A ascensão da Okaida, facção criminosa com 6 mil 'soldados' na Paraíba:bet 365ita
Como comparação, o Primeiro Comando da Capital (PCC), maior e mais poderosa facção do país, tinha pouco mais 30 mil "filiados"bet 365ita2017 - recentemente, o grupo fez uma campanha para aumentar seu "exército".
Em outubro do ano passado, os "soldados" da Okaida deram outra demonstração públicabet 365itaforça: promoveram queimasbet 365itafogosbet 365itaartifício para comemorar o aniversário da siglabet 365itaseis cidades da Paraíba, como João Pessoa, Campina Grande, Santa Rita e Guarabira. Vídeos da festa estão nas redes sociais e no YouTube.
Em bairros mais pobres da capital paraibana, a Okaida dita até um códigobet 365itaconduta para seus integrantes e moradores. As proibições são pintadas nos muros: não pode usar drogas na frentebet 365itacrianças, roubar na comunidade, escutar som alto tarde da noite e andarbet 365itamotobet 365itaalta velocidade.
A origem da Okaida
Há histórias diferentes sobre a origem da facção. Okaida é uma forma abrasileirada do nome da rede terrorista que já foi comandada por Osama bin Laden, a Al-Qaeda. Mas a versão brasileira não tem nenhum aspecto religioso por trás.
O certo é que a quadrilha cresceubet 365itaparalelo com seu maior rival, a facção Estados Unidos, criadabet 365itameados dos anos 2000.
O conflito entre os dois gruposbet 365itacriminosos já dura alguns anos nas ruas e nos presídios - e, ironicamente, emula a guerra empreendida pelos americanos contra o terrorismo.
No início dessa década, enquanto a Okaida dominava bairrosbet 365itaJoão Pessoa como a Ilha do Bispo, São José e Alto do Mateus, os membros dos Estados Unidos estavam presentes nas regiõesbet 365itaMandacaru, Bola da Rede e Novais.
Os dois grupos também se diferenciam pelas tatuagensbet 365itaseus integrantes, como registra uma dissertaçãobet 365itamestrado concluídabet 365ita2015 na Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Feito pelo tenente-coronel Carlos Eduardo Santos, da Polícia Militar da Paraíba, o estudo mapeou os símbolos marcados na pele dos filiados às facções.
Quem é da Okaida costuma marcar a pele com palhaços ou com o personagem Chucky, do filme Brinquedo Assassino. Já os membros da Estados Unidos tatuam a bandeira americana ou o desenhobet 365itaum peixe.
Nos últimos anos, porém, o crescimento da Okaida praticamente suplantoubet 365itarivalbet 365itanúmero e força, ainda que a Estados Unidos continue ocupando alguns poucos bairros e pavilhõesbet 365itacadeiasbet 365itaJoão Pessoa, segundo agentesbet 365itasegurança.
A presença do PCC
A relação entre as duas facções locais tem forte influênciabet 365itaum elemento "forasteiro": o PCC. Até 2010, a Okaida era mais próxima do grupo paulista, que fornecia parte da droga vendida nas ruas. Mas um assassinato, que teria sido cometido a mando do PCC sem o aval dos paraibanos, afastou os grupos e criou um antagonismo violento entre eles.
Nos anos seguintes, o grupobet 365itaSão Paulo se aliou à Estados Unidos, aumentando o conflito local. A guerra foi promovida dentro e fora dos presídios com episódiosbet 365itabarbárie.
Segundo pesquisadores, desde o ínico da década passada, o PCC decidiu atuar no atacado e fornecer a droga para grupos menores venderem nas capitais.
"No início dos anos 2000, o PCC chegou nas fronteiras e conseguiu importar a droga, que ele repassa para aliados menores", diz Bruno Paes Manso, pesquisador do Núcleobet 365itaEstudos da Violência da Universidadebet 365itaSão Paulo (USP) e um dos autores do livro A Guerra: a ascensão do PCC e o mundo do crime no Brasil (Ed. Todavia).
A chegada dos paulistas no Nordeste e a maior ofertabet 365itadrogas aumentaram rivalidades entre traficantes locais, avalia Paes Manso. "Como é um mercado ilegal, as disputas se dão pela força. E como o PCC também colocou armas na região, essa dinâmica produziu mais violência e assassinatos", diz.
Na Paraíba, por exemplo, a taxabet 365itahomicídios cresceu bastante nesse período. Em 1996, o Estado registrava 19,2 assassinatos por 100 mil habitantes, segundo o Atlas da Violência. Jábet 365ita2011, seu pico, o número chegou a 42,5 mortes por 100 mil habitantes.
