A rua do desempregofreebet odibetSão Paulo, onde esperança e desalento se encontram:freebet odibet
Parte dessas empresas é representada pelos chamados plaqueiros, homens e mulheres cuja única função é ficar sentado no meio da rua, segurando cartazes com anúnciosfreebet odibetvagas e recebendo os currículos nas caixasfreebet odibetplástico.
Um deles é Jonas Luis dos Santos,freebet odibet72 anos, 15 deles como plaqueiro — ganha R$ 50 por dia. Todos as manhãs, ele chega na Barão por volta das 7h, compra duas caixas por R$ 0,50 cada uma e coloca panos vermelhosfreebet odibetcima delas, onde está escrito: "Temos vagas: vendedor, vigilante, porteiro, motorista".
Em dias bons, conta, recebe até 300 currículos (duas cópias por pessoa), que depois leva para duas agências por ali. Porém, segundo ele, dezembro costuma ser um "mês fraco" — tem juntado só 70 folhas por dia. "Nessa época do ano, as pessoas não querem trabalhar, não. Povo quer ir para praia, quer namorar", diz.
Mas Jonas não fala isso como uma crítica aos desempregados, pois ele mesmo sonha com uma aposentadoria mais tranquila, longe do agito do centro paulistano. Para isso, tem jogado na loteria todas as semanas nos últimos 30 anos.
"Quando eu ganhar, vou comprar uma fazendinha no meio do mato, para ficar na rede o dia inteiro, assando uma carninha na brasa e pedindo a Deus uns dias a mais no meu contrato", diz.
Tanta experiência no trato com o desemprego faz ele arriscar um cenário melancólico para quem está na pindaíba: "Se você tem trabalho e dinheiro, as pessoas se aglomeram pertofreebet odibetvocê, viram seus amigos. Mas, se você está duro, o povo quer distância, atravessa a rua para não terfreebet odibetpagar um cafezinho pra você."
'Falo a verdade desse país'
Alémfreebet odibetreceber currículos, os plaqueiros da Barão também vendem guias com endereços e e-mailsfreebet odibetagênciasfreebet odibetemprego e consultoriasfreebet odibetrecursos humanos.
Nas folhasfreebet odibetAldo Braga, 72, por exemplo, há 486 contatosfreebet odibetlocaisfreebet odibetrecrutamento pela cidade. "Todos mês, atualizo a lista, checo uma por uma. É o melhor guia dessa rua", diz. Custa R$ 3, mas, se você chorar, ele faz por R$ 2.
Aldo é plaqueiro há 10 anos, diariamente sentado ao ladofreebet odibetuma bancafreebet odibetjornais. De óculos Chilli Beans e jaquetafreebet odibetum couro surrado, ele sempre termina um pensamento fazendo uma pergunta ao interlocutor, como se pedisse uma confirmação para o que acaboufreebet odibetdizer. "Costumo falar que desde que me entendi nessa vida, esse país não tem conserto. Você acha que tem conserto?", questiona.
"Tem gente que vem da casa do chapéu para essa rua, chega aqui morrendofreebet odibetfome e sem ter o que comer. Quantas vezes não paguei um café para o povo? Eu falo a verdade desse país, sei o que o povo sofre. Se você trouxer um político aqui, falo isso na cara dele. E o que você acha que o político vai fazer se eu disser a verdade? Vai fazer nada. Você acha que ele vai me matar aqui no meio da rua?".
Há um mês, Aldo perdeufreebet odibetcompanheira, que morreu depoisfreebet odibetuma cirurgia mal sucedida no SUS, conta. Era seu quinto casamento. Ele tem 13 filhos "no mundo", mas hoje vive sozinhofreebet odibetcasa. Na rua, tem a companhia dos desempregados que param para conversar. "É claro que estou triste, amigo. Você acha que se eu estivesse feliz, estaria aqui falando com um repórter há tanto tempo?".
Por que tanto 'não'?
