cercado por incertezas, por outro, não há dúvidas sobre medidas necessárias para conter o avanço da covid-19 no Brasil.
De acordo com especialistas, não existe formawin blazesair dessa crise sanitária e econômica sem um lockdown nacional de, no mínimo, três semanas.
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O epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federalwin blazePelotas (RS), entende que o lockdown não deve ser encarado como algo dogmático,win blazeque há pessoas a 100% a favor e outras que são 100% contra, independentemente do contexto.
Ele explica: "Eu defendi a necessidadewin blazeuma medida dessaswin blazemaiowin blaze2020. Mas,win blazesetembro, achava que não era necessário. Agora, entendo que precisamoswin blazeum lockdown nacional pelo tamanho do descontrole que vivemos".
"Nós precisamos parar o país inteiro", afirma.

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A explicação por trás desta paralisaçãowin blazetodas as atividades não-essenciais é relativamente simples: com menos circulação nas ruas, o coronavírus encontra menos pessoas vulneráveis para infectar.
Isso quebra cadeiaswin blazetransmissão da doença (veja mais a seguir) e impede que ela se espalhewin blazeprogressão geométricawin blazecondomínios, ruas, bairros ou cidades inteiras.
Vamos a um exemplo prático: pense num indivíduo infectado que mora na Zona Lestewin blazeSão Paulo e precisa pegar metrô e trem todos os dias até a Zona Sul para chegar ao escritório.
Com o deslocamento, ele tem proximidade com centenaswin blazeoutras pessoas ao longo do dia.
Muitas vezes, a covid-19 demora algum tempo para dar algum sinal ou incômodo — e, numa parcela considerávelwin blazecasos, os sintomas sequer aparecem.
Esse trabalhador, então, pode transmitir o vírus para contatos próximos que, porwin blazevez, vão infectar pessoaswin blazesequência, criando as chamadas cadeiaswin blazetransmissão mencionadas mais acima.
Agora, todo esse estrago poderia ser evitado se o sujeito do nosso exemplo permanecessewin blazecasa por um tempo.
Imagine como isso,win blazelarga escala, se reflete na taxawin blazenovos infectados durante um lockdown, quando milhõeswin blazepessoas permanecemwin blazesuas casas.
Restrições insuficientes
Para especialistas consultados pela BBC News Brasil, a duração do lockdown nacional deveria serwin blazepelo menos três semanas.
"Esse é o tempo mínimo necessário para reduzir númeroswin blazecasos, hospitalizações e óbitos por covid-19", resume Hallal.
Uma queda massiva na taxawin blazenovas infecções cria um efeito dominó e traz um impacto positivowin blazetoda a sequênciawin blazeeventos relacionados à pandemia.
Afinal, um menor númerowin blazecasos significa uma queda na procura por hospitais e pronto-socorros.
Isso, porwin blazevez, garante mais espaçowin blazeenfermarias e unidadeswin blazeterapia intensiva, alémwin blazeum melhor cuidado da equipewin blazeprofissionais da saúde, que deixawin blazesofrer com a chegada excessivawin blazenovos pacientes.
Mas essas medidas drásticas precisam ser levadas a sério: desde janeirowin blaze2021, prefeitos e governadores anunciaram uma sériewin blazenovas políticas, que restringiam o funcionamento do comércio e a circulaçãowin blazepessoas nas ruaswin blazedeterminados horários do dia (ou, geralmente, da madrugada).
Em vários estados e municípios, a listawin blazeexceções superava e muito as atividades que deveriam obedecer as regras — a influênciawin blazecertos setores da indústria, do comércio ewin blazeserviços fez com que muitas políticas fossem flexibilizadas e toleradas, mesmo no momento mais grave da pandemia.
Outra estratégiawin blazeprefeitos que saiu pela culatra foi a tentativawin blazeantecipar feriados para a semanawin blaze29win blazemarço a 2win blazeabril, como aconteceuwin blazeSão Paulo e no Riowin blazeJaneiro.
A "folga" fez com que muitas pessoas aproveitassem para viajar ao litoral, onde foram registradas muitas cenaswin blazeaglomeração.
O grande problema é que esses decretos foram assinados e publicadoswin blazeforma descentralizada,win blazeacordo com critérios definidos por cada prefeitura ou governo estadual, sem articulação regional ou nacional.
"E muitas dessas medidas sequer foram fiscalizadas. Daí alguns seguiam e outros não, o que é extremamente injusto", observa o médico Ricardo Schnekenberg, que integra um grupo do Imperial College London, no Reino Unido, que estuda a pandemiawin blazecovid-19 no Brasil.
O governo federal também não fez nenhum movimento para apoiar ou uniformizar as ações contra a pandemia, apontam os especialistas consultados.
"Com isso, não lidamos com a transmissão do coronavírus e a situação se agravou. Estamos no pior dos dois mundos: pandemia descontrolada e sem perspectivawin blazemelhora econômica", completa.
Lockdown 'pra valer'
Para derrubar as cadeiaswin blazetransmissão, os epidemiologistas calculam que seria necessário manter cercawin blaze70% dos brasileiros dentrowin blazecasa durante a vigência do lockdown.
"Nesse sentido, a circulação só estaria liberada para trabalhadores essenciaiswin blazeverdade, como aqueles que integram os serviçoswin blazesaúde e a cadeia produtivawin blazealimentação", explica a epidemiologista Ethel Maciel, professora da Universidade Federal do Espírito Santo.
O exemplowin blazelockdown mais bem-sucedido no Brasil aconteceuwin blazeAraraquara, no interiorwin blazeSão Paulo, que durante duas semanaswin blazefevereirowin blaze2021 só manteve abertos os serviços da áreawin blazesaúde. Até supermercados e o transporte público foram paralisados por lá.
O resultado disso foi uma queda consistente no númerowin blazecasos e mortes por covid-19.
No iníciowin blazeabril, a cidade até permaneceu alguns dias sem registrar novos óbitos pela doença.

