Paraisópolis, 100 anos: como loteamentoaposta ganha bet é confiávelluxo virou favela mais famosaaposta ganha bet é confiávelSP:aposta ganha bet é confiável

Vivem ali atualmente cercaaposta ganha bet é confiável100 mil pessoas — e Paraisópolis continua a crescer, mesmo com graves problemasaposta ganha bet é confiávelsaneamento, mobilidade e segurança. Muitos dos seus moradores são da terceira, quarta ou até da quinta geração das famílias dos primeiros moradores.

O filhoaposta ganha bet é confiávelLouro, Gilson,aposta ganha bet é confiável49 anos, já nasceuaposta ganha bet é confiávelParaisópolis e viu ela se transformar. Ele diz estar acostumado com os congestionamentos nas vias estreitas, onde carros disputam o espaço com motos, ciclistas e pedestres que não cabem nas calçadas apertadas. Mas lembra que tudo era bem diferente quando era criança.

"Paraisópolis era uma enorme fazenda. As ruas eram todasaposta ganha bet é confiávelterra. Tinha só seis carros. Para ir até a casa da minha vó, a duas quadrasaposta ganha bet é confiáveldistância, atravessava um bananal e um cafezal. Havia um grande pântano onde hoje é um supermercado. E o cemitério do Morumbi ficava num matagal", diz Gilson.

Do outro lado do rio

Paraisópolis ficaaposta ganha bet é confiáveluma região que ainda era uma zona ruralaposta ganha bet é confiávelSão Paulo no início do século passado. "Era uma viagem chegar no Morumbi. Ficava longe, no meio do mato,aposta ganha bet é confiáveluma zonaaposta ganha bet é confiávelfronteiraaposta ganha bet é confiávelSão Paulo, do outro lado do rio Pinheiros, quando ainda não tinham sido construídas as pontes que hoje ligam uma margem à outra", diz o arquiteto urbanista Valter Caldana, professor da da Universidade Presbiteriana Mackenzie.

O terreno da Fazenda do Morumbi foi então divididoaposta ganha bet é confiável1921aposta ganha bet é confiável2,2 mil lotes pela União Mútua Companhia Construtora e Crédito Popular S.A. Joildo Santos, diretor da Agência Paraisópolis, que mantém um dos principais acervos da memória da comunidade, conta que propagandasaposta ganha bet é confiáveljornal da época anunciavam as vendas do "Loteamento Paraizópolis".

O nome do local ainda era escrito com um "z" no lugar do "s", e as fotos dos anúncios mostravam casasaposta ganha bet é confiávelalto padrãoaposta ganha bet é confiávelestilo europeu com quintal na frente. Santos afirma que os lotes até foram vendidos, mas os donos nunca os ocuparam, e a região permaneceu deserta, salvo por algumas outras fazendas.

Um dos motivos foi a característica geográfica da região, explica Angélica Benatti Alvim, diretora da Faculdadeaposta ganha bet é confiávelArquitetura e Urbanismo da Mackenzie. "O loteamento apresentou problemas jáaposta ganha bet é confiávelcara, porque é uma região muito íngreme, cortada por alguns córregos importantes, o que fez com que algumas áreas fossem impossíveisaposta ganha bet é confiávelocupar e urbanizar."

Em terrenos com grandes declives, é mais complexo implantar um sistema viário ou redesaposta ganha bet é confiávelágua e esgoto. Somou-se à faltaaposta ganha bet é confiávelinfraestrutura o fatoaposta ganha bet é confiávela construçãoaposta ganha bet é confiáveluma casaaposta ganha bet é confiávellocais assim ser mais cara. A área só começaria a ser ocupada a partir dos anos 1950,aposta ganha bet é confiávelmaneira informal. São Paulo se industrializava e recebia muitos imigrantes pobres do interior do Estado,aposta ganha bet é confiávelMinas Gerais e do Nordeste.

Santos diz que a maior parte desses imigrantes se mudou para aliaposta ganha bet é confiávelbuscaaposta ganha bet é confiávelempregos na construção civil eaposta ganha bet é confiávelgrandes projetos como os do hospital Albert Einstein e do estádio do Morumbi. "As pessoas vinham trabalhar e traziam parentes. A região começou a ser povoada, e esse processo ganhou força nas duas décadas seguintes, quando começou a ter a cara que tem hoje", diz.