É na caixa dos currículosfreebet odibetAldo que Nívea Amanajás, 44, despejafreebet odibetesperançafreebet odibetconseguir um saláriofreebet odibetbreve, pois está parada desde que saiufreebet odibetMacapá, há nove meses. Mas, para ela, São Paulo tem sido mais difícil do que a promessafreebet odibetemprego fácil. Até agora, ela só recebeu respostas negativasfreebet odibetdezenasfreebet odibetprocessos seletivos. Para sobreviver, depende do salário da filha, da ajuda dos pais efreebet odibetbicos eventuais como faxineira.
Duas vezes por semana, Nívea sai da Vila Sônia (zona oeste) até a Barãofreebet odibetItapetininga para checar as novas vagas que pipocaram na rua — leva lanches na bolsa para não terfreebet odibetgastar com o almoço. "Já fiz seleção com seis fases. Tem questionário sobrefreebet odibetvida, provafreebet odibetlógica,freebet odibetmatemática, português e até um vídeo. Sim, tive que fazer um vídeo. Aí te pergunto: para que tudo isso se era uma vagafreebet odibetassistente administrativo?"
Ela tenta encontrar respostas para tantos "nãos". "Às vezes, penso que é por causa da minha idade: as pessoas podem achar que, com 44 anos, já estou pensandofreebet odibetaposentadoria, que vou fazer corpo mole, que não tenho mais gás", afirma. "Também pode haver um problema com meu peso. Muitos questionários para atendimento ao público pedem para você colocar seu peso. Ou, quando chego na entrevista, parece que eles preferem mulheres mais magras e mais bonitas."
'Uber era o meu ganha-pão'
Na Barão, você pode encontrar pessoas que, para além da esperançafreebet odibetum serviço novo, demonstram mais o desesperofreebet odibetter perdido o anterior. É o caso do ex-entregador Roberto Helmer Barros, 37, que pede para conversar sentadofreebet odibetuma padaria. "Vamos tomar um café senão vou infartarfreebet odibetnervoso", diz.
Ele conta que veio à rua por dois motivos: procurar emprego e encontrar um advogado trabalhista para processar o Uber, aplicativofreebet odibetentregas para o qual ele trabalhou por cinco meses. Fazia entregas a pé (sem usofreebet odibetbicicletas ou motos).
Roberto ganhava até R$ 4 por um pedidofreebet odibetque precisava caminhar por, no máximo, 1,2 quilômetro, diz. "Para mim estava ótimo, porque gostofreebet odibetandar. Tirava uns R$ 90 por dia, andando uns 20 km no total. Mas, depois, o Uber começou a me mandar corridasfreebet odibet5 km. Eu precisava pegar ônibus ou metrô", afirma, mostrando prints das corridas mais longas, que guardou "por segurança."
"Um dia, caiu um pedidofreebet odibet9 km. Precisava pegar um potefreebet odibetaçaí no centro e levá-lo até à Lapa. Pensei: 'assim não dá, como vou andar 9 km pra fazer uma entrega?'. Comecei a recusar essas corridas mais longas, porque não era isso que a Uber prometia quando entrei na plataforma. Então eles me excluíram do sistema e não consigo mais trabalhar. Estou há 11 dias parado", diz.
"Fiz 1.353 viagens, e nunca recebi uma reclamação", diz, despejando açúcar no café.
Como ser um 'fiscalfreebet odibetpiso'
Por causa desse ecossistema do (des)emprego, talvez os prédios da Barão sejam dos poucos da cidadefreebet odibetque não é preciso se identificar na portaria, pois você pode ser apenas mais umfreebet odibetbuscafreebet odibettrabalhofreebet odibetalguma empresafreebet odibetrecrutamento por ali. É possível subir escadas, pegar elevadores, ir ao banheiro e abrir portasfreebet odibetsalas comerciais sem nenhum questionamento.
No Edifício Claudina, por exemplo, há pequenas agências ("faça aqui seu cadastro"), dezenasfreebet odibetescritóriosfreebet odibetdireito trabalhista ("Problemas com seu FGTS, INSS, pensão, seguro-desemprego?"), lan-houses ("faça seu currículo por R$ 2), lojasfreebet odibetempréstimo consignado ("contas a pagar? Aqui você tem dinheiro fácil"), alémfreebet odibetcursos profissionalizantes.
