Violência no Rio: 'Por que não levaram preso?', questiona mãeunibets 365jovem morto na operação policial mais mortífera da década no Rio:unibets 365

Tatiana Antunes mostra atestadounibets 365óbito do filho, Felipe

Crédito, ABR

Legenda da foto, Tatiana Antunes contesta as versões apresentadas pela polícia para a morteunibets 365seu filho, Felipe

No sábado, outros dois corpos foram encontrados na mata no Morro dos Prazeres, elevando para 15 o númerounibets 365mortos na operação policial - a mais mortífera no Rio desde 2007, quando uma incursão no Complexo do Alemão, na zona norte, matou 19 pessoas.

A Polícia Militar do Riounibets 365Janeiro informou que as vítimas eram criminosos fortemente armados, que reagiram à chegada da polícia e foram mortosunibets 365confronto. Durante a operação, policiais apreenderam quatro fuzis, 14 pistolas, seis granadas, três radiocomunicadores, alémunibets 365carregadores e drogas. Policiais prenderam 11 pessoas durante a ação.

Famílias confirmam que os jovens mortos tinham envolvimento com o tráfico, mas contestam a versão da políciaunibets 365que teria havido confronto. Afirmam que eles se renderam, mas foram torturados e executados.

Tatiana pergunta, ecoando a pergunta feita por tantas outras mães: "Por que mataram? Por que não levaram preso?".

"Não estou lutando para dizer que o meu filho não era (criminoso). Nenhuma mãe está tirando o que eles foram, ou o que não foram. Nós queremos justiça pelo jeito que mataram eles", afirma. "Estamos condenando o assassinato. Eles (os policiais) tinham que ter levado eles presos, e não fazer o que fizeram."

Tatiana fez parteunibets 365uma reunião emocionada realizada no Morro do Fallet na quarta-feira, onde moradores e familiares disseram que os jovens foram executados e submetidos a tortura, facadas e mutilações.

As mortes estão sendo investigadas pela Delegaciaunibets 365Homicídios da Polícia Civil, que ainda aguarda a conclusão do laudo pericial com as circunstâncias das mortes, bem como dos laudos cadavéricos descrevendo como os rapazes foram mortos, antesunibets 365se pronunciar.

A operação também está sendo investigada pelo Ministério Público do Rio, que ouvirá nesta semana os comandantes dos Batalhõesunibets 365Choque, do Batalhãounibets 365Operações Especiais (Bope) e do Comandounibets 365Operações Especiais (COE). A Pmerj abriu uma sindicância interna para apurar as mortes decorrentesunibets 365intervenção policial.

'Cenário preocupante'

O episódio gerou forte preocupação entre gruposunibets 365defesaunibets 365direitos humanos, atentos a sinaisunibets 365arrefecimentounibets 365violência policial dianteunibets 365sinalizações dadas pelo novo governador do Rio, Wilson Witzel, e temerososunibets 365impactos do chamado excludenteunibets 365ilicitudeunibets 365casosunibets 365mortes cometidas por policiais, incluído no pacote anticrime proposto pelo ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

O projetounibets 365Moro amplia as hipótesesunibets 365que a açãounibets 365um policial pode ser considerada como legítima defesa, isentando-ounibets 365culpa. Na lei atual, isso ocorre quando o policial age para se defenderunibets 365agressão "atual ou iminente". A nova proposta abrange a legítima defesa para ações que "previnam" agressões a si, a outros ou a vítima mantida refém.

Além disso, prevê que a pena poderá ser reduzida ou deixarunibets 365ser aplicada se o policial cometer excessos decorrentesunibets 365"escusável medo, surpresa ou violenta emoção". Críticos temem que as mudanças representem uma "licença para matar". Moro nega, e diz que intenção é deixar a legislação mais clara.

