Os contraceptivos que você tem direitoexigir pelo SUS - e o que fazer se não conseguir:
Ginecologistas com experiência na rede pública também sugerem que as pessoas reportem o problema no Disque Saúde (discando 136)- serviçoatendimento à população do Ministério da Saúde. "Diante da reclamação, o Ministério da Saúde pode cobrar informações da SecretariaSaúde do município onde falta o método contraceptivo", diz a ginecologista Renata Reis.
Outra possibilidade é recorrer ao Ministério Público. O promotorJustiçaMinas Gerais Márcio Ayala explica que, se os moradores verificarem a ausência dos contraceptivos nas unidadesatenção básica, eles podem procurar a promotoria da cidade e reportar o problema.
Isso pode ser feito pessoalmente na sede da promotoria, nos horáriosatendimento ao público, ou por meio das ouvidorias - o telefone é normalmente disponibilizado no site da promotoriacada município.
Diante da reclamação, o promotor pode cobrar uma resposta do Conselho Municipal e da SecretariaSaúde, e estipular um prazo para que o serviço seja disponibilizado. Se não houver resultado, o Ministério Público pode entrar com uma ação na Justiça para obrigar o município ou Estado a oferecer o contraceptivo.
"O Ministério Público é o fiador dos serviços públicos. Se há uma demanda da sociedade, se as pessoas não estão tendo acesso (ao contreceptivo), fazemos a demanda extrajudicial primeiro", diz Ayala.
"Se o serviço não for disponibilizado no prazo, o Ministério Público pode entrar com uma ação civil pública para compelir município e Estado a suprirem (a demanda)."
Saiba o que faz parte do "cardápio"contraceptivos do SUS.
Anticoncepcional oral 'combinado'
A pílula é o contraceptivo mais utilizado pelas mulheres brasileiras. Contém dois hormônios produzidos pelos ovários - o estrogênio e a progesterona -, e funciona inibindo a ovulação.
O método tem eficácia99,7% dos casos, mas isso quando se considera o uso "perfeito", ou seja, quando o medicamento é tomado todos os dias corretamente. Mas esquecimentos são comuns e aí a proteção cai significativamente - paratorno91%.
A eficácia também pode ser comprometida se a mulher tiver diarreias intensas e vômitos.
Não há evidência científicaque os antibióticos reduzam a eficácia da pílula, segundo a Dr. Renata Reis. Mas, na dúvida sobre se o medicamento que você vai tomar pode ter algum efeito na eficácia do anticoncepcional, verifique isso com o médico que prescreveu e leia a bula.
De acordo com a médica ginecologista Natália Zavattiero, entre os possíveis efeitos colaterais do anticoncepcional combinado oral estão a diminuição da libido, com o uso prolongado. "E algumas pacientes relatam ganhopeso", disse.
Esse tipopílula, por causa da liberação do estrogênio, também aumenta2 a 4 vezes o riscotrombose. Mas Carolina Sales Vieira, professora da FaculdadeMedicinaRibeirão Preto, da UniversidadeSão Paulo (USP), destaca que esse aumento no risco é menor que o provocado por uma gestação.
"Temos1 a 5 casostrombose a cada 10 mil mulheres. Quando eu uso uma pílula, anel ou adesivo hormonal, eu vou aumentarduas a quatro vezes esse risco. O número ainda é muito baixo. A gravidez aumenta20 a 80 vezes o riscotrombose", diz.
Os benefícios incluem redução da tensão pré-mentrual, da cólica e do fluxosangramento.
Minipílula
Essa pílula anticoncepcional só possui um tipohormônio, a progesterona. Por isso, segundo Carolina Sales Vieira, ela não aumenta o riscotrombose.
Embora também atue inibindo a ovulação, a eficácia é menor que a pílula anticoncepcional combinada, por isso só costuma ser indicada durante o períodoamamentação.
Ela deve começar a ser tomada na sexta semana após o parto, para que não haja qualquer interferência na fase inicialproduçãoleite. Após este período, a minipílula não interfere na amamentação.
E por possuir quantidade pequenahormônio, é ainda mais importante observar a regratomar todos os dias, no mesmo horário. Um simples atrasomaistrês horas no horáriotomar já reduz a eficácia.
