Atlas da Violência: os fatores que levaram Norte e Nordeste a serem as regiões com mais homicídios do Brasil:bet365 pix nubank

Balas no chão

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O Brasil registrou 65.602 homicídiosbet365 pix nubank2017, segundo o Atlas da Violência

Como comparação, no Sudeste o índice médiobet365 pix nubankhomicídios foibet365 pix nubank26,7bet365 pix nubank2017.

O Atlas da Violência resume o cenário. "Nos últimos anos, enquanto houve uma residual diminuição (da taxabet365 pix nubankhomicídios) nas regiões Sudeste e Centro-Oeste, observou-se certa estabilidade do índice na região Sul e crescimento acentuado no Norte e no Nordeste."

Por Estado, os números são ainda mais dramáticos. Enquanto São Paulo registra 10,3 homicídios por 100 mil pessoas - a menor taxa do país -, os nordestinos Rio Grande do Norte e Ceará bateram 62,8 e 60,2, respectivamente.

Já o Acre (62,2) e o Pará (54,7) despontam como campeõesbet365 pix nubankhomicídios no Norte.

Mas por que isso vem ocorrendo? Por que regiões antes consideradas mais tranquilas hoje vivem uma espéciebet365 pix nubankepidemiabet365 pix nubankassassinatos? A BBC News Brasil ouviu especialistasbet365 pix nubanksegurança pública para tentar entender o fenômeno.

Superlotaçãobet365 pix nubankpresídios

Rebeliãobet365 pix nubankAlcaçuz

Crédito, AFP

Legenda da foto, No presídiobet365 pix nubankAlcaçuz, na região metropolitanabet365 pix nubankNatal, ao menos 26 presos da facção Sindicato do Crime foram mortos por integrantes do PCC

Em apenas dez anos, os homicídios no Rio Grande do Norte, por exemplo, deram um saltobet365 pix nubank229% e colocaram o Estado na posiçãobet365 pix nubankmais violento do país nesse quesito. Em números absolutos, ele saiubet365 pix nubank589 assassinatosbet365 pix nubank2007 para 2.203bet365 pix nubank2017.

Para Tadeu Brandão, pesquisador do Observatório da Violência do Rio Grande do Norte e professor da Universidade Federal Rural do Semi-Árido, o crescimento econômico desordenado do Nordeste e a faltabet365 pix nubankboas estrututas no sistema carcerário e nas polícias ajudam a explicar a escalada da violência na região.

"O boom econômico vivido pelo Nordeste não foi acompanhado por investimentos no treinamento e fortalecimento das polícias e melhorias no sistema prisional. Cidades até então pequenas e pacatas cresceram muito, mas a infraestrutura policial e social não acompanhou", explica.

"Por outro lado, a Justiça não se preocupoubet365 pix nubankcombater as grandes redes criminosas, as facções. Ficou concentradabet365 pix nubankprender pequenos traficantes, que vão para presídiosbet365 pix nubankpéssimas condições. Esses 'aviõezinhos', pequenos delinquentes, acabam sendo cooptados pelas facções e se tornam grande delinquentes", diz.

Já o sistema prisional do RN, como também ocorrebet365 pix nubanktodo o país, é superlotado. Levantamento do governo federal relativo a junhobet365 pix nubank2016, últimos dados disponíveis, apontam que o Estado tinha 4.265 vagas nas prisões, mas abrigava 8.696 detentos - mais que o dobro da capacidade.

Em janeirobet365 pix nubank2017, 26 presos foram assassinados no presídiobet365 pix nubankAlcaçuz, região metropolitanabet365 pix nubankNatal, durante uma disputa entre duas facções criminosas.

Paraíba e Pernambuco vivem o mesmo drama da superlotação. Segundo o Conselho Nacionalbet365 pix nubankJustiça, a Paraíba apresenta um déficitbet365 pix nubank5.430 vagas - no total, o Estado tem 13.189 presos. Pernambuco tem 32.884 detentos para 11.689 vagas - déficitbet365 pix nubankmaisbet365 pix nubank21 mil.

O problema se estende à região Norte.