No Rio Grande do Norte, que também enfrenta problemas com facções criminosas, o aumento foi mais dramático. Em 1996, o Estado registrava 9,4 assassinatos por 100 mil -bet 365ita2016, foram 53,3, altabet 365ita466%bet 365ita20 anos.
Os jovens da Okaida
Um dos motores do crescimento da Okaida foibet 365itapolíticabet 365itafiliar menoresbet 365itaidade - embora a Estados Unidos também utilize adolescentes, seu aliado PCC evita batizá-los, segundo agentesbet 365itasegurança da Paraíba.
"Os que se dizem integrantesbet 365itafacções no nosso Estado são pessoas bastante jovens, inclusive admitindo-se adolescentes entre os faccionados", diz o promotor Manoel Cacimiro Neto, do Gaeco (Grupobet 365itaAtuação Especial Contra o Crime Organizado) do Ministério Público da Paraíba.
Divergências com as "doutrinas" do PCC, aliás, explicam também a criaçãobet 365itaoutra facção nordestina, o Sindicato do Crime do Rio Grande do Norte. O grupo potiguar surgiu depois que criminosos questionaram a obrigação do PCCbet 365itasubmeter decisões a chefesbet 365itaSão Paulo.
Essa presença massiva da juventude nas facções do Nordeste tem impacto negativo no índicebet 365itahomicídios dessa faixa etária - são eles as maiores vítimas dos conflitos.
Segundo o Atlas da Violência, que reúne dados até 2016, a taxabet 365itamortes violentas entre jovens paraibanosbet 365ita15 a 29 anos chegou a 70,4 pessoas por grupobet 365ita100 mil habitantes. Embora o número seja considerado muito alto, ainda é menor que osbet 365itaEstados vizinhos, como Ceará (87,6) e Pernambuco (105,3) - a média nacional é 65.
No Rio Grande do Norte, cuja quadrilha Sindicato do Crime também aposta no aliciamentobet 365itajovens e adolescentes, o índicebet 365itaassassinatos entre eles chega a 125,5 por 100 mil habitantes - altabet 365ita734%bet 365ita20 anos.
Redebet 365itafacções
Segundo Marcelo Gervásio, presidente da Associação dos Agentes Penitenciários da Paraíba, os maiores presídios do Estado têm alas separadas para integrantes da Okaida, Estados Unidos e PCC, mas a primeira ganhabet 365itanúmero.
"Essa divisão ocorre para garantir uma certa segurança do preso", afirma.
Do ladobet 365itafora das prisões, a Okaida se aliou ao Sindicato do Crimebet 365itauma redebet 365itafacções que se contrapõem à presença do PCC no Norte e no Nordeste - também fazem parte o Comando Vermelho, do Rio, e a Família do Norte, que atua na região amazônica.
Essa divisão causou três massacresbet 365itapresosbet 365itacadeias da regiãobet 365ita2017 - os dois primeirosbet 365itaManaus e Boa Vista. O último ocorreu no presídiobet 365itaAlcaçuz, na Grande Natal - ao menos 26 homens ligados ao Sindicato do Crime foram mortos por detentos do PCC. O motim seria uma vingança pelo ataquebet 365itaManaus, quando dezenasbet 365itaintegrantes da facção paulista foram assassinados por membros da Família do Norte.
Segundo o promotor Manoel Cacimiro Neto, do Gaeco, essa rede anti-PCC consegue abastecer a região com drogas e armas vindasbet 365itapaíses fronteiriços, como Colômbia e Bolívia.
Já o delegado Braz Morroni, ex-chefe da delegaciabet 365itanarcóticos da Paraíba, aponta que a Okaida também consegue carregamentos oriundos do chamado "polígono da maconha", regiãobet 365itaPernambuco conhecida por produzir grandes quantidadesbet 365itacannabis.
Para o deputado estadual paraibano Walber Virgolino (Patriotas), que foi secretáriobet 365itaAdministração Penitenciária da Paraíba e do Rio Grande do Norte, um dos principais objetivos das facções locais é impedir que o PCC domine o tráficobet 365itadrogas na região. "Hoje, o PCC só não tem o controle da Paraíba por causa da Okaida", diz o parlamentar, hoje na oposição ao governador João Azevedo (PSB).
A 'nova doutrina'
Há pouco maisbet 365itaum ano, houve uma cisão na Okaida. Integrantes ficaram descontentes com o então chefe do grupo, o detento André Quirino da Silva, conhecido como Fão.
