Brasil perde jovens para violênciacbet verificationpatamarcbet verificationpaíses como Haiti, aponta Atlas da Violência:cbet verification
Considerando-se apenas essa faixa etária, a taxa brasileiracbet verificationhomicídios por 100 mil habitantes sobe para 69,9. É equivalente à taxacbet verificationhomicídios (70) que o Haiti, país mais pobre das Américas, registrou nessa faixa etáriacbet verification2015, segundo o dado mais recente da OMS.
E, se compararmos o dado às taxas gerais dos países, o "Brasil dos jovens" fica atrás apenascbet verificationnaçõescbet verificationextrema pobreza e crise, como Honduras (85,7 mortes por 100 mil habitantescbet verification2015) e Venezuela (81,4 por 100 mil habitantescbet verification2018, segundo o Observatório Venezuelano da Violência).
"O Brasil é um paíscbet verificationnível social médio mas, na segurança pública, convive com padrões semelhantes aos dos países mais violentos do mundo ecbet verificationinstituições frágeis", diz à BBC News Brasil Renato Sergiocbet verificationLima, presidente e pesquisador do FBSP.
"A morte prematuracbet verificationjovens (15 a 29 anos) por homicídio é um fenômeno que tem crescido no Brasil desde a décadacbet verification1980", aponta o estudo recém-divulgado, lembrando que essa é uma idadecbet verificationque as pessoas têm alto potencial produtivo, que acaba sendo desperdiçado. "Além da tragédia humana, os homicídioscbet verificationjovens geram consequências sobre o desenvolvimento econômico e redundamcbet verificationsubstanciais custos para o país."
Levantamento da Secretariacbet verificationAssuntos Estratégicos do governo federalcbet verificationjunhocbet verification2018 aponta que o Brasil perde cercacbet verificationR$ 550 mil para cada jovemcbet verification13 a 25 anos vítimacbet verificationhomicídio, levando-secbet verificationconta o quanto o país deixacbet verificationganhar com a capacidade produtiva (o trabalho) da vítima e os custoscbet verificationsaúde, judiciais ecbet verificationencarceramento ligados a cada morte.
"A perda cumulativacbet verificationcapacidade produtiva decorrentecbet verificationhomicídios, entre 1996 e 2015, superou os R$ 450 bilhõescbet verificationreais", diz o texto.
De volta ao relatório do Ipea, traçando um perfil dos casoscbet verificationhomicídioscbet verification2017, identificou-se o seguinte:
- 91,8% das vítimas são homens. Desses, 77% são mortos por armascbet verificationfogo;
- 75,5% são negras;
- O picocbet verificationmortes é aos 21 anoscbet verificationidade;
- A maior parte das vítimas tem baixa escolaridade (ensino fundamental incompleto);
- A maioria das mortes tem se concentradocbet verification12 Estados do Norte e do Nordeste, muitos dos quais têm visto a violência crescer exponencialmente, na contramãocbet verification15 dos Estados do Centro-Oeste, Sul e Sudeste, onde os índicescbet verificationmortes têm diminuído.
As causas da violência
Entre os Estados, os maiores índicescbet verificationhomicídioscbet verificationjovenscbet verification2017 estão no Nordeste: Rio Grande do Norte - que virou o Estado mais violento do Brasil,cbet verificationproporção acbet verificationpopulação -, Ceará, Pernambuco e Alagoas, seguidos pelo Acre, no Norte do país.
Os potiguares convivem, hoje, com uma taxacbet verification152,3 homicídioscbet verificationjovens a cada 100 mil habitantes. Entre os cearenses, écbet verification140. Para efeitos comparativos, o menor índicecbet verificationviolência do país hoje é registrado no Estadocbet verificationSão Paulo, onde a taxa écbet verification10,3 homicídios a cada 100 mil habitantes ecbet verification18,5 entre jovenscbet verification15 a 29 anos.
Ainda assim, os pesquisadores fazem ressalvas aos dados paulistas, alegando que o Estado é um dos que registrou uma alta nas chamadas "mortes violentascbet verificationcausa indefinida" (mortes não naturais sobre as quais não há detalhes sobre as causas), o que pode significar que o número totalcbet verificationhomicídios esteja,cbet verificationalgum grau, sendo subestimado.
O que leva, então, a tantas mortes entre jovens?
O Ipea e o FBSP apontam que por tráscbet verificationgrande parte dos homicídios estão, sobretudo no Norte e no Nordeste, as guerrascbet verificationfacções criminosas - cujos membros sãocbet verificationgeral homens jovens - como o Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), e outros grupos criminosos regionais, na disputa por novos mercados e pelas rotas que levam drogas à África e à Europa.
"O anocbet verification2017 foi o ápice na briga por rotas nacionais e internacionaiscbet verificationdrogas e armas, e o Nordeste tem papel estratégico na logística do crime organizado", aponta Lima, do FBSP.
Essas disputas ficam evidentes nas prisões, como ocorreucbet verificationmaiocbet verificationManaus, onde ao menos 55 detentos foram mortoscbet verificationunidades do sistema prisional por contacbet verificationdisputas internas da Família do Norte, a terceira maior facção criminosa do país.