Em junhobet365 pix nubank2016, o Amazonas tinha uma população carceráriabet365 pix nubank11.390 pessoas para apenas 2.554 vagas - uma taxabet365 pix nubankocupaçãobet365 pix nubank484%, a pior do país. Na semana passada, ao menos 55 presos foram assassinadosbet365 pix nubankpresídios do Estado, repetindo um massacre ocorridobet365 pix nubank2017.

As facções criminosas

Vidro perfurado por bala.

Crédito, Getty Images

Legenda da foto, O aumento da presençabet365 pix nubankfacções criminosas é um dos fatores que explicam a altabet365 pix nubankhomicídios no Norte e no Nordeste

Em meados da década passada, a facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC), hegemônica no controle do tráficobet365 pix nubankSão Paulo, expandiu seus negócios para Estados nordestinos e do Norte. O mesmo ocorreu com o Comando Vermelho (CV), oriundo do Riobet365 pix nubankJaneiro.

Elas passaram a atuar no atacado da droga, repassando os produtos para grupos menores venderem nas ruas. Esse processo foi relatado no livro A Guerra: a Ascensão do PCC e o Mundo do Crime no Brasil (Ed. Todavia), escrito pelos pesquisadores Bruno Paes Manso e Camila Nunes Dias.

A chegada dessas redes, levando a uma maior ofertabet365 pix nubankdrogas e armas, aumentaram rivalidades entre traficantes locais.

"Essa dinâmica gerou muitos conflitos pelo controlebet365 pix nubankterritórios urbanos. Houve uma grande entradabet365 pix nubankarmas, muitas delasbet365 pix nubankgrosso calibre, para alimentar essas disputas e a violência", explica Luiz Fábio Paiva, professorbet365 pix nubanksociologia e pesquisador do Laboratóriobet365 pix nubankEstudos da Violência da Universidade Federal do Ceará.

"Os Estados não se preparam para esse fenômeno, não investiram na renovação das estruturasbet365 pix nubanksegurança pública."

Grupos locais surgiram para se contrapor à presença do PCC. São os casos do potiguar Sindicato do Crime e da paraibana Okaida, que cresceram principal com aliciamentobet365 pix nubankjovens e adolescentes.

Essas quadrilhas se aliaram ao CV e à Família do Norte, do Amazonas, para funcionar como alternativa à atuação dos paulistas no mercado da droga.

No Ceará, ao menos quatro facções se dividem no controle do tráficobet365 pix nubankdrogas - PCC, CV, Guardiões do Estado e Família do Norte.

Parentesbet365 pix nubankfrente a presídiobet365 pix nubankManaus

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Na semana passada, ao menos 55 presos morrerambet365 pix nubankum massacrebet365 pix nubankpresídiosbet365 pix nubankManaus

Já a região Norte é estratégica por dois motivos: serve como escoamentobet365 pix nubankdrogas para a Europa e é uma rotabet365 pix nubanktransportebet365 pix nubankdrogas produzidasbet365 pix nubankpaíses vizinhos, como Colômbia e Peru.

A Família do Norte hoje tem forte influência na área, controlando a tríplice fronteira, onde agencia produtores e as chamadas "mulas" para transportar a droga para o Brasil.

O mais recente massacre nos presídiosbet365 pix nubankManaus, quando 55 presos foram mortos, foi motivado por uma disputa pelo controle dentro da facção.

Outras facções também atuam na área, embora com poderbet365 pix nubankfogo menor que a Família do Norte. É o caso do Bonde dos 13, que disputa o controle do tráfico no Acre com CV e PCC.

"O crescimento econômico das regiões Norte e Nordeste também formou novos mercados consumidoresbet365 pix nubankdrogas que antes não eram encontradas. Não é que o Nordeste e o Norte apenas são rotasbet365 pix nubankpassagem para o tráfico, eles também passaram a consumir", diz Paiva.

"Além disso, tem a dinâmica do crime organizado", diz Renato Sergiobet365 pix nubankLima, pesquisador do Fórum Brasileirobet365 pix nubankSegurança Pública.