A construçãoaposta ganha bet é confiávelprédios no Morumbi criou mais postosaposta ganha bet é confiáveltrabalho e tornou a área ainda mais atraente. A presençaaposta ganha bet é confiávelmuitas famíliasaposta ganha bet é confiávelclasse média e média alta fez surgir uma sérieaposta ganha bet é confiávelempregos domésticos eaposta ganha bet é confiávelprestaçãoaposta ganha bet é confiávelserviços.

"É um momentoaposta ganha bet é confiávelcrescimento muito intensoaposta ganha bet é confiávelSão Paulo, quando a cidade começa a ganhar aresaposta ganha bet é confiávelmetrópole, explica diz Raquel Rolnik, professora da Faculdadeaposta ganha bet é confiávelArquitetura e Urbanismo da Universidadeaposta ganha bet é confiávelSão Paulo (USP). "Mas com um modeloaposta ganha bet é confiáveldesenvolvimento que não deu oportunidade para os recém-chegados se instalarem formalmente na cidade", explica.

"Paraisópolis começa como uma ocupação, mas depois surge um mercado paraleloaposta ganha bet é confiávelcompra e vendaaposta ganha bet é confiávelterrenosaposta ganha bet é confiávelParaisópolis e outras regiões para atender essa demanda oferecendo um produtoaposta ganha bet é confiávelquinta, irregular, para quem tinha pouca ou nenhuma renda."

Clima bucólico

Com o tempo, Paraizópolis virou Paraisópolis — e também mudou a vista da janela da casaaposta ganha bet é confiávelLouro, conforme mais pessoas chegaram para morar na comunidade nos últimos 60 anos. "Antes, dava para ver o matagalaposta ganha bet é confiávelvolta. A gente até conseguia ver os meninos jogando bola no campo. Mas foram erguendo as casas, e hoje minha mãe não vê mais nada", afirma Gilson.

Gilberto, um dos quatro filhosaposta ganha bet é confiávelLouro, conta que seu pai viajou para São Paulo num pauaposta ganha bet é confiávelarara com a mulher grávida para trabalhar como pedreiro, mas só ficou neste trabalho por seis meses, porque não tinha prática.

"Quando ele foi demitido, comprou uma carroça e passou a vender porco salgado nas ruas. No ano seguinte, ele comprou uma vendaaposta ganha bet é confiávelum senhor português que foi morto por um cliente e a chamouaposta ganha bet é confiávelMercado do Louro", diz Gilberto, que hoje cuida com a família do negócio criado por seu pai, que faleceu há sete anos, após um infarto.

Os filhosaposta ganha bet é confiávelLouro lembram que quase ninguém queria moraraposta ganha bet é confiávelParaisópolis por conta da dificuldadeaposta ganha bet é confiávelacesso e a estrutura precária. Os grandes morros eram uma barreira até para os caminhões que faziam entregas na região.

Em diasaposta ganha bet é confiávelchuva, era necessário amarrar correntes nas rodas dos carros ou esvaziar os pneus para conseguir andar na lama que se formava, enquanto as crianças e trabalhadores envolviam os pésaposta ganha bet é confiávelsacolasaposta ganha bet é confiávelplástico para não sujar os sapatos.

Gilson conta que, emaposta ganha bet é confiávelinfância, o clima era bucólico. "Tínhamos córregos limpos e,aposta ganha bet é confiávelum deles, havia uma criaçãoaposta ganha bet é confiávelcarpas. A gente fazia pequenos barcos para passear e, na época da chuva, via um belo arco-íris no rio Pinheiros, por cima das copas das árvores. Foi um tempo que poucos viram", relembra ele, com saudade.

Naquela época, Louro começou a construir um barracoaposta ganha bet é confiávelmadeira para a sogra morar. Mas, antesaposta ganha bet é confiávelo aviso chegar a Alagoas, ele vendeu o imóvel para outra família. Percebeu então que poderia ganhar dinheiro vendendo e alugando barracos.