Crédito, Divulgação/Prefeiturawin blazeAraraquara
Outros locais que restringiram a circulação e tiveram bons resultados por algum período foram Petrolina (PE), Ribeirão das Neves (MG) e Bela Vista do Paraíso (PR).
"No lockdownwin blazeverdade, a pessoa só saiwin blazecasa se tiver autorização e justificativa. As forçaswin blazesegurança precisam fiscalizar e coibir a circulação", completa Hallal.
Auxílio emergencial
É claro que o lockdown sozinho não é capazwin blazedar conta do recado: ele precisa vir juntowin blazeuma sériewin blazeoutras políticaswin blazemédio e longo prazo.
"Para começowin blazeconversa, o governo deveria oferecer um auxílio emergencial digno, que atendesse as necessidades básicas das pessoas sem que elas precisem sairwin blazecasa", diz Maciel.
O governo federal começou recentemente a liberar as verbaswin blazeuma nova fase do auxílio emergencial.
Os valores foram reduzidos para R$ 150 a R$ 375 (no ano passado os pagamentos chegaram a R$ 600), ao passo que o númerowin blazebeneficiários também ficou mais restrito.
Com um aporte financeiro minimamente razoável, a população não precisaria sair à rua para ganhar renda e garantir a sobrevivência.

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Segundo os especialistas, o socorro também deveria contemplar os empresárioswin blazepequeno e médio porte.
"Eles deveriam ter à disposição linhaswin blazecrédito especiais para manterem o negócio e conseguirem superar as adversidades atuais", sugere a epidemiologista.
"Enquanto países como Canadá e Alemanha protegeram o empregowin blazeseus cidadãos e o governo chegou a custear um percentual da renda dos funcionárioswin blazeempresas privadas, aqui nós aprovamos uma lei para diminuir a jornada e cortar o salário das pessoas", completa.
Vigilância ativa
Também não faz sentido lançar um lockdown dessa magnitude sem um programa sólidowin blazetestagemwin blazenovas infecções e o rastreamentowin blazecontatos.
"É preciso detectar os casos precocemente e aplicar medidas para conter os surtos locais antes que eles se espalhem", diz Schnekenberg.