Cada cartela tem 28 pílulas e não há intervalo entre uma cartela e outra.
Injeção mensal ou trimestral
Outro método que você pode buscar pelo SUS é o anticoncepcional injetável, que pode valer por um mês ou três meses e também inibe a ovulação.
É considerado mais eficiente que o anticoncepcionalpílula porque a mulher não precisa se lembrartomá-lo diariamente.
O injetável mensal contém dois hormônios- estrogênio e progesterona. Mas Carolina Vieira destaca que a quantidadeestrogênio é menor que a do anticoncepcional oral.
"O estrogênio acaba15 dias e aí só sobra o progestagênio (nome para a progesterona desenvolvidalaboratório) nos outros 15 dias. Em tese, ele seria mais seguro que a pílula e o anel hormonal. Mas faltam estudos para comprovar isso."
Já o injetável trimestral só possui progesterona, o que reduz ainda mais as contraindicações e os riscos. Somente o estrogênio é associado ao riscotrombose.
"Ele é mais seguro que os métodos que têm estrogênio. Sobre isso não há dúvida. Mas ele vai ter algumas particularidades, porque tem mais quantidadeprogestagênio, então pode dar mais fome e a mulher pode ganhar mais peso e reter líquido", diz Vieira.
A médica Natália Zavattiero menciona a possibilidadesangramentos irregulares após a primeira dose. "Normalmente, isso costuma melhorar a partir da segunda ampola, quando a paciente normalmente paramenstruar."
Já com a injeção mensal, a mulher menstrua normalmente. "Algumas pacientes podem ter um sangramento maior que com a pílula oral e alguma retençãolíquido."
É importante lembrar que, embora a eficácia desse método ultrapasse 99%, esse percentual cai se a nova dose não for injetada no término30 dias (no caso do mensal) ou 90 dias (no caso do trimestral).
DIUcobre
O Dispositivo Intrauterino (DIU)cobre é o principal método contraceptivolonga duração oferecido pelo SUS. Apresenta seis falhas a cada mil casos e dura 10 anos. Por não depender da "memória" e pela eficácia continuada, é considerado, por muitos especialistas, um dos métodos mais eficientes para evitar a gravidez.
"É uma das melhores opções para pacientes jovens e adolescentes", diz Natália Zavattiero.
Mas encontrá-lo na rede pública não é tarefa tão fácil. Em algumas cidades, falta material. Em outras, o problema é a ausênciaprofissionais treinados para fazer o procedimento, embora ele seja simples - dura cerca15 minutos.
"A maioria das mulheres pode sentir um desconforto, como uma cólica mais forte, na horacolocar (o DIU). Mas não há necessidadeanestesia e pode ser feitoambiente ambulatorial", afirma Zavattiero.
O principal efeito colateral é um fluxo menstrual mais intenso, para algumas mulheres. "A paciente pode ter um aumento tantodias (para 8 dias,média) quantoquantidadesangramento (um aumentotorno25%). E pode ter um aumentocólica."
"Com relação a riscos, o principal risco do DIU é o deslocamento - ele sair da da cavidade uterina, da posição correta. Mesmo assim, é considerado um método seguro", completa a ginecologista.
O DIUcobre normalmente não é indicado a pacientes com anormalidades anatômicas do útero, anemia, vírus HIV, que tenham alergia a cobre, que estejam com câncer no colo do útero ou com infecção ginecológica ativa.
Carolina Vieira destaca que mais70% das mulheres que usam o DIUcobre se dizem satisfeitas com o método. A ginecologista Renata Reis destaca que, por desinformação, há quem pense que esse contraceptivo é "abortivo".
"O cobre funciona matando o espermatozóide e o óvulo anteseles se encontrarem, ou seja, antes da fecundação. Ele não tem efeito abortivo", diz.
Camisinhas feminina e masculina
Estão incluídos no rolmétodos"barreira". São os únicos métodos contraceptivos capazesprevenir contra doenças sexualmente transmissíveis, como a aids. As camisinhas masculina e feminina não devem ser usadas ao mesmo tempo, porque o atrito pode aumentar o riscorompimento.
Carolina Vieira, da USP, destaca que a camisinha é essencial no combate a doenças sexualmente transmissíveis, mas a taxafalha no casogravidez é maior que amétodos contraceptivoslonga duração (como o DIU e a injeção hormonal) - 98%eficácia, quando usada perfeitamente.