Gilberto diz que seu pai também notou que a maior parte das famílias era muito pobre e doou maisaposta ganha bet é confiável40 barracos na comunidade. Hoje, há um projeto na Câmara Municipalaposta ganha bet é confiávelSão Paulo para batizar um parqueaposta ganha bet é confiávelhomenagem a Lourival Clemente da Silva.

Urbanização

Joildo Santos diz que, a partir do final da décadaaposta ganha bet é confiável1970, começou a haver uma pressão, por meioaposta ganha bet é confiáveluma sérieaposta ganha bet é confiávelprocessos na Justiça, para que as famílias fossem expulsas da área. Ele estima que 40 mil pessoas já morassemaposta ganha bet é confiávelParaisópolis na época.

Alvim afirma que foi elaborado na época um planoaposta ganha bet é confiávelocupação da região com residências unifamiliares, como já havia ocorrido no Morumbi, e que previa a desapropriaçãoaposta ganha bet é confiávelquem já vivia ali.

"A Prefeitura tinha cinco anos para executar, mas nunca fez. Nada nunca foi pra frente aliaposta ganha bet é confiávelParaisópolis. Ao ignorar o problemaaposta ganha bet é confiávelvezaposta ganha bet é confiávellidar com ele, o efeito foi o contrário, e a ocupação se intensificou", diz a arquiteta.

A comunidade cresceuaposta ganha bet é confiávelforma desordenada. As casas eram construídas sem acabamento e ampliadas aos poucos, com o tempo.

O diretor da Agência Paraisópolis diz que o início da urbanização da favela, com a construçãoaposta ganha bet é confiávelpostosaposta ganha bet é confiávelsaúde e escolas, dificultou a remoção das famílias do local. Paraisópolis nunca chegaria a ter grandes áreas desapropriadas, como ocorreu com outras favelas da região centralaposta ganha bet é confiávelSão Paulo, com exceçãoaposta ganha bet é confiávelalguns trechos que deram lugar a avenidas.

A partir dos anos 1980, houve uma mudança na postura do poder públicoaposta ganha bet é confiávelrelação às favelas, que,aposta ganha bet é confiávelvezaposta ganha bet é confiávelserem eliminadas, passaram a ser urbanizadas. "Começaram a levar uma infraestrutura parcialaposta ganha bet é confiávelágua, esgoto e energia, mas acho que não atendia a 20% da área. A população ali, com o mercado imobiliário pujante no entorno, foi crescendo e se adensando cada vez mais", afirma Alvim.

Paraisópolis posteriormente também foi asfaltada e ganhou iluminação pública. A partir do fim dos anos 1990, começou a trocar os barracosaposta ganha bet é confiávelmadeira por casasaposta ganha bet é confiávelconcreto. Mas, até hoje, não há ali nenhum parque, salaaposta ganha bet é confiávelcinema ou biblioteca públicos.

Explosão habitacional e violência

O númeroaposta ganha bet é confiávelmoradores cresceu mais intensamente nos anos 1990, quando outras favelas da cidade foram eliminadas e quem vivia nelas foi viveraposta ganha bet é confiávelParaisópolis.

Mas, rodeada por prédios, casas e condomíniosaposta ganha bet é confiávelalto padrão, a favela não podia mais se expandir para os lados. Para acomodar quem chegava e as famílias que se multiplicavam, a saída foi crescer para cima.

"As pessoas passaram a criar um segundo, terceiro ou quarto andar, não só para ser uma opçãoaposta ganha bet é confiávelmoradia para parentes e filhos que constituem um novo núcleo familiar, mas também para alugar, como uma fonteaposta ganha bet é confiávelrenda. É um fenômeno generalizado no Brasil", diz Rolnik.

Em meio a este processo, Paraisópolis tornou-se um exemplo incomum entre as favelasaposta ganha bet é confiávelSão Paulo.

"Os bairros pobres e favelas costumam se formar nas zonas periféricas, onde a terra é mais barata e há mais espaços disponíveis. Isso faz com que haja grandes distâncias entre ricos e pobres. Mas Paraisópolis é muito visível aos olhos da riqueza", diz Caldana.

Paraisópolis também é excepcional por seu tamanho. "A cidade tem cercaaposta ganha bet é confiável1,6 mil favelas. São muitas, mas pequenas", diz Rolnik.