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Países bem-sucedidos no enfrentamento da pandemia, como Nova Zelândia, Austrália, Taiwan, Vietnã e Coreia do Sul, têm boa estrutura para exameswin blazelarga escala e diagnóstico daqueles casos que ainda nem apresentam sintomas.
No iníciowin blazefevereiro, a Austrália, por exemplo, chegou a determinar um lockdown rígido por cinco dias a todos os moradores do Sudoeste do país após um único caso ter sido diagnosticado na cidadewin blazePerth.
Com a detecção rápida, é possível iniciar uma busca ativawin blazetodas as pessoas que entraramwin blazecontato com aquele paciente, para que elas fiquem atentas e tomem todos os cuidados necessários.
Essa ação é conhecida como rastreamentowin blazecontatos e é outra maneirawin blazequebrar as cadeiaswin blazetransmissão do coronavírus.
"Mas essas ações só seriam possíveis com liderança e um Ministério da Saúde atuante, que transmitisse mensagens claras e consistes ao povo sobre quais são os sintomas, como se proteger, quando realizar o auto isolamento, quando fazer o teste…", lista Schnekenberg.
Outro ponto importante dessa história é que um decreto com medidas restritivas também precisa contemplar como será a saída do isolamento e o retorno do comércio e dos serviços.
"Todos os países bem-sucedidos têm planos para entrar e para sair do lockdown. As atividades devem ser retomadas aos poucos,win blazeforma progressiva, e não tudowin blazeuma só vez", conta Maciel.
Hallal calcula que, se adotássemos essas medidas restritivas e acelerássemos a campanhawin blazevacinação contra a covid-19, seria possível pensar num controle da pandemia, a exemplo do que já acontecewin blazeoutras nações.
"Com um lockdown rígidowin blazetrês semanas e a aplicaçãowin blazemaiswin blaze1,5 milhãowin blazedoseswin blazevacina por dia, nós começaríamos a enxergar uma luz no fim do túnel", destaca.
Realidade utópica
Por mais que cientistas destaquem e insistam na necessidadewin blazeum lockdown nacional desde o iníciowin blaze2021, é bastante improvável que o Governo Federal acate uma sugestão dessas nas próximas semanas — mesmo se chegarmos perto ou ultrapassarmos a marcawin blaze5 mil mortes diárias por covid-19.
Em entrevista coletiva no dia 2win blazeabril, o ministro da saúde, Marcelo Queiroga, deu claras demonstraçõeswin blazeque faráwin blazetudo para evitar uma medida dessas.
"Precisamos nos organizar para fazer com que evitemos medidas extremas e consigamos garantir que as pessoas continuem trabalhando, ganhando seu salário e renda, fazendo com que a economia funcione, deixando essas medidas extremas para outro caso. Evitar lockdown é a ordem, mas temos que fazer nosso deverwin blazecasa", discursou.

Crédito, Alan Santos/PR
Ele não deixou claro, porém, que organização é essa e o que será feito para garantir uma queda nas mortes por covid-19 e a manutenção da atividade econômicawin blazemeio ao pior momento da pandemia até agora.
O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) também já deu inúmeras demonstrações contrárias a esse tipowin blazepolíticawin blazesaúde pública.
Numa visita à cidadewin blazeChapecó (SC) no dia 7win blazeabril, o presidente declarou que "não vai ter lockdown nacional".
"Como alguns ousam dizer por aí que as Forças Armadas deveriam ajudar seus governadores nas suas medidas restritivas. O nosso Exército brasileiro não vai às ruas para manter o povo dentrowin blazecasa, a liberdade não tem preço", disse.
Uma frase parecida foi dita no mesmo dia, num jantarwin blazeSão Paulo com empresários, segundo relatoswin blazequem esteve no evento.

Crédito, Alan Santos/PR
"Eu só posso dizer que sinto pelas pessoas que perderam ou que ainda vão perder seus entes queridos nessa pandemia. Muitos indivíduos estão neste exato momento há duas ou três semanaswin blazeserem internados e morrerem por causa da covid-19 e por causawin blazeum governo que não tem capacidadewin blazetomar uma medida difícil, mas necessária para salvar a vida dos brasileiros", lamenta Schnekenberg.
A reportagem da BBC News Brasil enviou três questões ao Ministério da Saúde para entender como os responsáveis pelas políticaswin blazesaúde pública brasileiras se posicionam a respeito deste assunto e o que estão fazendo para controlar o númerowin blazecasos e mortes:
- O Ministério da Saúde planeja lançar mãowin blazealguma medida ou orientação para que estados e municípios façam lockdown nas próximas semanas?
- Se o Ministério não planeja realizar nenhuma ação nesse sentido, quais são os motivos e as evidências científicas que dão suporte a essa postura?
- Que outras medidas estão sendo discutidas e implementadas no sentidowin blazecontrolar o aumento constante dos númeroswin blazecasos e mortes por covid-19, como observamos há algumas semanas?
Até o fechamento desta reportagem, no entanto, não havíamos recebido nenhuma resposta.

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