Caso Marielle: 'Ninguém bota a cara como minha filha fez', diz mãeroleta devereadora, um ano após assassinato:roleta de

Marielle Franco e Anderson Gomes

Crédito, AFP/Arquivo pessoal

Legenda da foto, BBC News Brasil conversou com familiares da vereadora Marielle Franco eroleta deseu motorista, Anderson Gomes, um ano após assassinato.

"Foi um avanço, mas ainda há muita coisa para fazer", considera Marinete. "A gente precisa saber quem foram os mandantes. Precisa prender quem mandou matar. Não é só por nós. É para responder às cobranças do mundo."

Marinete Silva

Crédito, Reuters

Legenda da foto, "Foi um avanço, mas ainda há muita coisa para fazer", diz Marinete, mãeroleta deMarielle

Marielle Franco foi executada na noiteroleta de14roleta demarçoroleta de2018 no Rio depoisroleta demediar um debate sobre o empoderamentoroleta demulheres negras na Casa das Pretas, na Lapa.

De acordo com o Gaeco/MPRJ, a empreitada criminosa foi "meticulosamente planejada durante os três meses que antecederam o atentado" (Confira abaixo a linha do tempo com os principais fatos da investigação até agora).

"É inconteste que Marielle Francisco da Silva [nomeroleta debatismo da vereadora] foi sumariamente executadaroleta derazão da atuação política na defesa das causas que defendia", descreve a denúncia do MPRJ, classificando o atentado como um "golpe ao Estado Democráticoroleta deDireito".

Margaret Huang, Jurema Werneck e Marinete Silvaroleta deprotesto por Marielle Franco

Crédito, EPA

Legenda da foto, "É uma dor que você tem todo dia, toda hora", diz Marinete da Silva (à dir.), mãe da vereadora Marielle Franco

Cartas exigem soluções

As cobranças e expressõesroleta desolidariedade vêmroleta decartas do mundo todo. Na Anistia Internacional do Rio, há caixasroleta decartas endereçadas à família. Muitas outras foram enviadas à Delegaciaroleta deHomicídios por pessoas e organizaçõesroleta dedireitos humanos mundo afora.

"O Giniton (Lages, delegado responsável pelas investigações da Polícia Civil até quarta-feira, quando foi afastado do caso) me mostrou as pilhasroleta decartas que ele recebe. Todo dia chegam mais cartas", conta Marinete.

"Não é só a gente que precisaroleta deuma resposta. Esse é um compromisso com o mundo todo, com o Brasil e com a sociedade, que perdeu muito com a morte da minha filha. Todos os grupos aos quais ela dava voz perderam muito."

"Ninguém faz o que ela fazia. Ninguém bota a cara com a minha filha fez", diz a mãe.

Negra, lésbica, feminista, "cria da favela" e defensoraroleta dedireitos humanos, Marielle estava no segundo anoroleta deseu primeiro mandato como vereadora.

O aniversárioroleta desua morte será marcado com uma missa na Candelária, no Centro do Rio, igreja simbólicaroleta demuitas lutas e passeatas das quais Marielle participou, eroleta deseu engajamento para ajudar familiaresroleta devítimasroleta deviolência, como as mães dos mortos na chacina ocorrida na escadaria da igrejaroleta de1993. "Ela participouroleta deanosroleta decaminhadasroleta deprolroleta devítimasroleta deviolência da barbaridade que aconteceu ali", diz Marinete.

365 DIAS DE INVESTIGAÇÃO

A vereadora Marielle Franco e o motorista Anderson Gomes (foto) são executados a tirosroleta detorno das 21h30 no bairro do Estácio, na região central do Rio, após deixarem um evento no local. Uma assessoraroleta deMarielle que estava no mesmo carro fica ferida por estilhaços, mas escapa com vida.

Imagens obtidas pela polícia mostram um Cobalt prata com placa clonada paradoroleta defrente ao local do evento. Os três homens no interior do carro aguardaram por duas horas a saída da vereadora.

TV Globo divulga que uma pistola 9mm, calibreroleta deuso restrito no Brasil, foi usada no crime. As balas são do lote UZZ18, vendido à Polícia Federal (PF)roleta de2006 e ligado a outros crimes. Raul Jungmann, então ministroroleta deSegurança Pública, diz que balas foram roubadas "anos atrás" na sede dos Correios na Paraíba. Os Correios dizem não ter registro disso.

O portal G1 apura que cinco das 11 câmeras da Secretariaroleta deSegurança no trajeto da vereadora estavam apagadas no momento do crime. O jornal Extra diz que elas foram desligadas entre 24 e 48 horas antes.

Após duas semanasroleta demanifestações pedindo a solução do crime (na foto, manifestação ocorrida no dia 18 na favela da Maré), o General Richard Nunes, então secretárioroleta deSegurança Pública do Rio, diz à Globonews que assassinato foi "crime político", motivado pela atuaçãoroleta deMarielle.

