Como o WhatsApp mobilizou caminhoneiros, driblou governo e pode impactar eleições:konfigurator bwin
"O Whatsapp facilitou demais a nossa comunicação. Antes, a gente era desconhecido (um do outro). Agora, o pessoal faz um vídeo e,konfigurator bwindois minutos, já espalhou pelo Brasil", completa. "A gente não é envolvido com partido político nenhum. Mas a gente tem a nossa logística".
Na última quinta-feira, apesarkonfigurator bwinjá não haver mais pontoskonfigurator bwininterdição nas estradas, segundo a Polícia Rodoviária Federal, os apelos pela continuidade da greve não haviam paradokonfigurator bwincircular pelo WhatsApp. Eram desde pedidos para caminhoneiros irem até Brasília, para que ficassem paradoskonfigurator bwincasa, até convocaçõeskonfigurator bwinprotestos nas cidades.
Conversas fechadas, criptografadas, sem rastro ekonfigurator bwinpirâmide
A comunicação por WhatsApp tem características diferentes das feitas por Twitter e Facebook. Os dois últimos "são como uma via pública, uma praça, onde você abre uma banquinha e as pessoas podem te ver e interagir com você. Já o grupokonfigurator bwinWhatsApp é como a salakonfigurator bwinjantar dakonfigurator bwincasa, não entra todo mundo", exemplifica a pesquisadora brasileira Yasodara Córdova.
Na prática, enquanto postagens públicas no Twitter ou Facebook podem ser vistas por qualquer um e chegarkonfigurator bwinuma vez só a milhareskonfigurator bwinusuários, as mensagenskonfigurator bwinWhatsApp atingem apenas um indivíduo ou os participantes do grupo, limitados a um número máximokonfigurator bwin256 pessoas. Dali, podem ser levadas para outras pessoas ou outros grupos,konfigurator bwinuma distribuiçãokonfigurator bwinpirâmide.
Além disso, todo diálogo é criptografado - é como se a salakonfigurator bwinjantar estivesse bem trancada e só pudesse entrar quem fosse convidado ou tivesse a chave.
Isso faz com que a conversa fique fechada - para acessá-la, só infiltrado. "A comunicação no Whatsapp acontecekonfigurator bwinmaneira mais velada, mais escondida. São grupos relativamente pequenos. E não há registro público, um rastro, porque há essa encriptação", diz Benevenuto.
Além disso, a comunicação é mais difusa. A conversa vai se propagando pelos celulares, sem registrokonfigurator bwinquem foi a fonte original da informação - seja mensagemkonfigurator bwintexto, imagem, áudio ou vídeo. Assim, fica mais difícil identificar quem são as vozes mais difundidas e que estão se transformandokonfigurator bwinlideranças.
Essas características fazem com que a mobilização pelo WhatsApp represente um novo desafio para governos, acostumados a negociar com liderançaskonfigurator bwinorganizações definidas, com logotipo e CNPJ.
"O sindicato é um modelo que estákonfigurator bwindeclínio no mundo todo. Não sókonfigurator bwintermoskonfigurator bwinrepresentatividade, mas tambémkonfigurator bwinmetodologia. No caso da greve dos caminhoneiros, há um pioneirismo da organização do trabalho baseado na internet. É uma espéciekonfigurator bwinsindicato digital. É possível que no futuro a gente tenha novas formaskonfigurator bwinmobilização da forçakonfigurator bwintrabalho como essa", fala Yasodara.
Governo foi driblado pela organização dos caminhoneiros
No quarto diakonfigurator bwingreve, uma quinta-feira, o governo do presidente Michel Temer fechou um acordo com parte dos representanteskonfigurator bwinassociações e sindicatoskonfigurator bwincaminhoneiros, se comprometendo a baixar o preço do combustívelkonfigurator bwin10% por 30 dias. Com isso, anunciou que a greve iria ter uma trégua. Naquele momento, os postos já começavam a ficar sem combustível.
Mas os caminhoneiros organizados pelo WhatsApp não concordaram com a negociação. No aplicativo, seguiram-se mensagenskonfigurator bwinrepúdio às lideranças que negociaram com o governo Temer, alémkonfigurator bwinaúdios e vídeos notificando sobre pontoskonfigurator bwinparalisação que se mantinham ativos. Nadakonfigurator bwinacordo, a greve continuava.
