'Chego com experiência, mas querem juventude': desemprego entre mais velhos dispara com pandemia:casino br

O sucesso da postagem reflete uma busca que hoje é comum para mais famílias. Do fimcasino br2019 até o fimcasino br2020, mais 400 mil brasileiros com idades a partircasino br50 anos passaram a ser desempregados, segundo dados oficiais.

Se for considerado o aumento da taxa desde 2012, quando tem início a série histórica, a alta do desemprego foi proporcionalmente maior para o grupocasino br50 anos ou mais, segundo levantamento do IDados feito a pedido da BBC News Brasil com base na Pnad Contínua (veja mais dados abaixo). Em 2020, ano que surgiu a pandemiacasino brcoronavírus, a taxacasino brdesemprego para esta faixa etária superou 7% pela primeira vez.

E o que é mais difícil quando se procura emprego aos 58? "É a idade. A tecnologia, isso está aberto para todo mundo, é questãocasino braprender e se adaptar", respondeu Gobato,casino brconversa por telefone com a BBC News Brasil.

Moradorcasino brSão Carlos, no interiorcasino brSão Paulo, ele se aposentou no fimcasino br2015, mas conta que houve uma queda na renda. Quase metade da aposentadoria, ele diz, vai só para o planocasino brsaúde dele e da esposa.

"Busco um complementocasino brrenda. Poderia ser útilcasino bralgum lugar, quem sabe mesclando minha experiência com acasino brprofissionais mais jovens, com o ímpeto da juventude, e a gente estaria ali para balancear."

Na mesma casa, ele vê dois extremos: o filho sentindo a dificuldadecasino brser um jovem recém formado na busca por uma colocação no mercado e ele, aposentado, procurando uma recolocação.

"Se ele vai buscar uma colocação no mercado, falta-lhe a experiência. No meu caso, eu chego com a experiência, e falta-me a juventude."

Gobato conta que sente que a idade é uma barreira na visão dos empregadores, que podem contratar mais jovens por salários mais baixos e que, na avaliação dele, muitas vezes não se sentem confortáveiscasino brcontratar alguém com mais tempocasino brexperiência. Por outro lado, ele diz que não pensacasino brum prazo para deixar o mercadocasino brtrabalho.

"Não faço planocasino brparar, não. Tenho dois filhos, já formados, mas a gente gostacasino brse sentir útil. A gente mantendo o tempo ocupado, a cabeça trabalhando… até quando eu tiver saúde e se não tiver atrapalhando, eu gostariacasino brestar trabalhando", diz. "A gente não quer ostentar luxo. Quero ter uma vida normal, uma vida tranquila."

Com o sucesso inesperado da postagem na rede social, os dias seguintes ao compartilhamento foram cheioscasino brmensagenscasino brapoio à empreitadacasino brGobato. Ele conta que recebeu até a ligaçãocasino bruma pessoacasino br72 anos, que vivecasino brPortugal, e quis dividir a própria experiência com ele. "Conversamos maiscasino bruma hora. Nunca vi a pessoa na vida", conta.

"Fiquei surpreso com a repercussão. As pessoas se solidarizaram ou se espelharam, muitas delas, na busca pela recolocação no mercado, que muitas estão sentindo na pele."

Recordecasino brdesemprego até para os mais velhos

A taxacasino brdesempregocasino brpessoas com 50 anos ou mais no Brasil chegou ao seu nível mais altocasino br2020, quando ultrapassou 7% pela primeira vez desde 2012, quando começa a série histórica da Pnad Contínua, do Instituto Brasileirocasino brGeografia e Estatística (IBGE).

Em um ano, do fimcasino br2019 até o fimcasino br2020, maiscasino br400 mil brasileiros nessa faixa etária caíram no desemprego.

