Democracia não garante queda da desigualdade, mas disparidade aumentawhatsapp 1xbetditaduras, diz vencedor do Prêmio Jabuti:whatsapp 1xbet

Foto mostra favela ao ladowhatsapp 1xbetcondomíniowhatsapp 1xbetluxo, com piscinas nas varandas

Crédito, Tuca Vieira

Legenda da foto, Símbolo da desigualdade: imagem mostra contraste entre Paraisópolis e prédiowhatsapp 1xbetluxo do Morumbi

A tesewhatsapp 1xbetdoutoradowhatsapp 1xbetSouza, que é pesquisador do Institutowhatsapp 1xbetPesquisa Econômica Aplicada (Ipea), virou o livro Uma História da Desigualdade: a Concentraçãowhatsapp 1xbetRenda entre os Ricos no Brasil - 1926-2013.

Meses antes do Jabuti, Celso Rochawhatsapp 1xbetBarros, doutorwhatsapp 1xbetSociologia pela Universidadewhatsapp 1xbetOxford, já havia descrito a obrawhatsapp 1xbetSouza como "o melhor trabalho produzido pelas ciências sociais no país nos últimos anos" emwhatsapp 1xbetcoluna na Folhawhatsapp 1xbetS.Paulo. E a tesewhatsapp 1xbetdoutorado recebeu os prêmios da Associação Nacionalwhatsapp 1xbetPós-Graduação e Pesquisawhatsapp 1xbetCiências Sociais (ANPOCs) e da Coordenaçãowhatsapp 1xbetAperfeiçoamentowhatsapp 1xbetPessoalwhatsapp 1xbetNível Superior (Capes).

Na entrevista, Souza aponta que a disparidadewhatsapp 1xbetrenda leva a uma desigualdade também no acesso ao poder e à capacidadewhatsapp 1xbetinfluenciar a agenda do país. O resultado é que grupos específicos conseguem, por exemplo, créditos ou subsídios que agravam a desigualdade. É por isso que ele diz que, muitas vezes, o Estado "dá com uma mão e tira com a outra".

O sociólogo destaca, ainda, que a democracia não é garantiawhatsapp 1xbetqueda da desigualdade, mas é certo que a disparidade aumenta na ditadura.

"Tivemos três períodoswhatsapp 1xbetque a desigualdade piorou muito, e rápido: no início das duas ditaduras — no Estado Novo ewhatsapp 1xbet1964 — e no final dos anos 1980, com a hiperinflação. Nem sempre a redemocratização está associada à queda da desigualdade, mas as ditaduraswhatsapp 1xbetgeral — pelo menos no padrão que o Brasil teve — estão associadas a uma piora."

Leia os principais trechos da entrevista:

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - De que forma desigualdade e democracia se relacionam?

whatsapp 1xbet Pedro Ferreirawhatsapp 1xbetSouza - Esse é um dos motivos importanteswhatsapp 1xbetprestar atenção na desigualdade. Tem uma tensão clara entre o princípiowhatsapp 1xbettodo mundo ser igualmente cidadão, com participação política e direitos iguais, e a existênciawhatsapp 1xbetdesigualdade econômica. Quando as desigualdades são muito altas, você tem sempre o riscowhatsapp 1xbetque alguns grupos vão conseguir converter o capital econômicowhatsapp 1xbetinfluência política. É algo que se vê no mundo todo.

A partirwhatsapp 1xbetdeterminado nível —quando você tem determinada disparidadewhatsapp 1xbetriqueza, o acesso ao poder e a capacidadewhatsapp 1xbetinfluenciar o que é votado, e quais decisões são tomadas—, começa a haver uma desigualdade entre os cidadãos que é extremamente alta e preocupante. E boa parte dos argumentos hoje que tentam olhar a desigualdade salientam essa questão do riscowhatsapp 1xbetcaptura do Estado e do sistema político por aqueles que têm mais recursos econômicos.