O líder comunitário Carlos Alexandre Pereira Maria, o Cabeça, é morto a tiros na Taquara, na Zona Oeste do Rio. Ele era colaborador do vereador Marcello Siciliano (PHS), posteriormente apontado por uma testemunha como mandante do crime, e teria envolvimento com uma milícia.

Laudo mostra que Marielle morreu com quatro tiros no lado direito da cabeça. Anderson foi atingido nas costas por três balas. Fragmentosroleta dedigitaisroleta denove cápsulas achadas na cena do crime são insuficientes para identificar os autores dos disparos.

A TV Record apura que a arma usada no crime foi uma submetralhadora HK MP5 usada por forças especiais do Rio. A reconstituição do crime (foto) confirma o uso da arma. A Record diz ainda que o carroroleta deque estavam Marielle e Anderson foi deixado no pátio da delegacia sem cuidados especiais e que seus corpos não passaram por raio-x porque o Estado estaria sem equipamento.

O policial militar Rodrigo Ferreira aponta o vereador Marcello Siciliano (PHS) e o ex-policial Orlando Oliveiraroleta deAraújo, o Orlandoroleta deCuricica (foto), preso por chefiar a milíciaroleta deBoiúna, como mandantes do crime. Ações comunitáriasroleta deMarielle teriam interferidoroleta deinteressesroleta demilicianos. Ambos negam as acusações.

Thiago Bruno Mendonça, o Thiago Macaco, é preso, acusadoroleta dematar Cabeça. Ele foi apontado por uma testemunha como um ex-miliciano ligado a Orlandoroleta deCuricica e acusadoroleta deser o responsável por clonar a placa do Cobalt prata usado na execuçãoroleta deMarielle.

Manifestações continuam marcando aniversários da morteroleta deMarielle e Anderson e pedindo respostas (na foto, manifestaçãoroleta de12roleta dejulho no centro do Rio).

O policial militar reformado Alanroleta deMorais Nogueira, o Cachorro Louco, é preso suspeito sob a acusaçãoroleta departicipar da milíciaroleta deOrlandoroleta deCuricica. Ele é suspeitoroleta deser um dos ocupantes do carro dos atiradores.

A TV Globo apura que os deputados estaduais Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi (fotos), todos do MDB, passam a ser investigados. Os três estão presos, acusadosroleta deterem recebido propinasroleta deempresasroleta deônibus. Eles teriam se envolvido na morteroleta deMarielle como retaliação ao hoje deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ), que liderou uma ação para barrar a posseroleta deAlbertassi no Tribunalroleta deContas do Rioroleta deJaneiro. Eles negam as acusações.

Raul Jungmann sugere que a PF assuma a investigação, mas sugestão é rejeitada pelo Gabineteroleta deIntervenção e pelo MP-RJ. Quatro dias depois, a promotoria estadual volta atrás e aceita a colaboração.

Orlandoroleta deCuricica denuncia à PGR que estaria sendo coagido pela Delegaciaroleta deHomicídios do Rio a assumir a execução do crime. Segundo o jornal O Globo, ele diz que Marielle e Anderson foram mortos pela milícia Escritório do Crime, que a execução teria custado R$ 200 mil e que, embora saiba quem matou a vereadora, desconhece a motivação dos criminosos.

O MP-RJ diz ter identificado características físicas do atirador e novos locais por onde circulou o carro usado pelos executores. Não são divulgados detalhes.

A Polícia Civil cumpre mandadosroleta deprisãoroleta de15 endereços no Rio eroleta deMinas Gerais contra integrantesroleta demilícias, alguns deles suspeitosroleta departicipar do crime. É a primeira operaçãoroleta deprisão ligada à morteroleta deMarielle e Anderson.

Cinco suspeitos são presos, entre eles o major da PM Ronald Pereira Alves, o ex-capitão do Bope Adriano Magalhães da Nóbrega, ambos apontados como chefes da milícia Escritório do Crime, e o tenente reformado Maurício Silva da Costa, que seria chefe da milíciaroleta deRio das Pedras. Todos negam envolvimento no crime.

A principal linharoleta deinvestigação,roleta deque Orlandoroleta deCuricica e Marcelo Siciliano (foto) seriam os mandantes do crime, perde força após apuração feita por uma força-tarefa da PF, segundo o jornal O Globo. A PF apura possíveis ações para dificultar as investigações.

Polícia civil e promotores do MP-RJ prendem dois suspeitos da morteroleta deMarielle e Anderson. Ronnie Lessa (foto à esq.), policial militar reformado, teria sido o autor dos disparos que mataram a vereadora e o motorista. Élcio Vieiraroleta deQueiroz (foto à dir.), ex-policial militar, estaria dirigindo o Cobalt prata.