"Se não tivesse o WhatsApp, eu creio que o governo já tinha enganado a gente há dias. O governo ia na televisão dizer que a greve acabou. Até um caminhoneiro conseguir se comunicar com outro, já tinha tudo mundo ido embora, tinha acabado a greve. Agora, a gente assistiu a nota do presidente e já passou informação para os gruposkonfigurator bwinWhatsApp: não acabou não", explica o caminhoneiro Moisés Oliveira.
São Paulo usou o WhatsApp nas negociações
No Estadokonfigurator bwinSão Paulo, foi traçada uma estratégia diferente para negociar com os grevistas. O presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB)konfigurator bwinSão Paulo, Marcos da Costa, irmãokonfigurator bwinum caminhoneiro hoje afastado da profissão, resolveu entrar nas negociações.
"Não era um movimento institucionalizado, respondendo a sindicatos e associações. Eram caminhoneiros que se esgotaram com o aumento do preço dos combustíveis e começaram a parar (de rodar). A comunicação deles por WhatsApp permitiu que se formasse uma onda muito rápida no Brasil inteiro", diz Costa.
Depois da negociação fracassada do governo federal na quinta-feira, Costa pediu que colegas advogados do setorkonfigurator bwintransportes procurassem identificar quem eram as lideranças dos caminhoneiros paradoskonfigurator bwinSão Paulo. Em seguida, no sábadokonfigurator bwinmanhã, maiskonfigurator bwin10 delas se reuniram na sede da OAB.
"No começo da reunião, os caminhoneiros pediram para tirar foto e fazer vídeo para compartilhar nos gruposkonfigurator bwinWhatsApp. Isso viralizou. E serviu para que a gente pudesse ter segurança da capacidadekonfigurator bwinmobilização daquelas pessoas", fala o presidente da OAB.
Em seguida, foi montado um novo grupokonfigurator bwinWhatsApp entre esses caminhoneiros e a OAB. "Esse grupo serviukonfigurator bwinpreparação das pautaskonfigurator bwinnegociação. Ele canalizava as demandas dos caminhoneiros, porque cada pessoa dessas tinha interlocução com outros gruposkonfigurator bwinWhatsApp. Era uma rede gigantesca", fala Costa. "Eu não tenho dúvidakonfigurator bwinque isso fez a diferença. Foi fundamental para abrir a possibilidadekonfigurator bwindiálogo com aqueles que estavam realmente à frente do movimento".
No sábado à tarde, o grupokonfigurator bwinWhatsApp criado pela OAB se reuniu com o governokonfigurator bwinSão Paulo para negociar a desobstrução das estradas do Estado.
"Ainda durante a reunião, eles (os representantes dos caminhoneiros) mandaram mensagenskonfigurator bwinWhatsApp para a base pedindo para liberar (as estradas). Cercakonfigurator bwinuma hora depois, vimos pela cobertura da mídia que a liberação estava começando. Foi o diálogo por WhatsApp que permitiu a primeira liberaçãokonfigurator bwinrodovia", comenta o advogado. O movimento dos caminhoneiroskonfigurator bwinSão Paulo não acabou ali, maskonfigurator bwinfato começou a diminuir.
Ainda no sábado, o ministro-chefe da Secretariakonfigurator bwinGoverno, Carlos Marun, estevekonfigurator bwinSão Paulo para participar das conversas com o grupo paulista, tomar conhecimento das pautas e tentar tirar as negociaçõeskonfigurator bwinBrasília do limbo.
"A greve mostrou que vamos ter que criar mecanismos para dar contakonfigurator bwindemandas apresentadaskonfigurator bwinforma completamente diferentes. Tradicionalmente, eram instituições que iam ao governo apresentar suas pautas. Hoje, vemos movimentos líquidos, absolutamente horizontalizados. A partirkonfigurator bwinagora, os governos vão ter que aprender a lidar com essa nova realidade e aprender a identificar canais que possam servir para diálogo", conclui Costa.
WhatsApp foi a principal formakonfigurator bwincontato com a mobilização
A primeira medição da importância do WhatsApp na greve dos caminhoneiros foi feita pelo Ipsos. Na última terça-feira, o institutokonfigurator bwinpesquisa entrevistou cercakonfigurator bwin1,2 mil caminhoneiros que usam o aplicativokonfigurator bwincargas TruckPad. Dentre os entrevistados, quase metade (46%) soube da paralisação via WhatsApp.
