'Um vulcão que entrouapp betano androiderupção': como é a vidaapp betano androidPacaraimaapp betano androidmeio à criseapp betano androidimigração na Venezuela:app betano android
"Isto aqui era um vulcão que não aguentava mais e entrouapp betano androiderupção", diz o padre Jesus sobre os protestos brasileiros no último sábado. Na ocasião, segundo a força-tarefaapp betano androidautoridades brasileiras na região, houve agressões e a queimaapp betano androidacampamentosapp betano androidimigrantes, após um comerciante brasileiro ter sido assaltado e espancado por venezuelanos.
"São 3 mil a 4 mil pessoas (migrantes) morando nas ruasapp betano androiduma cidadeapp betano android10 mil habitantes, sem banheiro, sem emprego. Estamos há dois anos alertando as autoridades e procurando aliviar o drama do povo venezuelano", diz o sacerdote.
"Não justifico a reação dos brasileiros (no protestoapp betano androidsábado), e a xenofobia foi crescendo. Mas existe muito medo da violência, medoapp betano androidser assaltado, o hospitalapp betano androidcondições muito precárias. O povo está ressentido, contrariado. A cidade ficou entregue."
'Suspense'
Após os confrontosapp betano androidsábado, 1,2 mil migrantes voltaram para o lado venezuelano da fronteira, e Pacaraima amanheceu calma no domingo e nesta segunda-feira, segundo moradores ouvidos pela reportagem. Mas missionários, moradores locais e pessoas próximas ao governo estadual dizem que a tensão é crescenteapp betano androidRoraima e temem que os episódiosapp betano androidviolência se repitam.
"A cidade vive um colapso, um ambiente tenso. É um suspense o que vai acontecer agora. Porque, com a situação tenebrosa da Venezuela, as pessoas vão continuar vindo (ao Brasil), com certeza", diz o padre Jesus. "A primeira lava do vulcão saiu, mas deve vir mais."
"Existe um grande temorapp betano androidviolência", conta Lourival Ferreira, presidente licenciado do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civilapp betano androidBoa Vista, que diz ter sido alvoapp betano androidameaçasapp betano androidbrasileiros nas redes sociais por ter ajudado um grupoapp betano androidcercaapp betano android100 venezuelanos a formar uma associação nacionalapp betano androidimigrantes na capitalapp betano androidRoraima.
"O grande problema é o emprego, que não tem nem para brasileiros, nem para venezuelanos", opina Ferreira. "As pessoas chegam (da Venezuela) e ficam perambulando. Daí a fome dói e elas têm que pedir dinheiro, e uma pequena parcela comete delitos para conseguir comer. Vira o que virou - claro que ia dar confusão."
Ferreira conta que já viu mães venezuelanas saírem da maternidadeapp betano androidBoa Vista, pouco depoisapp betano androiddar à luz, e irem direto aos semáforos das ruas da cidade para pedir dinheiro para comer.
"E quem ficaapp betano androidPacaraima é a classe mais precarizadaapp betano androidvenezuelanos. É quem sequer consegue dinheiro para vir para Boa Vista (a 230 kmapp betano androiddistância)."
Cidadeapp betano androidpassagem
Ferreira conta que Pacaraima - cidadeapp betano androidíndiceapp betano androiddesenvolvimento humano (IDH) pior que a média brasileira e semelhante aoapp betano androidpaíses como Iraque - já tinha um trânsito intenso na fronteira.
"Era uma cidade pacata, pequena, com fluxo grande, mas que não era fixo. As pessoas iam e voltavam, tanto brasileiros como venezuelanos", diz o sindicalista.
"Os brasileiros sempre iam comprar produtos baratosapp betano androidSanta Elena (no lado venezuelano) e, com a crise, os venezuelanos vêm comprar alimentos aqui", conta Ricardo Baumgartner, missionário da organização Fraternidade Internacional, que está desde 2016 atuandoapp betano androidRoraima,app betano androidparceria com a Acnur (agência da ONU para refugiados). "Tem também muita gente que moraapp betano androidSanta Elena e passa o diaapp betano androidPacaraima, trabalhando."