O movimentocasino bralta no desemprego para essa idade nos últimos anos acompanha a piora registrada para as demais faixas etárias. No entanto, chama atenção que, proporcionalmente, o aumento da taxacasino brdesemprego foi maior para o grupocasino br50 anos ou mais, conforme mostra levantamento elaborado, a pedido da BBC News Brasil, pelo economista Bruno Ottoni, pesquisador do IDados e do Ibre/FGV, com base na Pnad Contínua.

Para quem tem 50 anos ou mais, a taxacasino brdesemprego saltoucasino br2,7% no último trimestrecasino br2012 para 7,2% no fimcasino br2020.

No mesmo período, a taxacasino brdesemprego das pessoas com menoscasino br24 anos passoucasino br15,1% para 31,4% e, para quem temcasino br25 a 49 anos, subiucasino br5,6% para 12,2%.

Comparado às outras faixas etárias, o nívelcasino brdesemprego entre os mais velhos é historicamente mais baixo, porque muitas vezes eles já estão empregados ou já recebem outro tipocasino brrenda, como aposentadoria ou pensão, e deixaram o mercadocasino brtrabalho. E aqui é importante lembrar que, para uma pessoa ser considerada desempregada nos dados do IBGE, não basta não ter um emprego: tem que ser uma pessoa que não está trabalhando e que está disponível e procurando um trabalho.

Embora a pandemiacasino brcoronavírus tenha afetado fortemente o mercadocasino brtrabalho, é verdade também que antes dela a taxacasino brdesemprego não estavacasino brseus patamares mais baixos.

Ottoni lembra que a crise gerada pela pandemia chegoucasino brum cenário que já não era muito bom. Ele destaca que a taxacasino brdesemprego havia atingido níveis recordes há cercacasino brtrês anos e caiu muito lentamente "porque a recuperação econômica que aconteceu após crisecasino br2015 e 2016 não foi super acentuada".

"Depois da crise anterior, a taxacasino brdesemprego caiu, mas permaneceucasino brpatamares elevados. Aí você pega outra crise e jogacasino brcima dessa situação... Isso leva um mercadocasino brtrabalho que já está ruim para um nível ainda pior."

Os números disponíveis até agora vão até o fimcasino br2020. Para o começo deste ano, o economista, especialistacasino brmercadocasino brtrabalho, prevê uma situação ainda pior. "Acho que ainda vai piorar,casino brforma geral, para todo mundo. Mas é aquilo que já sabemos: infelizmente, no Brasil, quem acaba sofrendo mais são os grupos mais vulneráveis. Quem vai sofrer mais, muito provavelmente, serão os jovens, os idosos na questão da desocupação, pessoas negras, com baixa escolaridade, mulheres".

Ottoni acredita que o Brasil verá recordes negativos no iníciocasino br2021, como taxacasino brdesemprego e proporçãocasino brpessoas ganhando menos que salário mínimo. Ele diz que a situação atual da economia brasileira, a retiradacasino brestímulos como o auxílio emergencial neste momento, e o recrudescimento da pandemia formam "o caldeirão perfeito".

Ottoni diz não ser "totalmente contra" a retiradacasino brestímulos fiscais, mas avalia que "o governo demorou a organizar, principalmente aquelas ajudas mais essenciais, como auxílio emergencial e o BEM (programacasino brreduçãocasino brsalários e suspensãocasino brcontratos)".

Efeitos da reforma da Previdência

A piora da pandemia e das condições da economia afetam o mercadocasino brtrabalho como um todo. Mas quais são os fatores que afetam especificamente as pessoas mais velhas?

O primeiro ponto é o momento da aposentadoria (ou quão distantes as pessoas estão dele).

"A reforma da previdência tende a fazer com que esses indivíduos mais velhos precisem ficar mais tempo no mercadocasino brtrabalho, porque vão se aposentar mais tarde", diz Ottoni.

A reforma da previdência promulgadacasino br2019 mudou regrascasino braposentadoria e pensão. Uma das principais alterações foi a obrigatoriedadecasino bruma idade mínima para aposentar -casino br62 anos para mulheres ecasino br65 para homens. Também ficou mais difícil conseguir valores mais altoscasino braposentadoria.