Outra exceção, tanto pela proximidade com áreas consideradas nobres quanto por seu númeroaposta ganha bet é confiávelhabitantes, é a comunidadeaposta ganha bet é confiávelHeliópolis, também na zona sulaposta ganha bet é confiávelSão Paulo.

Heliópolis tinha,aposta ganha bet é confiávelacordo com o censoaposta ganha bet é confiável2010, menos moradores do que Paraisópolis, mas os dados hoje estão defasados, e a Prefeituraaposta ganha bet é confiávelSão Paulo a considera a maior favela da cidade, pela área que ocupa. Paraisópolis é a segunda, conforme este critério.

"Hoje, Paraisópolis não cresce mais atraindo imigrantes, mas com as próprias famílias que já estão na favela", afirma Alvim. A arquiteta aponta que o principal problemaaposta ganha bet é confiávelParaisópolis é a faltaaposta ganha bet é confiávelcontinuidade das políticas públicas voltadas para a região.

"É claro que existem ali alguns problemas graves, como trechos dominados pelo tráfico, principalmente as áreasaposta ganha bet é confiávelmaior insalubridade eaposta ganha bet é confiáveldifícil acesso. Mas não bastam quatro anosaposta ganha bet é confiávelgoverno para resolver isso. É preciso um plano contínuo", diz Alvim

Boa parte do que seus moradores conseguem, como parquinhos infantis, biblioteca e eventos culturais, é graças à atuaçãoaposta ganha bet é confiávelONGs, empresas privadas ou pela união da própria comunidade.

Caldana diz que a região vem se transformando nos últimos anos graças àaposta ganha bet é confiávelcapacidadeaposta ganha bet é confiávelorganização. "É uma comunidade muito bem estruturada, com associaçõesaposta ganha bet é confiávelmoradores e trabalhosaposta ganha bet é confiávelinstituições nascidas lá ou que vieramaposta ganha bet é confiávelfora. Paraisópolis é hoje um bairro. Precisamos romper com essa visão preconceituosa e segregadora com relação às favelas", afirma.

'Amo esse lugar'

Hoje, Paraisópolis ainda é alvoaposta ganha bet é confiáveldezenasaposta ganha bet é confiávelprocessos judiciais, entre açõesaposta ganha bet é confiávelreintegraçãoaposta ganha bet é confiávelposse e usucapião. Mas já tem uma parte significativa regularizada, como as áreasaposta ganha bet é confiávelque foram construídos um banco, uma lojaaposta ganha bet é confiáveluma das maiores empresas brasileirasaposta ganha bet é confiávelvarejo e até mesmo moradores que compraram seus terrenos diretamente do dono anterior.

Gilberto, filhoaposta ganha bet é confiávelLouro, reconhece que a região se tornou mais insegura ao longo das décadas. "Mas o poder público precisa trabalhar na prevenção, com açõesaposta ganha bet é confiávelinteligência, não da forma como fizeram no Baile da 17. Não se trata ninguém daquele jeito", afirma ele.

"Baile é que nem feira livre: todo mundo ama, mas ninguém quer na porta daaposta ganha bet é confiávelcasa todo dia. O ideal seria ter um horário e espaço adequado para não atrapalhar o trabalhador, mas é preciso solucionar o problema sem banalizá-lo como algo que só atrapalha", disse.

Ele diz que,aposta ganha bet é confiávelcomparação com o passado, Paraisópolis melhorou muito e está "uma maravilha, excelente". Mas deixa a desejar "quando você olha para as outras regiões" da cidade. "Nossa maior dificuldade talvez seja na áreaaposta ganha bet é confiávelsaúde. Já lutamos muito, mas não temos um hospital. Entra e sai governo e ficamos só na promessa", afirma.

Ao ser questionado sobre o futuro do bairro, ele diz emocionado que é ali onde ele mais se sente bem.

"Estou aqui porque amo esse lugar. Vejo a dificuldade das pessoas, mas, para mim, é o melhor lugar do mundo. Eu me sinto mais seguro aqui dentro do que no Morumbi. Estou ensinando meus filhos a ter respeito e a valorizar essa comunidade. E eles vão passar isso para os filhos deles."

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