É mais que o dobrokonfigurator bwinimportância da própria estrada – 18% souberam do movimento sendo parados por colegas enquanto rodavam com o caminhão. O Facebook veiokonfigurator bwinseguida, informando 8,5% dos entrevistados. Um número ínfimokonfigurator bwin1% foi convocado por sindicato ou associação. Entre os entrevistados, estão tanto caminhoneiros que estavam protestando, como quem ficoukonfigurator bwincasa ou estava rodando normalmente.
Por outro lado, nem tudo é digital. Entre o grupo mais ativokonfigurator bwincaminhoneiros, que continuava parado nas estradas na última terça-feira, o corpo a corpo foi tão importante quanto a mobilização nas redes – 39% tomaram conhecimento da greve na estrada, enquanto outros 39% souberam por WhatsApp e Facebook.
A importância do WhatsApp na greve também fica evidentekonfigurator bwinum boato que circulou no próprio app, alertando usuários para não atualizarem o aplicativo. Segundo a mensagem, a atualização do WhatsApp teria sido determinada pelo governo federal para inviabilizar a comunicaçãokonfigurator bwinparticipantes da greve. O WhatsApp informou que essa informação não procede.
O dia a dia dos gruposkonfigurator bwinWhatsApp
Uma vez que a mobilização tinha começado, o WhatsApp foi fundamental para propagar informações, passar mensagenskonfigurator bwinmotivação, angariar apoio e baterkonfigurator bwinfrente com o governo do presidente Michel Temer.
É possível ter um retratokonfigurator bwincomo isso aconteceu pelo monitor do WhatsApp desenvolvido pelo projeto "Eleições Sem Fake", coordenado por Benevenuto, da UFMG. O sistema acompanha 182 grupos públicos com temática política e seleciona quais são as imagens mais compartilhadas diariamente. É a única ferramenta brasileira que acompanha o que ocorre dentro do WhatsApp - seu uso é restrito a pesquisadores.
Segundo o monitor, um dia antes da greve começar, uma imagemkonfigurator bwincaminhões paradoskonfigurator bwinuma estrada já estava entre as dez mais compartilhadas do dia: "greve geral pela baixa dos combustíveis, você apoia?". Era o movimento se organizando.
Já na segunda-feira, quando os caminhoneiros começaram a parar as rodovias, a greve foi a temática das cinco imagens mais compartilhadas do dia. Na terça-feira, idem - sendo que uma das imagens fazia um chamado: "caminhoneiros convocam população, sozinho (sic) não conseguiremos".
Na quinta-feira, quando o governokonfigurator bwinMichel Temer buscou negociar com liderançaskonfigurator bwinorganizaçõeskonfigurator bwincaminhoneiros, o topokonfigurator bwincompartilhamentos foi uma imagem com a hashtag "SomosTodosCaminhoneiros" e outra com a frase "A greve continua". Também circularam memes culpando o PT pela crise e, no sentido oposto, dizendo que a crise começou porque o PT saiu do governo.
Em seguida, pedidoskonfigurator bwinintervenção militar passaram a despontar. Já na última terça-feira, quando o protesto dos caminhoneiros já estava perdendo força, os gruposkonfigurator bwinWhatsApp foram tomados por críticas à baixa adesão da população ao protesto: "Povo tem o governo que merece: reclama ficar 3h na fila do hospital, mas fica 8h na fila do postokonfigurator bwincombustível".
Informações reais duelam com fake news
Nesse meio tempo, foram surgindo gruposkonfigurator bwinWhastsAppkonfigurator bwinapoiadores dos caminhoneiros, para trocakonfigurator bwininformações sobre a greve. A BBC Brasil acompanhou seis deles. Em meio a mensagens verdadeiras, circulavam muitas notícias falsas e desatualizadas. Entre elas, vídeos dizendo que manifestantes tinham ocupado Brasília e imagens informando que militares estariam prestes a tomar o poder.
No começo desta semana, foi feito um apelo nos grupos: que os caminhoneiros passassem a informar data, hora e local da mensagemkonfigurator bwináudio ou vídeo, já que tudo estava mudando muito rapidamente e era preciso identificar se se tratavakonfigurator bwinalgo novo ou não. Em um dos grupos, criado no dia seguinte à greve, o administrador deletou maiskonfigurator bwin200 participantes acusadoskonfigurator bwinpromover "fake news".
"A ideia do WhatsApp é a comunicação ponta a ponta. Não tem impulsionamentokonfigurator bwinmensagens, como no Facebook. Então, a empresa não tem influência no diálogo. São grupos se auto-organizando e repassando essas mensagens", afirma Benevenuto.