"Enquanto 15 Estados do país reduziram a violência, 12 puxaram o crescimento para cima, e eles estão justamente nessas regiões (Norte e Nordeste). 2017 foi o ápice da briga por rotas nacionais e internacionaisbet365 pix nubankdrogas e armas."

A presença das milícias

Além do Acre e do Amazonas, o Estado do Pará também registrou aumento expressivo dos homicídios. Segundo o Atlas da Violência, a taxabet365 pix nubankassassinatos subiu 81% entre 2007 e 2017.

Um fator diferente ajuda a explicar a alta: a presençabet365 pix nubankmilícias armadas, tanto nas regiões rurais quanto na capital, Belém.

Em entrevista recente à BBC News Brasil, o promotor militar Armando Brasil, responsável do Ministério Público paraense por investigar má condutabet365 pix nubankpoliciais militares, o Pará enfrenta um conflito armado entre gruposbet365 pix nubanktraficantes e milícias.

Policiais militares revistam homens nas ruasbet365 pix nubankBelém, Pará

Crédito, Agência Pará

Legenda da foto, Segundo promotor Armando Brasil, bairros da periferiabet365 pix nubankBelém têm presençabet365 pix nubankmilícias armadas e gruposbet365 pix nubanktraficantes

No ano passado, maisbet365 pix nubank40 policiais militares morreram no Estado. Em alguns casos, as mortes foram seguidas por chacinasbet365 pix nubankbairros pobres.

No dia 24bet365 pix nubankoutubrobet365 pix nubank2017, por exemplo, três dias depoisbet365 pix nubankum finalbet365 pix nubanksemana violento, oito pessoas morreram e três ficaram feridas quando dois motoqueiros abriram fogobet365 pix nubankuma rua do bairro Tapanã, na periferia da capital. Cinco dias antes, um policial tinha morrido no mesmo bairro.

No campo, a disputa fundiária também produz violência. Em 24bet365 pix nubankmaiobet365 pix nubank2017, dez militantes sem-teto foram assassinadosbet365 pix nubankuma ocupação - 16 policiais militares foram acusados pelo crime, mas ainda não foram julgados.

"As milícias ganharam poderbet365 pix nubankrazão dessa ausência do Estado nos bairros mais pobres. Se o Estado não ocupa os espaços públicos da forma devida, se não oferece segurança para a população, se não faz policiamentobet365 pix nubankáreas com muitos roubos, os milicianos passam a oferecer esses serviços", disse o promotor.

Planosbet365 pix nubanksegurança

Para tentar diminuir os índicesbet365 pix nubankviolência, governos estaduais criaram planosbet365 pix nubanksegurança que, certa forma, atingiram o objetivo a curto prazo.

É o caso do Programa Paraíba Unida pela Paz, um dos responsáveis pela redução na taxabet365 pix nubankhomicídios no Estado que ocorre desde 2011.

O projeto foi inspirado no Pacto Pela Vida, criado pelo ex-governadorbet365 pix nubankPernambuco Eduardo Campos. O programa, que priorizava investigaçõesbet365 pix nubankhomicídios, conseguiu diminuirbet365 pix nubank31% o númerobet365 pix nubankmortes violentasbet365 pix nubankPernambuco entre 2008 e 2013, mas depois os índices voltaram a subir.

Em 2017, segundo o Atlas da Violência, a taxabet365 pix nubankhomicídios no Estado chegou a 57,2 por 100 mil habitantes - um crescimentobet365 pix nubank7%bet365 pix nubankrelação a 2007, anulando a queda anterior.

Para Paiva, os programasbet365 pix nubanksegurança são benéficos, mas precisam ser encarados como políticasbet365 pix nubankEstado e não apenas do governobet365 pix nubankocasião.

"Os programas falambet365 pix nubankintegração entre as polícias, Ministério Público e Justiça. Com o passar o tempo e a mudançabet365 pix nubankgovernos, o foco muda e fica mais difícil cobrar efetividade. Então, esses projetos funcionam a curto prazo, mas não conseguem mudar as estruturas da violência", diz.

Colaborou Paula Adamo Idoeta

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