Com pouca atividade produtiva, moradores contam que são comuns na região o contrabandoapp betano androidcombustível (vendido a centavosapp betano androidreal no lado venezuelano), a prostituição e, ante a intensificação da vindaapp betano androidmigrantes pobres, o trabalho análogo à escravidão. Há relatosapp betano androidque os venezuelanos recebam quantias irrisórias (R$ 20 ou R$ 30) por longas jornadas na construção civil ou no transporteapp betano androidcargas, para conseguir se alimentar.
Um ex-funcionário próximo à pasta da Defesa Civilapp betano androidRoraima que pediu anonimato explica que a situação na cidade era parecida àapp betano androidum "caldeirão fervendo", pela alta concentraçãoapp betano androidmigrantesapp betano androiduma cidade sem infraestrutura - e pelo temorapp betano androidretaliação a brasileiros que entram diariamente na Venezuela.
"Os conflitos vão se tornar mais frequentes, porque pouca gente está sendo beneficiada (pelo atendimento estatal), o resto está jogado", diz.
O governo federal temapp betano androidcursoapp betano androidRoraima a Operação Acolhida, força-tarefa ligada ao Ministério da Defesa criadaapp betano androidfevereiro pelo presidente Michel Temer para dar assistência emergencial aos migrantesapp betano androidsituaçãoapp betano androidvulnerabilidade.
Segundo a assessoria da força-tarefa, o trabalho consisteapp betano androidprover alimentação, imunização e construçãoapp betano androidabrigos - há dez deles no Estado, geridos pela Acnur e por ONGs como a Fraternidade Internacional - e ajudar no processoapp betano androidtransporteapp betano androidmigrantes para outras partes do Brasil (a chamada interiorização, da qual participaram até agora 820 migrantes).
Críticos afirmam, porém, que a ação tem sido insuficiente para dar conta do enorme fluxoapp betano androidpessoas.
"Parte da tensão é alimentada pela omissão do poder público", diz Camila Asano, da ONGapp betano androiddireitos humanos Conectas, que esteveapp betano androidPacaraimaapp betano androidjunho. "É preciso criar condições para que essas pessoas (venezuelanos) possam se integrar, se sentirem seguras e reconstruírem suas vidas, inclusiveapp betano androidRoraima, porque muitas pessoas ficam no Estado para mandar remédios para seus parentes na Venezuela."
A Acnur diz que o trabalhoapp betano androidacolhimento tem sido redimensionado à medida que a crise evolui, com atendimentoapp betano androidmúltiplas frentes - desde registro e documentação até abrigamento e distribuiçãoapp betano androidbens não alimentares.
A assessoria da Operação Acolhida diz que mais dois novos centrosapp betano androidatendimento estãoapp betano androidfaseapp betano androidfinalização, com capacidadeapp betano androidabrigar temporariamente mil venezuelanos, que deixariam assimapp betano androidficar nas ruas.
Mesmo com a tensão e a faltaapp betano androidperspectivas, padre Jesus diz que muitos venezuelanos preferem continuar no Brasil porque ainda sentem mais alento do que se estivessemapp betano androidseu paísapp betano androidorigem.
"Eles me dizem: 'Estávamos no inferno (na Venezuela) e agora estamos no purgatório. Mas pelo menos no Brasil não morremosapp betano androidfome'."
Para Lourival Ferreira, do sindicato dos trabalhadores da construção civil, a decisãoapp betano androidajudar os venezuelanos se deu "não para confrontar com os brasileiros, mas sim para organizar os venezuelanos, porque somos todos trabalhadores".
"O que falta para nós - comida, saúde, emprego -, imagina como falta para os que vivem no meio da rua."