A isso se somam contornos regionais. No Ceará, Estadocbet verificationque mais cresceu a taxacbet verificationhomicídios - houve um aumentocbet verification48,2% entre 2016 e 2017 -, o estudo aponta uma forte presença das facções criminosas na vida dos bairros popularescbet verificationFortaleza e um contextocbet verificationque a violência passa a ser cotidiana na resoluçãocbet verificationconflitos interpessoais.
O Acre, o segundo Estado (atrás do RN) com a maior taxacbet verificationhomicídios, está na rotacbet verificationdrogas que vêm do Peru e da Bolívia.
Transição demográfica e portecbet verificationarmas
Os pesquisadores do Ipea e do FBSP notam que um estudo recente do Núcleocbet verificationEstudos da Violência da USPcbet verificationparceria com o portal G1 aponta que o númerocbet verificationhomicídios no Brasil diminuiucbet verification2018cbet verificationrelação a 2017. Sem entrarcbet verificationdetalhes nas causas disso (que segundo o estudo, precisam ser mais investigadas, inclusive para avaliar se não houve piora na coletacbet verificationdados), os pesquisadores apontam dois fatores importantes que podem, no contexto atual brasileiro, levar à redução das mortes violentas:
1) A transição demográfica pela qual passa o Brasil: com o paíscbet verificationprocessocbet verificationenvelhecimento, o númerocbet verificationjovens tende a cair, o que deve a levar à redução no númerocbet verificationpessoas dentro dessa faixa etária hoje tão vulnerável à violência. O fatocbet verificationessa transição ainda não estarcbet verificationcursocbet verificationEstados do Nordeste ajuda, inclusive, a explicar as altas taxascbet verificationviolência do Estado.
2) A acomodação: como é muito difícil sustentar guerrascbet verificationfacções por muito tempo, a tendência é que os grupos criminosos arrefeçam os combates entre si. "Todavia, esse virtual processocbet verificationacomodação na guerra entre as maiores facções se inserecbet verificationum equilíbrio instável, podendo a qualquer momento ser revertido, como nos mostra o mais recente morticínio nas cadeiascbet verificationManaus", diz o estudo.
Ao mesmo tempo, a avaliação dos pesquisadores do Ipea (que é um órgão do governo federal, vinculado hoje ao Ministério da Economia) e do FBSP écbet verificationque, enquanto o Estatuto do Desarmamento ajudou a conter a violência no país, a flexibilização do portecbet verificationarmas promovida atualmente pelo governocbet verificationJair Bolsonaro é preocupante, pelo potencialcbet verificationintensificar as taxascbet verificationhomicídio.
"Uma armacbet verificationfogo dentro do lar faz aumentar as mortes violentas dos moradores, seja por questões que envolvem crimes passionais e feminicídios, seja porque aumenta barbaramente as chancescbet verificationsuicídio, ou ainda porque aumentam as chancescbet verificationacidentes fatais, inclusive envolvendo crianças", diz o relatório, agregando que "uma parte significativa dos crimes violentos letais intencionais é perpetrada por razões interpessoais".
Bolsonaro tem defendido, porcbet verificationvez, que a flexibilização dá mais direitocbet verificationdefesa aos cidadãos e que "a segurança pública começa dentrocbet verificationcasa".
Políticas públicas pela reduçãocbet verificationhomicídios
O relatório aponta, ainda, a necessidadecbet verificationo Brasil desenvolver "políticas públicas focadas na reduçãocbet verificationhomicídios entre jovens, principal grupo vitimado pelas mortes violentas intencionais".
"É fundamental que se façam investimentos na juventude, por meiocbet verificationpolíticas focalizadas nos territórios mais vulneráveis socioeconomicamente,cbet verificationmodo a garantir condiçõescbet verificationdesenvolvimento infanto-juvenil, acesso à educação, cultura e esportes, alémcbet verificationmecanismos para facilitar o ingresso do jovem no mercadocbet verificationtrabalho", diz o estudo.
"Inúmeros trabalhos científicos internacionais mostram que é muito mais barato investir na primeira infância e juventude para evitar que a criançacbet verificationhoje se torne o criminosocbet verificationamanhã, do que aportar recursos nas infrutíferas e dispendiosas açõescbet verificationrepressão bélica ao crime na ponta e encarceramento."
O relatório também sugere que o Brasil mude seu fococbet verificationatuaçãocbet verificationsegurança pública, do atual modelo mais voltado à coerção policial "para um baseado na investigação e na inteligência policial,cbet verificationdetrimento da crença única no policiamento ostensivo e repressão ao varejo das drogas".
Para embasar esse dado, o estudo lembra a baixíssima taxacbet verificationesclarecimento dos homicídios ocorridos no país: enquanto alguns Estados têm taxascbet verificationno máximo 20%cbet verificationelucidação dos crimes, outros sequer computam esse dado.
"Nosso sistemacbet verificationinvestigação é sucateado e obsoleto", diz o texto. "E seguimos na crença nunca confirmadacbet verificationque o endurecimento penal trará resultados."
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