"Alguns membros ficaram muito irritados com a violência praticada por esse líder. Fão mandava matar pessoas da própria facção", diz Braz Morroni, hoje titular da delegaciabet 365itaroubos e furtos.
Surgiu uma dissidência chamada Okaida RB (iniciais dos apelidosbet 365itapresos conhecidos como Ro Psicopata e Betinho, criadores do novo grupo). Rapidamente, a nova facção ganhou milharesbet 365itaadeptos (6 mil, segundo o Ministério Público), assumindo a maior parte do poder da antiga.
Embora a Okaida RB ainda seja inimiga declarada do PCC, ela passou a seguir partebet 365itasuas "doutrinas", segundo Morroni. A nova estratégia, que inclui ditar um códigobet 365itaconduta nos bairros, tenta diminuir os assassinatos e roubos próximosbet 365itapontosbet 365itavendabet 365itadroga - com isso, a facção evita a presença da polícia.
"O foco são os negócios e não mais a violência extrema. Antigamente, dívidasbet 365itatráfico eram punidas com a morte. Hoje, a Okaida negocia outras formasbet 365itapagamento ", afirma o delegado.
Para o promotor Manoel Cacimiro Neto, a Okaida "não possui uma estrutura hierarquizada rígida, a exemplo do PCC". Ou seja, apesarbet 365itaexistirem chefes com maior influência, a facção "pulverizou" o poderbet 365itavários territórios, segundo Neto.
A expansão
A ascensão da Okaida coincide com uma sequênciabet 365itaquedas dos homicídios na Paraíba. Segundo o Anuário Brasileiro da Segurança Pública, que compila dados das secretarias estaduais da área, o Estado registrou 1.286 assassinatosbet 365ita2017 - baixabet 365ita16,7%bet 365itarelação a 2014.
Segundo especialistas, boa parte da queda está relacionada ao programabet 365itareduçãobet 365itahomicídios do governo estadual, o "Paraíba Unida pela Paz", que conseguiu diminuir a taxabet 365itahomicídios para 31,9 mortes a cada 100 mil habitantesbet 365itasete anos.
Por outro lado, a Okaida expandiu seus braços para outros cidades paraibanas. A facção atuabet 365itamuncípios como Cachoeira dos Índios e Campina Grande, a segunda maior cidade do Estado.
Reportagem do jornal Correio da Paraíba mostrou que vários bairros da periferiabet 365itaCampina Grande já estão ocupados pelo grupo criminoso -bet 365itaum deles, por exemplo, integrantes da facção têm o controle até das chavesbet 365itauma escola pública.
Ao sul, células da Okaida também foram desmontadas pela políciabet 365itacidadesbet 365itaPernambuco.
Em março do ano passado, uma operação da Polícia Civil descobriu que integrantes da Okaida estavam organizando roubos e o tráficobet 365itadrogasbet 365itaCamutanga, município na zona da mata pernambucana. Outra célula foi descoberta neste mêsbet 365itaAfogados, bairro do Recife.
Os presídios pernambucanos também têm presençabet 365itaintegrantes da Okaida, segundo João Carvalho, presidente do sindicato dos agentes penitenciários local. "Nas cadeiasbet 365itaPernambuco, a força das facções se divide entre PCC, Okaida e Comando Vermelho", diz.
Os presídios e o que dizem os governos
Tanto a Paraíba quanto Pernambuco têm superlotaçãobet 365itasuas cadeias. Aliada à precariedade estrutural dos espaços, o aumento exponencial da massa carcerária facilita,bet 365itatese, o aliciamentobet 365itanovos "soldados" pelas facções criminosas.
Segundo o Conselho Nacionalbet 365itaJustiça, a Paraíba apresenta um déficitbet 365ita5.430 vagas no sistema carcerário - no total, o Estado tem 13.189 presos. O governo diz que tem investido na criaçãobet 365itanovos presídios.
Já Pernambuco tem 32.884 detentos para 11.689 vagas - déficitbet 365itamaisbet 365ita21 mil. O governobet 365itaPaulo Câmara (PSB) afirma que "criou nos últimos quatro anos 2.374 vagas nos presídios" para diminuir a superlotação.
Sobre a expansão da Okaida, o governo da Paraíba diz que programas estaduaisbet 365itaredução da violência têm dado certo. "O resultado foi a quedabet 365itacrimes contra a vida durante sete anos consecutivos no Estado e também nos primeiros três mesesbet 365ita2019."
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