Já Witzel se elegeu com um discursounibets 365enfrentamento pesado ao crime organizado e defende publicamente o "abate"unibets 365criminosos armadosunibets 365grosso calibre. "Aquele que pegaunibets 365armas e chama para si a guerra, a guerra deve ter. Como terroristas serão tratados", disse, duranteunibets 365cerimôniaunibets 365posse.

Chinelo sobre chão ensanguentadounibets 365casa no Morro do Fallet

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Chão da casa onde suspeitos foram mortos ficou ensanguentado

Para Pedro Strozenberg, ouvidor da Defensoria Pública do Rio, a letalidade concentrada nesta primeira grande operação do governo Witzel desperta o temorunibets 365"um cenário muito preocupante".

"Uma operação com esse patamarunibets 365letalidade não pode ser considerada uma ação regular. É preciso queunibets 365legalidade e aunibets 365conduta sejam apuradas. Isso não pode virar um patamar dos novos tempos", afirma.

Ele ressalta a importânciaunibets 365que as investigações da Polícia Civil, do Ministério Público Estadual e da Corregedoria da Polícia Militar possam apontar com clareza o que aconteceu, e se houve o desvio dos policiais, ou se eles tiveramunibets 365conduta amparada pela lei.

"Isso para nós é o ponto principal. Não queremos impedir, atrapalhar nem desqualificar a atuação policial. Mas ela tem que ser amparada na lei", ressalta.

Organizaçõesunibets 365direitos humanos como a Anistia Internacional cobram uma investigação "detalhada, imparcial e independente" para esclarecer as circunstâncias das mortes no Fallet-Fogueteiro, ressaltando o alto númerounibets 365homicídios decorrentesunibets 365intervenções policiais no Rio - que atingiu patamar recorde no ano passado, com 1.532 homicídios pela polícia, contra 1.127unibets 3652017.

"Historicamente, a maioria dos casosunibets 365homicídios pela polícia no Riounibets 365Janeiro não é investigado e nem responsabilizado e essa impunidade alimenta o ciclounibets 365violência da polícia", diz a nota da Anistia.

'Tristeza e raiva'

Na quarta-feira, cercaunibets 36560 moradores e familiares dos jovens mortos nas comunidadesunibets 365Santa Teresa se reuniram no Morro do Fallet, com quase 40 representantesunibets 365instituições como as Defensorias Públicas do Rio e da União e as comissõesunibets 365direitos humanos da OAB-RJ e da Assembleia Legislativa do Rio e jornalistas.

O encontro foi marcado por momentos catárticos, com forte emoção, tristeza e raiva, bem como críticas à atuação policial.

Homem sobe escada ao ladounibets 365parede com marcasunibets 365tiros

Crédito, Reuters

Legenda da foto, Após a operação no Morro do Fallet, diversas paredes ficaram com marcasunibets 365tiros

"Os moradores tiveram falas foram muito contundentes e homogêneas afirmando que uma parte significativa dessas mortes poderia ter sido evitada, e que a polícia tinha condiçõesunibets 365prender, e não matar ", relata Pedro Strozenberg.

"Os moradores não questionavam a atuação da polícia para enfrentar a criminalidade, mas insistiam que a resposta poderia ter sidounibets 365mais prisões, e menos mortes", afirma o ouvidor da Defensoria Pública.

Guerraunibets 365facções

Segundo assessoriaunibets 365comunicação da Polícia Militar do Riounibets 365Janeiro, a operaçãounibets 365sexta-feira foi realizada para intervir "numa guerra entre facções criminosas rivais, que disputam o controleunibets 365território naquela região, tendo como principal preocupação a preservaçãounibets 365vidas".

A corporação informa que mobilizou suas unidades especializadas - o Batalhãounibets 365Choque e o Batalhãounibets 365Operações Especiais (Bope) com baseunibets 365informações das áreasunibets 365inteligência.