Uma delas é a Discimus ("aprendemos",freebet odibetlatim), que oferece treinamento para porteiro, recepcionista, controladorfreebet odibetacesso e fiscalfreebet odibetpiso (aquele funcionário do shopping para quem você pergunta onde fica a praçafreebet odibetalimentação).
Um diafreebet odibetcurso, com as quatros modalidades, custa R$ 120. "As pessoas nos procuram porque não conseguem nada há anos, estão despreparadas para a maioria dos empregos, têm só o ensino fundamental. Elas estão desesperadas para colocar alguma coisa no currículo", diz Fábiofreebet odibetOliveira, 48, um dos donos da Discimus.
Ele mesmo não precisoufreebet odibetcurso algum quando conseguiu seu primeiro emprego na Barão, nos anos 80. "Antes você vinha aqui e conseguia um trabalho no primeiro dia. Era muito fácil. Virei office boy com 14 anos. Hoje, falta vaga e as empresas exigem muita formação, cursos, experiência. Até para ser faxineiro você precisafreebet odibetum curso", diz.
'Seja proativo'
Em um outro prédio funciona uma das maiores agênciasfreebet odibetrecrutamento da cidade, a Luandre, há 49 anos na Barãofreebet odibetItapetininga. Todos os dias, ela recebe até 1.500 currículos por meiofreebet odibetum aplicativo,freebet odibetseu site efreebet odibetvisitas presenciais. Só nesse ano, a empresa diz que participou da seleçãofreebet odibet34.348 vagasfreebet odibetsuas 11 unidades no país.
Na recepção, uma dúziafreebet odibetdesempregados à esperafreebet odibetuma entrevista lê, na TV pendurada na parede, algumas dicas para ser efetivadofreebet odibetuma vaga até então temporária: "mostre capacidade, conhecimento e interesse pela função, faça cursos, vá a eventos, absorva conhecimento, seja proativo."
Como outras consultoriasfreebet odibetRH, a Luandre é contratada por outras empresas (de serviços terceirizados, emfreebet odibetmaioria), recebe as fichas dos candidatos e faz as entrevistas. Na unidade da Barão, a agência recruta pessoal para vagas que exigem menos qualificação, como vendedores, seguranças, faxineiros, auxiliar administrativo.
Porém, mesmo sem grandes exigências, os desempregados da Barão precisam mais do que apenas sorte. "Na entrevista, nós analisamos se a pessoa tem experiência, pontualidade, proatividade e casosfreebet odibetsucesso para apresentar", diz Andreia Marques, especialistafreebet odibetrecursos humanos da Luandre. "Depois, se ela passar, ainda precisa fazer uma entrevista com o gestor da empresa."
Sobrevivendo à crise na Barãofreebet odibetItapetininga
Na Barão, há também aqueles que usam a própria rua para sobreviver à correnteza da crise econômica e do desemprego.
No calçadão, você vai ver dezenasfreebet odibetentregadoresfreebet odibetfrente a cinco redesfreebet odibetfast food, todos esperando por um pedidofreebet odibetentrega que renda mais uns R$ 5; uma mulher cantando Elis Regina para ganhar alguns trocados; moradoresfreebet odibetrua pedindo uma moeda para o almoço; mulheres na frentefreebet odibetuma loja que compra cabelo humano para fazer perucas; dezenasfreebet odibetcamelôs vendendofreebet odibettecidos africanos a piões com lâmpadasfreebet odibetled; velhinhos com cartazes anunciando a comprafreebet odibetouro efreebet odibetvales-refeição.
No meio da rua, um grupo faz uma pesquisafreebet odibetcampo sobre sucosfreebet odibetpó (dá para ganhar R$ 60 opinando sobre refrescos variados). Mais à frente, é possível diminuir a fome respondendo a outro levantamento, dessa vez sobre a diferença entre marcasfreebet odibetbatata chips: "Essa batata está mais ou menos salgada que a primeira? Ela grudou no seu dente? Você acha que uma loja que venda essa batata se preocupa com o cliente?"
Então ela ressurge no meio do calçadão, renovando as possibilidades: a caixafreebet odibetcurrículosfreebet odibetfrente a outro plaqueiro, a caixa onde os desempregados depositam hoje a esperançafreebet odibetdias melhores.
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