Quando ela não é usada corretamente, ou seja, quando consideramos o seu "uso real", a eficácia cai para 82%.
A eficácia real dos métodos contraceptivos foi verificada a partiruma pesquisa da UniversidadePrinceton (EUA) que acompanhou 100 mulheres que usaram diferentes métodos contraceptivos durante um ano.
Diferentemente da masculina, a camisinha feminina pode ser colocada horas antes da relação sexual, segundo a ginecologista Renata Reis. "As mulheres que usam a camisinha feminina costumam gostar. É só introduzir como se faz com um absorvente íntimo. Depois da relação, você torce para fechar e joga fora", disse.
Diafragma
Também é um métodobarreira, mas a eficácia é bem menor que a da camisinha e não previne contra doenças sexualmente transmissíveis. Pode ser usado junto com a camisinha, para aumentar a eficácia.
A orientação do SUS é que a pessoa interessada consulte o ginecologista anteslevar esse método para a casa, para que receba instruções sobre como usar e tenha o seu diafragma medido.
"O diafragma é inserido na vagina, com espermicida. A mulher tem que ser treinada, junto com um médico ginecologista capacitado, para saber colocarmaneira correta emaneira que cubra o colo do útero. E para saber o tamanho do diafragma", diz a ginecologista Renata Reis.
Pílulaemergência (ou pílula do dia seguinte)
Essa pílula só contém o hormônio progesterona, masquantidade maior queuma pílula anticoncepcional comum. Não deve ser usada como método contraceptivo, porque a eficácia é bem menor- 75%.
A pílulaemergência é oferecida nas unidadesatenção básica a homens e mulheres que relatarem terem feito sexo sem proteção oucasofalha do contraceptivo.
A eficácia é maior até 72 horas após o ato sexual, mas pode ser tomada até cinco dias depois - quanto maior a demoratomar, menor a eficáciaevitar a gestação.
E a pílulaemergência não interfere numa gravidezcurso, ou seja, não funciona como abortivo.
Por desinformação, muita gente acha que esse tipomedicamento provoca a "morte do embrião". Na verdade, ele inibe uma fecundação que iria acontecer, ao retardar ou inibir a ovulação. Se a fecundação já tiver ocorrido, o medicamento não terá efeito.
"Os principais sintomas são uma irregularidade menstrual, no período posterior ao uso, o que, para uma adolescente com medoengravidar, pode ser um transtorno. Também pode dar dorcabeça e causar um inchaço", diz a ginecologista Natália Zavattiero.
Laqueadura e vasectomia
A esterilização é oferecida no SUS somente para homens e mulheres com mais25 anos ou dois filhos. Em várias clínicas, os profissionaissaúde se confundem com essa regra achando que é preciso ter mais25 anos e dois filhos, mas os critérios são independentes.
As etapas até conseguir fazer o procedimento podem ser burocráticas. A lei, por exemplo, exige que pessoas casadas autorizem o parceiro ou parceira a fazer a vasectomia ou laqueadura.
A BBC News Brasil mostrou que os moradores do Norte e do Nordeste, regiões com maiores taxasnatalidade, são os que mais têm dificuldadeacesso a DIU, laqueadura e vasectomia.
A vasectomia sequer é oferecidaalguns Estados -um ano, nenhum procedimento foi realizadoAlagoas e Amapá,acordo com os dados do Data SUS.
O Ministério da Saúde afirmou que, por serem procedimentos difíceisserem revertidos, laqueadura e vasectomia "devem ser realizados com cautela".
O importante é ter todas as opções à mão
As médicas consultadas pela BBC News Brasil destacam que não existe um método melhor do que outro. Todos têm vantagens e desvantagens.
Cada mulher deve escolher, conforme suas necessidades, o contraceptivo mais adequado. O ideal é ter todos os métodos à disposição, principalmente oslonga duração, alémacesso a informações sobre cada um deles.
"Existem mulheres que se beneficiam com um método ou com outro. O importante é ser informada sobre os benefícios e malefícioscada um, para que os riscos não sejam subestimados nem superestimados", defende a professora Carolina Sales Vieira, da FaculdadeMedicinaRibeirão Preto, da USP.