Essa tensãowhatsapp 1xbetpaíses muito desiguais é muito clara. E também tem outras questões. Se você tem uma desigualdade muito grande, a própria construçãowhatsapp 1xbetcoalizões e maiorias se torna mais complicada. Você começa a ter grupos com interesses e características muito diferentes. Há indícioswhatsapp 1xbetque realmente o processowhatsapp 1xbetconseguir aprovar reformas e construir maiorias se torna mais custoso e complicado.

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - No Brasil, qual é o impacto para a população desse poderwhatsapp 1xbetpressão que alguns grupos têm no Congresso? É uma 'bolawhatsapp 1xbetneve'?

whatsapp 1xbet Souza - Não só por ser tão desigual, mas também por outros motivos históricos. Somos um país muito corporativo,whatsapp 1xbetvárias dimensões, e com poderwhatsapp 1xbetlobby muito fortewhatsapp 1xbetalguns grupos. Mas não vejo como uma coisa que está sempre piorando, uma bolawhatsapp 1xbetneve que vai crescendo. O que vejo é mais um jogowhatsapp 1xbetsoma zero,whatsapp 1xbetque fazer reformas e gerar mudanças, inclusive na direção certa, se torna muito difícil porque tem muitos grupos com poderwhatsapp 1xbetveto muito forte sobre qualquer pessoa que possa ameaçar o status quo, então fica um cabowhatsapp 1xbetguerra que não sai muito do lugar.

Para o bem e para o mal, o que vemos hoje é que propostas são atacadas e descartadas mesmo anteswhatsapp 1xbetserem anunciadas. Awhatsapp 1xbetmargemwhatsapp 1xbetmanobra para redimensionar os recursos e mudar o perfil dos gastos do Estado se torna muito restrita. Acontece que a estratégia que funciona é você torcer para entrarwhatsapp 1xbetum períodowhatsapp 1xbetalgum crescimento da economia, para o orçamento estar sempre crescendo e você conseguir ir acomodando todo mundo ao mesmo tempo, sem precisar fazer mudanças e cortes radicais.

É isso que estamos tentando fazer há muito tempo e o problema é que não crescemos muito. Então esses recursos adicionais que o crescimento traria não se materializam porque o crescimento do Brasil nos últimos 30 ou 40 anos tem sido muito decepcionante, aí fica esse cabowhatsapp 1xbetguerra que não gera mudança significativa na distribuiçãowhatsapp 1xbetrenda. Há mudança, não dá pra dizer que não há. Não podemos esquecer delas, mas não são mudanças que mudam a cara do país.

Pedro Souza

Crédito, Helio Montferre/Ipea

Legenda da foto, Obra do pesquisador Pedro Ferreirawhatsapp 1xbetSouza sobre desigualdade no Brasil foi escolhida o Livro do Ano pelo Prêmio Jabuti

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - Você pode dar exemploswhatsapp 1xbetmedidas que beneficiaram setores específicos e quais são os grupos que têm mais poderwhatsapp 1xbetinfluência?

whatsapp 1xbet Souza - Tem várias corporações que você vê que têm força política, como o Judiciário e os militares. Tem entidadeswhatsapp 1xbetclassewhatsapp 1xbetvários setores da economia que conseguem muitas medidas favoráveis — por exemplo, quando teve a políticawhatsapp 1xbetdesoneração (da folhawhatsapp 1xbetpagamento), ela era restrita a poucos setores e depois rapidamente foi para maiswhatsapp 1xbetquarenta. Quando a reforma da Previdência começou a tramitar, desde o início os militares ficaramwhatsapp 1xbetfora — e claro que eles têm especificidades. Esse tipowhatsapp 1xbetcoisa é corriqueira e não é novidade no Brasil.

E tem uma dificuldade adicional que é muito verdadeira: quando você anuncia uma medida que tende a beneficiar grande parte da população, ela tende a ser muito fácilwhatsapp 1xbetentender e transparente, como o reajuste do Bolsa Família e mudanças no salário mínimo.