É uma via aberta, por onde trafegam os diferentes ideiaiskonfigurator bwinuma sociedade. "Eu me lembrokonfigurator bwinver a primavera árabe,konfigurator bwin2011, e pensar: 'as redes sociais vão virar movimento político, vão alavancar a democracia, vão abrir a cabeça das pessoas, não tem como governos autoritários controlarem uma coisa dessas'. E hoje vemos que pode ser usada para qualquer dos lados. Tem pedidokonfigurator bwinintervenção militar, notícia falsa...", completa o pesquisador da UFMG.
WhatsApp vai ser importante nas eleiçõeskonfigurator bwin2018
O WhatsApp, usado por 60% da população do Brasil, já é uma das principais fonteskonfigurator bwininformação no país. Segundo o Digital News Reportkonfigurator bwin2017, um estudo sobre o consumokonfigurator bwinnotícias produzidokonfigurator bwinconjunto pela Reuters Institute e pela Universidadekonfigurator bwinOxfordkonfigurator bwin36 países, 46% dos brasileiros usam WhatsApp para encontrar notícias.
O número é muito maior do que a média mundial,konfigurator bwin15%, e chamou a atenção dos pesquisadores. No estudo, eles destacaram que o WhatsApp cresceu tanto no Brasil que já está rivalizando com o Facebook - usado por 57% dos brasileiros para encontrar notícias.
"A grevekonfigurator bwincaminhoneiros aponta totalmente como pode ser o uso do WhatsApp nas eleiçõeskonfigurator bwin2018", diz Maurício Moura, pesquisador da George Washington University, nos Estados Unidos, que analisou o uso do aplicativo nas eleiçõeskonfigurator bwin2014. Segundo o pesquisador, a tendência é que o debate eleitoral deste ano ocorra muito dentro do appkonfigurator bwinconversas.
"A rede social das eleiçõeskonfigurator bwin2018 vai ser o WhatsApp. Hoje, muito mais pessoas têm smarthphones no Brasil do quekonfigurator bwin2014", avalia Moura, que também já trabalhou com campanhas políticas e é fundador da Ideia Big Data, que realiza pesquisaskonfigurator bwinopinião. "Agora, não tem como fazer campanha no WhatsApp sem númeroskonfigurator bwintelefone. Por isso, a primeira estratégia dos candidatos e partidos é coletar númeroskonfigurator bwincelular,konfigurator bwineventos, fan pages...".
Mesmo antes da campanha, já há diversos gruposkonfigurator bwinapoiadoreskonfigurator bwincandidatos, como Jair Bolsonaro. "A tendência é as pessoas se organizarem nos gruposkonfigurator bwinWhatsAppkonfigurator bwintornokonfigurator bwincandidatos e pautas. Por outro lado, pessoas que querem desestabilizar as campanhas umas das outras também estarão operando nos gruposkonfigurator bwinWhatsApp com bastante intensidade", acrescenta Yasodara.
O combate às notícias falsas, que se tornou uma grande preocupação desde a eleiçãokonfigurator bwinDonald Trump,konfigurator bwin2016, promete ser muito mais difícil no WhatsApp. O Facebook, por exemplo, se comprometeu a não impulsionar páginas que promovam notícias falsas. A rede social pode fazer isso porque funciona como uma mediadora das publicações. Já no WhatsApp, onde não há nenhuma formakonfigurator bwincontrole externo, isso é impossível.
"Enquanto Facebook e Twitter estiveram sob forte escrutínio nos últimos tempos, o WhatsApp passou um pouco batido. Porém, o app é extremamente utilizado dentro do Brasil. Com toda essa atenção que se deu às outras redes, muito do esforçokonfigurator bwincampanha política migra para o WhatsApp, onde não há quase nenhum monitoramento", diz Benevenuto, da UFMG.
No WhatsApp, combater notícias falsas e discursoskonfigurator bwinódio "é um desafio tão complexo quanto regular o discurso dentro das casas das pessoas", compara Yasodara. "Como a sociedade faz para que os pais não ensinem aos filhos que o nazismo é uma coisa legal? Primeiro, criminaliza o que é ilegal. Segundo, traz cada vez mais informações verdadeiras para o debate público ", opina a pesquisadorakonfigurator bwinHarvard.
*Colaboraram Juliana Gragnani, André Shalders e Felipe Souza