Rotinaroleta deluta

Marielle era mulherroleta deMonica, filharoleta deMarinete e Antonio, mãeroleta deLuyara, irmãroleta deAnielle e madrinharoleta deMariah,roleta desobrinha. Morava com Monica,roleta dequem ficara noiva um ano antes, e com a filha, Luyara, que tem 20 anos e nasceu quando a mãe tinha apenas 19.

Depois da morte da mãe, Luyara passou a viver com os avós. A jovem iniciou a universidaderoleta deEducação Física e acabaroleta decomeçar a trabalhar no gabinete da deputada estadual Renata Souza, do PSOL. Renata integrava o gabineteroleta deMarielle na Câmara dos Vereadoras e foi eleita no ano passado como uma das "herdeiras" políticasroleta deMarielle.

"O que ocorreu com ela foi um feminicídio político", diz a deputada, que, como Marielle, também é cria da favela, do Complexo da Maré.

"Até hoje não tem resolução porque o Estado não conseguiu compreender o tamanho do que é a execução sumáriaroleta deuma vereadora como a Marielle", critica a parlamentar. "Não entendeu que é uma afronta direta à democracia. Esse crime bárbaro, covarde, desumano tem a ver com alguma estruturaroleta depoder que as investigações ainda não trouxeram à luz."

Marinete diz que a rotina tem sido dura, tendo que conciliar o engajamentoroleta detorno do assassinato da filha com o trabalho para sustentar a casa. Ela é advogada, atuando nas áreas cível e previdenciária, e seu marido, Antonio Francisco da Silva, é aposentado.

"A gente continua trabalhando muito e está sempre na luta. Não temos outros meios para manter o nosso sustento a não ser o nosso próprio trabalho. Somos uma família humilde, a Marielle ajudavaroleta decasa (financeiramente), então até nesse sentido a falta dela pesa. Eu mantenho toda a estrutura da minha casa há muito tempo, e não posso desanimar. Em momento nenhum posso fracassar. Tenho que continuar lutando", diz Marinete.

Mulherroleta deAnderson Gomes e pairoleta deMarielle Franco

Crédito, EPA

Legenda da foto, Na casaroleta deAgatha Arnaus Reis (à esq.), a vida mudou completamente após a morteroleta deseu marido, Anderson Pedro Gomes aos 39 anos

'Anderson presente'

Na casaroleta deAgatha Arnaus Reis, a vida mudou completamente após a morteroleta deseu marido, Anderson Pedro Gomes aos 39 anos.

Na época do assassinato, Anderson estava substituindo o motorista fixoroleta deMarielle, que se acidentara. Naquela noite, os tiros que partiram do Cobalt mirando a janela do bancoroleta detrás onde a vereadora estava sentada atravessaram o carro na diagonal e atingiram Anderson na direção.

Agatha ficou viúva aos 27 anos, sozinha para cuidar do filho do casal, Arthur.

Um ano depois da morte do marido, ela passa pouco tempo na casa onde viviam. Nos dias da semana, prefere ficar morando com a mãe e a irmã,roleta deInhaúma, na zona norte do Rio, para ter companhia e poder dividir os cuidados com Arthur, que tem quase 3 anos. O filho nasceu prematuro, teve que passar por uma sérieroleta decirurgias e sofreroleta deatraso no desenvolvimento e hipotireoidismo.

"A minha família ajuda muito para que eu possa continuar trabalhando e levar ele para a escolinha", diz Agatha, que é servidora pública e está alocada no Ministério Público do Rio. "Eu dividia tudo com o Anderson."

Ronnie Lessa e Élcio Vieiraroleta deQueiroz

Crédito, AFP

Legenda da foto, Ronnie Lessa e Élcio Vieiraroleta deQueiroz foram acusados pelo assassinatoroleta deMarielle Franco e Anderson Gomes

Em setembro, Agatha teve um "susto tremendo". Arthur teve uma obstrução intestinal e precisou passar por uma cirurgiaroleta deemergência. "Quando eu estava sozinha no hospital, correndo com bolsa, leite, exames, com ele no colo, vomitando sem parar, a ficha caiu", diz. "Agora é tudo comigo."

Ela diz ter ficado impactada pelas prisões dos suspeitosroleta deterem executado o crime. Mas ressalta as perguntas que exigem resposta.

Agatha e Anderson

Crédito, Arquivo pessoal

Legenda da foto, Agatha ficou viúva aos 27 anos, sozinha para cuidar do filho do casal, Arthur, que completa 3 anosroleta demaio

"A gente precisa saber quem mandou matar e por quê. Não podemos ficar sem essa resposta. Isso pesa muito. Um dia o Arthur vai me perguntar, e o que eu vou falar para ele?", questiona.

"Tem que ter um fim. Até lá, é como se a gente ficasse sempre revivendo aquele dia", diz a viúvaroleta deAnderson. "Só quando chegar no final é que a gente vai poder terminarroleta deenterrar (os mortos)."

*Colaborou Rafael Barifouse, da BBC News Brasilroleta deSão Paulo

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