A cronologia da crise migratóriaPacaraima, na fronteira entre Brasil e Venezuela:
Em 2010, Pacaraima tinha cerca10 mil habitantes segundo o IBGE; mas, segundo já afirmouentrevistas o prefeito da cidade, Juliano Torquato, os serviços municipais chegam a ter que atender um volumepessoas cinco vezes maior do quepopulação. A cerca15 quilômetrossua cidade-irmã venezuelana, Santa ElenaUairén, Pacaraima é pontochegada para refugiados por apresentar uma "fronteira-seca", ou seja, sem obstáculos naturais. Dali, muitos seguem para a capitalRoraima, Boa Vista, a cidade que mais recebe venezuelanos no Brasil.
A imigração foi intensificada a partir2016, após uma sérieprotestos pedindo a saída do presidente Nicolás Maduro do poder. No ano anterior, a oposição ao regime chavista havia conquistado maioria no Legislativo - que, posteriormente, teve seu poder restrito pelo Tribunal SuperiorJustiça, aliado ao presidente. Hoje, o país vive uma crise econômica e social sem precedentes.
Segundo dados do Comitê Nacional para os Refugiados (Conare), o númerosolicitaçõesrefúgio por venezuelanos ao Brasil passou8292015 para 3.3752016.
Confira abaixo algum dos episódios da crise humanitária que tem como cenário a pequena cidadePacaraima.
Julho2016: Busca por comida
No início do segundo semestre2016, alguns veículos brasileiros já registravamreportagens um fluxo aumentadovenezuelanos a Pacaraima.
O jornal FolhaSão Paulo, por exemplo, documentou que muitos venezuelanos chegavam à cidade brasileirabuscacomida, mas depois regressavam com malas e mochilas repletasalimentos ao seu país - já sofrendo por crisesabastecimento. Os imigrantes também viajavambuscaremédios.
Já o portal G1 registrou que, por conta da demanda, comerciantesPacaraima abriam suas lojasdomingo a domingo. Lojas que vendiam outros tiposproduto passaram a abrir espaço nas prateleiras para alimentos.
Dezembro2016: Deportações e emergência na saúde
Entre os grupos imigrantes mais vulneráveis que chegam da Venezuela estão os indígenas da etnia warao. Em dezembro2016, autoridades brasileiras detiveram cerca450 venezuelanos para deportação - a maioria do povo warao. Eles acampavamPacaraima e Boa Vista.
A ação das autoridades brasileiras foi criticada pela Comissão InteramericanaDireitos Humanos (CIDH), que pediu proteção aos imigrantes.
Naquele mesmo mês, o governo estadual decretou emergência na saúde públicaBoa Vista e Pacaraima. O secretário estadual da Saúde, César Penna, disse que o númeroacompanhamentos pré-natal prestados a venezuelanas foi maior do que os atendimentos a brasileiras entre janeiro e agosto2016.
Um ano depois,dezembro2017, seria decretadoRoraima estadoemergência social.
Outubro2017: Prefeito atropela crianças venezuelanas
Um episódio que causou preocupação envolveu o próprio prefeitoPacaraima, Juliano Torquato.
Duas crianças imigrantes,sete e 11 anos, andavambicicleta à noite quando se chocaram contra o carroTorquato, que dirigia o veículo.
Na época, a Polícia Militar afirmou ao G1 que o prefeito prestou socorro às vítimas, que foram encaminhadas ao hospital e tinham quadro estável. Ainda segundo a corporação, a faltailuminação pode ter dificultado a visão do motorista.
Novembro2017: Primeiro abrigo para receber refugiados é inaugurado
Mantido pela prefeituraPacaraima, com apoioONGs, o primeiro abrigo para refugiados foi inaugurado na cidadenovembro2017.
O local foi destinado para receber, principalmente, indígenas do povo warao.
Fevereiro2018: Governo federal reforça segurança
No início deste ano, ministros visitaram Boa Vista e anunciaram medidas para reforçar a segurança e assistência na fronteira com a Venezuela.
Faziam parte da comitiva os ministros da Defesa, Raul Jungmann; da Justiça e Segurança Pública, Torquato Jardim; e do GabineteSegurança Institucional da Presidência da República (GSI), Sérgio Etchegoyen.
O governo federal apresentou o planointeriorizar os refugiados - ou seja, conduzi-los para a recepçãooutros Estados - e afirmou que haveria reforços do Exército e da Polícia Federal.
Abril2018: Pedido ao STFfechamento fronteira
A governadoraRoraima, Suely Campos, ajuizou no Supremo Tribunal Federal (STF) uma ação pedindo que a União fechasse a fronteira do Brasil com a Venezuela.
Campos apontou para a omissão da Uniãoseus deveres constitucionais, pedindo reforços administrativos e financeiros ao Estado.
Somente alguns meses depois,agosto, a ministra relatora da ação, Rosa Weber, decidiu sobre o tema. Ela negou o pedidofechamentofronteira, citando compromissos internacionais firmados pelo Brasil na acolhida humanitária e na cooperação com países vizinhos.
A decisão da corteagosto foi provocada por outra deliberação da Justiça ocorrida na véspera. No início daquele mês, a entradavenezuelanos pela fronteira com Roraima chegou a ficar fechada por 17 horas por determinaçãoum juiz federalprimeira instância.
Em junho, a força-tarefa anunciada pelo presidente Temerfevereiro começou a atuarPacaraima, que passou na ter um posto ampliadotriagemimigrantes. A força-tarefa tem participaçãomilitares, servidores da Polícia Federal e da Receita Federal, profissionaissaúde, vacinação e assistência social.
Julho2018: Brasileiros protestam
MoradoresPacaraima bloquearam a rodovia BR-174um protesto contra o intenso fluxoimigrantes durante uma visita do ministro Torquato Jardim.
"Nossas reinvindicações são muitas, mas resumimos a dois pontos: a questão da segurança e da saúde", destacou ao G1 João Kleber, um dos organizadores.
Manifestantes seguravam cartazes com dizeres como "Mais compromisso do governo federal" e "Pacaraima pede socorro". O protesto foi pacífico.
Agosto2018: Confrontos e violência
No sábado, dia 18, a famíliaum comerciantePacaraima relatou à políciaque este teria sido assaltado e espancado por quatro venezuelanos.
A notícia se espalhou e gruposmoradores da cidade se organizaram - através das redes sociais, segundo veículos como o site G1 - para atacar acampamentosvenezuelanos.
Homens e mulheres, armadospedras e paus, destruíram e indenciaram tendas e pertences dos imigrantes, levando vários deles a fugir.
Segundo o comando da força-tarefa, cerca1,2 mil venezuelanos cruzaram a fronteiravolta para o seu país.