No caso dos gruposwhatsapp 1xbetpressão, como ruralistas e outros tiposwhatsapp 1xbetlobby, as medidas que os beneficiam acabam sendo muito mais difíceiswhatsapp 1xbetentender para o público leigowhatsapp 1xbetgeral, porque costumam ser relativas à regulação do setor, subsídios, desonerações. E elas geralmente vêm embaladas pelo argumentowhatsapp 1xbetque são medidas para estimular o crescimento e a geraçãowhatsapp 1xbetemprego. Todos os lobbies, ou quase todos, usam esse argumentowhatsapp 1xbet'medidas importantes para o desenvolvimento do país', que na verdade são muito difíceiswhatsapp 1xbetavaliarwhatsapp 1xbetfora. Como também é difícil dar um diagnóstico 'no atacado', isso também é algo que facilita a reprodução do status quo.

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - Você concluiu que o Estado brasileiro é geradorwhatsapp 1xbetdesigualdade. Como isso acontece?

whatsapp 1xbet Souza - O que acontece é que o Estado — e qualquer Estado moderno — é muito complexo e pouco transparente. Tem muita coisa acontecendo ao mesmo tempo. Então claro que tem coisas que o Estado faz e são essencialmente redistributivas e progressivas, como serviços públicoswhatsapp 1xbeteducação e programas como Bolsa Família. O Estado distribui muito para os mais pobres, mas, por outro lado, ele dá com uma mão e tira com a outra. Essa é a lógica. No atacado, você vê que as coisas não mudam muito e ajudam a reproduzir a desigualdade, por vários lugares. Tanto com créditos e subsídios, como com a previdência da elite do funcionalismo público.

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - E os prováveis efeitos da reforma da Previdência como um todo, que foi promovida com a lógicawhatsapp 1xbetreduzir privilégios?

whatsapp 1xbet Souza - Fizemos simulações na época da reforma do (ex-presidente Michel) Temer, e o que foi aprovado acaba sendo relativamente parecido, então acredito que as conclusões não mudariam muito. Na época, o que a gente concluiu é que provavelmente o impacto sobre a desigualdade seria muito pequeno, muito pertowhatsapp 1xbetzero, tanto pro bem quanto pro mal. É uma reforma importante, mas uma reforma com objetivo claramente fiscal — sem desmerecer, mas,whatsapp 1xbettermoswhatsapp 1xbetdesigualdade, não vai causar grandes mudanças. O legado da reforma para a desigualdade vai depender do que vai ser feito com esses recursos que serão poupados.

Câmara dos Deputados aprovou o texto base da reforma da previdência

Crédito, Câmara dos Deputados

Legenda da foto, Souza diz que o Estado 'dá com uma mão e tira com a outra': aprova medidas distributivas, mas também dá créditos e subsídios a setores específicos

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - Considerando a História do Brasil, quanto a escravidão explica a desigualdade que temos hoje?

whatsapp 1xbet Souza - É impossível entender o Brasil sem olhar para isso e dar o devido peso a esse passado — acho inclusive que, fora das universidades, falamos muito pouco sobre o passado colonialista e escravocrata do Brasil. Entendo a reaçãowhatsapp 1xbettentar se afastar disso, porque é um passado muito ruim e opressor, mas é muito recente e é absolutamente central para entender o Brasilwhatsapp 1xbethoje. Você vê até hoje a persistênciawhatsapp 1xbetdesigualdades raciais muito enraizadas e difíceiswhatsapp 1xbetmudar,whatsapp 1xbetum grau muito alto.

No caso brasileiro, a escravidão é formadorawhatsapp 1xbetonde estamos hoje. O que pode ser dito, além disso, é que isso também não absolve nossos pecados dos últimos cem anos. O fatowhatsapp 1xbettermos esse passado muito pesado não absolve nossos pecados porque nós só fizemos foi reproduzir desigualdadeswhatsapp 1xbetlá pra cá e poderia ter sido diferente.