Mulher com cápsulasunibets 365balas na mão

Crédito, Defesoria Pública do Rio

Legenda da foto, Defensores públicos estiveram no Morro do Fallet, onde ouviram críticas dos moradores à atuação policial

A operação acabouunibets 365um imóvel que será chave para a investigação - uma casa na Rua Eliseu Visconti, no Morro do Fallet, onde, segundo moradores, traficantes se refugiaram.

De acordo com os depoimentosunibets 365moradores, foi lá que morreram sete das 13 vítimas encontradas na sexta-feira. O imóvel ficou com o piso e as paredes cobertasunibets 365sangue e com muitas marcasunibets 365tiros.

A casa fica perto daunibets 365Tatiana. Naquela manhã, quando Felipe Guilherme saiuunibets 365casa, ela não se preocupara, porque a madrugada havia sido calma, sem trocaunibets 365tiros. Ao ouvir relatos sobre a operação policial, ela correu para a rua.

"Eu cheguei na casa e pedi para entrar para ver o meu filho, mas eles (os policiais) não deixaram. Os vizinhos todos foram para lá, porque os adolescentes estavam gritando socorro, mas não deixavam a gente chegar perto", diz.

A Polícia Militar do Riounibets 365Janeiro afirma que os criminosos reagiram à vozunibets 365prisão dada pelos policiais e atiraram contra os militares, sendo subsequentemente mortosunibets 365confronto.

As vítimas, todos rapazes com idades entre 15 e 22 anos, foram levadas pelo Batalhãounibets 365Choque para o Hospital Municipal Souza Aguiar, no centro do Rio. De acordo com a Agência Brasil, médicosunibets 365plantão informaram que os 13 jovens já chegaram mortos.

Uma foto na imprensa flagrou dois policiais sentados na caçamba aberta da caminhonete do Choque, sobre corpos cobertos por lençóis brancos.

A Polícia Militar instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para investigar as mortes, medida padrão tomada quando operações resultamunibets 365lesão corporal ou morte.

'Para que essa crueldade?'

Tatiana contesta as versões apresentadas pela polícia. O laudounibets 365óbitounibets 365seu filho diz que ele morreu no hospital, mas ela viu fotos dele morto antes disso, no ladrilho da casa onde houve o suposto confronto.

Ela foi reconhecer o corpounibets 365seu filho no Instituto Médico Legal (IML). Diz que seu pescoço estava quebrado, que ele tinha marcasunibets 365facadas e que seu intestino estava exposto. Ela não acredita que ele tenha sido morto por tiros, porque apesarunibets 365ter uma perfuração no peito, não havia marcasunibets 365tiros saindo por suas costas.

Outros jovens tinham marcasunibets 365cortes no rosto, registradosunibets 365um vídeo feito pela equipe do hospital, ao qual a BBC News Brasil teve acesso.

"Meu filho foi torturado até o final", acredita. "Para que essa crueldade? Eu quero uma explicação do Estado. Eu quero Justiça", exige Tatiana. "Que policiais são esses que estão com a farda para matar?"

Tatiana enterrou o filho Felipe Guilherme e o sobrinho Enzo no domingo, no cemitério São João Batista,unibets 365Botafogo. Preferia tê-los sepultado no cemitériounibets 365São Franciscounibets 365Paula, no Catumbi, mais pertounibets 365sua casa no Fallet - mas diz que a facção criminosa rival à do seu filho proibiu que os jovens do grupo inimigo fossem enterrados lá.

Felipe Guilherme era o mais velho dos quatro filhosunibets 365Tatiana. Ela nasceu e cresceu no Morro do Fallet e criou os filhos sozinha, com o saláriounibets 365doméstica eunibets 365manicure, e com a ajudaunibets 365sua mãe.

"Eu fui mãe e pai do meu filho. Botei ele na escola, cuidei dele. Você cria o seu filho na maior luta para eles tirarem a vida dele desse jeito? Pelo amorunibets 365Deus, eu quero Justiça. Que eles paguem pelo que fizeram. Eu vou brigar e vou botar a minha cara, para eles verem a dorunibets 365uma mãe", emociona-se.

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