No entanto, a reforma prevê diferentes regrascasino brtransição para quem está mais perto da aposentadoria. É por isso que os economistas apontam que, nos próximos anos, veremos os efeitos da reforma se intensificarem - já que gradualmente será exigido que as pessoas passem mais anos no mercadocasino brtrabalho.

Outro fator que tem especial impacto sobre os mais velhos, segundo Ottoni, está relacionado ao nívelcasino brescolaridade.

"Conseguimos aumentar o nível educacional da populaçãocasino brum período muito curto no Brasil. Nesse sentido, as pessoas mais velhas saem prejudicadas, porque é uma geração que teve um nível educacional menor. E aí, num momento como o atual,casino brque educação está se tornando cada vez mais importante para você ser bem sucedido no mercadocasino brtrabalho, essas pessoas acabam saindo mais prejudicadas ainda", diz. "A escolaridade é cada vez mais importante e a crise exacerbou essa importância."

Além disso, considerando a piora do nívelcasino brempregocasino brgeral e o fatocasino brmuitas famílias brasileiras viveremcasino brarranjos com várias gerações na mesma casa, o economista diz que "é possível que a piora generalizada da situação, inclusive para pessoas mais jovens, acabe,casino brcerta maneira, gerando necessidadecasino bros mais idosos também procurarem emprego para tentar contribuir com as finanças da casa."

Preconceito contra os mais velhos

O preconceito contra profissionais mais velhos e o fatocasino breles muitas vezes eles terem melhores remunerações também pesam nessa equação, segundo Ottoni.

"Acredito também que existe certo preconceito no mercadocasino brtrabalho brasileiro. No setor privado, principalmente, acabamos observando empresas que a partircasino brcerta idade forçam a saída do indivíduo, muitas vezes baseadas na visãocasino brque o profissional é caro. As empresas muitas preferem contratar um adulto (idade intermediária) que tem experiência e pagam mais barato por ele."

Em entrevista à BBC News Brasilcasino br2020, a subprocuradora-geral do Trabalho Sandra Lia Simon também destacou que, especialmentecasino brtrabalhos que exigem menos qualificação, há uma preferência por mais jovens, com mais preparo físico, alémcasino bruma substituição por mãocasino brobra mais barata. "Como os mais velhos têm mais experiência e já têm patamarcasino brsalário mais alto, esse salário acaba sendo o motivocasino brdiscriminação."

Simon, que foi a primeira mulher a comandar o Ministério Público do Trabalho,casino br2003 a 2007, também apontou a questão da saúde como um motivocasino brdiscriminação. "Antes da pandemia, já se considerava que a pessoa mais velha é mais propensa a ter problemascasino brsaúde. Imagina agora."

Ela disse que o preconceito contra pessoas mais velhas no mercadocasino brtrabalho pode começar antes dos 60 anos. "Sempre houve preconceito contra pessoas mais velhas, e não apenas com 60 anos ou mais. A partircasino br54, 55 anos, a depender da atividade, já há esse preconceito", disse ela.

No Brasil, o Estatuto do Idoso define como tal a pessoa que tem 60 anos ou mais. No entanto, outras políticas, como o Benefíciocasino brPrestação Continuada, são aplicadas para quem tem a partircasino br65 anos. E, com a população vivendo cada vez mais e a medicina avançando, especialistas também apontam que há uma grande diferença entre alguém que tem 60 anos hoje e uma pessoacasino br60 anos décadas atrás.

Em relatório divulgadocasino br2015, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já apontava que o combate à discriminação etária deve ser uma respostacasino brsaúde pública ao envelhecimento da população. A entidade defende campanhas para aumentar conhecimento sobre envelhecimento, aprovaçãocasino brleis contra discriminação baseada na idade e uma visão equilibrada do envelhecimento nos meioscasino brcomunicação.

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