No início do século 20, o Brasil já era muito desigual, mas a distância que separava a gente da Europa era muito menor do que é hoje. O que aconteceu na Europa foi outro tipowhatsapp 1xbettragédia — basicamente, aquele período entre as guerras que mudou muito os países europeus e equalizou muito a renda nos países europeus. Não que a gente queira passar por isso, mas mostra que é possível e que deveríamos ter melhorado e avançado para reverter esse legado histórico que agora está dado.

É uma tragédiawhatsapp 1xbetdois atos: chegar no início do século 20 com esse peso histórico tão forte, um legado horrível. Mas ao longo do século 20 também não conseguimos manter esse padrão e avançar na direção certa. E até hoje enfrentamos dificuldadewhatsapp 1xbetreverter. Quando falamoswhatsapp 1xbetdesigualdade no Brasil, estamos falando sobre tornar o Brasil mais parecido com a maior parte do mundo — reduzir a desigualdade pra gente se aproximarwhatsapp 1xbetpaíses da Europa e alguns da Ásia. Estamos sempre entre os países mais desiguais. É difícil mudar do dia para a noite, mas os avanços foram bem menores do que poderíamos esperar.

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - Considerando as últimas décadas, qual foi o efeito da ditadura? E como conseguiríamos reduzir a desigualdade?

whatsapp 1xbet Souza - É muito difícil mesmo. Os maiores exemplos que temoswhatsapp 1xbetpaíses que eram muito desiguais e se tornaram rapidamente países relativamente igualitários,whatsapp 1xbetgeral, é porque alguma coisa deu muito errado — como a Segunda Guerra na Europa, que é o caso mais emblemático. Foi um período, não só por causa da destruição, mas por uma sériewhatsapp 1xbetações e políticas que os governos tiveram que adotar, whatsapp 1xbetque os países mudaram muito, muito rápido.

Mudanças radicais tendem a acontecer nesses momentos — o que não significa que seja impossível mudar, mas mostra que é difícil. No nosso caso, tem esse padrão alto histórico, mas ele não é estático. Tivemos três períodoswhatsapp 1xbetque a desigualdade piorou muito, e rápido: no início das duas ditaduras — no Estado Novo ewhatsapp 1xbet1964 — e no final dos anos 1980, com a hiperinflação. Nem sempre a redemocratização está associada à queda da desigualdade, mas as ditaduraswhatsapp 1xbetgeral — pelo menos no padrão que o Brasil teve — estão associadas a uma piora. No Chile também aconteceu isso, na Alemanha dos anos 1930 também. São momentos diferentes, claro, mas só para mostrar que ditaduras tendem a piorar a desigualdade, pelo menos no primeiro momento.

Para o futuro, tem várias políticas que colocariam a gente na direção certa, mas a questão é que nenhuma medida, sozinha, vai fazer uma diferença tão grande assim. Esse é o dilema. Você teria que andar na direção certa e tomar medidaswhatsapp 1xbetáreas diferentes e manter isso sem possibilitar reversão ou qualquer tipowhatsapp 1xbetcompensação e minimização. Isso é o mais difícil. A resistência política vem daí, porque um governo pode abraçar um tipowhatsapp 1xbetreforma, dar todo apoio a ela, mas para construir a própria coalizão e conseguir votos a favor dela vai ter que fazer concessõeswhatsapp 1xbetmuitas outras áreas. E a democracia é isso, é bom que seja isso, mas quando a democracia funcionawhatsapp 1xbetum país que é tão desigual, essas concessões acabam sendo coisas que vão diluindo os efeitos positivos das reformas. Evitar isso é o grande dilema daqui pra frente para mudar esse quadro. Não é só o que fazer — que do pontowhatsapp 1xbetvista técnico temos vários caminhos que poderiam ser explorados, como a própria questão da tributação.

Parada militar celebrando a independência do Brasilwhatsapp 1xbetfrente à Candelária, no Riowhatsapp 1xbetJaneiro,whatsapp 1xbet7whatsapp 1xbetsetembrowhatsapp 1xbet1972

Crédito, Acervo Arquivo Nacional

Legenda da foto, Democracia não garante queda da desigualdade, mas ditadura aumenta, diz Pedro Ferreirawhatsapp 1xbetSouza

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - Você disse que o Estado dá com uma mão e tira com a outra. A dificuldade é parar essa partewhatsapp 1xbet'tirar com a outra', então?

whatsapp 1xbet Souza - Essa é a dificuldade, o fatowhatsapp 1xbetque você pode aprovar um benefício novo, direto para os mais pobres, e ao mesmo tempo, sem que ninguém perceba, ou com muito menos visibilidade, fazer mudanças regulatórias que vão acabar protegendo certos setores ou ajudando empresas específicas, esse tipowhatsapp 1xbetcoisa que vemos acontecendo o tempo inteiro nas últimas décadas. É difícil estudar issowhatsapp 1xbetforma sistemática, porque são coisas que acontecem nos bastidores. No fundo, temos pouca informação e poucos dados para estudar essas políticas.

A política mais óbvia, ainda maiswhatsapp 1xbetmomentowhatsapp 1xbetcrise, seria você aplicar uma reforma tributária que deixasse a tributação muito mais progressiva. Seria um primeiro passo reduzir os tributos indiretos e aumentar muito os tributos diretos, principalmente impostowhatsapp 1xbetrenda. Transferências que beneficiam os mais pobres também poderiam ter peso maior. Tem algumas propostas circulando, como a ideiawhatsapp 1xbetum benefício universal para crianças, que seria uma inovação bem ousada e muito positiva. Uma das nossas desgraças é a pobreza infantil. E também a formawhatsapp 1xbetarrecadar.

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - Um dos pontos mais comentados sobre o seu trabalho é a conclusãowhatsapp 1xbetque a desigualdade não caiuwhatsapp 1xbetforma tão drástica durante o governo do ex-presidente Lula, embora muita gente tenha saído da pobreza. Foi uma surpresa?

whatsapp 1xbet Souza - Foi uma surpresa gigantesca. A gente não esperava, calculou várias vezes, testou alternativas, porque todos os melhores dados indicavam queda grande da desigualdade. Hoje tem um entendimento um pouco melhor do que aconteceu,whatsapp 1xbetque houvewhatsapp 1xbetfato mudanças para a pobreza —whatsapp 1xbetfato, a queda da pobreza foi muito forte nesse período, também porque foi um períodowhatsapp 1xbetcrescimento.

Na desigualdade, quando olhamos a partewhatsapp 1xbetbaixo, houve melhora e foi significativa: houve aumento da fatia da renda que vai para os mais pobres, sem dúvidas. A surpresa foi que, ao juntar os dados do impostowhatsapp 1xbetrenda às outras informações que a gente já tinha, nota-se que entre aqueles que estão bem no topo da distribuição, o 0,1% mais rico, a fatiawhatsapp 1xbetrenda ou ficou estável ou aumentou um pouco.

Claro que isso é uma surpresa e ainda estamos tentando entender isso. Se os mais pobres avançaramwhatsapp 1xbettermos relativos e os mais ricos avançaram ou ficaram onde estavam, o que acaba acontecendo é que quem perdeuwhatsapp 1xbettermos relativos foi justamente o grupo que está entre esses dois extremos. A fatia da renda desse grupo recuou um pouco, e aí quando você olha o coeficientewhatsapp 1xbetGini (instrumento estatístico para medir a desigualdadewhatsapp 1xbetrenda das populações), vê queda da desigualdade bem menor do que a gente imaginava. Claro que toda queda é positiva, mas achávamos que era uma queda gigante e sustentável, e vimos uma coisa bem mais tímida. Fica um sentimento frustrante, que mostra a dificuldadewhatsapp 1xbetmudar a desigualdade.

Para entender a melhora dos mais pobres, acho que progredimos muito e muita gente já estudou isso e os motivos são bem compreendidos — melhora educacional, geraçãowhatsapp 1xbetempregos muito forte especialmente para baixa qualificação, valorização do salário mínimo, avanço das transferências sociais. Mas para entender a persistência do topo nós temos várias hipóteses e não temos as informações para testes mais definitivos porque os próprios dados do impostowhatsapp 1xbetrenda ainda sãowhatsapp 1xbetacesso muito restrito. A matéria-prima ainda é muito precária no caso do Brasil.

Ex-presidente Lula dá a mão para público

Crédito, AFP/Getty Images

Legenda da foto, Sociólogo diz que queda da desigualdade durante o governo Lula foi 'tímida', e não 'gigante e sustentável'

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - E quais são as hipóteses para explicar esse avanço ou estabilidade dos mais ricos?

whatsapp 1xbet Souza - Tem várias hipóteses plausíveis, e todas devem ter contribuídowhatsapp 1xbetalgum grau, mas não dá para dizer qual foi mais ou menos importante. Você tem desde o fatowhatsapp 1xbeta elite do funcionalismo ter tido ajustes bastante fortes até coisas como um períodowhatsapp 1xbetboom,whatsapp 1xbetbolha, no mercado imobiliáriowhatsapp 1xbetgrandes cidades brasileiras. Além disso, o mercado acionário brasileiro teve períodowhatsapp 1xbetcrescimento forte, tem toda a políticawhatsapp 1xbetcampeãs nacionais, quewhatsapp 1xbetvários setores acabou diminuindo o grauwhatsapp 1xbetcompetição do setor e ajudou na formaçãowhatsapp 1xbetgrandes grupos. Outro ponto foi o boomwhatsapp 1xbetcommodities internacionais,whatsapp 1xbetque as grandes exportadoras se beneficiaram muito também. Tudo isso pode ter contribuído, mas não temos como medir a importância relativawhatsapp 1xbetcada item.

O que dá pra ver muito bem é que, ao longo dos últimos anos, os mais ricos foram ficando cada vez melhoreswhatsapp 1xbetaproveitar as brechas que o impostowhatsapp 1xbetrenda dá. Se você olha para o topo, cada vez mais os rendimentos dos mais ricos foram considerados isentoswhatsapp 1xbettributação, muito puxado por lucros e dividendos, que são tributados na pessoa jurídica, mas na distribuição para a pessoa física não são tributados.

Então hojewhatsapp 1xbetdia isso inclusive estimula o fenômenowhatsapp 1xbettodo mundo virar PJ — é trabalho, mas ele vira pessoa jurídica pra ficar mais barato para o patrão e para ele pagar menos imposto. Ao longo do tempo, você vê muito claramente esse aumento do que é rendimento isento na renda dos mais ricos. A renda dos muito ricos, hojewhatsapp 1xbetdia, quase toda ela é rendimento isento ou tributado com alíquota menor na fonte. Então ao longo do tempo houve um aprendizado no sentidowhatsapp 1xbetcomo explorar melhor as brechas que o sistema tributário dá.

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - E existe uma discussão sobre se tirar pessoas da pobreza, melhorando a "partewhatsapp 1xbetbaixo", é mais importante que reduzir a desigualdade. Como você vê esse debate?

whatsapp 1xbet Souza - Não consigo entender qual é o dilema que as pessoas tentam criar. Do pontowhatsapp 1xbetvista do combate à pobreza, evidente que, para um dado nívelwhatsapp 1xbetrenda, se você diminuir a desigualdade, a pobreza vai tender a diminuir também. E, do pontowhatsapp 1xbetvista mais realista, óbvio que, se você quer direcionar recursos para o combate à pobreza, esses recursos precisam ser arrecadadoswhatsapp 1xbetalgum lugar. E claro que você será mais eficiente no combate à pobreza se você tiver arrecadando dos mais ricos. Se você tributar os pobres para dar para os pobres, não vai fazer diferença. Se você tributar os mais ricos e fizer transferências ou programas para os mais pobres, você vai conseguir também simultaneamente atacar pobreza e desigualdade.

O que se coloca nesse debate,whatsapp 1xbetgeral, é a questão entre crescimento e desigualdade. É a ideiawhatsapp 1xbetque crescer a qualquer custo vai acabar diminuindo a pobreza, mas que pode levar a aumento da desigualdade, o que pode ser ou não verdade. Isso está longewhatsapp 1xbetser uma coisa consensual. Durante algum tempo se acreditou que o crescimento necessariamente reduziria a desigualdade, então valeria a pena. Hojewhatsapp 1xbetdia você vê muitos resultados que vão na direção oposta,whatsapp 1xbetque um grauwhatsapp 1xbetdesigualdade muito elevado pode prejudicar o crescimento, justamente por tornar o Estado ineficiente, pela captura do Estado.

A discussão sobre desigualdade sempre caiwhatsapp 1xbetalguns espantalhos, como 'ah, estão querendo nivelar por baixo e que todo mundo fique igualmente pobre e todo mundo tenha exatamente a mesma renda'. E nunca é nada disso que as pessoas estão falando, as pessoas estão falando sobre como conciliar as duas coisas (crescimento e redução da desigualdade). Crescer é sempre bom, ou quase sempre bom. O ponto é que é possível você crescer, aumentar a desigualdade e não reduzir a pobreza. Essa é a questão.

Em geral, os governos tentam resolver o problema com crescimento — vamos fazer a economia crescer porque aí todo mundo vai estar melhorandowhatsapp 1xbetvida, isso já satisfaz as pessoas e vamos ter mais recursos para fazer política e redistribuir, se for o caso —, mas essa solução do crescimento nem sempre é possível. Os países ricos estão crescendo mais devagar hojewhatsapp 1xbetdia e aí, no ambiente democrático, é claro que se o bolo está sempre crescendo, a discussãowhatsapp 1xbetquem está ficando com o que acaba sendo mais saliente. Então acho que estamoswhatsapp 1xbetuma dessas faseswhatsapp 1xbetcrescimento mais baixo, problemas macroeconômicos, e as pessoas começam a se comparar e falam 'ok, mas por que as fatias estão sendo distribuídas dessa maneira?'. É um debate que nunca vai emborawhatsapp 1xbetvez. Em um país como o Brasil, é mais difícil ainda. É uma questão inevitável: é um grauwhatsapp 1xbetdesigualdade tão alto porque as demandas e necessidades são muito grandes.

whatsapp 1xbet BBC News Brasil - O atual governo está trabalhandowhatsapp 1xbetalguma forma para reduzir a desigualdade?

whatsapp 1xbet Souza - Eu não ouso dar uma opinião por um motivo pragmático: quando analisamos a desigualdade estamos sempre falando do passado, porque tem sempre uma demorawhatsapp 1xbetpelo menos dois anos entre o que acontece e os dados estarem públicos e disponíveis. Sou cauteloso e fujo das análiseswhatsapp 1xbetconjuntura porque estamos sempre olhando para o passado e sempre olhando para uma misturawhatsapp 1xbetdecisõeswhatsapp 1xbetgovernos atuais e governos anteriores. E, quando me perguntam sobre a perspectiva para o futuro, independentementewhatsapp 1xbetqualquer governo, qualquer coisa, o melhor palpite para daqui cinco anos é achar que as coisas vão continuar mais ou menos como estão. É difícil imaginar o país ficando radicalmente mais desigual ou radicamente menos desigual no curto ou no médio prazo.

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